Sobre o meu 46ª dia 14 de setembro (um pequeno balanço deste incrível milagre de eu estar vivo)

Pois é, “caras como eu estão ficando velhos”. Na verdade, já sou. Um pouco menos Gordão, rosto de 44 (apesar da barba e cabelos brancos) e corpitcho de 95, faço 46 anos hoje. Essa idade parecia tão distante e eu achava que estaria mais velho de espírito, mais maduro, mais coerente, mais sensato, muito mais responsável. Além disso, é impressionante chegar há mais de quatro décadas vividas diante das centenas de “bocas cercadas” e “fogueiras puladas”. Ainda bem que o fígado é um órgão que se regenera (mas o meu tá baqueado).

“Batidas na porta da frente… É o tempo. Eu bebo um pouquinho pra ter argumento…”. E não é que aquele moleque doido chegou aos 45 anos? Largura e não foi pouca não.

É, apesar do trabalho que dei ao meu anjo da guarda, deu tudo certo (acho eu). Aniversários são especiais para mim e estou muito feliz de rodar o calendário mais uma vez. São quatro décadas e quatro anos com poucos arrependimentos, muitas bênçãos, amores e amigos. Sobretudo, amor e suporte familiar.

Claro que fiz uma porrada de merdas, mas também acertei muito. Já toquei fogo em muitos circos, mas nem um palhaço morreu queimado (no máximo cego ou aleijado, risos). Já provei poderosos venenos e doces antídotos. Costumo brincar ao dizer que graças a Deus, tenho uma sorte dos diabos.

Não tenho do que me queixar. Muita gente me ama e também muita gente me odeia, mas estes por serem quem são, prefiro assim. Sobre eles, deixo somente as palavras do amigo Fernando Canto: “não falo de inimigos, pois como os ex-amigos, eles não merecem a minha ira. Apenas desprezo o que não quero prezar”. Alguns me acham encrenqueiro, mas estouro para não implodir, somente ação e reação, simples assim. Confesso que às vezes exagero, mas sou assim e isso me faz feliz.

Com uma mistureba rock’n roll, MPB, MPA, marabaixo e Samba, ando por aí com um ar meio maldito, sempre de preto, meio Johnny Cash-sem-talento-musical-gordo-negão. Já fui tão doido que o fotógrafo Sal Lima disse que eu era o Tim Maia sem talento musical (risos). A verdade é que sou chato esquisitão bem humorado, mas antissocial que finge ser sociável e tranquilo. Menos inteligente do que muitos pensam e menos burro do que alguns poucos imaginam (“É um duplo prazer enganar a quem engana” – Nicolau Maquiavel).

São 46 anos de muita batalha e de incontáveis vitórias. Profissionais e pessoais. Consegui sucesso, notoriedade e respeito em uma profissão competitiva, cheia de gente muito talentosa e boa. Sobre isso, nunca me reinventei, mas aprendi e aprimorei os métodos, melhorei o trato e fortaleci velhas parcerias. Há tempos, descobri que respeito é o segredo. Ah, arrisquei várias vezes. Claro, rolaram algumas pisadas de bola, frustrações. Faz parte.

Namorei um bocado; amei e desamei; viajei muito; vi shows de rock; sai na porrada várias vezes; comemorei mundiais da seleção brasileira; títulos do Flamengo; desfilei e fui campeão pelo Piratão; frequentei rodas chiquentas e os botecos mais vagabundos; decepcionei alguns; fiz muitos felizes, enfim, vivi uns 60 anos nestes intensos 46 setembros.

Apesar de um monte de doidices, consegui me tornar o Elton Tavares que é escritor, jornalista e editor deste site. E gosto de quem sou. Amo as minhas pessoas e elas sabem quem são, pois sempre deixo isso bem claro, apesar de minhas esquisitices. E agradeço sempre pela minha vida e por todos que sempre me apoiam. Também por me aturarem, mesmo com a incoerência e insensatez de alguns momentos.

A vida profissional acabou com minha postura marginal, pois foi necessário. Afinal, como diz o ditado popular: “Papagaio que come pedra, sabe o cu que tem“. Mas isso não quer dizer que não sinto saudades disso, às vezes. Mas quem me conhece sabe que aqui não existe falta de atitude. Hoje renovo minhas esperanças nas pessoas e em mim mesmo. A gente tá aqui para aprender e tentar evoluir. Mas uma piradinha vez ou outra faz com que esse processo seja menos tedioso.

A conta das loucuras chegou e agora estou cuidando da saúde. Pois é realmente um milagre eu estar vivo.

Agradeço não somente hoje, mas todos os dias para Deus, Morgan Freeman, Universo ou seja lá o nome da Força que comanda tudo por aqui pelo amor da minha mãe, irmão, sobrinha, namorada, avó (in memoriam) tios, tias, primos, amigos e o carinho de uma porrada de gente. Sou grato mesmo. Muito obrigado!

A vida passa muito depressa, se não paramos para curti-la, ela escapa por nossas mãos” – Ferris Bueller’s, no filme Curtindo a Vida Adoidado.

Elton Tavares

Hoje é o Dia do Irmão (e eu tenho o melhor mano do Mundo). Obrigado por tudo, Emerson! #DiaDoIrmão

Este site possui a seção “Datas curiosas”. Para essa coluna, escrevo sobre curiosidades dos dias do ano. Pois bem, então vamos lá. Na cultura Nepali, a data de 5 de setembro (hoje) é o “Dia do Irmão”. A celebração faz parte de uma série de comemorações de festivais hindu. Lá, este é um dia de reconciliação, perdão e reencontro.

