O amor só é bom se doer. Será? – Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

Ontem a noite estava arrumando umas coisas em casa. Abri uma cerveja e deixei o Deezer tocar no aleatório. Ao fim de uma gaveta arrumada, tocou a música “Nem morta”, canção de Sulivan e Massadas, cantada por nossa amada Alcione. Nossa marrom embalou muitos cotovelos que se arrastaram no asfalto ao som de sua bela voz. Entre um gole e outro, comecei a prestar atenção à letra e me deparo com um insight que ainda não havia atentado dentro do tema que a música apresenta. Vamos lá;

Eu só fico em teus braços
Porque não tenho forças
Pra tentar ir a luta
Eu só sigo os teus passos
Pois não sei te deixar
E esse ideia me assusta
Eu só faço o que mandas
Pelo amor que é cego
Que me castra e domina
Eu só digo o que dizes
Foi assim que aprendi
A ser tua menina
Pra você falo tudo
No fim de cada noite
Te exponho o meu dia
Mas que tola ironia
Pois você fica mudo
Nesse mundo só teu
Cheio de fantasias
Eu só deito contigo
Porque quando me abraças
Nada disso me importa
Coração abre a porta
Sempre que eu me pergunto
Quando vou te deixar
Me respondo
Nem morta!

Pensei; puta que pariu! Mas que porra de relacionamento abusivo é esse, Alcione? Dois tapas na cara seguido de um ‘’ para de ser doida’! Percebi na música que, a mulher em questão sofre de uma dependência e apego emocional fodido. Não tem forças para sair de uma relação que ela sabe ser nociva à ela. ‘’ Eu só faço o que mandas, pelo amor que é cego, que me castra e domina. Eu só digo o que dizes, foi assim que aprendi’’. Trata-se de alguém que perdeu, inclusive, a identidade para caber no mundo do outro, se encaixar na expectativa alheia. Então comecei a pensar na raiz de tudo isso. Essa pobre alma nunca parou para pensar; mas pera aí, o que me faz gostar dessa pessoa? O que essa pessoa faz para que eu a ame a ponto de estar em uma situação que me castra e domina? Será o famoso amor de pica? Quantos de nós estamos ou estivemos na mesma situação por sermos a vida inteira ensinados que amor é sofrimento?

Pois bem, vamos voltar lá na literatura, Romeu e Julieta de Shakespeare. O jovem casal que vinham de famílias rivais e se apaixonam. Os dois fodidos morrem em nome desse amor. Mas, lembre-se, leitor, há quanto tempo os dois se conheciam? Conseguiu pegar meu gancho? É justamente isso, a dificuldade, a impossibilidade do relacionamento que seduziu tanto os dois e que, seduz as pessoas todos os dias, pois o ser humano aprendeu e é ensinado o tempo todo que tudo tem que ser muito sofrido para ser gostoso. O prazer no sofrimento. Se você for analisar as tramas das novelas que crescemos assistindo, é a mesma coisa, mocinho e mocinha que tem sua trajetória amorosa cheia de percalços e lutam para no fim ficarem juntos.  será que se Romeu e Julieta passassem mais tempo juntos ou se, seus pais nem ligassem de com quem eles se agarram, esse amor seria tão arrebatador?

Talvez não passasse de um fim de semana que terminaria com um; ‘’ desculpa, tava doidão”. Nos meus atendimentos com tarot, percebi que as pessoas tem esse mesmo padrão, com algumas exceções, claro. Não estou dizendo que você deve recuar na primeira dificuldade, pois acredito que as diferenças devem sim serem trabalhadas em todos os tipos de relações, mas acredito também que os motivos para se amar alguém devem ser claros pra gente.

Ah, mas o amor é irracional, a gente apenas ama! Não é bem assim, meus caros! Na minha opinião, e você compra se quiser, o amor é algo que tem que te fazer bem, o resto é apego, necessidade. Mas, ouça, não culpo você por discordar de mim, afinal, como disse nossa poetinha; ‘’ o amor só é bom se doer’’. E ele dói sim, vai doer várias vezes, pois temos carmas, diferenças que se chocam com a convivência. Só não acho que precisa doer o tempo todo, essa porra tem que virar Darma em algum momento. Pois se não, nasce aí um relacionamento abusivo. O que me assusta em tudo isso é a romantização da cagada. Mas isso não é culpa sua ou minha, só nos foi ensinado a vida inteira e é difícil quebrar alguns padrões. Ah, mas também leve em conta que eu posso estar errada, ou não. Talvez eu seja uma baita de uma preguiçosa emocional ou só uma vadia tóxica mesmo, ou não.

Eu gosto de alguns sofredores, afinal, sem eles nunca teríamos boas músicas, boa literatura e bares cheios. Mas, acredite, não confunda a beleza do amor com a necessidade do sofrimento, essa só produz alguma sofrência sertaneja. Enfim, ame, se jogue. Faça o que quiser. Quem sou eu para me meter na sua vida.
       
*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora, contista e cronista. E, ainda, mãe de duas meninas lindas, prima/irmã amada deste editor.

Hélio meu amigo Pennafort – Por Fernando Canto – @fernando__canto – (republicado por conta de hoje, 21 de janeiro, seria o aniversário de 85 anos de vida do escritor e jornalista Hélio Pennafort) .

