Cansaço – Por @Cortezolli


Pois é cansada que digito devagar…

Minha fadiga mental se dá em virtude das tempestades de tutoriais de “como viver melhor”, das “dicas infalíveis” e dos incansáveis “métodos revolucionários de como fazer isso ou aquilo”, sem mencionar os livros que chovem com textos publicitários miseráveis, escritos por pessoas de índole execrável, que crêem incitar o consumo, com o que julgam ser irresistíveis interjeições: “Hein?!”, “só vem”, “me convida?”. Não, não são todos os profissionais que têm caráter duvidoso. Contudo a parcela que poluiu se diz “famosinha”.

O dilúvio de inópia lava os mais diversos meios. Fechemos os olhos ao sairmos de nossas casas, tampemos os ouvidos aos menores ruídos de soluções imediatas.

A vida apenas se arrasta. Quando a solução parecer fácil demais, desconfie.

O imediatismo está na avalanche de informação. Abandonar o bombardeio ao qual somos submetidos por metro quadrado, ou a cada segundo, é morrer de fome. Alimentemos-nos das mais diversas fontes, que quase não nos saciam. E queremos mais. E, nos intoxicamos.

Cansei dos textos escritos por gente como eu… Carregados do que trazemos conosco.

Decepciono-me facilmente, porque minhas expectativas são sempre altas. As baixezas… Deixo-as para os rasteiros, que citam até trechos do que houver de mais sagrado, para as mais pulhas afirmações. E, não se trata de ficção? Quem escreveu?

Enfadei.

E de agora em diante, meu silêncio.

Tchau.

Hellen Cortezolli

O males do meu bem – Por @Cortezolli

Hellen Cortezolli

Dizem que há males que vem para o bem… Não especificaram de quem exatamente, mas usamos a rapa do tacho de positividade e, acreditamos ser para nós.

Ah, os nós, esses que apertam sem dó, nem piedade…

Voltando aos males… Você por um segundo, sou eu, daí a gente finge juntos, mente juntos… Desativei uma parte do meu cérebro, porque já estava feio errar tanto. O córtex frontal eles disseram, o culpado (sim culpado, porque se fosse responsável, não me decepcionaria tanto) pelo planejamento de comportamentos e pensamentos complexos, expressão da personalidade, da conduta social, antissocial, no meu caso.

Os objetivos mais íntimos é esse cara quem governa. E, é claro, como um maquiavélico articulista se associou a outro cara chamado prosencéfalo, este último por sua vez, manja dos paranauês do amor e sexo, divide o poder com ínsula, figura de duas partes, duas caras, vá saber?! Mas, você pode enganá-los com chocolate, te faz pagar menos de trouxa…

A questão é que você até acostuma viver só. Completamente exilado na ilha de suas próprias emoções. O primeiro ano é meio caótico, não vou lhe enganar. O segundo gera uma paz, então todo mundo vira uma plantação de chuchu. O terceiro você se acha o maioral, completo e soberano no seu autocontrole, turbinado de expectativas inatingíveis. Eis a derrocada, o salto da fé… ou da morte, nunca se sabe o que haverá lá embaixo, aonde a visão não alcança… Pode existir um mar de lágrimas da vergonha.

Você acreditou que nunca mais fosse se apaixonar e outra vez virou piada pra alguém.

Mas, há males que vem, ou mentem que compraram passagem…

Hey? Me faça uma lobotomia!

Hellen Cortezolli

A obscuridade das segundas chances – Por @Cortezolli

06102016-teoria-do-caos

É estranho como encaramos as segundas chances, tem um ar de desconfiança ao mesmo tempo em que há uma importância apreciável, de esperança. Depositamos na balança imaginária a pieguice de dois pesos e duas medidas… Propositalmente dúbio e aos pares.