No Brasil, o dia surgiu por iniciativa da Igreja Católica, que homenageia o aniversário de morte da missionária Madre Teresa de Calcutá, desde 2007 – data que completou 14 anos de sua morte, também em 5 de setembro. No entanto, não há um registro que oficialize a data no país.

Sim, eu sei, todos os dias é dia do irmão. Além dos irmãos de sangue, grandes amigos, pessoas especiais, que também são como irmãos. Tenho a sorte e a bênção de ter muitos irmãos, companheiros de vida que me ajudam na caminhada. São tantos que não vou nomeá-los neste texto (faço isso nos aniversários de cada um deles), pra não correr o risco de cometer injustiças. Aos meus queridos, meu muito obrigado.

Passo então a escrever sobre meu irmão de fato, de sangue, alma e coração, o Emerson Tavares.

Admiro quem é bom irmão, mas a coisa é mais rara do que parece. São tantos casos de pilantragens, traições e falta de amor entre irmãos que, só de saber, lamento. Conheço muita gente que não dá valor aos seus e acho isso lamentável.

Eu tenho muita sorte de ser irmão de Emerson Tavares. O cara é gente boa, espirituoso, inteligente, bom caráter, bom pai, bom marido, bom filho, bom neto e irmão perfeito. Sim, perfeito pra mim. Tenho tanto orgulho dele que não cabe em mim.

Se alguém me perguntasse quem eu gostaria de ter ao meu lado para atravessar qualquer tipo de situação adversa, seria ele. Eu e Merson já enfrentamos muitas barras juntos e sempre vencemos tudo.

Emerson é o meu melhor amigo. Cara que sempre contei, conto e sempre contarei na vida. Ele me apoia, aconselha, ajuda, compra minha briga e, se preciso, me critica, para que eu possa melhorar. Ele é sensacional!

Deus foi muito bom comigo. Merson é um cara fantástico. Uma pessoa sensacional que irradia positividade. Ele e minha mãe são pessoas que sempre me apoiaram e sempre apoiarão nesta vida.

Li em algum lugar que a palavra irmão, vem do Latim ‘germanus’, que quer dizer verdadeiro. Na linguagem do amor, essa que aprendi no dia a dia como meu irmão, ter um irmão é tudo isso e muito mais. Porque ele existe, porque é esse cara fantástico, eu sei que sou uma pessoa mais forte. Isso é verdadeiramente único na minha existência.

Se você não é tão amigo de seu irmão ou irmã, ainda é tempo de fazer essa relação virar um laço de amor, pois é para sempre.

A canção diz “o amor é um grande laço”. Entre irmãos, ele é mais forte e para sempre. Te amo, Merson! Obrigado por tudo, meu mais que maravilhoso irmão !

Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e certamente quem vai sempre te apoiar no futuro” – Trecho do poema Filtro Solar.

Elton Tavares

O pedreiro e os tijolos – Crônica de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Dois homens desciam o morro em busca de novas formas de ganhar a vida, pois estavam isolados e já sem condições de dar o sustento às suas famílias. Um era pedreiro, outro ferreiro. No caminho encontraram uma pedra. O ferreiro viu que seu amigo parou para ver a pedra e perguntou:

– Por que tu te admiras de uma pedra tão comum? Há muitas dessas por aí. E apontou ao redor.
– É que eu posso modificá-la, respondeu.
– Mas para que servirá essa modificação?
– Para chegar a um objetivo que não sei exatamente qual é.

E o outro disse:

– Então fica com a tua pedra que eu vou seguir o meu caminho. Preciso trabalhar para comer.
E o homem ficou e voltou para a sua casa, no alto do morro. Pegou duas ferramentas, uma de cortar e outra de bater, e foi lapidando-a até transformá-la em um cubo.
Tempos depois seu amigo voltou, viu a linda pedra polida naquela forma.

– Como fizeste isso?
– Com paciência, técnica e amor.
– Mas por quê?
– Porque algo me diz que a missão do homem é transformar as coisas e transformar-se a si mesmo.
– E daí? O que isso significa?


– Significa que Deus coloca em nosso caminho coisas que podem ser modificadas e que alimentarão a própria vida se nós mesmos mudarmos. Uma pedra bruta achada em nosso caminho poderá ser de grande valor, se for transformada em cubo polido. Ela também pode ser esculpida de outras formas como a pirâmide ou um globo que Deus nos põe para observar em noites estreladas. São coisas que nos invadem o coração e nos põem em harmonia no grande ciclo da vida dado a nós por Ele, enfatizou o pedreiro. E continuou: – Nossos sonhos e a vontade são projeções da nossa vida e realidade.


– Mas você não come pedras. Como se alimenta? Perguntou o ferreiro com malícia.
– Como o que produzo em minha roça e distribuo o excedente aos que necessitam. Não como pedra, modifico-a. Tem mais: – Polir a pedra agora é o meu ofício. Um cubo não precisa ser apenas um cubo e ficar aí somente para ser apreciado. Muitos cubos podem servir para construir uma grande casa que pode abrigar a natureza do homem e o esplendor de Deus.
– Está bem, concordou o ferreiro. – Mas assim tu vais morrer de fome.


Ele dormiu exausto da subida e desceu à cidade no outro dia para procurar trabalho. no caminho encontrou um pequeno caminhão. O motorista lhe perguntou:
– Bom dia, senhor. Você pode me informar se o pedreiro perfeito está em casa?

Assustado, o ferreiro disse-lhe:
– Não conheço nenhum pedreiro perfeito. Mas tem um pedreiro maluco ali naquela casa que se alimenta de pedra.