Hélio Penafort – Foto encontrada no blog Porta Retrato

Por Fernando Canto

Ao dar o nome de Hélio Pennafort a sua biblioteca a instituição SESC realizou um ato de carinho às nossas letras e uma justa homenagem ao escritor e jornalista que muito contribuiu para que o Amapá tivesse as suas mais legítimas manifestações culturais conhecidas. Foi através do Hélio que a maioria dos que fazem a formação da opinião local hoje, se basearam para sistematizar a questão da identidade do homem amapaense. Fora ou dentro das academias seu trabalho ganhou a dimensão esperada e a valorização merecida, posto que só ele conseguia expressar com elegância nos seus textos as formas rudes (para nós) do falar cotidiano da vida do interior. Muitas vezes publiquei sobre a obra do Hélio por considera-lo um narrador excepcional das coisas da nossa gente. “Triste como um tamaquaré no choco”, “foi cocô de visagem” eram expressões do homem interiorano que ele usava no dia-a-dia. Para qualquer objeto ou situação complicada chamava “catrapiçal”. Vivia contando anedotas de caboclo se divertindo a valer com elas. Era extremamente sincero com seus amigos e não guardava o que tinha de dizer. Apesar de ter exercido inúmeros cargos importantes no Governo, tinha lá suas fraquezas e de vez em quando fugia do expediente para ir ao Abreu ingerir uma gelada, mas era também grave e sério nas suas responsabilidades.

Arquivo pessoal de F.C.

Ainda adolescente andei em sua companhia, juntamente com o Odilardo Lima, repórter e poeta que virou delegado de polícia, e o Manoel João, um telegrafista e caçador de primeira linha, bom contador de histórias. Minha função no grupo era tocador de violão e guardião da memória deles, afinal iriam precisar de detalhes que fatalmente esqueceriam, quando da redação das reportagens que faziam para a rádio Educadora e o jornal A Voz Católica. Hélio proporcionava muitas histórias engraçadas, como certa vez em Mazagão, no início dos anos 70. Fomos de barco até a sede do município, e de carro até Mazagão Velho registrar a festa da Piedade. Ele ia dirigindo (Pasmem!) um jeep, e nós vínhamos tensos, no maior medo, porque até então ninguém jamais o vira dirigir, a não ser uma bicicleta. Com alguns atropelos e barbeiragens chegamos ao destino. Anoitecia e ele foi à casa do seu Osmundo, que liderava o conjunto “Mucajá”. Era um grupo rústico, de pau e corda e clarinete que tocava samba, baião, polca e outros ritmos. Lá pelas tantas, devido sua generosidade etílica, acabou o suprimento de uísque e cachaça. Em toda a vila também não tinha nada de álcool. Ele chamou uma rapaziada e disse: – Vão ver se encontram cachaça que eu dou uma grana pra vocês. Eles voltaram com uma “meiota” de “canta-galo”. O Hélio deu uma golada e cuspiu: “Querendo me enganar… É, seus porras? Cachaça com água eu não bebo, inda mais se é de mulher que acabou de parir”. Fiquei sabendo depois que as mulheres do lugar usavam aguardente na assepsia do pós-parto e que os moleques haviam roubado a garrafa de uma senhora que parira uns dias antes. Esse episódio só fez solidificar a minha admiração pela figura simples e humana do jornalista.

Dia da posse da de Fernando Canto na Academia Amapaense de Letras, 1988. Com os jornalistas Jorge Basile e Hélio Pennafort. Arquivo pessoal de F.C.

Fecundo no seu trabalho, Hélio sempre procurou dar a ele novas formas em linguagens diferentes. Em 1984/85 associou-se ao talento do piloto e vídeo-maker Roberval Lavor e produziu inúmeros vídeos sobre aspectos turísticos do então Território do Amapá. Embora não se adaptasse ao computador, o apregoava como instrumento do futuro, pois era atualizado nas informações tecnológicas.

*Hoje, 21 de janeiro, o escritor e jornalista Hélio Pennafort faria 85 anos (nascido no Oiapoque (AP), em 1938).

O genial Ronaldo Rodrigues gira a roda da vida pela 57ª vez. Feliz aniversário, Ronaldo Rony!

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Neste décimo sétimo dia do ano gira a roda da vida pela 57ª vez, os queridos Ronaldo Rodrigues & Ronaldo Rony. Para a nossa sorte, dois malucos que habitam o mesmo avatar e tornam as nossas vidas menos ordinárias. São gênios e baitas caras, que dou muito valor!

Ronaldo é pai do Pedro e do Artur, marido da Maria Lídia, escritor, poeta, roteirista, ilustrador, documentarista, cronista, cineasta, quadrinhista, pai do Capitão Açaí (entre outros tantos personagens), cartunista, remista e torcedor do Grêmio. Um artista brilhante e imparável (como diz o amigo Fernando Canto, no sentido de nunca parar), em todas essas áreas e um cara amado por sua família e amigos, além de ilustre colaborador deste site e brother muito querido deste editor.

Já disse e repito, o figura é um artista ímpar, tanto redigindo, quanto atuando no audiovisual ou desenhando seus cartuns. A genialidade do figura é tão caralhenta quanto sua paideguice, pois o cara é demais porreta.

Paraense de nascimento e já amapaense no coração, Ronaldo é um genial louco varrido. Quando bebia, ele se equilibrava bêbado, mas nunca caía na vala de uma vida ordinária. Original como poucos, Rony é um cara que admiro. Dono de uma mente fantástica e barulhenta, ao mesmo tempo é discreto e modesto.

