10 VARIAÇÕES SOBRE O INFINITO
VARIAÇÃO 1
O infinito existe?
VARIAÇÃO 2
Algumas vezes já tentei tocá-lo
Quando eu era criança
Corria atrás do horizonte até cansar
Pra mim, o infinito era
Aquele pôr do sol que encerrava
O bairro do buritizal
Depois procurei o infinito
Como a maioria das pessoas –
Nas constelações de amor,
Nas constelações de guerra –
Como se ambas fossem
Separadas pelos deuses
Longe, muito longe da terra
Tentei ainda encontrar o infinito
Quando me afoguei
Mas sempre tinha alguém
Para me salvar da eternidade
Quando olhava um arco-íris
Lá estava eu buscando o infinito
Mas de repente, céu limpo
Minhas mãos vazias de novo
VARIAÇÃO 3
Até que ontem
Sem buscar, nem correr
Encontrei o infinito
Quando teu bigode roçava meu rosto
Naquele instante bonito do amor
Foi como se todo o horizonte
O arrebol lindo, alaranjado
Como se as constelações nunca inventadas
Estivessem nos pelos do teu bigode
Foi como se os mares
Nunca dantes navegados
Ou um inesperado arco-íris duplo
De repente entrassem em meu quarto
VARIAÇÃO 4
Ah, amor!
Eu sei que tudo vai se acabar
Até o nosso amor e teu bigode
Mas conhecer o infinito
É o jeito mais lindo de também dizer adeus
VARIAÇÃO 5
Acho que ontem criamos
A minha constelação de paz
Que te faz eterno em meu caderno aquarelável
Falerno precioso
em uma noite qualquer de novembro
VARIAÇÃO 6
Talvez o infinito não exista mesmo
VARIAÇÃO 7
Na verdade, tudo é finito, amor
Os meses do calendário
O vinho mais envelhecido
Júlio César e seu poder
Um esquecido pergaminho
Consumido no Vesúvio
Todas as histórias são feitas de pó e poeira
VARIAÇÃO 8
Até mesmo o oxigênio
Que envelhece nossas juntas
É finito
VARIAÇÃO 9
Mas ter o teu bigode em minha cama
Compõe o epigrama da minha vida inteira
“Onde nada foi
Tudo se faz”
VARIAÇÃO 10
E assim, Deus criou novamente
O primeiro homem e a primeira mulher
Como se o mundo de repente
Pudesse recomeçar
No inexorável infinito
De quem sabe amar
CARLA NOBRE