Por Fernando Canto
Antes de casarmos minha mulher Jeanerena era uma lutadora das causas sociais mais diferentes possíveis. Ela se metia em qualquer protesto e eu a acompanhava nessa luta.
Um dia ela soube que iriam cortar uma secular mangueira da praça principal da nossa cidade, e já me convidou para impedirmos esse crime antiecológico premeditado pela prefeitura.
Na noite anterior ao ato da derrubada da árvore fomos dormir nela. Subimos sorrateiramente pelos seus galhos com a ajuda de uma escada e nos acomodamos em uma forquilha para esperar o dia raiar. De início, formigas e mosquitos ficavam incomodando, mas depois transamos de um jeito muito doido que cansamos e adormecemos.
Acordamos com os bombeiros, a polícia militar e o pessoal da prefeitura que já estavam lá embaixo ainda de madrugada, com ordens para nos tirar de lá na marra antes da imprensa chegar.
Eles nos prenderam e derrubaram a mangueira, alegando que ela poderia tombar a qualquer momento com as fortes chuvas do inverno que já estavam caindo. Mesmo carregada de frutas ela deveria ser sacrificada, pois poderia deixar um enorme prejuízo à população daquele bairro.
Quase sete meses depois nasceu nosso filho primogênito, o Altino Versiculorum, prematuro e com a cabeça esquisita, pequena. Parecia uma cabeça de periquito asa branca, da família dos psitacídeos.