A História do rock amapaense – 2ª capítulo

                                                                                                  Por Elton Tavares

Antônio Malária, da Little Big, a banda mais popular dos anos 90
A segunda geração do rock Amapaense foi formada por músicos de garagem, no início dos anos 90, que faziam festinhas que denominamos, na época, “piseiros”. Bandas como Primos do Brau (Braulino), Little Big, Drop’s Heroína, Delta de Vênus, Pulso zero, Conexão Melão, Silver Boys, Agression (primeira banda de metal do Estado) e Slot, preferida de dez entre dez metaleiros da época. Tinha também a banda punk do Eron, mas era tão ruim que não vale a pena comentar.

As bandas tinham espaços específicos e só se encontravam em um evento anual: “O Dia Mundial do Rock”, no dia 13 de julho. O evento é produzido, até hoje, pelo Bio, famoso articulador do rock amapaense. Estes piseiros revelaram ótimas bandas como Charlotte, B-612 e Herdeiros, que tinham composições próprias.

Alguns eventos foram marcantes naquela época, verdadeiros divisores de águas, que mudaram a cena rock no Estado. Foram eles: O Festival de bandas de garagem, que aconteceu em Dezembro de 1996; O Projeto Escadaria, que revelou as bandas: Franzinos, Kids, Epitaph, Equinócio e o Festival Jovem da Canção (FEJOCA), que premiou a banda Dezoito/21.

Este último, onde foram trabalhadas composições próprias, coroou o roquinho simples e sincero, de boa qualidade. Após estes eventos, houve um retorno à cultura do “cover”, sempre voltando ao ponto de partida, como se tal musicalidade andasse em círculos. Claro que apareceu muita gente boa, como The End e Fire Of Guns.

Daí que surgiu o Mosaico, uma casa com muito bem estruturada com uma proposta pura e simples, o rock. Lá tocavam Primos do Brau (Braulino), Little Big e Drop’s Heroína. Era um espaço democrático, para quem quisesse tocar, mesmo a Pulso Zero, que fazia covers de bandas nacionais, embalando as sextas feiras do público chegado, com destque para o guitarrista Ito. Há o Mosaico, era um espaço alternativo onde banda e platéia interagiam em uma relação calorosa, peculiar e única. Quem foi nunca esquecerá aquelas noites.

A banda Primos do Brau era formada por Guido, que viajou para o Natal (RN) e foi substituído pelo Elder Melo, Adriano Joaci, Adroaldo Jr. e Túlio, e tocava basicamente indie rock e covers de qualidade. Não teve longa trajetória, durando pouco mais de um ano. O motivo foi a ida de Guido para o Nordeste, afinal, era uma banda de amigos.

Já a Drop’s Heroína surgiu do desejo das, então adolescentes, Rebecca Braga e Aline Castro em formar uma banda diferente, com uma proposta de agressividade teenage. Logo se juntaram a Lenilda e Sabrina. A formação mudou várias vezes, Sabrina deu lugar a Cristiane no contra-baixo, Suellen no teclado, e a ultima formação contou com Débora nos vocais e Dauci no baixo.

A Drop´s não resistiu a saída de Rebecca Braga, que por sua vez seguiu carreira solo. A Drop’s nunca trabalhou com composições próprias, mas foi um marco no rock amapaense, pois lutou contra o preconceito, já que era uma banda formada apenas por mulheres, nada convencional no Amapá. Fizeram música e história, inspiraram outras meninas e escreveram uma página do nosso rock.

Little Big
Da segunda metade idos dos anos 90 até meados de 2003, uma banda agitava o rock and roll em Macapá, a Little Big. Sua primeira formação foi Antônio Malária no vocal, Ronaldo Macarrão, Tibúrcio na guitarra e Zico na bateria. Todos skatistas. A banda quase acaba com a saída de Tibúrcio, Patrick Oliveira (hoje na stereovitrola) assumiu este posto de forma brilhante. Houve um rodízio na cozinha da Little, mas quem emplacou mesmo foi o Mário.

A Little foi a banda de garagem mais duradoura e badalada daquela época (onde a Little tocava, era casa cheia). Eles tocavam o punk, indie, hardcore e manguebeat. Chegaram a desenvolver um som próprio, com composições do Antônio Malária, um flerte com o Batuque e Marabaixo, misturado ao rock.

A banda ganhou força com a percussão nervosa de Guiga e Marlon Bulhosa. Inspirados, chegaram ao topo do underground amapaense com as canções “Baseados em si”, “São Jose”, “Beira mar” e “Lamento do Rio”. Música amapaense, um dos meus trechos preferidos era: “Eu sou do Norte, por isso camarada, não vem forte”. Seria a tão esperada explosão do rock tucujú? Que nada.

A banda embalou festas marcantes do nosso rock, teve seus anos de sucesso pelas quadras de escolas, praças, pista de skate, bares e residências de Macapá. Um rock em estado bruto, sem muitos recursos tecnológicos ou pedaleiras sofisticadas. Aqueles caras agitavam qualquer festa, quem foi ao Mosaico, African Bar, Expofeiras, Bar Lokau, festas no Trem Desportivo Clube e Sede dos Escoteiros sabe que do que falo.

Vários fatores deram fim a Little Big, como desentendimentos internos e intervenção familiar. Eu, apesar de ser amigo dos caras nunca soube o motivo real. Eles ão estouraram porque não tiraram os pés da garagem, ficou um gostinho de quero mais, deixando uma legião de órfãos que gostavam de seu talento, irreverência, performances de palco do Antônio, do carisma do Ronaldo e do talento de do instrumentista Patrick.

A Little Big tocava, como a maioria, por prazer e diversão em uma época que nós íamos para o “piseiro” e era só isso que importava naquele momento. Voltando ao antigo Mosaico, o bar fechou e o rock ficou cativo de festas particulares, feiras agropecuárias e Halloweens, sempre com aquela sensação de que tínhamos talentos na cidade. Nenhum freqüentador esquecerá.

A Little, Drop’s e Primos do Brau foram as principais bandas do circuito. Era uma geração ótima, porém, o que os caras faziam era por diversão e apesar do talento, não tinham iniciativa (nem apoio) para começar a compor e  agitar a cena autoral.

Continua….
  • Favor retificar. A Drop’s trabalhou composições como:”Farsa(Cama)”, “Cabeça de Radio” e “Mudança de Hábito”, bem como participou de Festivais, desfiles anuais e apoio de instituições governamentais: Detur, Fundecap, Assessoria da Juventude, sempre aprovando projetos para show. Ressaltando o tempo de permanência da “Drop’s Heroína”, a saida de Rebecca Braga fomentou artistas no vocal feminino, carente na epoca, porém, o que ocorreu foi a mudança do nome da banda.

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