Algumas coisas que não sei – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

O ano chegou e já está indo. É a inexorável marcha do tempo, que não para, como disse Cazuza e, antes dele, o mano Caetano, os nossos avós e nós mesmo constatando que o tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece, citando de novo Caetano. O tempo nos ensina a viver, já que a morrer, agora citando Arnaldo, ninguém foi ensinado e todos morrerão.

A minha coleção de janeiros vai aumentando e chego ao número cinquenta e seis. Não hoje, gente. Deixem as felicitações, ou maldições, para a data correta, ou incorreta: 17 de janeiro.

A vida me trouxe um tantinho de ensinamento e alguma gordura na região da barriga, às vezes impaciência, cansaço de ouvir novidades velhas ditas por gente que se acha esperta. O espírito do meu pai me visita e eu passo a fazer e dizer coisas que ele fazia e dizia e eu não gostava. Isto é apenas um desabafo. Escrevi em voz alta. Prossigamos.

Fico me perguntando o que aprendi e não me respondo, já que a preguiça também se acentuou nos últimos tempos. Na verdade, não tenho resposta, pois creio que aprendi muito pouco. Até respirar não sei direito. Falar, andar, desenhar. Faço tudo isso, mas com pouco conhecimento, apesar de muita coragem. Se a humanidade tivesse necessitado de mim para criar algumas dessas invenções que temos, seria um fracasso. Não teríamos metade dos aparelhos que nos ajudam algumas vezes e nos atrapalham sempre.

A lista das coisas que não sei fazer é enorme, maior que a barba que pretendo cultivar até que venha o suspiro final. Dirigir veículos, por exemplo, nem pensar. A única coisa capaz de se mover que dirijo é bicicleta e, mesmo assim, sem largar as duas mãos. Carro, skate, nave espacial? Nada disso sei guiar. A bordo de um automóvel, até buzinar eu faço de forma ruim, meio desafinado. Mas coloco o cinto de segurança automaticamente, como todos deveriam fazer. Nisso sou bom.

Dos esportes que tentei praticar, futebol é o que mais me causou dor. Sou apaixonado por futebol, não a ponto de ficar numa mesa de bar discutindo isso a noite inteira, mas o futebol me odeia. Experimentei todas as posições e fui ruim em todas. Nem como gandula consegui me destacar. Vôlei, tênis de mesa, baralho? Medíocre em algumas modalidades, sofrível em outras e totalmente abaixo da crítica em todas. Tentei xadrez, mas minha inércia cerebral me deixava sem oxigênio nos miolos. Videogame? O único jogo eletrônico que arrisco é paciência, e só com um naipe.

Entrei na universidade só pra provar que qualquer um pode entrar e o único curso que consegui concluir foi o curso do rio que banha a Universidade Federal do Pará, tragando fumaças mágicas. Fui aluno relapso e amigo aplicado, me formando em amizades que estão comigo a vida toda e me tornei PhD em THC (este último ponto é apenas uma piada).

Sou autossuficiente em amor de família e todas as famílias (desde a primeirona, vinda de meu pai e minha mãe) que a vida me trouxe me deram a certeza de que sou abençoado. Alguém lá em cima gosta de mim e foi generoso.

Acreditei em Deus, rompi com Deus, me reconciliei com Deus e hoje sou amigo desse cara, desses amigos com quem a gente tem intimidade suficiente para mandar se foder de vez em quando, sem que isso abale a amizade.

Até o dia do meu aniversário, dia 17, vou publicar aqui alguma coisa referente ao passar do tempo. Mas não é uma promessa. Pode ser que eu esqueça em questão de segundos. O tempo traz a falta de memória e, agora mesmo, uma pergunta me vem à tona neste meu oceano de pensamentos: do que a gente está falando mesmo?

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