Quem sofre é o dinossauro – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Sentimento de vingança é algo terrível. Não gosto quando ele vem, mas o deixo ficar, caso venha. A vingança pode atingir pessoas e coisas que não têm nada a ver com a nossa chateação. Por exemplo, esse dinossaurozinho que aparece quando a internet cai.

Demorei a saber que esse dinossauro se move, corre, pula. Trata-se de um jogo, você já deve saber disso há muito mais tempo que eu, que vou tateando nesse campo minado que é a informática, computação e tal.

Pois bem, é esse dinossauro digital que está pagando por esse serviço capenga de internet que assola a nossa amada terra tucuju.

Em vez de fazê-lo pular os cactos, faço o dinossauro dar de cara com eles. Depois do game over, disparo novamente e lá vai o dinossauro outra vez colidir com os cactos.

Para diversificar um pouco, aperto a tecla que o faz pular alguns cactos e só depois de saltar o quinto cacto deixo o dinossauro bater no cacto seguinte.

Há uns pterodátilos que aparecem lá pelo final da estrada e deve significar alguma mudança de fase. Gosto também de fazer o dinossauro se chocar com alguns desses pássaros. E assim vai até que a internet volte (coisa mais rara que avistar um dinossauro de verdade), que pode acontecer dentro de três horas, se a gente estiver com sorte.

O dinossaurozinho já está quase para entregar os pontos e ser nocauteado por mais uma batida. Deve pensar lá com seus botões: “Putz! Desse jeito, vão me extinguir mais uma vez!”.

O que pretendo com isso? Além de passar o tempo, quero expressar minha insatisfação atingindo o que estiver mais próximo de mim e, claro, não tenha condições de revidar. Também creio que essas sessões de tortura – que a Sociedade Protetora dos Animais Pré-Históricos não me processe – possa fazer com que as operadoras se compadeçam do pequeno dinossauro e ajeitem logo essa merda de internet. Ih! Lá vem o sentimento de vingança de novo! Mas agora o para-raios foi o teclado, que destrocei jogando na parede.

Deixo o dinossaurozinho tomar fôlego e lá vamos nós outra vez ao jogo. Game over.

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