bEIra RIO – Por Fernando Canto – @fernando__canto

Por Fernando Canto

onde passo ouço ossos estralando augúrios principalmente pelas alamedaszagurys e entre mesas vouvivendo maresias em tardes de Venta Niaa puta pisca e cisca o homo arrisca com lábios de felação e o jogador de basquete come um hamburguer na calçada à espreita de uma lua de queijo Ouço ainda arrotos coca-colas e vejo um fedegoso engolidor de fogo sobre cacos de vidros vindo em minha direção “apenas um real doutor tenho que tomar remédio contra azia” e aí ele parte como nave movida a querosene Todos voltam A garçonete cobra-me um fiado que não lembro e o Alonso como sempre chega para preparar o show dos repetidos bardos eletrônicos que fumam em encruzilhadas e lavam seus rabos-de-cavalos com xampu de capim comprado no iepa a noche chega com as andorinhas avoantes e as tesourinhas cagadoiras por isso o céu é um saloon de baile onde dançarinos negros movem-se pelo fundo azul-laranja-cobre que se fecha em contraluz ao poente
com(o) a noche surgem idiomas e dialetos inquietantes que fervilham em compressões obscuras Assuntos sustentáveis de gesso e notícias-bombardeios pela tela do Grande Irmão de George, o Orwell
absorvo crítica ferrenhas enquanto o engraxate dá um brilho de espelho no pisante ferracini do camarada revolution dono de todas as verdades e locador de todas as doses
A gente só vai embora desta mesa se a nuvem negra da saída da lua não se afastar com a Venta Nia “Não choverá” diz seguro o prefeito do pedaço
Toca o celular e o Mô avisa “pernas em frangalhos/ olhos em bugalhos/ vou aí mas não demoro/ umboraimbora” O papo vai michar praessa turma/ Bando de burgueses emergentes com cartão de crédito e uma senha na memória
Assistir ao jogo do Brasil é bom no bar onde um palavrão pronunciado na medida soa como carinho por toda a extensão da Beira Rio
Mô chega e quer logo se (me) mandar cansada pra caralho e pra outros sambitos zouck loves e merengues
Assistir ao jogo do Brasil repito é bom no bar onde um palavrão pronunciado soa como grito de paixão

*Do livro “Equino CIO – Textuário do meio do Mundo”. Ed. Paka-Tatu, Belém, 2004.

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