Talvez se considerarmos hipoteticamente, que apenas duas parcelas de personalidades habitem o universo, o dividiríamos ao meio, onde uma seria composta por pessimistas, que carregam consigo a bagagem da experiência frustrada e a outra de otimistas, que vislumbram nas segundas chances, outra oportunidade de não cometer os mesmos erros. Contudo, nenhum dos dois perfis está livre de cometer erros novos, de sair mais fortalecido ou definitivamente, mais machucado.

7929872438_6caa073be7_b

Mês passado, encontrei um velho amigo, de adolescência, o tempo e a distância nos afastaram completamente, e sei lá o porquê, permitiu que nos reencontrássemos somente agora, no fundo acho que havia ficado em débito com ele, então dei toda a atenção e disse tudo o que senti com o nosso reencontro, conforme Renato Russo no ensinou.

alonedoll

É óbvio que foi como se eu tivesse falado com as paredes, entretanto, fui eu quem teve a necessidade de quitar uma dívida que não se paga com dinheiro e, portanto, a saldei com o que tinha de valor para oferecer, reconhecimento, amizade, sinceridade, carinho e amor, do meu jeito torto, intempestivo, direto e reto, que ninguém é obrigado a aceitar, apenas fui eu.

Mas, o cerne do problema é sobre segundas chances e falamos sobre isso também, ele reagiu com um sonoro: “É muita pretensão sua não acreditar em segundas chances”… Uau! Por essa eu não esperava.

Nitidamente ele faz parte da parcela de otimistas que habita este universo, eu pertenço a dos pessimistas. Sou praticamente Ph.D. em segundas chances, já concedi essa honraria a relacionamentos de toda a ordem: profissional com ressalvas, comerciais com ressalvas, amoroso, para nunca mais fazê-lo, familiar com ressalvas. Percebeu que na lista não consta amizade né?! Só para deixar escancarado… Confiança é um artigo de primeira necessidade, em falta nos melhores estabelecimentos do ramo.

2-chance

A obscuridade com que enxergo, ou melhor, com a qual não me permitia ver as segundas chances, foi além da cegueira, comprometeu meus outros sentidos. Não se tratavam de segundas chances para aquele estabelecimento comercial onde não fui bem atendida, mostrar que todo mundo tem um dia ruim. Ou quem sabe, aquele cara por quem um dia fui perdidamente apaixonada, não necessariamente fosse o facínora filho da puta que merece morrer gritando; Ou ainda, aquele parente consanguíneo não tenha culpa de não ver o mundo pelo mesmo prisma que o meu… Quiçá até os círculos sociais, por ventura, não sejam tão vazios.

As segundas chances servem para mim, ou para você, de modo muito particular, somente para que possamos nos comportar de forma diferente, se sentirmos ser possível, quando for crível.

todo-dia

Ninguém disse que seria fácil, todavia, se permita tirar o véu, foque-se em si, veja se o reflexo no espelho é quem você quer ser, ou imaginou que seria. E, se alguma coisa não der certo, dê-se outras segundas chances sem sentir-se um (a) otário (a) fracassado (a) sem vontade de cantar uma canção. Desobscureça-se para si.

Hellen Cortezolli – Jornalista e cronista

Alternativa


Ele ligou o rádio do carro e olhou para mulher ao seu lado. Perguntou-lhe o por quê daquele silêncio todo.

Ela respondeu com um sorriso. Porque para ela havia muito barulho, de seus próprios pensamentos, da arritmia cardíaca provocada pelo álcool em sua corrente sanguínea e outras ondas que não cabem nessa frase.

Havia ainda o som dos pneus do carro tocando a estrada, para que não perdessem a impressão de que estavam em movimento.

O vento assobiando na janela e ainda o timbre da voz dele.

Havia muito naquele nada.

Tudo, menos silêncio.

Hellen Cortezolli 

A trama do egoísmo e a empatia ( @Cortezolli)


Às vezes é engraçado como os problemas nos são apresentados. Se analisarmos de maneira egoísta, como é de costume, não será possível interpretar nada a partir do ponto de vista de outra pessoa. Para desobscurecer tal afirmação, é preciso antes, conceber a ideia de que tudo que é poderá deixar de ser quase que instantaneamente.