Ronaldo é um cara tranquilo, sempre inquieto, instigado, inventivo, surpreendente e perspicaz. Crítico ácido e bem-humorado, brinca com tudo. Ri de todos e até dele próprio, de forma inteligente e espirituosa. Sempre com uma crônica bem redigida ou um cartum visceral, o maluco faz a nossa alegria, pois somos fãs do seu trabalho. Gosto muito dele. É um cara honesto, trabalhador e do bem.

Além de tudo já escrito e descrito aí em cima, Ronaldo é um cartunista premiado dentro e fora do Brasil, ele possui quatro livros publicados, é decano do Coletivo Quadrinhos do Amapá e veterano do movimento audiovisual amapaense, entre outras facetas.

Tenho a sorte e a satisfação de receber, vez ou outra, crônicas, contos e poemas seus para publicação neste site.

Em 2019, Ronaldo fez as ilustrações do meu livro, “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, lançado em 2020. Da mesma forma, ele ilustrou a minha obra “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, lançada em 2021. Em ambas as publicações, ele fez um puta trampo. Dizer que Ronaldo é PHoda é redundante. Ter esse cara como parceiro é uma honra pra mim.

Sobre o Ronaldo, a poeta Patrícia Andrade, disse: “ele é incrível, mesmo. Um pai do caralho (como dizia Millor: “qual expressão traduz melhor a ideia de intensidade do que ‘do caralho?”). É um ex-marido exemplar e meu grande amigo”. Ela é mãe do Artur e também colaboradora deste site.

Acostumado a surpreender positivamente, Ronaldo conta/escreve/desenha ou conversa (de preferência em um bar) suas histórias e possibilita a nós, leitores/ouvintes/parceiros, a escapatória de uma vida menos ordinária. isso!

Enfim, Ronaldo, mano velho, “TU SAAAAABES”…Que teu novo ciclo seja ainda mais feliz, produtivo e iluminado. Que sigas pisando firme e de cabeça erguida em busca dos teus objetivos e que tudo que couber no seu conceito de sucesso se realize. Que a Força sempre esteja contigo. E que tua vida seja longa, por pelo menos mais 57 janeiros, repleta de momentos porretas. Parabéns pelo seu dia, manão. Feliz aniversário!

Meus pais me levaram até o alto da colina e me disseram: – Ei, garoto! Esse é o mundo. Vá lá e tente se divertir!” – Ronaldo Rodrigues, que também é Ronaldo Rony.

Elton Tavares

O tempo – Crônica de Elton Tavares – (Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Há anos, após breve conversa com a amiga, ela disse: “o tempo também é burocrático. Nós é que sempre queremos tudo pra ontem”, comecei a devanear sobre o tempo. Verdade, nem sempre dá tempo.

Aliás, o tempo nos ilude quando jovens, em nome da inexperiência e da que nunca morre, a esperança. Sim, o tempo, com pouco tempo de análise, às vezes engana, confunde e conduz pelo caminho errado. Mas nunca omite, no final, sempre mostra quem é quem e como seria. É, o tempo.

A Bíblia, livro mais vendido da história (para muitos mitologia cristã) diz: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3:1).

Desconfio há tempos que existe uma conspiração que faz do tempo uma espera quase interminável para os que sofrem e um período muito curto para bons momentos. Ah, tempo, dê um tempo!

O velho astro do Rock, David Bowie disse: ‘o tempo pode me mudar, mas eu não posso reconstituir o tempo’. Verdade! Afinal, tudo há seu tempo. O tempo costuma despachar lentamente quando queremos que seja rápido e o contrário, quando é o inverso disso.

O tempo traz méritos, vivências, leva e traz amigos, irradia e ceifa vidas. O tempo sabe coisas que a gente não sabe. Sim, ele flui, voa e dá tapas com luvas, mas não de pelica e sim de boxe. Mas o tempo também faz esquecer e, às vezes, até cura dores. Sobretudo, o tempo nos ensina a entender mais sobre o amor.

Enfim, o tempo passa, nós aprendemos e mudamos com ele. Eu até poderia falar mais sobre a loucura e sapiência atemporal do tempo, mas agora não. Meu amigo Fernando Canto lembrou da filosofa María Zambrano, que dizia: “O tempo é o único caminho que se abre ao inacessível absoluto”. E a amiga, com quem o diálogo originou esse devaneio, falou algo que me faz encerrar aqui: “o tempo é o remédio e a agonia de todos nós”.

Ah, só mais uma coisa: é tempo de ser feliz e assim estou fazendo, enfim, em tempo. Pois não mais tenho tempo a perder. É isso. Ótima semana pra todos nós!

Elton Tavares

*Do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, lançado em setembro de 2020.

Amor em tempos de COVID, dualismo político, corpos perfeitos e vidas de sucesso – Crônica de Telma Miranda

Crônica de Telma Miranda

Estou sozinha em casa desde o ano passado e acho que nunca pensei tanto na vida. Claro que nem toda a programação dos seis serviços de streaming que tem aqui são suficientes para ocupar meu tempo, inclusive, tô até pensando em começar a escrever avaliações das programações, que como bem a minha filha fala: “A senhora já assistiu tudo!”, e confesso que estou preparada, Netflix!

Mas a pauta é outra e é a minha favorita: AMOR. E falo do amor romântico, que envolve paixão, desejo e toda aquela dor de cabeça deliciosa que quem já passou jura que não quer mais, mas quando vê, já tá de novo e quem nunca passou com certeza passará.

