Bora ser mais Zé – Por Orlando Júnior (@Orlando_Fla_Jr), sobre o Zé Ricardino (@Ze_Ricardino), que fez a passagem hoje

Por Orlando Júnior

O início desse texto era pra exaltar uma figura que se tornou tão presente no nosso cotidiano: o amigo virtual. Exato. Não era pra lembrar de alguém que está conosco dia e dia, algumas vezes à noite, mas sim por um cidadão que eu pouco conhecia pessoalmente, mas quase que somente de redes sociais.

Esse “fenômeno” é bom pra qualquer perspectiva, vejamos a cidadã conhecida como “Vih Tube”, hoje participante do reality show “Big Brother Brasil”, é uma das youtubers mais conhecida do público infantil brasileiro. Entretanto, no game presencial e transmitido 24 horas para o país inteiro: é uma jovem recém saída da adolescência que não admite ser contrariada, extremamente mimada e que usa qualquer forma de ação para estar em evidência ou pra ser admirada, sem escrúpulo algum, pois dificilmente deve ter sido contrariada alguma vez pelos pais.

De outro lado temos o Zé. Sim, nosso Zé, o cara rabugento e correto, sendo que um defeito não anula a qualidade, ao contrário, só reforça a ideia de que deixamos pra trás nossa humanidade. Porque era isso que o Zé era, humano, e acima de tudo, humilde.

Eu conheci a família do Zé ainda criança, frequentei a casa dele por duas vezes, tanto o meu pai quanto o pai dele sempre foram extremamente católicos, não a toa que o Zé sempre preservava a Quaresma, como todo católico fervoroso.

Já fui reencontrá-lo no twitter, mas sem muitas interações, até porque eu sempre fui avesso às amizades feitas em redes sociais e ele sempre foi “rabugento”.

Em 2019 passamos a ter mais contato, mas sempre bem superficial, mas ele passou a me mostrar uma faceta do twitter que eu não conhecia: a da solidariedade. Foi daí que passei a interagir com outros “tuíteiros” assíduos, entre eles a Kayser, não a cerveja, chegando a apresentá-la a vários amigos no Brasil inteiro para ajudarem na época do apagão (um viva para a Kayser – não a cerveja).

Hoje, no dia que o Zé fez a passagem, que não era dele, deve ter pego de alguém pela educação que lhe era peculiar, eu não tenho lágrimas, pois tive dois parentes e três amigos que faleceram recentemente pelo mesmo vírus e isso me deixa cada vez mais com o “coro curtido”, só consegui olhar para as mensagens e lembrar do dia em que convidei o Zé pra almoçar em casa.

Ele tinha elogiado um prato que eu havia feito num domingo para almoçar, achei de dizer “vou fazer um pra tu e a Nega depois desse lockdown”, ele, com a sutileza peculiar do cidadão respondeu: nem quando acabar a pandemia. Esse era o Zé, um cara, um zé, um amigo, sem ser conhecido, um cidadão que você gosta porque ele era exatamente isso, um cidadão, que cuidava da família e do trabalho, que lhe tratava como amigo dentro dos limites da amizade virtual.

Hoje lamentei tanto a morte dele quanto a do meu tio, meu coração tá pesado, e não é virtualmente.

*Orlando Júnior é professor, servidor de carreira da Justiça Eleitoral e amigo do Zé.

  • Senhor ORLANDO, sou sobrinha do querido José Roberto e em nome de toda a nossa família eu te agradeço pela bondade de destacar o nome do meu tio neste texto. Me prendi por muitos minutos nesta tela, lendo cuidadosamente cada palavra, onde criei cenas reais da imagem do meu tio porque ele era exatamente isso que você escreveu, uma pessoa de personalidade forte e muito bem formada, era tão rabugento que chegava a ser cômico, era o grande emissor de “verdades que precisam ser ditas” e inegavelmente isso causava desconforto em alguns… mas como muito bem colocado em seu texto, será que a humanidade não está precisando de mais Zé’s? Será que não chegou a hora de sermos mais Zé? mostrarmos a nossa verdadeira essência e tentarmos evitar a exposição de uma imagem irreal que por muitas vezes é o que acaba sendo feito em um mundo meramente virtual? Essa indagação ficará em minha mente, pois e inegável que a humanidade mudou, mas o nosso caráter não precisa mudar para que sejamos inseridos nesse novo contexto. O legado do meu tio foi de amor, verdade, carinho e extremo cuidado com a nossa família. Um ser humano de conduta incontestável. Correto, justo, honesto e que muito ralou para galgar uma condição de vida melhor, pois como muito bem dito por você, ele teve uma infância sem muitos luxos, mas cheia de ensinamentos e sempre acompanhado das orações fervorosas dos meus avós, Sebastiana e Antônio Ricardino, exemplo de fé que levarei pra vida toda.

    senhor Orlando, o seu texto massageou a minha alma e eu me sinto imensamente feliz em ver todo esse carinho emanado à memória do meu tio José Roberto.

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