Por mais que empatia seja um critério que não possa ser ignorado em qualquer relação social, nem sempre as pessoas sabem o que significa. Imaginar como o outro se sente diante de nossas ações, pode ser uma prática complexa demais para algumas mentes pensantes, para as inconsequentes também.

Nosso grau de egoicidade diminui ou aumenta em largas proporções se nos relacionarmos com pessoas com comportamentos semelhantes. Se há afeto, a coisa toda ganha um potencial ainda maior. Egoisticamente falando, amar alguém egoísta nos faz menos egoístas porque para fazer dar certo, alguém tem que ceder. E se é possível reconhecer os próprios desajustes no outro é porque nada é de fato por acaso. 

O conceito parece ser simples, mas a prática é o oposto. Você pode até entrar em crise existencial, com questões que provoquem análises mais profundas quanto a quem você realmente é. Quem quer ser? O que é preciso aprender? E finalmente, será que você consegue?

A graça não está apenas nas recompensas, nos abraços, beijos, sexo ou finalmente na tão sonhada paz entre os de bom coração… Está no exercício da respiração, na tentativa quase nula de fazer a pulsação normalizar, está em não se entregar a insônia, a autossabotagem, nem a dissolução dos sonhos.
Hellen Cortezolli

Sabotagem ( @Cortezolli )


Perdi tato, o feeling, o tempo…

Perdi a oportunidade, a fé, a fome, a esperança…
Perdi o momento de ficar calada e até o de falar.
Penso demais. 

Perdi a coragem e a cara de prepotência habituais. 

Perdi o fio da meada, aquela condensada e tudo mais.

Ganhei um frio na barriga constante. 

Mãos trêmulas, suores frios.

Ganhei um medo pujante, taquicardia e até arrepios. 

Não consigo mais organizar meus pensamentos tortos por intermédio da escrita, não quero trocar palavras também com ninguém. Me tornei uma bomba ambulante. 

Puf… Explodi!

Hellen Cortezolli

Já sinto… o teu abraço (@Cortezolli)

A vida nos prega peças e de repente, sempre de repente, precisamos rever conceitos, desconstruir visões e racionalizar mais que o habitual. Isso dá um medo e uma vontade de fugir do mundo, de se autodesligar…

De não se reconhecer no espelho, de mudar o cabelo, de ter um novo apelido de se desintegrar. Só que ser egoísta tem certas consequências, há pessoas que amamos que sentem nossa falta, mesmo quando tudo parece dizer o contrário.

Mas, o tempo não te dá chance, não dá pausa para pensar… E o corpo padece, dói. Você sente o chão se abrir e te engolir. E o todo a sua volta espera uma reação plausível que nem sempre é possível corresponder.
O jeito é reviver o que de mais doloroso possa parecer, não como um exercício masoquista (porque para o masoquista o sofrer é prazeroso), mas como forma de enxergar que o caminho complicado te leva a conquistas muito mais importantes. O valor de ouvir aquela voz, de sentir aquele abraço e de dizer “eu te amo muito mais do que você pensa”. 

Hellen Cortezolli

Poema de agora: Menos agorafóbica ( @Cortezolli)


Menos agorafóbica 

Esvaneço, sumo, desapareço num estalar de dedos. 

Poucos percebem, mas aos que manifestam estranheza não tenho muito que dizer, sem muitas explicações a dar…

Fui viver e me deixar levar.  Atualmente fugitiva do ostracismo ao qual me submeti real, hipotética ou imaginariamente, saí para dançar, dancei, debochei, ri, beijei, bebi, namorei e cheguei cedo para ver o sol raiar.

Hellen Cortezolli

Máquina do tempo, relatividade e outros paranauês manjados

Durante raras ocasiões onde certas implicâncias raivosas podem ser compartilhadas em redes sociais, disseminei meu ódio momentâneo por Einstein, isso mesmo o referido gênio me tirou do sério. 

