AINDA SOMOS OS MESMOS…Por – @WalterJrCarmo

1976 foi um ano mágico. Era Janeiro. Uma paixão me levou à São Paulo e ao Teatro Bandeirantes para ver o show Falso Brilhante, de Elis Regina.

O show contava a história, vida e carreira da pimentinha, sem deixar de lado as críticas à ditadura militar brasileira; tudo isso num ambiente circense. Era o auge da carreira de Elis Regina Carvalho Costa. “Falso Brilhante”, estreara em dezembro de 1975 deixava plateias boquiaberta e aplaudindo de pé já no primeiro ato. Amparado pelo show, o disco homônimo, lançado em fevereiro, estourava. Todos os holofotes eram dela.

Corajosa, teimosa, visceral, Elis não somente negou o falso brilhante, o vil metal, mas concebeu algo completamente inovador e moderno no show business brasileiro. Um espetáculo revisitando a própria vida.” Assim descreveu Fernando Figueiredo Mello no blog Efemérides do Efemello, o show, 40 anos depois.

O musical teve mais de 1200 apresentações e ficou em cartaz entre o final de 1975 e o início de 1977, tornando-se assim um sucesso absoluto e lendário na história da MPB.

O disco, considerado revolucionário, transgressor e antológico, trazia músicas de João Bosco, Aldir Blanc, Violeta Parra, Atahualpa Yupanqui,Chico Buarque, Ruy Guerra e outros ícones. Foi considerado o maior sucesso da cantora.

No show, duas músicas me atingiram como uma mordida raivosa na alma e o disco perpetuou essa marca profunda.

Abrindo, com a tal mordida, Como Nossos Pais, uma mistura de rock com MPB num lirismo profano e em plena ditadura militar, a música falava da falta de esperança na juventude acomodada que queria mudar o mundo, mas ficava no mesmo conforto de seus lares observando os aflitos de longe.

A música passa a ser um soco no estômago de muita gente que queria ficar parada no tempo, a espera de um milagre qualquer.

A música foi um adendo para que Belchior, o compositor, virasse estrela de primeira grandeza e, sem querer, Elis gravaria Velha Roupa Colorida, uma extensão da primeira, mas sem a carga depressiva e autoritária que ela carregava.

Embalado pelo furacão Elis, o segundo disco Alucinação (Polygram, 1976), explodiu , resgatou o primeiro LP, Palo Seco, e consolidou a carreira do cantor e compositor cearense.

O Alucinação trazia um punhado de canções de sucesso, como Velha roupa colorida, Como nossos pais, e Apenas um rapaz latino-americano. Outros êxitos incluem Paralelas (lançada por Vanusa) e Galos, noites e quintais (regravada por Jair Rodrigues). Outros artistas também regravaram sucessos de Belchior, entre eles Roberto Carlos e Elis Regina (“Mucuripe”) e Engenheiros do Hawaii (“Alucinação”).

Belchior foi símbolo de toda uma geração e de muitas vidas. É uma roupa que não nos serve mais, mas permanece vestindo e embalando o nosso espírito.

Teu infinito sou eu… Dizia ele.

Walter Júnior

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