Cabralzinho, um verdadeiro herói – Por Fernando Rodrigues

Por Fernando Rodrigues*

Ao alvorecer do dia 15 de maio de 1895, há 128 anos, a vila do Espírito Santo do Amapá (hoje, cidade de Amapá) era invadida por uma tropa da Legião Estrangeira vinda de Caiena, a capital da Guiana Francesa. Logo era constituída por homens adestrados na guerra, portando armas modernas, e quase sempre homicidas, pervertidos, falsários e traidores que nessa organização militar buscavam refúgio para a ocultação de seus delitos, porquanto para nela ingressar não se exigia bons antecedentes.

Ali desembarcou em escales para prender Francisco Xavier da Veiga Cabral, conhecido por Cabralzinho por ser franzino e de baixa estatura. Esse brasileiro nascido na cidade de Belém, após tumultuada e controversa participação na política partidária do Estado, imigrara para a região do Contestado Franco-Brasileiro onde passou a desenvolver atividades comerciais. Fazia parte da junta governativa denominada de Triunvirato criado para garantir a ordem pública e os interesses nacionais, enquanto a França não desistia da extemporânea reivindicação sobre parte das terras da antiga capitania do Cabo do Norte.

Foi como a principal autoridade desse colegiado que Cabralzinho à frente de 14 milicianos empunhando encanecidos armamentos interpelou o comandante dos invasores, o capitão Lunier, e o matou durante luta corporal. Os legionários em maior número reagiram e Cabralzinho e companheiros trocando tiros com eles, recuou para a orla da mata mais próxima para contra-atacar com auxílio de gente que mandara convocar na região dos garimpos. Os inimigos sobreviventes percebendo que poderiam ficar encurralados fugiram, antes assassinaram velhos, mulheres e crianças, decisão cruel e covarde que justificava a índole da soldadesca. Foi tudo muito rápido e se os brasileiros não puderam vingar seus mortos, a Nação Brasileira reconheceu o heroísmo dos que combateram e o governo da República levou a questão ao arbítrio internacional que resultou no célebre Laudo Suíço em 1º de dezembro de 1900, que ratificou o rio Oiapoque como a fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa.

*Fernando Rodrigues é professor, historiador e escritor

Fonte: blog da Alcinéa

** Colaboração da jornalista Dulcivânia Freitas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *