Agressão de pedagoga negra por PM motiva ato contra violência policial e racismo no Amapá

Manifestantes protestaram em frente ao Comando-Geral da PM no Amapá — Foto: Caio Coutinho/G1

Por Caio Coutinho

Centenas de pessoas se reuniram em um ato pacífico na última terça-feira (22), em frente ao Comando-Geral da Polícia Militar (PM), Zona Sul de Macapá, segurando cartazes e aos gritos de “vidas negras importam” e “justiça”. O ato foi motivado após um policial dar um soco no rosto da pedagoga negra Eliane do Espírito Santo, de 39 anos, durante uma abordagem.

A agressão aconteceu em frente à casa dela, na Zona Norte da capital, na sexta-feira (18). Ela prestou depoimento à corregedoria da PM na manhã desta terça-feira e, pela tarde, compareceu ao protesto que cobrava justiça contra os casos de violência policial no Amapá.

A Rua Jovino Dinoá chegou a ser fechada por policiais para que os manifestantes pudessem protestar, no trecho em frente à sede da corporação. O ato também contou com apresentações artísticas como o batuque de marabaixo, representação cultural de origem negra.

Em momentos de falas, artistas declamaram poemas e algumas mães e parentes que perderam filhos e amigos devido a casos de violência policial também falaram. Manifestantes citaram que o estado é o que tem a maior taxa de mortos pela polícia em todo o país.

Eliane do Espírito Santo, pedagoga que foi agredida com um soco por um policial, compareceu ao ato — Foto: Caio Coutinho/G1

No ato, Eliane disse esperar que todas as mobilizações a favor da justiça surtam efeito.

“Hoje sou eu, amanhã pode ser outra pessoa. Sempre fui negra, mas hoje me sinto mais abraçada pelo movimento negro. Para mim é muito importante está na luta com eles, não só pela minha causa, mas pelas outras causas que aconteceram e ainda vão acontecer”, frisou.

Ela também detalhou que se sentiu muito segura durante o depoimento na corregedoria da PM e reiterou que ainda é difícil falar sobre o assunto, devido às agressões sofridas.

“Eu pude falar tudo o que aconteceu e que foi difícil e ainda está sendo. A minha maior preocupação é recuperar minha imagem. As pessoas têm sujado minha imagem nas redes sociais, não só a minha quanto da minha família. Eles estão se sentindo em risco”, declarou.

De acordo com Rayane Penha, de 24 anos, integrante do coletivo Utopia Negra Amapaense, movimento antirracista, e que fez parte da organização do protesto, o ato nasceu como um processo de reação contra a ação violenta da Polícia Militar contra a pedagoga e que as pessoas não mais devem aguentar esse tipo de opressão.

“Mas não foi só por isso, a gente sabe que não foi um caso isolado, quase todos os negros desse país já passaram por uma situação parecida. A maioria das pessoas que estão aqui já passaram por situações parecidas com a polícia, tão violentas quanto, ou até mais, com familiares assassinados”, falou.

Centenas de pessoas compareceram ao ato por justiça no Amapá — Foto: Caio Coutinho/G1

Conforme Laura Silva, de 47 anos, líder comunitária do Marabaixo, bairro na Zona Oeste de Macapá, a população negra, principalmente a de periferia, vive com as abordagens agressivas da polícia.

“Eu já fui abordada na rua e a abordagem deles não é bacana. Que bom que as câmeras estavam ligadas, no momento em que aconteceu com a pedagoga, que bom que foi filmado, porque senão seria mais um caso camuflado”, completou.

Fonte: G1 Amapá

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