E seguiu, rindo do pedreiro ladeira abaixo. O motorista ainda gritou:
– Obrigado, meu amigo. É com ele que negociamos seus ricos tijolos de pedra para a construção do nosso templo.

*Macapá, 19 de abril de 2021.

Craque Neto – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

Cria do Guarani, do berço sagrado nomeado Brinco de Ouro de campinas José Ferreira Neto ou simplesmente Neto, vestiu muitas das maiores camisas do futebol brasileiro, mas cravou seu nome na história como uma dos maiores jogadores do Corinthians.

Pelo Timão conquistou um paulistão de 97, a supercopa de 91 e o maior de todos os seus títulos com o manto alvinegro o brasileirão de 90. Meio campista dos bons, chegava sempre ao ataque, tinha um faro seguro em direção a grande área adversaria  , uma técnica incrivelmente apurada e sua maior arma era sem duvidas a bola parada. Neto conhecia como poucos o apreço da bola com o gol em uma falta.

Sua raça em campo era algo descomunal, não tinha lance perdido ou bola impossível, seus recursos não eram escassos dentro das quatro linhas, valoroso não se escondia no jogo e deixava seus companheiros sempre a vontade com passes de precisão cirúrgica.

Em 1990, só não fazia chover, fez do Pacaembu sua casa, sua morada onde fazia repousar quase que em todas as oportunidades a criança nos fundos das redes.

O temperamento explosivo o acompanhou por toda a carreira, sendo em confusões com técnicos ou muitas vezes com a própria torcida, assim foi no Palmeiras, São Paulo, Santos , Galo e também no Bangu. Mas não esquecemos que na mesma proporção existia um talento.

Talento esse que sobrou nas fases finais do brasileirão de 90, quando com dois tentos contra o Atlético Mineiro um a os 30, outro aos 40 da etapa final classificou o Corinthians , contra o Bahia, na Fonte Nova , mais uma virada , Neto em uma chapada espetacular de falta garantiu a vitória alvinegra que foi assistida pela fiel corintiana, que o abraçou como xodó e ídolo eterno. O Timão estava na final.

Neto como artista da bola que era, conseguiu um feito que só os Deuses do futebol e seus caminhos tortos  escritos pelas linhas retas das áreas teriam como conceber, dois gols de bicicleta perfeitos um pelo Guarani contra o Timão e um pelo Corinthians contra o Bugre.

Um torcedor dentro de campo, um quase atleta, seus problemas com a balança eram uma constante, mais um jogador de excelência, que colocava a seu favor a raça, a categoria, o sangue e a paixão pela camisa.

Faltou a Copa de 1990, um dos melhores do campeonato nacional ficou de fora , mas em 91 vestiu a 10 canarinho na Copa América, além da medalha de prata em 88 em Seul.

Também campeão Paulista pelo tricolor, onde desafiou a lógica ao marcar um gol olímpico em um clássico contra o Palmeiras,  mas eternizado como principal jogador do primeiro brasileirão do Corinthians.

Neto era um fiel corintiano dentro das 4 linhas, a torcida sabia que podia contar com ele, e ele não decepcionaria, pôs todos sabiam que dentro daquele peito batia um coração alvinegro.

Foram 184 gols anotados em toda a carreira, 5 títulos, a honra de vestir as maiores camisas do estado de São Paulo, de um dos maiores de Minas e uma das mais charmosas do Rio,   muita contribuição para o bom futebol, esta entre os 10 maiores da historia do Corinthians e com certeza na memoria de todos que gostam do esporte bretão.

Craque Neto é sem duvidas um imortal do futebol.

Futebol é Momento – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

Essa é uma de muitas leis que cercam o jogo, joga quem está melhor e confiante. No ardor da partida, os homens são diferenciados dos meninos e ninguém sinceramente joga bem sem que tenha a chamada moral lá cima.

Vamos lá, em breve estaremos mais uma vez em período de Copa do Mundo e quem acompanha o campeonato nacional está de olhos abertos para a Guinada que clubes como Flamengo, Fluminense e Atlético Mineiro, e Palmeiras deram no limiar decisivo da competição.

O Porco faz o que já era de se esperar, o Galo caiu de produção mas ainda pode dar um calor, o Flamengo aparentemente exorcizou Jesus e com Dorival encontrou seu caminho e o Fluminense de Diniz se diferencia dos demais com seu futebol vistoso, bem jogado e de muita raça.

Na moral é realmente inaceitável que Ganso, Hulk, Pedro, Rony e PASMEM  Rodney estejam fora da seleção em ano tão importante, na boa se esses caras fossem sei lá Portugueses já estariam com o passaporte carimbado rumo ao deserto do Catar.

Imagine um ataque formado pelo Adulto Ney, Hulk e Pedro em uma competição de sete jogos, com um Rodney endiabrado correndo como uma flecha pela lateral, com um Ganso de passes certeiros e conduzindo um jogo, sem contar a entrada de um certo Rony no segundo tempo, seria um verdadeiro Deus nos acuda para defesas adversárias .

O pensamento é claro, a Copa é curta e tem que ir quem está melhor, assim prega a lógica.

Ah, e temos que torcer para que nossos vizinhos continuem a ignorar Germán Cano que neste ano é simplesmente artilheiro da Copa do Brasil, do Brasileirão e do mundo com seus até agora 31 gols.

Este pode ser apenas um devaneio solitário de torcedor, mas sinceramente eu acredito e torço para que cheguem até Adenor, pois esse problema é dele.

A Copa sem esses nomes citados não estará completa.

Bom falta pouco só nos resta torcer.

*Marcelo Guido é Jornalista, Pai da Lanna e do Bento e Maridão da Bia.  

A entressafra criativa – Crônica de Elton Tavares – Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”.

Ilustração de Ronaldo Rony

Crônica de Elton Tavares

De tempos em tempos, não consigo filosofar, mesmo que de forma barata, sobre a vida. Antes redigia um texto por dia com tanta facilidade. É, nem escrevo mais tanto sobre boemia, um de meus assuntos prediletos. Quem dera ter o dom de poetizar ou redigir uma crônica sobre uma invenção qualquer.

Essas insônias solitárias, na companhia de livros, fotos, papos virtuais e a madrugada com a trilha sonora recheada de The Cure promovem uma mistura de sensações e doideiras. Sobre isso, não basta neste momento para um bom texto.

Aí volto a tentar escrever algo legal, seja sobre o trabalho, este novo blog e todas as possibilidades…

Quem sabe sobre amigos.

Nada.

Me faltam ideias.

Normal, é a “entressafra criativa”. Talvez sobre o dia a dia de um assessor de comunicação-jornalista-editor? Nada…quanta tolice!

Quando ocorre, substituo o conteúdo feito de invenção por posts informativos. Claro que com referências e assuntos que acho que são relevantes.

O jeito é canalizar a energia para leitura, afinal os livros sempre fertilizam as ideias e aquecem a paixão pela escrita sobre tudo, até os sonhos. É, vou ler um pouco e tentar dormir. Tomara que amanhã eu vá à forra, viva mais, experimente mais dessa experiência que é existir, e assim, a entressafra criativa vá embora.

Por enquanto, vamos aos sonhos – outra maneira de encontrar com o lúdico de viver. É isso!

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Há um novo bar restaurante na cidade. Poucas novidades e velhas canalhices – Crônica de Elton Tavares

Crônica de Elton Tavares

Há um novo bar restaurante na cidade. Também a velha mania de parar por qualquer evento diferente, tipo coisa do interior. Mas até aí tudo bem, faz parte da fuga por coisas novas.

Também há muita insatisfação, descrédito e pouca esperança. Também jovens ávidos por uma chance, um emprego e velhos professores aflitos pelo retorno de benefício salarial ou os novos, pela falta de um reajuste justo.

Há crianças se prostituindo e velhos coronéis ainda no poder. Há gente morrendo nos hospitais e alguns ainda dizem que tudo está no seu lugar. Há caos, desordem e desonestidade à rodo. Há má vontade…

Há sonhos engavetados e paixões idiotas. Há muita grana a ser gasta com a massa de manobra por interesses obscuros. Há medo!

Há pessoas assistindo a tudo sem fazer nada. Uns por egoísmo, outros por conveniência. Há ameaças, chantagens, acordos e punições. Há violência. E de toda forma. Corpórea e moral. Há assédio, mas todos chamam de “Lei do mais forte”.

Há casamentos, separações, mortes e nascimentos. Há loucos impetuosos e covardes acomodados. Há muita alienação e burrice colorida. Há canalhas demais!

Há muita beleza natural, muita gente do bem, tanto por fazer e amores (sur)reais. Mas há poucas novidades e velhas canalhices, mas todo mundo só pensa na porra do novo bar restaurante na cidade.

Elton Tavares

Discos que Formaram meu Caráter (parte 54) – Legião Urbana … “A Tempestade ou O Livro dos Dias” (1996) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Muito bem moçada estamos de volta, de dentro de nossa nave com muitos sons, riffs e melodias para todos vocês, amantes do velho e bom rock and roll.

Este viajante foi até os derradeiros anos adolescentes e trouxe na bagagem mais um excelente míssil sonoro para o deleite geral, estamos falando nada mais nada menos de “ A Tempestade ou O Livro dos Dias”, derradeiro álbum de Renato Russo e dos caras da Legião Urbana, palmas pra ele.

Já corria o ano de 1996, a retomada do rock nacional já era uma constante, tinha uma turma muito boa tocando nas rádios e a turma da geração 80 tinha tomado um gás e estava fazendo muito para retornar aos caminhos da relevância.

Neste contexto a turma da Legião que andava meio sumida, não lançava nada desde o excelentíssimo “Descobrimento do Brasil” de 93 (procura aí, já escrevi sobre esse disco), os fãs não tinham muita notícia dos caras, e Russo já tinha brindado o público com os excepcionais “The Stonewall Celebration Concert” de 94 e “ Equilíbrio Distante” de 95, mas o mesmo já tinha assegurado que a Legião não tinha acabado e que estava fazendo algo muito legal, vide entrevista no Vídeo Show da Globo.

Como já disse, ninguém sabia muito sobre a banda, mas hoje em dia através de livros e entrevistas as coisas não andavam nada bem com Fontman, o abismo linear construído por Renato com a bebida e outras já não estava muito largo, e o cara já começava a pagar um preço.

Assim sendo a turma se reuniu para gravar o álbum, e entre janeiro e setembro existiram as incursões ao estúdio, nasceria como uma ideia inicial de um disco duplo, mas pelo estado do cantor a tal trama foi logo abortada.

O trabalho viaja por vários estilos, como soul, blues e o velho e bom punk rock que lembra  a Legião do comecinho, Renato foi poucas vezes ao estúdio, gravou tudo de primeira e voltou apenas para gravar “A via Láctea”, realmente ele não estava bem.

São melodias e letras tortuosas, a cara do momento dele e realmente acredito ser o disco mais pessoal do vocalista.