Afinal, ele bem que poderia ter nos deixado de herança as máquinas do tempo, oposto de a teoria da relatividade. Por que quem mais que nós, meros ansiosos mortais empobrecidos de qualquer genialidade, para saber o quanto nos é caro cada segundo de vida à espera de algo, alguém, ou alguma coisa?

Mais absurdo ainda foi o motivo de ter abandonado a teoria que supostamente unificaria todos os fenômenos físicos em um único tratamento teórico e matemático, para ficar pasmem: chafurdando na luxúria. Todo mundo sabe que é bom, né? 

Todavia, egoisticamente falando onde fica o bem comum? Se ele tivesse namorado menos… Estaríamos viajando no tempo, voltaríamos até aquela fatídica data e não votaríamos no cara aquele… Não faríamos as mesmas escolhas e nos jogaríamos no leque de possibilidades de conhecer outros “eus” de nós mesmos. Vivenciaríamos os melhores momentos de nossas vidas tão regradas ou não. 

Porém, a motivação destas linhas e raciocínio caótico é que um também colega jornalista mencionou a seguinte frase no comentário do status “A imaginação é uma máquina do tempo e ela é melhor que o conhecimento”. E pirei com isso, pirei! Essa frase fez um efeito bombástico em mim…

Não consigo “imaginar” sem recorrer ao meu “banco de dados”, ou seja, preciso de referências, já que não tenho aptidões inventivas natas. 

Explico: 

Se partirmos da premissa de que é preciso algum conhecimento, (seja ele empírico ou acadêmico) para abastecer nossa capacidade imaginativa, penso que na ausência nosso acervo seria limitado, logo, tal afirmação se tornaria improcedente. Porque mesmo os gênios precisaram recorrer a algumas experiências… 

Agora se de repente ele fez menção ao próprio Einstein quando afirmou que “em momentos de crise só a imaginação é mais importante que o conhecimento”, então, nada tem a ver com a falta de conhecimento e sim com criatividade, proatividade, pensar rápido, visão e “aqueles paranauês” que os orientais manjam bem “com crise se cresce”. 

Entretanto, usufruirei do meu “direito da dúvida” e proponho que você faça o mesmo, já que não sou dona da verdade (nem é o meu desejo) e não acredito em nada que se apresente como absoluto. 

Destaco por fim, que sou limitada e preciso de referências e apesar de aprender alguma coisa todos os dias, me surpreendo em não saber nada e com a crescente insegurança diária com a qual me deparo diante das inúmeras situações.

É difícil em um mundo onde tudo é tomado para si e readaptado, ter de fato ideias próprias, autênticas… Tudo parece, um remake, uma releitura, adaptação ou apropriação indébita de autores mortos… Até de fome.   

Hellen Cortezolli

Gente Pelada (@cortezolli)


Ando numa vibe cheia de confusão. Explico: Quer dizer, posso tentar explicar a minha confusão. Que é cercada de subjetividade.


Seria algo muito parecido como adentrar no quarto de alguém. Pode estar bagunçado aos olhos do visitante, mas também pode ser a melhor arrumação já existente…

Papo de mulher é um termo extremamente preconceituoso, as conversas apenas fluem mais facilmente com esta ou aquela pessoa, tanto faz o sexo dela. Contudo, numa dessas conversas fluentes engrossávamos um grupo feminino. 

E não sei como surgiu a questão, não sei se comentávamos sobre prazeres fortuitos ou as 10 coisas que gostaríamos de fazer antes de… sei lá o que… Mas, levantamos a hipótese de traçar uma faixa etária para posar nua, nada a ver com questões lícitas ou ilícitas, o papo reto era: “Toparia ou não posar nua?”.