E amar em tempos de COVID, dualismo político, corpos perfeitos e vidas de sucesso é um ato quase revolucionário, pois a grande maioria das pessoas não se acha à altura de despertar o desejo de alguém por não se enquadrar nos padrões estéticos e financeiros que as redes sociais vendem, e quando consegue um chamego pra transformar em amor, ainda tem os protocolos de COVID, as diferenças político-ideológica-partidárias, sem contar com as diferenças religiosas, de origem, criação, propósito, etc. Amar e ser amado nunca foi tão difícil em toda a história da humanidade.

Ele é lindo, educado, inteligente, me trata bem, mas a religião dele não respeita a minha! Ela é maravilhosa, amo cada minuto com ela, mas ela votou no fulano pra presidente e ainda por cima compartilhou nas redes sociais! Nossa, ele é um príncipe e nossa química é perfeita, mas ele não quer se vacinar! Eita que ela defende o aborto e tá fazendo live pra incentivar outras e não se mata inocente! Poxa vida, beija tão bem mas defende o uso de armas e fala que bandido bom é bandido morto! Amo a comida dela, mas tinha que ter esses amigos maconheiros? Todos nós passamos, passaremos ou conhecemos alguém em alguma dessas situações. Ninguém mais cede ou dialoga. Estamos imersos num radicalismo em todas as modalidades sem precedentes. E os poucos que cedem são vistos como pouco inteligentes.

O mais incrível de TUDO é que tenho visto casais lindos separando, famílias divididas e um monte de gente gritando, brigando e quebrando por questões que em tese não deveriam afetar a vida íntima e particular, pois se tratam de diferenças de opinião e vivemos numa democracia.

Triste isso tudo, e o AMOR, artigo de luxo, vai se tornando cada vez mais rarefeito e confundido com acomodação por conveniência, e as borboletas que habitavam os estômagos dos amantes entraram em extinção, sendo que algumas foram contaminadas por esses vírus mutantes modernos e contaminaram alguns quase apaixonados que acabaram por desaguar esse sentimento ainda sem nome, dos que ficam cegos, surdos e obcecados em dominar, postar, parecer ser e ostentar ao invés de amar. A notícia boa é que pra COVID tem vacina. Pra ilusão tem o choque de realidade. E pra todo o resto, aceitar e respeitar nossa finitude e humanidade.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

Home again (De novo em casa)- Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

Você já se sentiu perdido? Acredito que sua resposta foi sim. Todo mundo sente-se assim em algum momento da vida. Perdido entre boletos, amores, um emprego que não te faz acordar sorrindo ou  acreditar que é tão bom no que faz. Perdido entre a transição de passado, presente e futuro. Entre o que acreditar ou desacreditar.

Entre a sua intuição e sua paranoia. Esses dias estava revendo umas  fotos para fazer um agrado de aniversário para minha sobrinha e me deparei com tantas fotos e lembranças antigas. Nas últimas semanas, havia recebido vídeos e fotos de amigos que se encontraram e lembraram de mim, e isso em tribos diferentes. E de repente estava imersa entre um choro de felicidade, sorte e gratidão. 

Sou agregadora por natureza, talvez por ser empática com a Teoria do espelho de Lacan, onde a criança, ao se reconhecer no espelho, tem noção de sua individualidade e, assim, perde a conexão com o todo, aquele papo se todos somos um. Não se sente mais parte do todo realmente. Mas o todo é tudo o que realmente deveríamos ser. 

Mas para isso, basta você abrir o arquivo do coração, ele te acolherá. O retorno ao que te ensinou a amar. Tem uma música do Michael kiwanuka, o nome é home again. Tem um trecho assim; “ Toda essa conversa vai te deixar velho. Então eu fecho os olhos e olho para trás”.

Seguindo em frente então eu não sinto medo. Eu não sentiria de jeito nenhum, meus caminhos vão  continuar retos. Em casa novamente.

Se você estiver em uma encruzilhada, se não souber onde ir, entre todos os caminhos, escolha sempre aquele que te leva de volta pra casa.

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora, contista e cronista. E, ainda, mãe de duas meninas lindas, prima/irmã amada deste editor.

Estranheza – Crônica porreta de Lulih Rojanski

Crônica de Lulih Rojanski

Eu quis dar nome às estranhas sensações que me despertaram de uma longa letargia por volta do mês de setembro. Acordava mais cedo que de hábito e necessitava abrir as janelas para sentir entrar o ar fresco das primeiras horas, queria estar debaixo das árvores, ouvindo o farfalhar das folhagens, suspirava a cada minuto, ainda que uma nova paixão fosse uma possibilidade muito remota. Sentia nos pés uma energia concentrada, como se eles tivessem vida própria, e me convidavam a andar, e a andar, por caminhos onde eu pudesse perceber os odores da paisagem sem precisar esfregar uma folha no nariz.

Tinha sempre um sorriso na cara, contrariando a elegância de não expor com tanto descaro as marcas do tempo. Por que estranhar a felicidade, eu poderia apenas me perguntar, mas havia algo mais que a felicidade que eu já conhecia e que passeava meio entediada pela insipidez de minha rotina.

O psiquiatra que me ajuda a consertar meus transtornos não teve dúvidas: ansiedade. Outras cápsulas noturnas que me fariam acordar mais tarde pela manhã resolveriam tudo, e eu poderia retornar tranquila ao reino dos caramujos. Minha sorte foi falar antes com vovó, que por sinal, também andava se esgueirando por debaixo das árvores e suspirando para os lagartos que escalavam os galhos: Não é doença, minha filha – disse ela. É a síndrome da primavera. Sente-se aqui e se deixe florescer.

Corrida Maluca: um exemplo PARA A VIDA – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

Clássicos nunca morrem, eu costumo dizer. Por muito tempo nos acostumamos a acreditar que o passado passou e não pode ser relembrado. Discordo!

Relembrando fatos da infância, divago por coisas que marcaram para sempre a minha existência. Uma delas, com certeza, são os quadrinhos, dos quais sou fã até hoje, e os desenhos animados (disco de rock, por serem especiais demais, nunca me atrevi a deixá-los de lado).

Tive muitos heróis cujo tempo, covardemente, fez questão de colocar em segundo plano em muitas fases de minha vida. Como pude esquecer, por exemplo, dos GALAXY RANGERS?, CENTURIONS, ZONO RAIDERS?

Mas antes vieram os básicos, minhas lembranças me levam aos primórdios aonde o que interessava mesmo era a diversão. Joseph Barbera e William Hanna eram especialistas nisso.

Os caras se conheceram em 1947 e tomaram um cano do Walt Disney, que prometeu contratá-los e nunca apareceu. Talvez por isso o Mickey seja tão chato.

Dessas duas mentes privilegiadas e brilhantes saíram “Tom & Jerry”, “Zé Colmeia e Catatau”, Fred Flintstone e Barney Ribble, dentre outros.

Em 1968, os caras resolveram se basear em um filme e lançar um desenho com 11 personagens principais, isso sim merece uma menção honrosa; imagina a dificuldade para que nenhum personagem ficasse em segundo plano. E assim nasceu a “Corrida Maluca”.

Inspirado no filme “A Corrida do Século” (1965), a “Corrida Maluca” era uma espécie de campeonato de carros que tinham os mais malucos participantes possíveis.

As corridas eram disputadas por esses caras no melhor estilo “vale-tudo”, e tinha de tudo… Imagine uma corrida com um carro que é um Avião pilotado pelo Barão Vermelho (carro nº 4) no mesmo Grid de largada de híbrido de tanque com carro (carro nº6), comandado por um cara chamado Meekley e com Sargento chamado Bombarda no Canhão? Ou com um cara com um carro de F1 que atente pela alcunha de Peter Perfeito (carro nº 9) (tem uma banda legal com esse nome) – era a formalização do herói perfeito, junto do Carro Mágico (nº 3) do Prof. Aéreo (um cara com feições de cientista maluco, mas que era do bem).

Ainda tinha o “Cupê Mal-assombrado” (nº 2) guiado por Medonho e Medinho, que ainda tinha uma torre (hummm) de onde saía um dragão, uma serpente, etc.; tinha o “Carrinho pra frente” (nº5) da Penélope Charmosa, o “Carro à prova de balas” (nº7), que muitos chamam de “Chicabum” e era comandado pela Quadrilha de Morte, “Serra Móvel” (nº 10) do Rufus o Lenhador, e do Dentes de Serra, a “Carroça a Vapor” (nº7) do Tio Tomás e do urso Chorão.

Todos os carros tinham as placas iniciadas com um “HN” em alusão aos criadores.

O meu preferido era o “Carro de Pedra” (nº 1) dos Irmãos Rocha (nome também de outra boa banda), que, mais tarde, deram origem ao “Capitão Caverna”. Sem contar, é claro, com a “Máquina do Mal” (nº 00) do Dick Vigarista e seu escudeiro Muttley, a Máquina do Mal, aparentemente, era o carro mais rápido e tecnológico dentre os competidores.

Apesar de tecnologicamente superior, o carro nº 00 nunca conseguiu vencer uma corrida. Muito mais pelo caráter duvidoso do seu piloto, que perdia muitas posições com planos mirabolantes e armadilhas para prejudicar os outros competidores.

A Revista “Mundo Estranho”, de julho de 2012, atribui o seguinte ranking:

• 1º Carro de Pedra/Irmãos Rocha – 81 pontos
• 2º Carro-a-prova-de-balas/Quadrilha de Morte – 74 pontos
• 3º Cupê Mal-Assombrado/Irmãos Pavor – 69 pontos
• 4º Carroça á vapor/Tio Tomás e Chorão – 68 pontos
• 5º Carro Tronco/Rufus Lenhador e Dentes-de-serra – 67 pontos
• 6º Carro de Mil e Uma Utilidades/Professor Aérao – 65 pontos
• 7º Carrinho pra Frente/Penélope Charmosa – 64 pontos
• 8º Lata Voadora/Barão Vermelho – 63 pontos
• 9º Carrão Aerodinâmico/Peter Perfeito – 60 pontos
• 10º Carro-tanque/Sargento Bombarda e Soldado Meekley – 39 pontos
• 11º Máquina do Mal/Dick Vigarista e Muttley – 00 pontos.

Essa é a moral da história: por mais que se tenha todo um aparato, você jamais conseguirá vencer se tentar trapacear. Assim é a vida…

Que os infindáveis Dicks Vigaristas continuem se dando mal. Porque, assim como na Corrida Maluca, na vida o bem sempre vence o mal.

*Marcelo Guido é jornalista, pai do Bento e da Lanna, além de maridão da Bia

Roberto Dinamite eternizado em sua maior morada – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

“Todos os amores que tenho és o mais antigo, tu és minha vida, minha história meu primeiro amigo, quem não me conhece me pergunta por que eu te segui, eu levo a cruz de malta no meu peito desde que nasci”, o trecho do cântico apaixonado traduz com fidelidade ímpar meu sentimento ao escrever tais linhas, meu amor digno e fiel ao Vasco da Gama se traduz nisso e toda essa paixão tem um início.

Roberto Dinamite, foi o primeiro jogador que admirei de verdade, alto, raçudo com um verdadeiro canhão nos pés levava o Vasco para cima em todos os jogos, protagonista marcante colocava sorrisos nos rostos vascaínos e fazia tremer as defesas adversárias.
Dinamite era o dono do time, o cara do Vasco, fui apresentado ao mesmo pelo meu pai que sempre dizia:

” Hoje tem Vasco de Dinamite “.

O Vasco do Dinamite, impunha respeito, o colocava sempre ao lado de 3 marcadores, todos sabiam que ao menor vacilo era bola na rede, era explosão, era euforia.

De todos os maiores que pisaram em São Januário ele era o maior, do Maracanã era rei, e 190 vezes que a rede estufou no campeonato brasileiro ele foi o autor.

Nada mais justo que em vida tal homenagem lhe fora concedida.

Na sua casa, de frente a sua torcida, Roberto Dinamite correrá e levará a alegria para os vascaínos.

Minha paixão pela agremiação começou cedo, veio do berço e ele era o intuito, ser Vasco é ser Roberto, e ter um tiro certeiro nos pés e a categoria ímpar de se jogar por amor.

De arrebatar corações, de empolgar milhões de apaixonados pelo Vasco e pelo bom futebol.

708 vezes ele fez a torcida sorrir, fez ter assunto, fez ter orgulho.
Venceu, perdeu , chorou e sorriu eternizou o amor e fez morada em cada coração que junto dele também leva cruz.


Meu primeiro grande ídolo, o cara que me fez amar o Vasco, gostar de futebol e que já era eterno para todos nós, agora ficará para sempre em seu maior reduto.

Muito obrigado Dinamite, como diria meu Pai o ” Dinamitaço”.

Que sua estátua nos lembre sempre o quanto somos gigantes e honrados por sua singular presença.

Dia 29 de abril de 2022 o Vasco da Gama inaugurou a estátua de Roberto Dinamite, o primeiro de todos os grandes artilheiros de São Januário.

*Marcelo Guido é jornalista, pai do Bento e da Lanna, além de maridão da Bia

**Publicado em maio de 2022 e republicado hoje, por conta da morte de Roberto Dinamite, aos 68 anos, ocorrida neste domingo (8), em decorrência de um câncer. 

Hoje é o Dia do Leitor – Minha crônica sobre a data

Hoje é o Dia do Leitor. Li que a data surgiu por conta de ser o mesmo dia do aniversário do jornal cearense “O Povo”, fundado em 7 de janeiro de 1928, e foi uma sugestão do poeta e jornalista brasileiro Demócrito Rocha.

Quanto a data, vale a pena celebrar a nobre prática, pois sigo a velha máxima “ler para ser”. Sei da importância da Leitura, de devorar um livro e sorver conhecimento, mas o advento da internet enfraqueceu a prática. Atualmente, a maioria das pessoas lê somente o resumo, a sinopse, a crítica e por aí vai. Isso, quando o faz.

Nunca fui um leitor inveterado, mas aprendi muito com os livros e, sempre que posso, leio. É fundamental na minha profissão. Por meio da leitura, viajamos, aprendemos, voltamos ao passado, imaginamos o futuro, exercitamos o cérebro.

Para os que não gostam ou tem preguiça de ler, digo: já fui como vocês. Cada um com seu tempo e aptidão. Porém, acreditem, não é legal ficar calado numa roda de leitores. Ademais, é muito prazeroso, estimula nosso raciocínio e criatividade. Quando você para de ler livros, você para de pensar.

Detesto os pseudointelectuais medonhos, que pagam de safos e não leem nem bula de remédio. Também não gosto dos que são leitores crônicos, mas por conta disso são “posers” (metidos a besta que se acham mais que os outros). Porém, as pessoas do segundo caso são uma minoria.

Os malucos mais interessantes que conheço são leitores. Já dizia Cícero, “uma casa sem livros é como um corpo sem alma”. Escrever de forma correta, abrir as ideias e convencer pessoas com bons argumentos são frutos da leitura. Ler fertiliza a cachola, assim como música, filmes e viagens.

Se você não se satisfaz com explicações fajutas e sempre vai atrás de conhecimento por meio da leitura, mesmo que não seja somente nos livros, meus parabéns. A mente do leitor pode ir até as estrelas ou além delas, ao lugar onde o livro e a imaginação nos permitirem ir.

Estou em uma fase de aumento das leituras e recomendo a todos o mesmo.

Feliz Dia do Leitor a todo o leitorado que visita este site diariamente. É isso!

Elton Tavares

O dia que o Godão morreu – Crônica legal de Cíntia Souza – (@hccintia)

Ilustração de Ronaldo Rony

Crônica de Cíntia Souza

O nó na garganta deixou meu corpo mole. Acordei em luto. A tristeza é algo que nos enfraquece de dentro para fora, sem nos dar chance de reagir. “Foi de repente”, “Eu falei com ele ontem”, “Disseram que foi o coração…mas também, mano!”, “É, a boemia cobra o preço”.