Vamos dissecar essa bela bolacha e deixar de papo furado:

O disco começa com a porrada na cara chamada “Natalia”, que trata toda esperança e hipocrisia. “L`Avventura” titulo de um filme de Michelangelo Antonioni. “ Musica de Trabalho” , o dia dia constante a alegria que se tem com pequenas vitórias. “Longe do Meu Lado”, melancólica tradução de uma paixão. “A Via Lactea” soa como uma despedida, foi regravada por Ricky Martin. “ Música Ambiente”, experimental. “Aloha”, sofrimento excessivo. “Soul Parsifal”, leveza constante. “ Dezesseis”, pesada trata de suicídio, com direito a trechos dos besouros de Liverpool. “Mil Pedaços”, reconstrução . “Leila”, sem dúvidas uma das mais descontraídas. “ 1º de Julho”, composta para a Cássia Eller. “Esperando por Mim”, um reencontro, perdão e desculpas. “ Quando Você Voltar”,  o fim, despedida. “O Livro dos Dias”, descanso.

Que puta disco bom bichos, na moral se tu não conhece não perde tempo. Não teve show, nem turnê promocional e mesmo assim vendeu pra caralho. Tua medalha de foda corre um sério risco, vai atrás.

Ah, gravaram uma versão de “Dezesseis” em inglês, mas o técnico de som apagou. Infelizmente.

Este disco foi realmente muito importante pra mim e sem dúvidas para muitos de vocês que estão lendo sobre ele agora. Solidão, passado, amor, intolerância, injustiça e saudade tudo isso misturado como sentimento puro e colocados em letras e melodias, sinceramente apesar das circunstâncias não tinha como dar errado.

Renato Russo se recusou a tirar fotos para o encarte, o disco  teve a participação foda do Carlos Trilha que é algo realmente singular.

Apesar de não conter “Urbana Legio Omnia Vincit” a Legião Urbana venceu mais uma vez. E mesmo sem o lembrete, é obrigatório ouvir no volume máximo.

Parte das vendas foram doadas para instituições de caridade e grupos de auto ajuda, Dona Penha a cozinheira do estúdio teve o privilégio único de ouvir a capela “ Là Soletude”, cantada por um Renato, já muito fraco.

 Renato Russo partiu desse mundo 21 dias após o lançamento do disco, no dia 11 de outubro de 1996.

Deixou belos trabalhos como esse nesse país que é o Brasil, uma República Federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus.

Abreu o senhor do tempo – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

Dois de junho de 2010, local Soccer City, Joanesburgo, Copa da África, quartas de finais.

Poderia ser mais um dia comum, mas não era, tempos de Copa não existem dias comuns, os Deuses da Bola se inspiram e realizam as mais estupendas façanhas para os amantes do futebol.

No menu, Uruguai e Gana, um duelo inesperado na historia dos mundiais de um lado a celeste olímpica, trajando azul clássico , comandados por Diego Forlan, o homem que domou a jabulani. Do outro o selecionado de Gana, jogando em seu continente com seu uniforme listrado, avermelhado como sangue dos nativos e comandados pelo craque de marca maior Boateng.

Jogo corrido, a saga dos dois times em busca do apogeu do titulo estava começando e cada minuto que se passa o objetivo parece esta mais longe. O equilíbrio é constante, não se chega a toa em tal fase de torneio, erros podem custar caro e se arriscar demasiadamente não é uma opção.

Gana sai na frente a os 47 do primeiro tempo, nos acréscimos da etapa inicial em chute forte de fora área Muntary vence Muslera e coloca os africanos em vantagem, Gana 1×0.

No segundo tempo, o Uruguai parte para cima e logo a os 10 minutos uma falta cobrada na área por Forlan não encontra ninguém, a bola milagrosamente descansa nos fundos das redes, Uruguai 1×1 Gana.

Depois desse lance, o protocolo. As duas seleções buscando a vitória na raça, mas o tempo não para e o continua a correr, cansaço vem para os dois times a prorrogação era o destino.

Destino esse que necessariamente poderia ser escrito por poetas, escribas que fossem não teriam a originalidade ambígua dos Senhores do Futebol. Parecia estar tudo desenhado como pensado, nos os mortais só poderíamos observar e contemplar o inesperado.

No final do tempo complementar, falta para Gana, bola na área novamente Boateg desvia de cabeça, Muslera divide no alto , a bola sobra para Appiah soltar uma bomba certeira a queima roupa, Suarez defende com as mãos de Deus em cima da linha. Mas Suarez é centro avante não goleiro, decreta sua expulsão e pênalti para Gana.

Gyan, camisa 3 o responsável pela cobrança, o tempo acaba não tinha mais o que ser feito era a cobrança e fim de papo. Chute forte no meio, a bola beija a baliza superior e o tempo acaba, a vaga vai para as derradeiras cobranças finais.

Quis o destino para quem acredita, os Deuses da Bola se regurgitam com nossa aflição, nada está decidido e o mundo espera o resultado, azuis e listrados quem vencer será o merecedor da gloria. E pênaltis não tem favorito.

O semblante de todos estava lá, olhos atentos. Jogadores, nervos a flor da pele, o gramado magico suspira suor, lagrimas.

Abreu, o Loco vai para a cobrança final, podendo levar o Uruguai sua pátria para mais uma semifinal de Copa. Nos ombros cansados a esperança de milhões de uruguaios, o mal agouro de milhões ganeses, o caminho ate a marca é longo e seu caminhar é lento.

O tempo, ah o tempo algoz dissimulado o ponteiro que nunca para coisa que não se mede. Lôco Abreu, por suas veias abertas corre um sangue frio, parte em direção da bola, cavadinha, o tempo para o mundo respira, um capricho único, bola encontra o seu destino. O sublime gol que encerra tal peleja.

