A Flauta de Mozart – Crônica de Fernando Canto (republicada por conta do Dia Nacional do Maçom)

 

Por Fernando Canto

Foi ouvindo pela enésima vez um Andante Cantabile de uma Sonata para Piano de Mozart que pude perceber verdadeiramente a força musical desse gênio do século XVIII. Tão grande é a sua pujança e força que remete o ouvinte para obras mais significativas produzidas por ele desde a mais tenra idade. Conta-se que aos cinco anos escreveu com facilidade um concerto para piano de difícil execução, aos seis aprendeu violino por si mesmo e aos oito já era um compositor tecnicamente seguro. Diziam que encarnava duas personalidades: uma como o menino igual aos outros que fazia suas brincadeiras e travessuras e outra em que era visitado pelo gênio sagrado da música e ficava em êxtase, aprisionado unicamente pela música. Em suas cartas dizia que não sabia explicar sua forma e método de compor, mas que quando estava em boa disposição, e só, os pensamentos musicais assaltavam-lhe a mente com abundância. Ignorava de onde precediam esses pensamentos e como chegavam a ele, e que nisso a sua vontade não tinha a menor intervenção. Ora, Platão dizia há muito tempo: “Aprender é recordar-se!”

No filme “Amadeus”, o compositor austríaco nascido em Salzburg parece ser um grande e irresponsável gozador, com a sua risada irônica e inesquecível. Seu talento despertou invejas e ciúmes. E entre os seus inimigos estava o Príncipe-Arcebispo de Salzburg, uma fonte de vaidade que se contrariava em saber que alguém pudesse ser mais famoso do que ele próprio. Evitava a todo custo o crescimento da notoriedade do compositor, que já era grande. Após alguns episódios despóticos em que Mozart e seu pai ficaram em estado de penúria, a Maçonaria de Viena, fiel aos seus postulados de Fraternidade, foi ao encontro de Mozart, dando-lhe amparo moral e financeiro. Segundo Fernandino Barbosa (Jornal O Liberal, de Goiás) o compositor foi recebido na Loja “A Caridade” em 1784 e se tornou um maçom exemplar, alcançando graus elevados e progresso, pelo seu trabalho. Maynard Salomon, no seu livro “Mozart, uma vida”, cita que quando da sua iniciação o Venerável Mestre daquela Loja, Aloys Blumaer, vaticinou em seu discurso: “Abençoada seja neste dia a humanidade. Para o teu bem e tua glória entra hoje um membro para esta grande Irmandade; nos degraus deste solene altar, um dos teus filhos faz o juramento inquebrantável de a nos unir, consagrando-se na virtude e na sabedoria!”

Mozart fez parte de outras Lojas e compôs inúmeras músicas referentes à Maçonaria, entre as quais, “Pequena Cantata Maçônica”, “Hino da Maçonaria”, “A Viagem do Companheiro”, “Tu, Alma do Universo” e a famosa “A Flauta Mágica”, que para Sylvio Soares in “Vultos da Humanidade”, é um verdadeiro ato de fé maçônica e expressão total de sua filosofia, pelo incentivo que sentimos de progresso e de amor divino.

Salomon informa que Mozart era maçom e illuminati, pois nesse tempo as duas Ordens eram unidas nos mesmos ideais e se baseavam no mesmo princípio. Seu fundador, Adam Weishaupt, dirigiu por muitos anos a maçonaria austríaca. E ao que tudo indica, ainda de acordo com o autor acima citado, o compositor pertenceu a outras sociedades secretas. Dizia manter contato com os “Irmãos Asiáticos” (?) e a Rosa-cruz, cujo rei da Prússia, Friedrich Wilhelm II, seu amigo íntimo e confidente, era o Imperatur, ou seja, o dirigente maior da Ordem Rosa-cruz. Mozart se envolveu em muitos episódios envolvendo a Maçonaria, inclusive defendendo os Illuminati, quando o imperador Joseph II proibiu essa Ordem na Baviera, em 1785, devido atritos entre Estado e Igreja.

O compositor morreu aos 35 anos num dia de violenta nevasca. Seu túmulo ficou ignorado para sempre, mas sua genialidade ungida pelo espírito da música jamais se apagará da memória da humanidade. Essa foi a mágica de sua flauta.

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