A propósito de canetas

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Mesmo com todo o avanço das formas de escrever ainda há quem use caneta. Eu escrevo no computador, mas não dispenso caneta. Geralmente, começo o texto rabiscando e dou uma boa adiantada. Aí, passo para o computador e prossigo. Ainda mais quando dá aquela travada na mente e o texto não quer sair. A solução que encontro é essa. Acho até estranho quem escreve direto no computador, assim como devem me achar estranho escrevendo com essa quase peça de museu. Já fiz até um texto sobre a caneta, reconhecendo seu valor e torcendo para que ela acompanhe esta humanidade por muito tempo e que só deixe de existir quando eu também já tiver virado peça de museu.  Lá vai o texto:

– Da caneta sai o líquido que dá forma às letras. É a caneta que escreve ou quem escreve é a mão que a guia? É do cérebro que sai o texto ou é a caneta que o cria?

– Desconfio que caneta tem vontade própria. Creio que ela, à vezes, fica com raiva dos dedos que a apertam e por isso saem xingamentos, palavrões e rasuras sem que o escritor tenha nada a ver com isso.

– Desconfio também que não é o poeta que utiliza a caneta para escrever o poema. É o poema que utiliza a caneta que, por sua vez, utiliza o poeta.

 – Caneta que fica muito tempo sem ser usada se vinga. Sai por aí, escrevendo nas paredes aquilo que só deveria ser escrito nos diários mais íntimos.

– Caneta vermelha não escreve com tinta, mas com sangue. Assim como muitos escritores derramam sangue e arriscam a própria vida para que suas palavras sejam lidas.

– Caneta azul é aérea cor de mar ou aquática cor de céu?

– Se quem escreve voa, a caneta também voa e talvez seja ela o motor do voo.

– Caindo do bolso será suicida ou é a adrenalina que a movimenta?

– Caneta verde tem parentesco com o plâncton. Se o escritor que a transporta morrer afogado, a caneta alimentará as baleias, que são imensas, mas têm gargantas pequeninas por onde só passam plânctons.

– Caneta preta tem ancestral africano, como todo mundo, e pode ser transformada em instrumento musical e escreve, na pele branca do papel, liberdade para todas as cores, baleias, plânctons, suicidas, afogados e escritores.
  • Haha..muito bom! Escritor que é escritor de verdade, não abre mão de uma boa nova ou boa velha caneta.

    By: Andreza Gil

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