Apenas umas palavras sobre Ali – Crônica de Ronaldo Rodrigues

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Crônica de Ronaldo Rodrigues

O campeão Muhammad Ali morreu neste último 3 de junho, dia do aniversário do meu filho Pedro. Ali tem essa coincidência de datas comigo, pois nasceu num dia 17 de janeiro, como eu, claro que há muito mais tempo.

Sempre fui seu admirador e sempre serei. Além da sua eficiência como pugilista, ele extrapolou os limites do ringue. Com seus punhos e seu bailado, destruiu adversários colossais. Com sua metralhadora verbal, mostrou a cara de uma América racista, preconceituosa, hostil. Com suas atitudes, fez o mundo ver, por exemplo, o quanto a Guerra do Vietnam era um absurdo e se recusou a ser envolvido nesse erro. Pagou caro por suas opiniões e nunca retrocedeu. Usou a oratória inflamada para provocar seus oponentes e foi precursor dessa espécie de marketing.

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Ele é, realmente, o maior, como disse inúmeras vezes. Com essa frase, no meu entendimento, toda vez em que ele a pronunciava estava berrando aos outros negros que eles também eram grandes e precisavam lutar por sua autonomia. Até sua arrogância esteve do lado do bem.

Em 1974, no então Zaire (hoje, República Democrática do Congo), Ali enfrentou George Foreman, também negro, mas que fazia o jogo do stablishment, preferindo não se envolver em polêmica e se omitindo em relação às condições em que vivia a população negra. Ou seja: o oposto de Ali.

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Ali ganhou a simpatia do povo africano com uma saraivada de palavras contra seu oponente, não hesitando em usar termos insultuosos. E venceu a luta depois de ser brutalmente castigado por Foreman. A esquiva de Ali e sua resistência foram fundamentais para suportar os golpes; sua paciência e inteligência o levaram a atacar no devido momento para nocautear Foreman e arrancar o título de campeão mundial. Esse combate e a tensão que o cercou estão descritos no livro A Luta, de Norman Mailer, escritor expoente do New Jornalism, gênero surgido nos EUA nos anos 1960 que associava narrativa jornalística à literatura. No livro, Mailer, também um rebelde, simpatiza francamente com Ali.

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Sempre um combatente, Muhammad Ali travou uma batalha contra o mal de Parkinson que agora teve seu desfecho. Siga em paz, campeão. Considero a sua vida como um round que os negros venceram numa luta que ainda está muito longe de terminar.

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