Cerca de 90% do grupo ao menos acenou com a cabeça que já pensou nisso. Sem  sequer questionar para quê ou com quem faria o tal ensaio. Para mim a ideia ficou no ar, todo mundo quer um ensaio, mas para que? Por que daqui a pouco cai tudo? Antes de ter filhos? Depois de tê-los? Para ampliar e deixar na sala de estar?

Tentei responder horas depois, quando olhava pela janela do quarto a chuva que caia delicadamente nos paralelepípedos, que por sua vez resolvia refletir a luz vinda dos postes… Tá, isso serve para dizer que não obtive sucesso. Minhas ideias embaralhadas se perderam por aí.

Por quê? Com quem? Pra que? Como faria um ensaio sobre nudez?
Achei obviamente muita coisa na internet, que alimentou minhas dúvidas. Vi muita coisa de qualidade estética, contudo, nada que respondesse satisfatoriamente a questão toda… Minhas incertezas ganharam proporções ainda maiores. E isso é tão instigante!  

Qual a diferença entre sensualidade e erotismo? Sendo que trata-se de conceitos subjetivos, o que pode ser sensualidade para mim pode não ser para você… E vice e versa. Muitos desses materiais que citei ter admirado entre um clique e outro, estava relacionados com as duas tags “erótico”, “sensual”.

E a nudez pela nudez? Agora que virou modinha protestar pelado. Ok, ok, isso não é de agora. Mesmo assim, porque o nu choca? Ou não choca mais? Mamilos? Depilação e suas variáveis? Qual viés deve ser evitado para que o trabalho não vire pornografia?

Óh, dúvidas! Não posso viver sem elas. 
Só sei que por enquanto, além de não saber nada, tenho visto muita gente pelada… Quase que o tempo todo. 

Hellen Cortezolli

Artes cínicas (@Cortezolli)


Não se trata de uma palavra parônima ou uma brincadeira proposital regada de ironia para falar de artes cênicas, é cínica mesmo. Há por aí aos montes e talvez você também conheça, alguém de sua convivência com tais dotes, um artista cínico.

Mas, a origem do cínico vai além de sua semântica, que despreza as conveniências sociais, muito pelo contrário, este ser específico, reconhece as oportunidades em explorar os potenciais alheios de modo a servi-lo, e não se furta de enredar tantos quantos forem necessários para que convenham aos fins em que ele for o beneficiário direto. Tão pouco economiza energia caso tenha de enveredar por outros caminhos não tão dignos.

Artífice, porque leva-se um tempo até identificar seu caráter obsceno, outro tempo mais para ver que pessoa dissoluta chega a ser, desde que a finalidade seja sempre o próprio sucesso, obviamente.

É uma trama tão bem feita, que os otários passam pelo chamado “tempo da piada” e riem exageradamente, sem notar sua patética participação no enredo, até que no fim do ato, todas as máscaras caem, e lá está você rindo de si mesmo, por não ter valor algum, por não ter entendido que o gracejo é ninguém além de você e, no fim das contas, pagar para ser motivo de riso.

Hellen Cortezolli

O Retorno da Tempestade (@cortezolli)

Voltei a desabafar usando a palavra escrita.
Eu havia me distanciado porque as pessoas não liam mais o que eu escrevia. Era como falar para as paredes… Então, tempos depois cansei de falar sozinha. Minha ausência foi tão grande, que parti de mim mesma.

Toda vez que sentia meu sangue subir para cabeça ou queria gritar para o mundo o que eu sentia… Lembrava que escrever não adiantaria, pois não conseguia organizar as ideias.

Com o tempo minha segurança resolveu dar as caras.
Decidi que só falaria de coisas boas. Contudo, não poderia dividir meus momentos mágicos, para que estes, não me abandonassem também.

Agora que o esporte “chute o balde à distância” foi reativado, meus desabafos têm sido mais constantes… e finalmente desencadeei a revolta dos que ontem se diziam meus amigos.

