Poesia de agora: IMPROVÁVEL POEMA – Pat Andrade

IMPROVÁVEL POEMA

tenho as asas do imaginário
levanto voos impossíveis
ultrapasso todos os limites
traço rotas por céus invisíveis

tenho visões assustadoras
me embriago de liberdade
mil e uma possibilidades
entre tantas realidades

tenho versos salva-vidas
me atiro no mar da poesia
navego na maré em fúria
mas também na calmaria

tenho o grito suave nas quedas
um grito ouvido em todo canto
mas tenho a voz e o passo mais firmes
a cada vez que me levanto

PAT ANDRADE

Poema de agora: DE QUE VIVE O POETA? – Pat Andrade

DE QUE VIVE O POETA?

O poeta vive de cisma
E da própria rima;
vive de dores
E alheios amores.
O poeta vive de frases feitas
E da vida nada perfeita;


vive de versos
e de outros universos…
O poeta vive de desespero
E do lamentável erro;
Vive do engano


E sem nenhum plano
O poeta vive de teimosia
E da própria poesia.

PAT ANDRADE

Poema de agora: AINDA SOU EU – Pat Andrade

AINDA SOU EU

renasci mais forte
pra resistir ao peso da vida
que me arrasta para
os precipícios cotidianos.

retornei com as asas
que me foram arrancadas
há tempos, sem anestesia, nem nada.

retomei o que é meu por direito
e me foi tirado sem permissão,
em uma época de escuridão.

recuperei a voz
para dizer o que quero e preciso,
sem a mão que me tapava
a boca a cada grito

reinventei minhas
noites de insônia,
para ver melhor a luz do luar

redescobri meus desejos,
respeitando o tempo de cada coisa.

e ainda sou eu mesma,
com remendos na alma,
dúvidas constantes
e um quase nada
[necessário] de calma.

PAT ANDRADE

Poema de agora: LOUCURA – Pat Andrade

LOUCURA

na minha loucura,
faço desenhos sem tinta,
pincel ou nanquim

na minha loucura,
a lua me fita e convida
para baladas sem fim

na minha loucura,
uma noite nunca finda
e se instala em mim

na minha loucura,
mais doida é a vida
que levo sem ti

na minha loucura,
sou doida varrida
e muito feliz assim!

Pat Andrade

Poema de agora: PÁSSARO-GUIA – Pat Andrade

PÁSSARO-GUIA

nas muitas noites
em que não durmo,
faço viagens ao passado
tão doces,
que quase esqueço de voltar.
[me perco no caminho,
preciso confessar…]
aí, quem me guia
é um estranho passarinho,


que me segue
por onde quer que eu vá
às vezes some,
[acho que vai até o ninho]
mas reaparece rapidinho,
e volta a me acompanhar.
antes que eu durma,
ele me olha lá de longe,
[do passado…]
e com seu canto triste,
chorado,
acaba por me ninar…

Pat Andrade

Poema de agora: HOJE TEM FESTA – Pat Andrade

HOJE TEM FESTA

esperei o dia inteiro
pelo pôr-do-sol
só pra te dar um cheiro;
só pra te ver
prender os cabelos
acima da nuca,
mostrando as orelhas
tão pequeninas…


em frente ao espelho,
passa o batom
fazendo biquinho,
escolhe o vestido
vermelho carmim,
me castiga o desejo…
e a sandalinha de dedo,
no pezinho perfeito,
faz troça de mim.


sorri quando passa
balançando o cacho
esquecido na testa…


não me dá trela,
mas fala macio,
só de pirraça,
que hoje tem festa…

Pat Andrade

Poema de agora: O MUNDO TEM JEITO? – Pat Andrade

O MUNDO TEM JEITO?

Tem jeito o mundo?
Se no sinal o carro não para
Se a fila a mulher não respeita
Se o troco te dão errado
Tem jeito o mundo?
Se a faixa ninguém percebe
Se a música já não é boa
Se o sexo é banalizado
Tem jeito o mundo?
Se a fábrica já não contrata
Se o grito ninguém mais ouve
Se o diferente é segregado
Tem jeito o mundo?
Se a escola já não educa
Se o socorro não chega nunca
Se o direito é ignorado


Tem jeito o mundo?
Se a vida não vale nada
Se a política te escandaliza
Se o filme é censurado
Tem jeito o mundo?
Se o povo é esquecido
Se a cidade é vandalizada
Se o salário é congelado
Tem jeito o mundo?
Se a violência prolifera
Se a comida não há na mesa
Se o mulherio é assassinado
Tem jeito o mundo?
Se a mídia é toda comprada
Se a miséria prevalece
Se eu tenho que ficar calado…

Tem jeito o mundo?

Pat Andrade

Poema de agora: O PEDIDO – Pat Andrade

O PEDIDO

não me ligue
pra falar do tempo,
pra contar como sua agenda anda cheia
e as crianças já não o respeitam
ou que a cidade já não é a mesma…
não me ligue pra falar do carro,
do valor da prestação;
nem pra dizer que o aluguel está caro
muito menos do preço do pão…
me ligue pra falar do quintal,
do sabor do abacate,
daquela flor escarlate
que roubaste do horto municipal…


me ligue pra falar de amor
do lago da praça,
do velho trovador
e do palhaço sem graça…
se você quiser,
pode me ligar, querido,
mas por favor,
não me venha falar
da sua ou da minha vida…

Pat Andrade

Poema de agora: UM RIO EM MIM – Pat Andrade

UM RIO EM MIM

o rio que corre em mim
carrega estrelas pro teu mar
desemboca em mil amores
deságua dores em marés

o rio que corre em mim
é um eterno pororocar
nasce e cresce nas tuas fontes
desfaz os sonhos no horizonte

o rio que corre em mim
vive em pleno preamar
no encontro de nossas águas
lava e leva minhas mágoas

PAT ANDRADE