Poema de agora: Da sacada – Pat Andrade

Da sacada

enquanto o mundo desaba
minha poesia me carrega
num voo cego longo e pleno
por céus sedutores e desconhecidos

avisto telhados
e confundo a cor do mar
no sal me banho
e quero gritar o amor
que me habita

quando a noite cai
a embriaguez espalha caixas vazias
por alamedas sombrias
e ruas antigas

meus sentimentos
sobem e descem ladeiras
posso ouvir ainda
os ecos de literatura e boemia
que o vento traz

da sacada vejo Vênus
anunciando
o que vai se chamar saudade

Pat Andrade

Poema de agora: MUDEZ – Pat Andrade

MUDEZ

me faltam palavras
mesmo que o coração
fale aos berros
dentro do peito

minha boca se cala
ainda que meu corpo
grite e sinta o arrepio
em cada pelo

me falta a voz
ainda que o sentimento
se manifeste em mim
meio sem jeito

e sem conseguir
dizer o que quero
sigo assim muda
a te olhar pelo espelho

Pat Andrade

Do lado de dentro: chegou o novo livro virtual da poeta Pat Andrade

Capa: Artur Andrigues

Em tempos de pandemia, a arte se reinventa para sobreviver, para seguir respirando, com ou sem máscara.

A poeta Pat Andrade tem em seus livrinhos virtuais sua principal fonte de renda atualmente.

Já publicou quatro deles, nesse período, sempre buscando parcerias dentro ou fora de casa, desde a primeira publicação: Uma noite me namora conta com arte do também poeta, Pedro Stlks; a segunda – Em tempos de lonjura – tem a participação de seu filho, Artur Andrigues, que ilustrou e diagramou toda a edição. O terceiro livrinho, Delírios e subterfúgios, foi uma publicação solo.

Agora, chegou a vez de Do lado de dentro – de novo com a parceria do Artur, que fez a capa.

A publicação conta com 16 poemas autorais que refletem bastante o título do livro. Como diz a poeta, na apresentação da obra: “o lado de dentro de muita coisa: da casa, do cotidiano, da vida, da morte, do amor, de mim mesma”. Um livro cheio de experiências pessoais traduzidas em poesia, na sua forma mais simples: o verso livre.

Uma particularidade do trabalho da Pat Andrade é a maneira como vende seus livros: a poeta deixa os compradores à vontade para pagar o que quiserem por cada livro. Portanto, o leitor é quem sabe quanto custa adquirir suas publicações.

As vendas são feitas por ela, diretamente. Preferencialmente pelo Whatsapp. O pagamento é feito por transferência bancária. Contatos pelo fone (91)99968-3341 – Pat Andrade.

Poesia de agora: POEMA EM ESTADO BRUTO – Pat Andrade

POEMA EM ESTADO BRUTO

caminho entre
escombros e flores
me surpreendo
entre assombros e dores
e não abaixo a cabeça
pra não perder
de vista o horizonte

tiro forças
de um poema rabiscado
de um verso maldito
de uma rima esquisita

trago a pena
inquieta e inconstante
e uma página
que não se contenta
em ficar em branco

o que me salva e me sustenta
é sempre um poema
em estado bruto

Pat Andrade

Poema de agora: O BEIJO DO BOTO – Pat Andrade

A lenda do Boto – Pintura de Jorge Riva de La Cruz

O BEIJO DO BOTO

quando esse rio me atravessa
a Iara canta pro boto dançar comigo
a lua nasce pra iluminar a festa
com seu brilho antigo

na madrugada, miríades de estrelas
confundem meus olhos cansados
no embalo da rede adormeço
muitos sonhos encantados

o sol não demora a levantar
onipresença por todo o rio
a memória doce da noite
se resume a um beijo frio

Pat Andrade

Arroz com alho – Crônica de Pat Andrade

 

Clarice Lispector (déc.1960) – foto: Maureen Bisilliat -Acervo da autora IMS

Crônica de Pat Andrade

Estou fechando minha participação em um Simpósio de Poesia, para o qual fui convidada, ao mesmo tempo em que reviso um texto e preparo arroz.

Enquanto picava o alho, me veio à cabeça a Clarice Lispector. Que cheiro teriam suas mãos quando escreveu seu primeiro conto conhecido, Triunfo, publicado em 1940. Ela tinha 19 anos. Era tímida, mas ousada. Mais do que eu, inclusive.

