Em tempos de pandemia, a arte se reinventa para sobreviver, para seguir respirando, com ou sem máscara.
A poeta Pat Andrade tem em seus livrinhos virtuais sua principal fonte de renda atualmente.
Já publicou quatro deles, nesse período, sempre buscando parcerias dentro ou fora de casa, desde a primeira publicação: Uma noite me namora conta com arte do também poeta, Pedro Stlks; a segunda – Em tempos de lonjura – tem a participação de seu filho, Artur Andrigues, que ilustrou e diagramou toda a edição. O terceiro livrinho, Delírios e subterfúgios, foi uma publicação solo.
Agora, chegou a vez de Do lado de dentro – de novo com a parceria do Artur, que fez a capa.
A publicação conta com 16 poemas autorais que refletem bastante o título do livro. Como diz a poeta, na apresentação da obra: “o lado de dentro de muita coisa: da casa, do cotidiano, da vida, da morte, do amor, de mim mesma”. Um livro cheio de experiências pessoais traduzidas em poesia, na sua forma mais simples: o verso livre.
Uma particularidade do trabalho da Pat Andrade é a maneira como vende seus livros: a poeta deixa os compradores à vontade para pagar o que quiserem por cada livro. Portanto, o leitor é quem sabe quanto custa adquirir suas publicações.
As vendas são feitas por ela, diretamente. Preferencialmente pelo Whatsapp. O pagamento é feito por transferência bancária. Contatos pelo fone (91)99968-3341 – Pat Andrade.
Estou fechando minha participação em um Simpósio de Poesia, para o qual fui convidada, ao mesmo tempo em que reviso um texto e preparo arroz.
Enquanto picava o alho, me veio à cabeça a Clarice Lispector. Que cheiro teriam suas mãos quando escreveu seu primeiro conto conhecido, Triunfo, publicado em 1940. Ela tinha 19 anos. Era tímida, mas ousada. Mais do que eu, inclusive.
Agora, o cheiro do arroz temperado se espalha pela casa. Sigo trabalhando diante do computador, respondendo e enviando mensagens.
Um passarinho canta aqui fora, bem pertinho da minha janela. Me pergunto: se eu não fosse poeta, essas coisas passariam despercebidas?
Será que a Dona Maria, mãe de oito filhos – com mais um na barriga – que lava e passa roupa pra fora, cozinha, cuida dos moleques sozinha, acorda às cinco da manhã pra buscar água no poço da vizinha, será que ela ouve esse passarinho? Será que tem arroz pra cozinhar?
Perguntas vãs, com respostas impossíveis sem poesia. Só a crueza de um cotidiano que não é o meu.
Meu gato me olha e se enrosca em minhas pernas – puro interesse: quer comer – e eu paro por aqui, antes que o arroz queime.
ele não era meu pai mas bem que poderia eu o chamava de Painho e era tratada como filha
meu amor por ele se confunde com noites e madrugadas perdidas se mistura com cerveja e cigarros esquecidos se expressa em poemas e canções nunca ouvidas
meu amor por ele se renova em manhãs e tardes de domingo se alimenta nos almoços e sobremesas servidas e não morre em mim mesmo com sua partida
Com poemas que falam de amor, vida, morte, solidão, tristeza, entre outros sentimentos, Pat Andrade encanta o seu público com a sutileza do seu trabalho na literatura. Ela fará apresentação nesta quinta-feira (27), a partir das 19h45, no Macapá Verão On-line, por meio das redes sociais da Prefeitura de Macapá. Acompanhe.
Pat Andrade é uma poeta amazônida, nascida em Belém (PA), e mora em Macapá há 21 anos- onde escolheu viver. Aos 49 anos, já publicou dezenas de livros e tornou-se um dos principais nomes na cena literária amapaense.
O trabalho da poeta também chama a atenção pelo aspecto artesanal que ela mesma dá a cada livro. Todos os livros físicos são feitos à mão por ela; desde a concepção, ilustração, diagramação (usando a técnica de colagem), montagem e comercialização. Às vezes manuscritos, outros digitados.
