Após representar Amapá, velejador fala dos desafios no Oceano Atlântico

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Por Paula Monteiro

Redemoinhos, ondas de até quatro metros de altura e um resgate de tirar o fôlego. Esses foram alguns dos desafios enfrentados pelo atleta Patrice Maciel, na corrida internacional de remo ‘Rames Guiyane 2014’. A competição teve início no dia 18 de outubro de 2014 no Senegal, na África, com destino à Cayenne, na Guiana Francesa. A prova durou 82 dias para o professor franco-brasileiro, que chegou em penúltimo lugar na corrida e teve a participação de 20 atletas de várias nacionalidades em busca de aventuras e superação.

Apesar de não ter se classificado na competição, Maciel se sente um grande vencedor. As dificuldades tornaram-se lembranças incríveis na memória do atleta. Entre a solidão, o medo do desconhecido, da morte e a decepção de ser desclassificado ainda na prova- em meio a imensidão azul do Oceano Atlântico- estiveram ondas gigantescas, redemoinhos e intensas correntes marítimas que atrasaram a chegada de Maciel à terra firme.

Desafios e aventura

Tudo começou quando o atleta ainda tinha chance de ganhar ou ser classificado na ‘Rames Guiyane 2014’. Maciel decidiu ousar e investir em um plano arriscado para chegar à frente dos competidores que estavam melhores colocados na prova. Na intenção de fazer um ‘contorno’ e ressurgir antes dos concorrentes em direção à chegada, ele seguiu no sentido Sul; o rumo oposto dos demais. “A ideia era pegar uma corrente mais forte, mas a Zona de Convergência Tropical me esperava com muitas ondas e correntes imprevisíveis. O meu desempenho foi instável e me compliquei”, contou ao Portal Amazônia.

A partir daí, o franco-brasileiro ficou ‘sozinho’. Por conta do perigo da região onde estava, ele não teve mais o apoio de nenhum barco de socorro. Foi então, que o desafio ficou ainda maior. Um redemoinho de 500 quilômetros de diâmetro estava prestes a testar a força física e mental de Maciel. “A minha preocupação era entrar no redemoinho, pois se isso acontecesse eu me atrasaria em mais de mil quilômetros”, calculou. Um redemoinho já era ruim, mas poderia piorar: o velejador percebeu que estava no meio de dois deles.

O desgaste físico foi arrebatador. “Eu estava muito desgastado, parecia um zumbi. Levei mais uma semana para conseguir ultrapassar o segundo redemoinho. Quando completei quase um mês de prova, soube que a competição já tinha um vencedor e que eu estava desclassificado da disputa, mas não do desafio pessoal”.velejador11

A morte

A um dia de distância de chegar à terra firme, no município de Oiapoque (distante 560 quilômetros da capital amapaense), Maciel viu a morte de perto. O barco entrou em uma grande onda. “Nunca tinha vivido essa situação. Amarrei os remos e me tranquei no interior do barco. Só tive tempo de pedir socorro à minha equipe para dar a minha localização. Escureceu tudo, fiquei vários segundos no fundo até voltar à superfície. O barco ficou de “cabeça pra baixo”, só ouvia o estrondo das ondas quebrando. Fiz de tudo pra ele ficar normal, mas não conseguia. Foi quando minha relação com Deus se fortaleceu”.

O Resgate

Depois de cinco horas nessa posição e à deriva, o socorro chegou. O barco do atleta estava de “cabeça para baixo” porque a corrente da âncora tinha enrolado no mesmo e o mantinha naquela posição. “Já estava com água até a altura da barriga, mas me mantinha tranquilo para morrer. Nunca fiquei tão calmo em uma situação tão extrema. Fiquei em posição fetal para guardar calor e poupei a respiração, pois sabia que o socorro ia demorar”. Relembrou.

Mesmo quando o apoio chegou, as dificuldades continuaram. “Até sair do barco foi complicado. Levei uns 30 minutos para conseguir. As ondas quebravam com violência em cima da gente, quase naufragamos e acabamos perdemos o barco que estava competindo” lamentou.

A Chegada

Após duas horas, Maciel e a equipe de socorro conseguiram chegar ao final da prova. “Apesar do susto, demos muita risada. Comemoramos a vida com banho de rio e agradecimento a Deus e a minha família que estava me esperando no porto; foi um momento incrível poder abraçá-los. Apesar de não ter ganhado a prova, me sinto um vencedor, pois refleti sobre a vida, me aproximei de Deus e hoje sou um Patrice diferente: Renasci”, resumiu.

*Assista o vídeo ao lado.

Fonte: Portal Amazônia

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