Meu amigo morreu. Meu parceiro morreu e a gente nunca viajou junto, digo, ao menos não para outros lugares. Por isso, não quero ficar com as lembranças, muito menos pirar com aquela lista de tudo o que não fizemos ou me punir por não saber aproveitar melhor o nosso tempo. Só a ideia me irrita. Está certo! Tenho problemas com a morte. Invejo kardecistas. Eles são tão serenos na hora da passagem. Eu acho que eles fingem.

Godão, Godão, se você estivesse aqui com certeza iria tirar um barato. O povo chorando, contando histórias, rindo, contando histórias e chorando. Interessante, todos têm algo para contar. E agora, como eu vou saber qual parte dessa biografia é real? Vai virar lenda, hein.

Além dos amados, da família firme e forte, será que você imaginaria que fulano viria até aqui? Beltrano também veio! Vixi, foram muitos encontros e desencontros. Eu queria que você pudesse ver isso. Tenho certeza que já imaginou o próprio funeral. Afinal, quem nunca?

Não faz muito tempo, talvez dois ou três meses, você postou algo sobre a sua rotina no trabalho e eu comentei citando a letra de uma música que a gente curte: “Eu desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também. E que você diga a ele, pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem”. E você emendou: “Eu te desejo muitos amigos, mas que em um você possa confiar”.

A gente nunca foi do tipo que compartilha frases de Caio Fernando Abreu no Facebook (Hahaha). A gente vivia na vera…e como vivia. Éramos Carpe Diem total! Não sei se pelo fato de sermos jornalistas, mas fazíamos questão de registrar tudo. Tinha quem nos considerasse exibicionistas. Comédia! É injustiça tirar a vida daqueles que tentam aproveitá-la ao máximo. É isso o que revolta! E nós sabíamos aproveitar a vida como poucos.

Não sei por que conjuguei o verbo no passado. Afinal tudo isso foi apenas um sonho. Acordei fraca, com sede e com aquela aflição entranhada na alma. Passei a manhã pensando se aquele sonho teria algum sentindo, um significado especifico. Não encontrei nada até agora.

Durante a manhã falei com você pelo Messenger e fiz você prometer que não vai morrer. Você jurou.

Com a Cíntia, no Bar da Euda, em 2014.

O fato é que as pessoas morrem. Para quê, né?! Mas acontece. E sempre foi assim desde o começo. Dizem que teve um cara que foi e voltou, rasgou o véu, desceu a mansão dos mortos, mas depois ninguém nunca mais o viu. Há quem espere seu retorno.

Diante de tudo penso se há uma solução para encararmos a morte com naturalidade, simplesmente como a fase final e derradeira desse ciclo chamado vida, ou outro meio para anestesiar a dor da partida. Mas não sei se queria ver alguém retornar do lado de lá… Creio na cruz!

*Cíntia Souza, jornalista, assessora de comunicação, cineasta, sócia proprietária da Crível comunicação e querida amiga minha.

Tanta! (ou seria Tantã?) – Crônica de Elton Tavares – Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Ilustração de Ronaldo Rony

Estou sem inspiração pra escrever algo legal, por isso republico um texto velho e atual ao mesmo tempo sobre minhas divagações, devaneios, doidices e afins neste site. Como tudo na minha vida foi muito, escrevi “Tanta”, mas poderia ser tantã. Saquem:

Pra começar, foram tantas contradições, tantos temores, tantas pessoas e tantas as histórias nas últimas bem vividas três décadas! (época de moleque não conta). Como diz o tal Rei perneta: “tantas emoções”.

Tantos bons e maus momentos, muitas alegrias e poucos choros. Tantos nascimentos e alguns enterros. Tantas músicas e pouca dança. Tantas paranoias, manias, chatices e porretices. Tanto trabalho (sagrado), tanta farra, muito álcool, tantos muitos amigos (tantos ex -amigos), tantas amanhecidas, algumas brigas, poucas angústias, poucos perdões.

Tanto veneno e pouco antídoto. Tantos escritos, várias interpretações erradas, tanta crítica, tanto aplauso e tanto amor familiar. Tantas velhas e novas sensações. Tantos romances cinematográficos. Tantas falsas certezas, tantos enganos verdadeiros. Tantos parágrafos tragicômicos. Tantos sonhos possíveis e impossíveis.

Tantas expectativas, nada de limites, quantas frustrações. Tantos textos cheios de narrativas utópicas. Tantos amores surreais e paixões à bruta. Tanta coisa maligna. Tanta reprovação geral. Poucas ações a contragosto, muita liberdade!

Tantos rocks, tantos sambas, tantas trilhas. Tantas brigas, muitas vitórias e poucas derrotas. Tanta coisa inesquecível, tantas saudades!

Tantos méritos e deméritos. Tantas experiências, vivências válidas em sua maioria e algumas em vão. Tantas memórias afetivas, tantas juras, tantas pieguices e tantos desenganos. Tanto Chico Buarque na vitrola, tanta coragem e tanta falta dela. Tantos amores e tanta vida!

*Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”.

Mais vida, menos grana – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Crônica hedonista de Elton Tavares

Certa noite , ao conversar com amigos e dizer que não guardo um vintém do que ganho com o meu suado trabalho, eles ficaram assombrados. Disseram que é loucura, que ‘issos’ e ‘aquilos’, especialmente sobre reservas econômicas para possíveis emergências. Eu disse que prefiro mais vida e menos grana.