“Todos são artesanais. Em alguns, uso sobras de papel e papelão, recortes de revistas, entre outros materiais. Uma peculiaridade do meu trabalho é que cada pessoa que compra um livro virtual decide quanto vai pagar por ele”, conta.
Depois do livro pronto, ela mesma os vende em bares, restaurantes, escolas, universidades e eventos culturais – a venda ajuda na renda familiar desde 2007.
A autora é colaboradora do site De Rocha!; tem poemas publicados na coletânea Jaçanã – Poética Sobre as Águas e na revista virtual de circulação nacional Literalivre e na Agenda Cultural editada em 2013.
Em 2018, realizou a exposição intitulada Poesia Ilustrada, na Biblioteca Estadual Elcy Lacerda, como parte da programação da Primavera de Museus daquele ano. A mesma exposição foi montada também na Universidade Estadual do Amapá (Ueap), a pedido do Colegiado de Letras da instituição.
Em 2019, compôs a Comissão Avaliadora da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa na Escola Vó Olga – no município de Mazagão – a convite da Comissão organizadora da OLP no Amapá.
Atualmente, Pat é acadêmica do curso de Letras na Ueap e se considera uma militante da literatura. Independente de remuneração, visita instituições de ensino e frequentemente é convidada para rodas de conversa, mesas redondas e debates para contar de sua vivência. Também participa de eventos literários e culturais, os mais diversos, levando poesia aonde ela couber.
Alguns profissionais e estudantes da área de Letras já têm estudos sobre suas obras, (concluídos ou em andamento). Sua poesia também tem sido discutida e estudada (em pequena escala) em instituições públicas de ensino, por iniciativa pessoal de alguns professores e alunos da Universidade Federal do Amapá (Unifap), no curso de Letras do Campus de Santana; em escolas de ensino médio, de Belém e Macapá.
Recentemente, seu trabalho foi incluído no Grupo de pesquisa Poesia Contemporânea de autoria feminina do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste do Brasil, realizado pela Universidade de Rondônia (Unir). Ela também é membro fundadora do grupo Urucum, coletivo de artistas que já realizou várias intervenções urbanas.
Obras
Obras publicadas: fanzines (Poemas, que nada Vol. I e II; Nostalgia; Um quarto de poesia; Olhar 43; Noites sem fim; Sétima esquina; Estilhaços de agosto; Antes da primavera; Para além das flores; Onze poemas; O Próximo poema; Fragmentos, O amor anotado em bilhetes; Quando há poesia; Fantasias poéticas; Subverso; Uma noite me namora; Poesia de brincadeira; Poesia e só; Vidas baratas; Único – poemas escolhidos).
Também possui os seguintes e-books: Uma noite me namora; Em tempos de lonjura – ilustrado e editado pelo iniciante Artur Andrigues; e delírios & subterfúgios – o mais recente, diagramado pela própria Pat.
A poeta não para e já possui obras em fase de produção, são elas: Do Lado de Dentro (livro virtual) e Borboletas de Algodão (projeto classificado em 1° lugar – Categoria B, no Edital Circula Amapá/Secult-AP). Em outubro deste ano, está prevista sua participação em um simpósio de literatura, realizado pela Unir.
Confira alguns poemas de Pat Andrade:
MUITAS EM MIM
minha linha
do horizonte
me divide,
me recorta,
me retalha.
não em duas,
mas em várias…
além dela,
sou menina,
sou mulher;
sou Anna
Karenina,
sou a Virgem
de Nazaré.
Sou Matinta,
sou Iara;
sou floresta
e sou mata.
sou Maria Bonita
e Madre Teresa;
sou tempestade
e correnteza.
Pat Andrade
Troca Injusta
te dei as memórias do tempo; te ofertei os segredos do mundo; te fiz uns poemas de acaso; te mostrei as verdades da vida; te concedi as visões da morte…
em troca, me deste apenas uma caligrafia ruim na carta de despedida…