Como O Rock Brasileiro Ficou Proibido Para Chorão

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Textaço do jornalista André Forastieri

O Charlie Brown não foi sempre essa auto-parodia de hoje. Quando a banda apareceu, era única. Ninguém mais no Brasil captou essa vibração californiana, praiana-urbana, surf e também skate, relax e tensão, vida boa e vida lôca. Fora tínhamos Sublime, Red Hot Chili Peppers, Urban Dance Squad. Aqui, ninguém, e ninguém seguiu o Charlie Brown. Eles descobriram um mundo lá fora, recriaram esse mundo aqui dentro, e ali reinaram sem rivais. Era o som moderno da Califa via Santos, muito brasileiro, galinha, eshperto.

A onipresença da banda mexeu com o núcleo dos maiores rivais do Charlie Brimagesown em sua geração, seus antípodas em popularidade e respeito da crítica: Los Hermanos. Charlie Brown era bermuda, tatoo, zoeira, somos do rock e vai encarar? Los Hermanos barbicha, cabecice, instrospecção e ânsia desesperada de aceitação na MPB empoeirada. Uma banda abraçava a praia, outra lhe dava as costas. Chorão tinha milhões de amigos, Marcelo Camelo e companhia sonhavam com poucos e bons discípulos. Um fez sucesso só de público, outro sucesso só de crítica.64817716-rtemagicc-chorao02-jpg

Um dia a língua de Camelo foi mais longe que devia: “esse negócio de fazer comercial para Coca-Cola é um desdobramento da indústria, a gente rejeita esse negócio de vender atitude”. E depois: “o Charlie Brown Jr. é uma banda da qual temos discordâncias estéticas… são precursores deste estilo que combatemos.”1446909188

E foi aí que Chorão ganhou minha torcida. Porque foi tirar satisfações com Camelo. Deu-lhe um soco no nariz, o que não é bonito, mas fácil entender e, no meu caso, aplaudir. Camelo processou pela agressão, pedindo dinheiro, o que é menos bonito ainda, pra não dizer invertebrado. Perdeu. Comemorei com Chorão. Los Hermanos sempre pediram uns corretivos.

*Do livro “O Dia que o Rock morreu”. 

Fonte: Whiplash

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