Poema de agora: Depois de Morta – Pat Andrade

DEPOIS DE MORTA

quando eu estiver morta,
enterrada sob a terra
o que terei?
o que verei?
raízes de belas florezinhas,
ou o emaranhado
das ervas daninhas?
sentirei o calor
de lágrimas pungentes,
o apenas o frio cortante
da chuva renitente?
terei o olor
de incenso queimado
em minha memória
ou a putridão dos
companheiros da hora?
se nada mais resta de minha alma
nada disso importa.
mas enquanto há vida,
mesmo que seja meio torta,
me respeite e me trate bem
é o que te peço agora.

PAT ANDRADE

Poema: MACAPÁ, BEM-TE-VI – Pat Andrade

MACAPÁ, BEM-TE-VI

Caminho pela cidade deserta…
Vazia de carros.
Vazia de gente.
Tanta coisa distinta…
Casas caíram,
Prédios se ergueram…
Mas em ambos, o abandono
Predomina.
Mudaram nome de bairros:
Não tem mais Igarapé.
Já não há mais o Laguinho;
Agora são outras as águas
Que nem vejo rolar…
O Barão perdeu o título,
E o Portinari agoniza
Tentando se recuperar.
Um cão sem dono
Me corta o caminho
Sem alegria
(não abana o rabo)…
Da mangueira antiga
Um passarinho grita
Que bem me vê.

Pat Andrade

Poema de agora: Sonho poesia na folha em branco – Pat Andrade

Sonho poesia na folha em branco

Sonho
Na madrugada,
Depois do cansaço,
Sonho flores
pelos telhados,


Sonho folhas
Flutuando no rio,
Sonho teu beijo quente
Na minha boca fria,


Sonho teu peito
Acalentando meu sono,
Sonho poesia
na folha em branco…

Pat Andrade

Poema de agora: Jardim de estrelas – Pat Andrade

Jardim de estrelas

quando amanheci,
havia estrelas no meu jardim,
espalhadas por todo lado…
jamais soube
se despencaram do céu
em tempestade,
se fugiram do mar em fúria,
ou se brotaram do sal da terra…
gosto de pensar que, depois
de uma overdose de poesia,
deixei cair do meu vidrinho
violeta de fim de tarde
as sementes de estrelas
colecionadas das madrugadas…
mas não importa…
agora, a qualquer hora,
se quero ver estrelas,
apenas abro as janelas
e olho pra elas.

Pat Andrade

Poema de agora: Boato – Pat Andrade

Boato

ouvi dizer
que o amor morreu…
mas os passarinhos
ainda voam aos pares,
dando ares
de felicidade…


e as borboletas
ainda bailam
de duas em duas
enchendo o mundo
de cores e
beijando flores…


e os casais, aliás,
ainda estão nos parques,
nos cinemas e bares
se amando sem temores…
sim, meus senhores:
o amor ainda vive!


e amansa feras
e suprime dores…

Pat Andrade