Não, não é que eu não goste de dinheiro. Claro que gosto, mas tudo que ganho, no batalho e sempre honestamente, é repassado para custos operacionais e caseiros. O restante é gasto e muito bem gasto em vida. E não sobra nadica de nada para acumular.

Além da minha incorrigível falta de perspicácia financeira, nunca ganhei somas consideráveis com meus trampos, seja neste site, na assessoria de comunicação ou escritos (sim, vivo literalmente de palavras). Mas o que entrou no meu bolso, apesar de eu não conhecer essa tal de economia, jamais foi desperdiçado.

Eu bebo e não é pouco (apesar de estar temporariamente só na água). Gosto de viagens e dos momentos em que fiz um monte de merdas legais com os meus brothers. Isso tudo custa caro. Em nem todo o dinheiro do mundo poderia comprar aqueles dias de volta. Ou seja, mais vida, menos grana.

Quando não usei minha grana pra curtir a vida com amigos, ajudei pessoas. E essa é a melhor forma de torrar os trocados. Como disparou outro gordo louco no passado: “não quero dinheiro, eu só quero amar”. Grande Tim!

Falando em citações (amo usar frases de ídolos), uma vez o Belchior disse: “e no escritório em que eu trabalho e fico rico, quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor“, na canção “Paralelas”. Boto fé nisso.

Algumas pessoas que conheci no passado, amigos e até familiares, após se estribarem, ficaram um tanto pavulagem demais e com suas vidas muito menos divertidas.

E isso me recorda o bom e velho Johnny Cash, que certa vez pontuou: “às vezes eu sou duas pessoas. Johnny é o legal. O dinheiro causa todos os problemas. Eles lutam”.

Ou os Paralamas do Sucesso, na canção “Busca a vida”: “…Ele ganhou dinheiro, ele assinou contratos, e comprou um terno e trocou o carro. E desaprendeu a caminhar no céu …e foi o princípio do fim!“.

Aos que desaprenderam o caminho, deixo a canção-poema : “Desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também. E que você diga a ele pelo menos uma vez quem é mesmo o dono de quem“.

No meu caso, sigo dando mais valor em viver do que em poupar para um futuro incerto. Menos grana, mais vida, meus amigos.

É isso!

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Cai dentro, 2023. Feliz ano novo! – Crônica de ano novo de Elton Tavares

2023 está ali, dobrando a esquina. Que todos nós, eu, você e demais pessoas que estão lendo este texto, assim como nossos amores, sigamos saudáveis e sejamos felizes no ano que chegará logo. A vida boa e lôca. Só é feliz quem arrisca. Vamos com toda a força no novo ciclo. E, é claro, agradecer por termos sido felizes, apesar de tudo, em 2022.

Mesmo com todos os desafios, injustiças de toda ordem,  tristeza por conta de coisas terríveis,  vivi intensamente 2022. Sou grato aos meus companheiros de jornada, tanto os familiares, amigos e colegas de trabalho, quanto aos que me ajudaram e não estão inclusos em nenhum destes grupos citados.

Que tenhamos luz e sabedoria para encarar as adversidades e os desalmados que certamente aparecerão no novo ciclo. E que nos esforcemos para sermos pessoas melhores que em 2023. Esse “vinte, vinte e três ” será desafiador.

Que em 2023 tenhamos muito boa vontade, forças positivas, disposição e autoconfiança para corrermos atrás de tudo o que desejamos alcançar. Tenho certeza de que muita alegria nos espera no ano vindouro. Pelo menos a esperança nisso não é pouca. E, sobretudo, SAÚDE!

Viverei 2023 como se fosse o último ano de minha vida, podem apostar (sempre faço isso). O ano novo promete. Que ele se cumpra então, que seja mágico/fabuloso e sem muitas aporrinhações. E quando fraquejarmos, que haja amor e força para recomeçar.

Tomara que eu e você sigamos lutando por uma vida digna, menos ordinária, no combate a dias e noites tediosas, e mais cheias de amor. Ou paixões. Afinal, tudo depende de você. E se possível, sem muitas “fingidades”, como dizia Guimarães Rosa. E isso sempre contou pra caralho. E continuará contando sempre!

A todos os que fazem parte da minha vida e aos leitores do De Rocha, desejo um ano novo transbordante de amor e paz. Na hora em o Ano Novo chegar, desejo que vocês estejam felizes, com boa comida, boa bebida e pessoas que amam.

O escritor Rubem Alves, no livro de crônicas intitulado “Pimentas”, disse: “a gente fala as palavras sem pensar em seu sentido. ‘Benção vem de bendição’. Que vem de ‘dizer o bem ou bem dizer’. De bem dizer nasce ‘Benzer’. Quem bem diz é feiticeiro ou mágico. Vive no mundo do encantamento, onde as palavras são poderosas. Lá, basta dizer a palavra para que ela aconteça”. Então, que Deus continue nos abençoando!

Boas energias, muita saúde e prosperidade. E que as surpresas sejam felizes, que a força se movimente em seu favor nesse poderoso universo, afinal, já disse o grande Mestre Yoda: “Difícil de ver. Sempre em movimento está o futuro”.

2023, vem com tudo, cai dentro! Feliz ano novo!

Elton Tavares