Tomam dores que não são deles, se identificam com o que descrevo e, interpretam como querem. E lá estou eu novamente, a velha Cortezolli gerando polêmica, remexendo em feridas alheias, incomodando gente… Aquela tempestade de olhos castanhos voltou.

E me vejo em confusões muito parecidas com as que anteriormente me desgastavam. Que me dava ao trabalho em discutir, emburrar, me aborrecia por não me fazer entender, agonizava quando me viam como um monstro incapaz de sentir complacência dos demais seres ditos inteligentes. Agora, só me escondo, os evito, aqueles problemas que me causam dores. E ainda assim, machuco gente. 

Sei que minha cabeça vai mais leve repousar no travesseiro, mas o que me motivou a escrever estas linhas foi que percebi: Sou lida!

Hellen Cortezolli

Por memórias e almas mais vivas (@Cortezolli)

Biblioteca da Universidade da Região da Campanha (Urcamp) às 15h de uma segunda-feira – Foto: Hellen Cortezolli
Quando alguém vai embora de vez… Quando inevitavelmente a ficha cai que não veremos mais aquela pessoa, percebemos o quão ínfimo somos.

Há os que em vida buscam fazer a diferença, porém, certa tarde, buscava informações de uma dessas pessoas responsáveis por fazer a tal diferença na cidade onde resido. Fui diretamente à biblioteca da faculdade fundada por ele…

Me surpreendeu não só o descaso com o espaço físico, o abandono, a falta de tato, mas o descuido intelectual. Quem era afinal o “fulado” pelo qual tive interesse? A bibliotecária aprovisionada da má vontade, que infelizmente a profissão é famigerada, chegou a sugerir outro nome, como se eu não soubesse quem era a figura em questão. Vestida de uma paciência que não me é peculiar, respirei fundo e insisti.

Ela então, se deu conta de que eu sabia de quem se tratava, ora, ele era o fundador do lugar para o qual ela levanta da cama, se arrumava, tomava seu café, usava o transporte e se dirigia todos os dias durante não faço ideia do tempo, mas que ela chamava de trabalho, ofício, pão de cada dia…

Triste fim este de não ser ninguém, tendo sido de fato.
Hoje novamente um desses episódios penosos, porém, legitimistas, onde compreendemos que apesar de ser quem somos, não constituímos nada além de pó. A memória permanecerá aos que dela dependerem diretamente, aos que o amaram somente. Mais coisa nenhuma. Com o tempo tudo desaparece.

Obviamente que nos apegamos às nossas crenças, a elas cabe o intento de amenizar a ausência insubstituível. Ao contrário do que dizemos diariamente, munidos da praticidade, dinâmica e tomada de decisões. Ninguém o é, mas aos vivos resta a lembrança, enquanto forem capazes de usar a consciência e os próprios sentimentos.

Tão frias e clichês são as palavras de lamento, ou condolências que tentamos expressar quando alguém nos confessa a morte de outro alguém que lhes foi caro. Eu costumo me calar e se possível lhe conceder um pouco de calor humano, mesmo que a tentativa seja fracassada de dizer:

 “Pode contar comigo pelo menos para ouvi-lo quando quiser falar, isso sei fazer”.

Oferecer apoio parece tão pouco para mim, quando vejo o sofrimento aparecer de todas as formas, raiva, soluço, silêncio, dor… Mas, para quem o recebe é fundamental. E quando tenho pressa algumas pessoas tendem a dizer que há tempo.Que tempo? Quanto tempo? Por quanto tempo haverá esse tempo de que falam?
Quando se derem conta já não haverá mais.

Hellen Cortezolli

Pertencimento (@Cortezolli)


Pertencimento 

Aprendi essa palavra nova…
Aprendi o seu significado literal.

Pertencer a alguém, não como uma propriedade, mas de maneira a fazer parte.
Ser parte integral de um todo, se tornar prioridade.
Ser o presente e o futuro.

Ter uma relação de respeito, concernente.
Esse é o meu atual modo de tocar a alguém e ser tocada.

Hellen Cortezolli