Macapá Verão 2022: HOJE, poeta Patrícia Andrade se apresenta na Praça da Resistência Tia Chiquinha

A programação do Macapá Verão 2022 contará com apresentação da poeta Patrícia Andrade, nesta segunda-feira (18), na Praça da Resistência Tia Chiquinha. A escritora e poetisa se apresentará a partir das 17h20. O objetivo é difundir a poesia/literatura, promover cultura e lazer para a população.

Se você ainda não assistiu a uma apresentação de Pat Andrade, certamente não sentiu uma das experiências mais impressionantes que a literatura pode oferecer a alguém. É forte e belo a forma que ela poetisa. A artista impacta pela sua força poética, declamada com emoção e beleza.

Sobre a autora

Pat Andrade é uma escritora, autora do livro “O avesso do verso, poemas de mim”, artista plástica e produtora cultural da Amazônia, que vive em Macapá. Há pelo menos 15 anos, divulga seus poemas em livrinhos que ela mesma produz. São mais de 30 publicações – das quais seis são virtuais, produzidas em tempos de maior reclusão na pandemia. Também tem poemas publicados em várias coletâneas e em revistas digitais.

Colaboradora assídua do Site De Rocha! e membro do coletivo Urucum, Pat se considera uma militante da Literatura: quando possível, visita escolas, universidades e participa de eventos literários e culturais, os mais diversos.

Trata-se de uma multi-artista, pois ela também se garante como discotequeira (Vinil-DJ) e ativista cultural. Pat também é figura presente em saraus ou qualquer manifestação cultural e de defesa de direitos da sociedade.

Serviço:

Poeta Patrícia Andrade se apresenta no Macapá Verão 2022
Data: 18 de julho
Horário: 17h20
Local: Praça da Resistência Tia Chiquinha, situada na Rodovia do Curiau – Jardim Felicidade, em Macapá.

Elton Tavares

Poema de agora: minha morte de hoje em dia – Pat Andrade

minha morte de hoje em dia

esta manhã
morri na calçada
de um bairro da periferia

sem o perpétuo socorro
que a igreja prometia
sem a mão do amado
que até ontem me sorria

no último filme
da minha vida
vi o olho curioso
da maledicência
a mão sorrateira
do oportunismo
e o passo apressado
pro almoço ao meio-dia

esta manhã
morri sozinha
na calçada suja
de uma padaria

sem direito a vela
nem ave maria

Pat Andrade

Poema de agora: Ritual – Pat Andrade

RITUAL

chegou da viagem
cheirando a patchouli

tirou do seio a flor e a navalha
botou nos lábios a canção antiga
e se entregou a um solitário ritual

revirava a saia dançando
a catarse em cada gesto
vibrava música dentro dela

lá fora a vida devora
não silencia não para
não perdoa quem chora

o cansaço dos dias
engolia a grama do quintal

perguntou aos céus
se existia a sorte

colocou estrelas nos olhos
e ensaiou mais uma vez
sua estranha dança de morte

Pat Andrade

Poema de agora: Olhar de menino – (Pat Andrade para Artur Andrigues)

Pat Andrade e Artur Andrigues – Foto: arquivo da poeta

Olhar de menino
(para Artur Andrigues)

durante a viagem
vou lendo teus olhos
que devoram paisagens

olham bem fundo
no oco do mundo
e mais além

entre árvores e igarapés
teus olhos meninos
atravessam rios e pontes
como a flecha certeira
que a retina retém

Pat Andrade

Poema de agora: Miragem – Pat Andrade

Miragem

o asfalto treme sob o sol

a mão suspensa no ar
não pára o passante
o desespero no olho
não comove outros olhos
o tempo só aprofunda
os velhos cortes

o barulho das latas
abafa um canto doído

o peso da vida
vai envergando
o corpo raquítico

nas passarelas roídas
pelos passos corridos
um sorriso resiste

na casa azul e branca
por trás da cerca
as roupas dançam no varal

Pat Andrade

Poema de agora: UM DOMINGO – Pat Andrade

UM DOMINGO

o dia era morno e cinza
as árvores estavam quietas
nenhum bem-te-vi cantou
e o japiim se escondeu

uma vaga do Amazonas
atreveu-se a vir mais forte
pra molhar a terra seca e rachada
qual coração de quem sofre

no silencioso domingo
nem o brilho do sol
nem a beleza da chuva
puderam manifestar-se