Os uruguaios comemoram, ganeses choram, vitória justa? Não existe justiça. As leis da física foram vencidas, o tempo foi parado e Abreu é o seu senhor.

O Uruguai voltaria a carimbar o respeito mundial no futebol, anti-jogo proporcionado por Luizito se valeu, Gana desperdiçou sua chance e a celeste olímpica foi em frente.

Os Deuses da Bola comemoraram como nunca.

Esta foi uma das maiores partidas de futebol de todos os tempos.

A falta que vai fazer o grande Jô Soares – Crônica de Marcelo Guido

Jô Soares morreu na madrugada desta sexta-feira (5) aos 84 anos. (Crédito: Reprodução/Divulgação)

Crônica de Marcelo Guido

Sim, sabemos que gênios existem, são de carne e osso, padecem com o tempo e saem de cena.

Não seria diferente com José Eugênio Soares, o popular “Jô”. José foi na última sexta feira, dia 05. Torcedor do Fluminense, devoto de Santa Rita de Cássia e antes de tudo um verdadeiro estandarte da cultura brasileira e por que não mundial.

Humorista, já não se tem adjetivos de grandeza para mencioná-lo quando o assunto é humor, seus inesquecíveis personagens estão gravados na memória do povo brasileiro desde os tempos da Família Trapo, onde ao lado de Ronald Golias e de grande elenco arrancava risos aos montes como Gordon.

Em “Viva o Gordo”, teve com certeza todo seu reconhecimento, seus personagens em esquetes de humor são marcas registradas até hoje, declaro aqui minha paixão pelo “Capitão Gay”, que com seu fiel escudeiro “Carlos Suely”, combatia o crime nas noites, o “Jornal do Gordo”, que era feito para pessoas mais ou menos surdas, como a tia Cotinha.

Como cantor lembro de sua participação no especial infantil “Plunct, Plact Zuun”, cantando o “Planeta Doce”, realmente uma das muitas memórias que tenho da infância.

“Escritor sensacional, “O Xangô de Baker Street”, onde conseguiu trazer ao Rio de Janeiro o grande Sherlock Holmes e fez com que uma singular “ Pomba Gira”, baixasse em Watson, em “O Homem que Matou Getúlio Vargas”, intrometeu  Borginha nos maiores acontecimentos do mundo. Colocou em duvidas a imortalidade dos imortais em “Assassinato na Academia Brasileira de Letras” e  matou sem dó e piedade senhoras gordinhas em “As esganadas”, o gênero policial era seu forte, e me acompanhou da minha adolescência a vida adulta. Com orgulho digo que li todos.

Como apresentador, foi um craque. Trouxe e popularizou no Brasil o formato gringo “Talk Show”, era  um Jay Leno Tupiniquim, primeiro no SBT ou TVS, com o “Jô Soares 11 e meia”, que tinha como marca nunca começar no horário.

Sua extrema habilidade transformava as entrevistas em verdadeiros bate papos, que deixavam o telespectador por dentro de vários tipos de assunto, da politica a arte, da musica a ciência.

Lembro de assistir a Legião Urbana, Ratos de Porão, assim como o Brizola, Ayrton Senna dentre muitos outros. No “Programa do Jô”, na sua volta a Globo, o formato continuou o mesmo, mas as apresentações mudaram colocando o sexteto , antes quinteto, como personagens assim como o garçom Alex.

As apresentações do e-mail do programa, ou a paixão do chileno Alex por Pinochet foram marcantes.

Sua emoção ao ir trabalhar de luto pelo único filho, ou a generosidade que dava a artistas para se apresentar, como esquecer da primeira aparição de Fábio Porchat, como camisa da seleção de Portugal, ou o monólogo “Mundo Moderno” recitado por Chico Anysio.

Jô se foi sem alarde, estava fora da TV a um tempo, talvez o compromisso de provar algo não existisse mais ou o cansaço natural já não faziam ter o gosto pelo trabalho na telinha, nunca saberemos.

Se foi sem se despedir, sem o beijo do gordo, sem lágrimas nem choro nem vela, nos deixou um último ensinamento: “Viver não é tão importante, o importante é a comédia”.

Termino este texto parafraseando Marcelo Falcão, que sem duvida alguma resumiu quem era Jô em uma das muitas entrevistas do  O’Rappa, “Jô, você é Foda!”.

Jô Soares – Foto: Rede Globo

Este ser que transformou a TV Brasileira, foi cremado em uma cerimônia simples, na manhã do último sábado (6)

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia.

Discos que Formaram meu Caráter (Parte 53) – Sublime …“Sublime” (1996) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Muito bem amiguinhos do Rock and Roll e afins, o viajante das notas esta volta trazendo mais uma bombástica bolacha recheada de sons, memórias e muita coisa legal pra vocês.

Abrandem seus corações e preparem seus ouvidos para curtir:

“Sublime”, terceiro álbum dos caras do…. Sublime , palmas muitas palmas pra ele.

Bom já corria o ano de 1996, as rádios estavam tocando rock a valer, por aqui a geração 90 estava em alta e os caras dos anos 80 finalmente tinham deixado a preguiça de lado e estavam fazendo trabalhos novos sólidos e embarcando na onda “acústica MTV”, que também lançou trabalhos contundentes, mas essa é conversa para outra hora.

Bom vamos lá, oriundos da Califórnia, terra do sol, surf e do hardcore valioso os caras do Sublime estavam na ativa desde 1988. Com uma pegada mais levada para SKA e Reagge mas sem esquecer dos elementos punk a banda já conseguia um certo reconhecimento pelas quebradas gringas.