Agora, o cheiro do arroz temperado se espalha pela casa. Sigo trabalhando diante do computador, respondendo e enviando mensagens.

Um passarinho canta aqui fora, bem pertinho da minha janela. Me pergunto: se eu não fosse poeta, essas coisas passariam despercebidas?

Será que a Dona Maria, mãe de oito filhos – com mais um na barriga – que lava e passa roupa pra fora, cozinha, cuida dos moleques sozinha, acorda às cinco da manhã pra buscar água no poço da vizinha, será que ela ouve esse passarinho? Será que tem arroz pra cozinhar?

Perguntas vãs, com respostas impossíveis sem poesia. Só a crueza de um cotidiano que não é o meu.

Meu gato me olha e se enrosca em minhas pernas – puro interesse: quer comer – e eu paro por aqui, antes que o arroz queime.

Poema de agora: SE – Pat Andrade

SE

se me viro na cama
se perco o sono
se choro sozinha
já não tens como ver

se chamo teu nome
se grito mais alto
se rezo baixinho
já não tens como ouvir

se perco a hora
se quebro o salto
se salta o botão
já não tens como saber

se esqueço o batom
se eu erro o tom
se eu te digo não
já não tens como entender

se a lua não sai
se o sol não se põe
se a chuva não cai
já não há o que fazer

se não és meu bem
se não há paixão
se o amor não vem
já não há o que dizer

Pat Andrade

Poema de agora: Painho – Pat Andrade

Pat Andrade, Lula e Bruno.

Painho

ele não era meu pai
mas bem que poderia
eu o chamava de Painho
e era tratada como filha

meu amor por ele
se confunde com noites
e madrugadas perdidas
se mistura com cerveja
e cigarros esquecidos
se expressa em poemas
e canções nunca ouvidas

meu amor por ele
se renova em manhãs
e tardes de domingo
se alimenta nos almoços
e sobremesas servidas
e não morre em mim
mesmo com sua partida

Pat Andrade

Poema de agora: Fuligem – Pat Andrade (para o artista plástico J.Márcio)

J.Márcio – Arquivo pessoal do artista.

FULIGEM

depois de acesa
a chama

da vela ou lamparina
dissipa-se a fumaça
descerra-se a cortina
forma-se a imagem
deslumbra-se a retina

eis a obra
do artista

Pat Andrade (para o artista plástico J.Márcio, que faz arte com fogo)

Poema de agora: sexo literal – Pat Andrade

sexo literal

e veio a palavra beijar-me a boca
enfiou em mim sua língua
usou muitos substantivos
deu-me adjetivos
causou-me advérbios

depois de rápida análise
entreguei-me aos seus verbos
apaixonei-me por tempos e modos
me envolvi com sua semântica
lambi cada fonema

encantada com seus significados
vencida por suas conjugações
não tive dúvidas…
fiz amor com ela

Pat Andrade

Pat Andrade encanta com seus poemas e livros feitos à mão

Pat Andrade – Foto: Aog Rocha

Por Paula Monteiro

Com poemas que falam de amor, vida, morte, solidão, tristeza, entre outros sentimentos, Pat Andrade encanta o seu público com a sutileza do seu trabalho na literatura. Ela fará apresentação nesta quinta-feira (27), a partir das 19h45, no Macapá Verão On-line, por meio das redes sociais da Prefeitura de Macapá. Acompanhe.

Pat Andrade é uma poeta amazônida, nascida em Belém (PA), e mora em Macapá há 21 anos- onde escolheu viver. Aos 49 anos, já publicou dezenas de livros e tornou-se um dos principais nomes na cena literária amapaense.

Foto: arquivo pessoal

O trabalho da poeta também chama a atenção pelo aspecto artesanal que ela mesma dá a cada livro. Todos os livros físicos são feitos à mão por ela; desde a concepção, ilustração, diagramação (usando a técnica de colagem), montagem e comercialização. Às vezes manuscritos, outros digitados.

“Todos são artesanais. Em alguns, uso sobras de papel e papelão, recortes de revistas, entre outros materiais. Uma peculiaridade do meu trabalho é que cada pessoa que compra um livro virtual decide quanto vai pagar por ele”, conta.

