A obscuridade das segundas chances – Por @Cortezolli

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É estranho como encaramos as segundas chances, tem um ar de desconfiança ao mesmo tempo em que há uma importância apreciável, de esperança. Depositamos na balança imaginária a pieguice de dois pesos e duas medidas… Propositalmente dúbio e aos pares.

Talvez se considerarmos hipoteticamente, que apenas duas parcelas de personalidades habitem o universo, o dividiríamos ao meio, onde uma seria composta por pessimistas, que carregam consigo a bagagem da experiência frustrada e a outra de otimistas, que vislumbram nas segundas chances, outra oportunidade de não cometer os mesmos erros. Contudo, nenhum dos dois perfis está livre de cometer erros novos, de sair mais fortalecido ou definitivamente, mais machucado.

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Mês passado, encontrei um velho amigo, de adolescência, o tempo e a distância nos afastaram completamente, e sei lá o porquê, permitiu que nos reencontrássemos somente agora, no fundo acho que havia ficado em débito com ele, então dei toda a atenção e disse tudo o que senti com o nosso reencontro, conforme Renato Russo no ensinou.

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É óbvio que foi como se eu tivesse falado com as paredes, entretanto, fui eu quem teve a necessidade de quitar uma dívida que não se paga com dinheiro e, portanto, a saldei com o que tinha de valor para oferecer, reconhecimento, amizade, sinceridade, carinho e amor, do meu jeito torto, intempestivo, direto e reto, que ninguém é obrigado a aceitar, apenas fui eu.

Mas, o cerne do problema é sobre segundas chances e falamos sobre isso também, ele reagiu com um sonoro: “É muita pretensão sua não acreditar em segundas chances”… Uau! Por essa eu não esperava.

Nitidamente ele faz parte da parcela de otimistas que habita este universo, eu pertenço a dos pessimistas. Sou praticamente Ph.D. em segundas chances, já concedi essa honraria a relacionamentos de toda a ordem: profissional com ressalvas, comerciais com ressalvas, amoroso, para nunca mais fazê-lo, familiar com ressalvas. Percebeu que na lista não consta amizade né?! Só para deixar escancarado… Confiança é um artigo de primeira necessidade, em falta nos melhores estabelecimentos do ramo.

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A obscuridade com que enxergo, ou melhor, com a qual não me permitia ver as segundas chances, foi além da cegueira, comprometeu meus outros sentidos. Não se tratavam de segundas chances para aquele estabelecimento comercial onde não fui bem atendida, mostrar que todo mundo tem um dia ruim. Ou quem sabe, aquele cara por quem um dia fui perdidamente apaixonada, não necessariamente fosse o facínora filho da puta que merece morrer gritando; Ou ainda, aquele parente consanguíneo não tenha culpa de não ver o mundo pelo mesmo prisma que o meu… Quiçá até os círculos sociais, por ventura, não sejam tão vazios.

As segundas chances servem para mim, ou para você, de modo muito particular, somente para que possamos nos comportar de forma diferente, se sentirmos ser possível, quando for crível.

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Ninguém disse que seria fácil, todavia, se permita tirar o véu, foque-se em si, veja se o reflexo no espelho é quem você quer ser, ou imaginou que seria. E, se alguma coisa não der certo, dê-se outras segundas chances sem sentir-se um (a) otário (a) fracassado (a) sem vontade de cantar uma canção. Desobscureça-se para si.

Hellen Cortezolli – Jornalista e cronista

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