Os excepcionais “ 40 Oz. To Freedom” de 92 e “Robbin’ The Hood” de 94, já davam aos caras de Long Beach um norral maiúsculo, a misturada que Bradley Noweel, Bud Gaugh, Eric Wilson e Lou Dog, faziam com sons eletrônicos com os elementos dos ritmos supracitados davam uma certa alternatividade, algo como um novo som, não que outras bandas ainda não tivessem feito, mas os caras realmente arrebentavam. Uma curiosidade, Lou Dog era um dálmata, isso mesmo um “Auau”, que era mais que uma mascote dos caras.

O reconhecimento mundial era algo já esperado e foi alcançado na gravação do terceiro álbum. Na gravação a coisa foi pesada, muita onda braba envolvendo os caras o que culminou com a morte do vocalista Bradley Noweel em decorrência de uma overdose de heroína.

Esse episódio culminou com o encerramento das atividades do Sublime, que mesmo tendo acabado chegou ao topo.

Os hits como “Wrong Way”, “Santeria” ( transformado em algum bem salutar pela galera da Tribo Dejah, por aqui), “Same in The End”, “What I Got”, e outros sons presentes no álbum são uma verdadeira aula de originalidade, uma mistura bem batida de Bad Religion, Noefx com Bob Marley.

Esse disco por si só merece estar na discografia de quem viveu bem os anos 90, mostra apesar de póstumo que a vontade de vencer estava acima de tudo, medalha de ouro pra ele, se tu não conhece, corre atrás que teu certificado de foda vai acabar sendo confiscado.

Conheci este belo míssil sonoro através do meu amigo Antônio “Malária”, do qual sou fã e agradecido até hoje por ter me passado uma cópia no maior esquema “brodagem”, este belo exemplar sonoro abre a cabeça para outras tendências dentro da música e faz reconhecer que o mundo é mais que três acordes.

Antes de tudo é algo simples, para se ouvir com belo semblante no rosto e como diz a letra de genial de “What I Got”, “a vida é muito curta, então ame quem você tem”.

“Sublime” é um álbum que fala de amor, paz e esperança e o Sublime é uma banda que realmente faz muita falta nos dias de hoje.

Por hoje é só. Encontro vocês outro dia.

Copa do Brasil 1991, a epopeia do Tigre – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

O futebol  como já disse  não é esporte é jogo, e dependendo do dia, lua, destino ou sei lá o que muitas vezes o mais fraco ganha do mais forte. Dentre muitos capítulos já escritos pelos Deuses da bola, de certo, um dos mais espetaculares é a conquista do Criciúma na Copa do Brasil em 1991.

Então vamos lá, a Copa do Brasil é realmente um dos campeonatos mais singulares que existem, times de todas as regiões se enfrentam e de lá o campeão ganha a oportunidade única de tentar a conquista da América no ano seguinte.

Em 1991 apenas os campeões e  alguns vices dos estaduais participavam do torneio, o que dava aquela enxugada, nesta edição apenas 32 clubes largaram da primeira fase, não tinha o papo de eliminar o jogo de volta, era torneio raiz.

Dentro de tal contexto, o torneio de 91 apresentava ao mundo um certo Luiz Felipe Scolari e seu esquadrão amarelo, preto e branco que com um futebol vistoso conquistou o titulo inédito e colocou no mapa o futebol catarinense.

O “tigre”, como é chamado carinhosamente o Criciúma, fez uma uma campanha acima da regularidade e com nomes como Sarandi, Roberto Cavalo (craque), Soares e um endiabrado Jairo Lenzi levantou a Copa do Brasil em uma final épica contra o todo favorito Grêmio.

Rezando a cartilha de Felipão, que deixou de lado a Série B, o time sem estrelas ou medalhões mostrou um conhecimento tático superior, um respeito as inevitáveis falhas e aprendeu a fazer valer o mando de campo, se em casa o time tornou-se quase imbatível, fora jogava com inteligência e no esquema fechadinho, dando ênfase ao contra ataque.

Na primeira fase o time arrancou um empate magro contra o Ubiratan (MS) 1×1, e aplicou uma goleada honrosa no segundo jogo (4×1), nas oitavas encarou um Atlético Mineiro, apostando nos erros do adversário duas vitórias, as duas pelo placar mínimo 1×0. Nas quartas veio o Goiás, o esmeraldino contava com Túlio Maravilha em alta, mas conseguiu um 0x0 no Serra Dourada e um 3×0 em casa, o time já começava a chamar atenção.

Nas semifinais o tigre catarinense enfrentou o leão azul da Antônio Baena. Brilhou a estrela do artilheiro Soares, que garantiu o gol da vitória na primeira partida no Pará e ainda fez mais um em casa. Resultados Remo 0x1 Criciúma e Criciúma 2×0 Remo.

A Final.

O capítulo a parte, o Grêmio de Porto Alegre, campeão do mundo. Em má fase com certeza, o tricolor gaúcho tinha acabado de ser rebaixado no nacional semanas antes e via a oportunidade de salvar o ano indo para a libertadores no mesmo ano. A zebra, ou melhor, o tigre mostrou mais uma vez sua força e fora de casa, nos domínios do adversário, segurou o ímpeto do rival e arrancou um suado 1×1.

Em casa, o Criciúma precisava empatar sem gols, para levantar a taça. E assim o fez, 0x0 perante 20 mil torcedores  que comemoraram a conquista inédita em casa, invicto, foram 6 vitórias e 4 empates.

O Criciúma mostrou a todos que camisa, imprensa e falatório não ganhavam jogos e nem torneios, o que até para o mais fervoroso torcedor parecia sonho era a mais linda realidade.

