Amor que nunca morre – Parte 1: Rejane – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Tenho amigos de uma vida toda. Pessoas que conheço desde sempre. Alguns falo todos os dias. Outros o contato é mais espaçado, mas eu me sinto uma privilegiada de ter os amigos que eu tenho.

Claro que a maioria das pessoas já virá com as dez pedras do cancelamento nas mãos afirmando que o que se tem são conhecidos, que amigos se contam nos dedos de uma só mão e todo aquele enredo conhecido de que “nem todo mundo que está ao seu lado é seu amigo”, etc.

Para diminuir a polêmica, vou agora falar de uma em especial que conheço desde os nove anos de idade, quando voltei pra Macapá e caí na turma dela no segundo semestre, terceira série da professora Gil na escola O Pequeno Polegar, minha médica favorita Rejane.

Rejane era uma das melhores alunas DA ESCOLA, sempre atenta e aplicada, com uma letra linda que até hoje não mudou, e com quem, eu, CDF como sempre fui, me identifiquei de pronto. Branca, dos cabelos bem negros, eu sempre soube que ela seria enorme e acertei em cheio em minhas previsões.

Sempre passávamos de ano antes do quarto bimestre. Junto com o Ricardo (sobre ele escreverei em breve, meu amigo irmão que amo tanto e me faz chorar cada vez que ouço a música Não Vou Sair do Nilson Chaves, pois está nos EUA há mais de duas décadas) e tantos outros queridos e queridas, aprontamos muito! Quebramos ovos na cabeça uns dos outros nos aniversários, apresentamos os melhores trabalhos de grupo, organizamos levantes para tirar professor que a gente não gostava da aula, esperávamos ansiosas a festa junina, nos apaixonamos na mesma época pelo mesmo garoto e ainda riamos disso, fizemos primeira comunhão juntas na igreja Jesus de Nazaré e temos tantas memórias afetivas juntas que tem gente que acha que a gente é irmã, como acontece com a Priscylla, sobre quem também escreverei.

Estudamos desde então até quando chegou a hora de optar, já no Colégio Objetivo, qual seria a nossa área no terceiro ano: eu, SEMPRE de humanas, ela, brilhantemente biológicas. Ela foi pra Belém estudar medicina, eu virei mãe da Laís aos 18 anos, formando mais tarde. Ficamos uns tempos sem contato, mas TODAS as vezes que nos encontrávamos, era como se ainda estudássemos juntas: afeto, respeito, admiração mútuas e MUITAS gargalhadas.

Rejane sempre me considerou alguém à frente de meu tempo, mesmo sendo CARETA, por ter sido criada pela minha mãe, Dona Dalva, mulher ativista, extremamente politizada, feminista e motoqueira. É, mamãe andava de moto quando eu era criança é isso não era muito normal na época para mulheres. Claro que só descobri que a Rejane era fã da mamãe depois de adulta, a gente batendo papo e tal. É engraçado como geralmente a gente nem pensa que o que pode ser normal pra gente é super admirado pelo outro. Eu, em contrapartida, acompanhava de longe as conquistas da Rejane, e comemorava todas (e não foram poucas!) vitórias dela.

A vida adulta nos pegou, com boletos, filhos, casamentos, separações, conquistas, fracassos, e de uma forma misteriosa, pois nossa convivência era pouca, sempre estivemos ligadas e nos apoiamos. Ela me entende e conhece e vice versa, sem julgamentos. Tenho um orgulho tão grande dessa mulher que se ela soubesse me daria o título de presidente do fã clube dela, pois ela consegue ser mãe, filha, irmã, amiga, médica e tudo o que ela precisar ser, de forma visceral, apaixonada, intensa e bem feita. Nisso somos BEM parecidas. Carregamos a bandeira da liberdade, intensidade e felicidade. Somos subversão e revolução, sem pudores, reservas ou medos. Expressamos uma à outra nossos medos, fraquezas, frustrações. E sempre nos reinventamos.

E por isso que sempre que falo com ela, eu digo que a amo e escuto que ela me ama, e isso me alimenta a alma, juntamente com tantos outros amores que carrego e tenho. Minha amiga Rejane salva vidas, é uma profissional invejável, com treinamento e capacidade que a fazem única e mesmo assim ela continua ela: simples, enorme e pura força e amor, como uma tempestade que arrasta e não se explica, apenas se admira e respeita. Essa foi outra forma de te dizer que te amo e o quanto você é importante em minha vida e história.

Que a gente consiga ficar velhinhas do jeito que já conversamos e gargalhamos tantas vezes: próximas e cúmplices.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

  • Sempre levantei a bandeira que homenagem se faz em vida. E isso você fez de maneira brilhante. Rejane é aquela irmã mais amada. Aquela que tem colo e uma tranquilidade de ter inveja. É a amiga que me presenteou com a filha que não tive, aliás 2. Duas belas filhas que pude acompanhar desde a barriga até o nascimento. E essa amiga já salvou minha vida mesmo distante. Enviando uma ambulância quando nem sabia ao certo o que estava acontecendo. Anjo, essa é a melhor definição que posso dizer para essa amiga. Cuidou do meu pai e no velório dele foi p lá cuidar da minha mãe. Passou a noite cuidando de quem mais amo. E tantas outras coisas . Amizade é tudo isso. É dar sem esperar em troca. E ter um coração que não cabe no peito. Viva a Rejane

  • Mais uma adimiravel crônica dessa mulher Maravilhosa guerreira fantástica que tive a felicidade de encontrar numa festa num barco de turismo em Macapá.. Rapidamente trocamos Whatsapp.. Está crônica me deixa saudosa pois as minhas amigas já partiram . Mas como a vida segue encontro sempre nas minhas inúmeras viagens gente valente de coração aberto como a Telminha.
    Parabéns querida por essa arte de colocar no papel essas crônicas verdadeiras que transbordam tanto amor e nos deixar cada um a sua maneira relembrar as .pessoas que nos foram tão amadas e importantes em nossas vidas.

  • A verdadeira amizade despida em sua mais profunda plenitude. Continuem sempre amigas-irmãs neste sublime encontro. de almas. Lindo texto👏👏👏
    Parabéns🤩💖🤩

  • Em tempos tão instáveis, uma amizade sólida é admirável…
    Bendita seja a expressão explícita de amor e amizade.
    É o.que fica !

  • Pra quem tem
    Amigos(a) desse nível , sabe a riqueza que tem . Almas que se encontram conseguem se encaixar, sintonizar , mesmo com personalidade diferentes . Tenho uma que venho me encontrando com ela em várias encarnações , nessa encarnação , eu entendi o que era essa irmandade de alma, só que ela teve que ir de
    Volta pra casa , antes de mim .
    Sei que sentes .
    Parabéns pelo texto e pelo amor que carregas . 🌹

  • ….”temos tantas memórias afetivas juntas que tem gente que acha que a gente é irmã, ”

    Amizade é isso… e ponto.

  • Sim! Eu acredito que Deus coloca anjos em forma de gente na nossa vida, que nos acompanham e zelam por nós.
    Que privilégio Telminha! É de transbordar o coração de gratidão e alegria em tempos de tantas pessoas líquidas!

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