As memoráveis férias de julho em Macapá e a babaquice de quem não sabia curtir

Começou o mês de julho. Em outra época, o período mais aguardado pelos jovens amapaenses. A galera que não viajava tinha a oportunidade de rever os amigos. A maioria deles, estudantes que moravam em vários estados do Brasil. Era aí que rolava a troca de informações culturais e a indignação. Nós inventávamos festas divertidíssimas, com muito rock e birita barata. Oh “ajuntamento” paidégua aquele.

Alguns amapaenses, mais exigentes e com a memória fraca, ficavam mordidos com o fato de Macapá não mudar. Eles falavam que não tinha isso ou aquilo, que a cidade onde moravam era o máximo, que todos lá eram legais e blá, blá, blá. Era aquele velho papo para encher os olhos e ouvidos de quem nunca saia daqui, era mais para aparecer, pois a maioria terminou os estudos e voltou para cá, onde as oportunidades ainda são grandes.

Mas também tinha a galera que notava todos os contras de nossa terra, mas não dava importância, pois estavam felizes de estar com a família e amigos. A mudança de comportamento dessas pessoas era de acordo com sua personalidade, os legais saíram daqui e voltaram cheios de novidades, ideias e muita vontade de mudar Macapá para melhor.

Já os pregos, chegavam torcendo o nariz e (pasmem) até mudavam sua forma de falar, com sotaques e vícios de linguagem das respectivas cidades onde moravam. Sabemos que, em alguns casos, é normal que pessoas absorvam o linguajar do local onde moram, mas a maioria deles era pura falta de personalidade mesmo.

Tinha cada figura. Nós éramos rotulados de loucos, pois escutávamos rock e fazíamos o que dava na telha. Fomos alvo de uma moçada “careta” que fazia o tipo politicamente correta. Até esses patetas irem estudar fora do Amapá. Foi um choque para eles, teve santa que virou loucona, teve prego que virou safo. E vice-versa, etc.

Alguns, que eram babacas, viraram caras legais e outros, que eram legais, se tornaram chatos esnobes. Parecia muito com o papo do Douglas, aquele personagem do ator Bruno Garcia, no filme “Lisbela e o Prisioneiro”.

Douglas era um pernambucano, que se esforçava para falar com sotaque carioca, pois tinha passado um tempo no Rio de Janeiro e ao voltar para sua cidade natal, desdenhava de tudo, pois as coisas boas se passavam no “Rio di janêiro”. A grande febre dos anos 90, na capital amapaense, foram as boites e barzinhos. A noite ficava mais agitada, todos estavam afim de diversão (é incrível, mas tinham mais opções que hoje).

Foi uma época em que a vida noturna local era muito mais badalada (não sei se essa opinião é a confirmação de que estamos ficando velhos). O mais legal eram as festas. Rolavam muitas festinhas nas casas, reuniões de amigos, regadas a rock e vinho barato.

Já tivemos “julhos memoráveis”, eventos marcantes como o Dia Mundial do Rock, noites no antigo Mosaico e quando inventamos o Lago do Rock (para combater a micareta), som legal e companhia paidégua. Nostálgico!

Casos e mais casos engraçados. Conhecemos tanta gente assim, mas o melhor das férias de julho, quando não viajávamos, era rever os amigos, a maioria deles não era como as que citamos neste texto. Eles amam este lugar tanto quanto nós e ficavam felizes em estar conosco, os provincianos enraizados por vontade própria (risos).

Elton Tavares

*Crônica de 2010, republicada por ser julho.

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