O Time fez bonito na Libertadores, ficou em quinto, meteu uma sacola no São Paulo na primeira fase, e vendeu caro a desclassificação, mas este é um texto de celebração, ficamos com o fantástico título de 91, que mostrou a luta árdua de um dos muitos Davis do futebol, contra os Golias da Bola.

O futebol é incerto e digo, por isso é maravilhoso.

Salve o Criciúma campeão do Brasil em 91.

Amar é o lance! – Crônica de Elton Tavares

Escuto sempre que a vida é simples e somos nós que complicamos. O lance é viver sem frescura, fazer o bem, fazer o certo, cercar-se de gente que realmente importa. O lance é ter vergonha na cara, sem muita conversa ou muito explicar, se fazer feliz.

O lance é ser autêntico, verdadeiro, bom e amoroso. Também respeitado, aguerrido e combativo se preciso. O lance é ser bem humorado, espirituoso e até irônico, se necessário.

O lance é identificar amigos que não só pedem, mas também se dão. O lance é fazer o que gostamos, seja no bar o ou na igreja, tanto faz.

 

O lance é honrar a família, não toda, só os que lhe aquecem no frio e apoiam quando dá merda. O lance é respeitar os colegas, seja de trabalho, de copo e pessoas em geral.

O lance é puxar a fila, trazer novidade, não ser só mais um. O lance é, às vezes, usar palavras duras, mas também elogiar e até pedir desculpas. O lance é, se preciso, assumir e confessar erros, bater e apanhar, mas jamais deixar de amar aos seus e a si mesmo. Esse sim é o grande lance!

Elton Tavares

Meu céu – Crônica de Elton Tavares – Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Ilustração de Ronaldo Rony

Pois é. Escrevi uma crônica sobre como seria o meu “Inferno”. Hoje vou falar/escrever um pouco de como seria o meu céu. Não sei se baterei na porta do céu como Bob Dylan. Nem se vou achar o lugar igualzinho ao paraíso, como sugeriu o The Cure, mas estou atrás da “Stairway To Heaven” do Led Zeppelin. Só não vale ter “Tears In Heaven”, do Eric Clapton. Mas vamos lá:

Meu céu é em algum lugar além do arco-íris, bem lá no alto. Bom, lá, ao chegar ao meu recanto celestial, eu falaria logo com ELE, sim, Deus ou seja lá qual for o nome dele (God; Dieu; Gott; Adat; Godt; Alah; Dova; Dios; Toos; Shin; Hakk; Amon; Morgan Freeman ou simplesmente “papai do céu”) e minha hora já estaria marcada.

Ah, não seria qualquer deusinho caça-níqueis (ou dízimos) não. Seria o Deus de Spinoza, que como disse Einstein: “se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.

Após este importante papo com o manda chuva do paraíso (tá, quem manda chuva mesmo é o seu assessor, São Pedro, mas eu quis dizer mesmo é do chefão celestial), daria um rolé e encontraria todos os meus amores que já viraram saudade. Ah, como seria sensacional esse reencontro!

Bom, meu céu é todo refrigerado e chove. Chove muito, mas nunca inunda as vielas do paraíso e nem desabriga ninguém por lá. Ah, abaixo dele chove canivetes nos filhos da puta (que não são poucos) que encontrei durante a jornada pré-celestial. Óquei, pode soar meio lunático, mas é o meu céu, porra!

No meu céu não tem papo furado, como no capítulo 22, versículo 15, do livro de Apocalipse. Lá entrarão impuros sim ou seria uma baita hipocrisia EU estar neste céu. No meu céu não toca brega, pagode e sertanejo sem parar, afinal, isso é coisa do inferno. Ah, no meu céu não entra corrupto, pastor explorador, padre pedófilo ou escroques de toda ordem, esses tão lá no meu inferno e eu ainda teria o direito de cobri-los de porrada!

No meu céu as pessoas se respeitam, não tentam a todo o momento tirar vantagens do outro. No meu céu, serviços prestados são pagos na hora, chefes são justos e não rola fofoca. Lá não tem puxa-sacos, apadrinhados ou seres infetéticos desse naipe que a gente, infernalmente, convive na terra diariamente.

No meu céu tem churrasco, pizza, sanduba, entre outras comidas deliciosas e que nunca, nunca mesmo, nos engordam (pois é infernal o preconceito fitness). Lá também não sentimos ressaca. No meu céu tem show de rock o tempo todo, com todos os monstros sagrados que já embarcaram no rabo do foguete e a gente curte pela eternidade.

Lá no meu plano celestial não existe a patrulha do politicamente correto, nem gente falsa, invejosa, amarga, e, muito menos, incompetentes. Se tá no céu, se garante, pô!

Não imagino o céu como um grande gramado onde todo mundo usa branco, ou um local anuviado onde anjos tocam trombetas e harpas. Não, o céu, se é que ele existe (pois já que o inferno é aqui, o céu também é) trata-se de um local aprazível para cada visão ímpar de paraíso, de acordo com nossas percepções e escolhas. Bom, chega de ficar com a cabeça nas nuvens. Uma excelente semana para todos nós!

“Eu acho que há muitos céus, um céu para cada um. O meu céu não é igual ao seu. Porque céu é o lugar de reencontro com as coisas que a gente ama e o tempo nos roubou. No céu está guardado tudo aquilo que a memória amou…” – escritor Rubem Alves (que já foi para o céu).

Elton Tavares (que graças à Deus, tem uma sorte dos diabos).

Foto: Flávio Cavalcante

*Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”.