A presença açoriana em Macapá – Crônica de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Nas comemorações dos 250 anos da fundação de Macapá bem que o prefeito podia convidar as autoridades das ilhas lusas de Madeira e Açores a fim de que integrassem a programação. Seria uma forma de homenagear aqueles povos que indubitavelmente contribuíram para o processo colonizador do Brasil e, em especial, o da Amazônia pombalina.

A saga da emigração madeirense começa no século XV, quando suas ilhas já tinham uma densidade demográfica considerável – situação que já vinha sendo dinamizada pelo duque D. Fernando na segunda metade desse século. “Para que a população crescesse e não faltasse mão-de-obra criou um imposto anual pago em trigo, para todos os homens solteiros que não têm mulheres, para estimular a consumação de casamentos” (Fernandes dos Santos Maria Licínia in Os Madeirenses na Colonização do Brasil. Centro de Estudos de História do Atlântico/Secretaria Regional do Turismo e Cultura. Funchal, Madeira, 1999.) Daí, com o excesso populacional das ilhas é que se inicia a diáspora madeirense, aliada a fatores de subsistência econômica visto as ilhas vulcânicas não terem muito espaço para a agricultura diversificada. Além disso, a odisséia migratória dos povos dos dois arquipélagos constituía-se em excelente oportunidade de ascensão social dos nobres de segunda linha que não possuíam meios materiais para permanecerem no pico da pirâmide social (Fernandes dos Santos. Op. cit. Pág. 21). Mas foi só com os alistamentos, a partir de 1747, que se iniciou a vinda desses povos para o Brasil, principalmente para a região Meridional, quando se instalaram na Ilha do Desterro, hoje Florianópolis, e no Rio Grande do Sul.

O sucesso político-diplomático da assinatura do Tratado de Madri, de 13 de janeiro de 1750, que definia as fronteiras do Brasil, “exigia gente para proceder à demarcação dos limites e para reforçar a defesa de toda a enorme região amazônica” (ver Silva, José Manuel Azevedo, Açorianos e Madeirenses no Povoamento e Colonização da Amazônia no Tempo do Marquês de Pombal in As Ilhas e o Brasil. CEHA/SRTC. Funchal, Madeira, 2000.) Foram propostos, então, três remédios: o “descimento dos índios do sertão”, a introdução de escravos negros e o envio de povoadores, principalmente casais dos Açores e da Madeira, segundo o autor acima citado.

Artur Boavida Madeira, em seu texto denominado Açorianos nas Fronteiras do Brasil na Segunda metade do Século XVIII (Op. cit. As Ilhas e o Brasil) informa que em 1751 encontravam-se alguns casais que tinham se alistado e pretendiam ir para os estados do Pará e Maranhão. “As Instruções Régias de maio de 1751, para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, que ia desempenhar o cargo de Governador e Capitão General do Estado do Grão- Pará e Maranhão, dão conta da necessidade de se proceder com a maior brevidade a instalação daqueles casais. Em correspondência para seu irmão Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) informava, em janeiro de 1752, de que ‘achei já o navio do transporte dos casais das Ilhas dos Açores, que tinha chegado a este porto em 29 de agosto {de 1751} e entregou 486 pessoas {86 casais}, não lhe morrendo na viagem mais do que quatro, porém, nas que trouxe da Ilha Terceira vieram alguns velhos e muitas crianças’. O Governador queixava-se, no entanto, de que os povoadores ‘não têm servido até o presente mais do que uma desordem contínua, e perturbação de esta terra’. Ainda assim, em janeiro de 1752, esses povoadores ficaram instalados na nova povoação de São José do Macapá e o governador encontrava-se a aguardar a chegada de outro navio das ilhas. E quando ‘menos esperava’, em novembro de 1752, chegaram mais de 430. Segundo Francisco Xavier de Mendonça Furtado, esses ilhéus participaram da colonização das vilas de Bragança e de Ourém, nas margens dos rios Guaçu e Caeté”.

(*) Do livro “Adoradores do Sol – Textuário do Meio do Mundo, Scortecci, São Paulo, 2010.

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