apenas o grito interior
e a certeza da saudade

Pat Andrade

Poema de agora: Não pode ser um poema – Pat Andrade

Não pode ser um poema

não posso mais
engolir a fome insossa
do prato vazio
oferecido pelo desemprego

ando cansada de provar
o caldo fino da miséria
servido pelo sistema

estou engasgada
com a vida que devora
morde e mastiga
a dignidade da gente

definitivamente
não há sabor nenhum
na sobrevivência teimosa
de quem não tem pão

Pat Andrade

Poesia de agora: Sina – Pat Andrade

Sina

a poesia delineia meu caminho
desenha meu horizonte
e sela meu destino

nos seus braços
descanso meu cansaço
encontro felicidades
embalo os luares
carrego meus amores
e navego novos mares

nos seus olhos
espelho meus mistérios
encaro meus abismos
deságuo minhas saudades
provoco novos afetos
e sonho liberdades

Pat Andrade

Poema de agora: Despojos – Pat Andrade

Despojos

tranquei o medo
na última gaveta da cômoda
numa segunda-feira à tarde
a chave joguei no canal
[perda total]

larguei a insegurança
num ramal qualquer da BR
[duvido que consiga voltar]

a tristeza afoguei no Amazonas
num domingo de céu azul
[sem nenhum remorso]

a dor está na calçada
dentro de um dos baús
que o lixeiro nunca leva
[é lá que vai ficar]

me livrei de quase tudo
tomei o chá de sumiço
[prescrito pelo doutor]

me banhei com jasmins
e fui dormir mais leve
[melhor que seja assim]

essa convivência besta
com minha própria angústia
pesava demais na existência

Pat Andrade

Poema de agora: Estética – Pat Andrade

Estética

a vida inteira
tentando desentortar

[experimentou de tudo]

aparelho nos dentes
tração cervical ortopedia
psicólogo padre pastor
alongamento quiropraxia

acupuntura artesanato
choque elétrico lobotomia
massagem missa johrei
meditação ioga terapia

[nada fez efeito]

até preencher as rugas
mudar a boca e a bochecha
e o queixo e o nariz

até olhar no espelho
e esquecer de vez
como se faz
para ser feliz

Pat Andrade

Nesta terça-feira (5), poeta Patrícia Andrade, se apresenta, no Museu Sacaca, com o recital “Flores e a Floresta”

Nesta terça-feira, 5 de abril, a poeta Patrícia Andrade, autora do livro “O avesso do verso, poemas de mim”, se apresenta no Museu Sacaca, com o recital “Flores e a Floresta”, em um sarau de poesia. O evento faz parte da programação que celebra os 20 anos da Exposição a Céu Aberto do Museu.

Sobre a poeta

Pat Andrade é uma escritora / artista plástica / produtora cultural da Amazônia, que vive em Macapá, no Meio do Mundo.

Há pelo menos 14 anos, divulga seus poemas em livrinhos que ela mesma produz. São mais de 30 publicações – das quais seis são virtuais, produzidas em tempos de maior reclusão na pandemia. Também tem poemas publicados em várias coletâneas e em revistas digitais.

Colaboradora assídua do Site De Rocha! e membro do coletivo Urucum, Pat se considera uma militante da Literatura: quando possível, visita escolas, universidades e participa de eventos literários e culturais, os mais diversos. A poesia é sua arma / escudo / refúgio / conforto / sustento.

Serviço:

Poeta Patrícia Andrade, se apresenta, com o recital “Flores e a Floresta”
Data: 5 de abril de 2022
Horário: 15h
Local: Museu Sacaca, na Samaúma das Palavras.

Elton Tavares, com informações da poeta Pat Andrade.

Poema de agora: CORAÇÃO TRISTE – Pat Andrade

CORAÇÃO TRISTE

se ter um coração
era um castigo
alguém poderia
ter-me dito
eu estaria prevenida
e não sofreria tanto
ninguém ouviria meu grito
de horror e agonia
ninguém veria meu pranto
de dor e sofrimento
e talvez eu achasse
essa tal alegria
que se esconde de mim
e se espalha por aí
talvez eu ouvisse o bem-te-vi
que anuncia a chuva da tarde
e a prenhez de Maria
mas meu coração triste
só ouve a rasga-mortalha
que corta o céu e a noite
cantando a morte sem jeito
dos filhos do crime e da fome
nos barracos da ponte
que atravessa a cidade

PAT ANDRADE

Poesia de agora: Mundo – Pat Andrade

Mundo

desse mundo áspero
não espero muito
nem quero tanto

esse mundo chato
não me suporta
nem me aceita

esse mundo estranho
não me desnuda
nem me desvenda

esse mundo parco
não me satisfaz
nem me completa

nesse mundo triste
não me acho
nem existo

Pat Andrade