Foto: arquivo pessoal

Depois do livro pronto, ela mesma os vende em bares, restaurantes, escolas, universidades e eventos culturais – a venda ajuda na renda familiar desde 2007.

A autora é colaboradora do site De Rocha!; tem poemas publicados na coletânea Jaçanã – Poética Sobre as Águas e na revista virtual de circulação nacional Literalivre e na Agenda Cultural editada em 2013.

Em 2018, realizou a exposição intitulada Poesia Ilustrada, na Biblioteca Estadual Elcy Lacerda, como parte da programação da Primavera de Museus daquele ano. A mesma exposição foi montada também na Universidade Estadual do Amapá (Ueap), a pedido do Colegiado de Letras da instituição.

Em 2019, compôs a Comissão Avaliadora da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa na Escola Vó Olga – no município de Mazagão – a convite da Comissão organizadora da OLP no Amapá.

Foto: arquivo pessoal

Atualmente, Pat é acadêmica do curso de Letras na Ueap e se considera uma militante da literatura. Independente de remuneração, visita instituições de ensino e frequentemente é convidada para rodas de conversa, mesas redondas e debates para contar de sua vivência. Também participa de eventos literários e culturais, os mais diversos, levando poesia aonde ela couber.

Foto: Arquivo Pessoal

Alguns profissionais e estudantes da área de Letras já têm estudos sobre suas obras, (concluídos ou em andamento). Sua poesia também tem sido discutida e estudada (em pequena escala) em instituições públicas de ensino, por iniciativa pessoal de alguns professores e alunos da Universidade Federal do Amapá (Unifap), no curso de Letras do Campus de Santana; em escolas de ensino médio, de Belém e Macapá.

Recentemente, seu trabalho foi incluído no Grupo de pesquisa Poesia Contemporânea de autoria feminina do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste do Brasil, realizado pela Universidade de Rondônia (Unir). Ela também é membro fundadora do grupo Urucum, coletivo de artistas que já realizou várias intervenções urbanas.

Obras

Obras publicadas: fanzines (Poemas, que nada Vol. I e II; Nostalgia; Um quarto de poesia; Olhar 43; Noites sem fim; Sétima esquina; Estilhaços de agosto; Antes da primavera; Para além das flores; Onze poemas; O Próximo poema; Fragmentos, O amor anotado em bilhetes; Quando há poesia; Fantasias poéticas; Subverso; Uma noite me namora; Poesia de brincadeira; Poesia e só; Vidas baratas; Único – poemas escolhidos).

Também possui os seguintes e-books: Uma noite me namora; Em tempos de lonjura – ilustrado e editado pelo iniciante Artur Andrigues; e delírios & subterfúgios – o mais recente, diagramado pela própria Pat.

A poeta não para e já possui obras em fase de produção, são elas: Do Lado de Dentro (livro virtual) e Borboletas de Algodão (projeto classificado em 1° lugar – Categoria B, no Edital Circula Amapá/Secult-AP). Em outubro deste ano, está prevista sua participação em um simpósio de literatura, realizado pela Unir.

Confira alguns poemas de Pat Andrade:

MUITAS EM MIM

minha linha
do horizonte
me divide,
me recorta,
me retalha.
não em duas,
mas em várias…

além dela,
sou menina,
sou mulher;
sou Anna
Karenina,
sou a Virgem
de Nazaré.

Sou Matinta,
sou Iara;
sou floresta
e sou mata.

sou Maria Bonita
e Madre Teresa;
sou tempestade
e correnteza.

Pat Andrade

 


Troca Injusta

te dei as memórias do tempo;
te ofertei os segredos do mundo;
te fiz uns poemas de acaso;
te mostrei as verdades da vida;
te concedi as visões da morte…

em troca, me deste apenas
uma caligrafia ruim
na carta de despedida…

Pat Andrade

Fonte: Portal Égua, mano!

 

Poema de agora: O poeta e o amor – Pat Andrade

O poeta e o amor

o poeta quando ama
faz versos em árvores
faz versos-pétalas
faz versos-flores
poemas frágeis

o poeta quando ama
faz versos com asas
faz versos-pássaros
faz versos-nuvens
poemas leves

o poeta quando ama
faz versos improváveis
faz versos-noites
faz versos-dias
poemas suaves

o poeta quando ama
é – todo ele – desamparo
faz amor com versos
faz amor com frases
poemas raros

Pat Andrade