Hoje é o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ – É preciso ter respeito pela diversidade

Hoje (28) é o do Orgulho LGBTQIA+. A data foi criada e é celebrada em 28 de junho em homenagem a um dos episódios mais marcantes na luta da comunidade gay pelos seus direitos: a Rebelião de Stonewall Inn. Em 1969, o preconceito resultou em uma série de invasões da polícia de Nova York aos bares que eram frequentados por homossexuais, que eram presos e sofriam represálias por parte das autoridades.

Desde então, a comunidade vem lutando por mais direitos e, aos poucos, garantindo conquistas. A data é importante para a reflexão sobre a igualdade de direitos entre as pessoas em qualquer situação, o respeito à diversidade e o combate a toda forma de discriminação e, em especial, à LGBTfobia. Aliás, essa “FOBIA” é “coisa de veado”, loucura pura. É muito mais que burrice, é falta de caráter. Ser homofóbico é ser otário, pois tal linha de pensamento é de uma miséria espiritual e canalhice tremenda.

Em 2022, pela primeira vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgou dados oficiais sobre a comunidade não heterossexual no país. Segundo o levantamento, 2,9 milhões de pessoas a partir de 18 anos se declaram lésbicas, gays ou bissexuais. O IBGE alerta, no entanto, que esse número pode estar subnotificado.

Hoje, em todo o mundo ocorrem celebrações pelo Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. A data é essencial para a efetivação de direitos fundamentais, dentre eles, a liberdade e a igualdade.

Tenho poucos preconceitos na vida. Como aporrinhação para que eu siga uma determinada religião ou com música que acho escrota (boa para quem as curte). Tenho orgulho de ter muitos amigos de várias orientações sexuais. Pessoas íntegras e inteligentes, que pagam suas contas e contribuem para o bem da sociedade. A maioria deles é gente fina.

Homofobia é crime e que viola os próprios preceitos de religiosidade e fraternidade que algumas pessoas – criminosamente – utilizam e desvirtuam, a fim de embasar o discurso preconceituoso e de ódio que propagam.

Vivemos em tempos onde o esclarecimento sobre o assunto é voraz, mas “Apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos, nós ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Ou pelo menos, a maioria com mente homofóbica.

Se duas pessoas do mesmo sexo se gostam, se amam ou só resolvem transar, a vida delas É DELAS. Relações não podem ser classificadas, somos todos seres humanos, cada um em busca de sua felicidade, das várias formas que ela se apresenta a cada um.

E se isso for um problema para alguém, o problema é só dessa pessoa preconceituosa. É isso!

Elton Tavares

Eu? Uma grande emocionada! – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Tem uns dias que ando melancólica, mas acredito ser por não dar a pausa do anticoncepcional e não deixar meus hormônios agirem naturalmente. O acúmulo de repente tá fazendo isso. Ou a ausência. O normal seria eles me deixarem louca, mal humorada, mas aí eu os reprimo, eles se organizam e o ataque é feroz!

Só sei que tenho escutado músicas que me tocam a alma e me permitido chorar de soluçar. Assistido filmes que me emocionam. O choro é livre, literalmente. Livre e leve. E me leva a refletir que pela primeira vez na vida (adulta!) estou vazia de dor de amor, porém não menos emocionada. Assumidamente emocionada.

Ao contrário do que muita gente me imagina, sou sensível demais. Tudo me afeta. Sinto compaixão, empatia, vontade de cuidar e agir e por muitas vezes e quando posso o faço, sem alardes, e sigo. Meu desafio diário é justamente esse: domar esse turbilhão de afeto que me move e deixar todos ao meu redor imaginarem que sou a personificação da plenitude, a calma e elegância que tanto dissemino.

Mas a realidade dentro é outra: sou uma mulher apaixonada, visceral, intensa e cheia de afeto. Meus amigos sabem disso, pois conhecem o vulcão que em mim habita. Eu fervo. Minhas explosões são dentro. Respiro fundo e tenho altos papos comigo mesma avaliando os cenários, comportamentos e definindo o próximo passo. Nem sempre funciona. Tem vezes que não me escuto e mergulho na emoção. E me entrego, afogo, me deixo levar e vivo cada minuto inteira para quando chegar o fim, ter valido a pena nadar em lava.

E sim. Por pior que aparentemente algumas experiências tenham sido, sou grata a cada uma delas por ter-me lapidado e melhorado, afinal de contas sou o resultado de todos os meus erros e acertos. Erros que me fizeram feliz por um tempo, acertos que me despedaçaram em determinados momentos, mas segui e sigo, hoje, um dia de cada vez, em paz. Uma paz quase palpável.

Porém, mesmo em paz, esse sentimento ferve, borbulha, respinga quente vez ou outra e me lembra que tá ali e não vê a hora de transbordar. E ele vai transbordar na hora certa e sem tirar essa paz conquistada com tanta luta, amarrando muitas pontas soltas. Restam ainda poucas por amarrar, mas de uma em uma vou vencendo os dias e quando menos esperar, realizo meu sonho de lembrar do amor que terei toda vez que ouvir Coração Selvagem, e vou chorar de soluçar do mesmo jeito que hoje quando acordei. E vai continuar sendo lindo. Calma, elegante e emocionada.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

Minhas ausências involuntárias – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Certa vez, há alguns anos, passei duas semanas sem ir na casa da minha avó paterna. Fico pensando quanto de convívio aquele meio mês me custou. Estas “ausências involuntárias” são muitos ruins. Se você se ausenta ou some por algum motivo que foge ao seu controle é bem triste, principalmente quando quem sente sua falta são as pessoas que você ama.

Eu deveria, por exemplo, me organizar para ir ver mais vezes os meus corações que moram em Belém (PA), periodicamente. Falo da minha sobrinha, irmão e cunhada, além da querida amiga Rita. Mas por pura falta de empenho, trabalho ou planejamento isso não acontece.

Essa rotina frenética nos afasta de muita gente importante, às vezes chego cansado do trabalho, tomo um banho e vou direto para cama. Mas nunca esqueço de quem amo. Às vezes, já tarde da noite, penso: “eu poderia ter ao menos telefonado hoje, mas agora já não dá mais tempo ”.

Um dia, encontrei um amigo do passado e comecei a me perguntar: por que nos afastamos? Não encontrei motivo algum, foi a vida, nossas prioridades e escolhas, mas o cara ainda é “considerado” um amigo querido. Doideira, né?

Graças a Deus (ou seja lá o nome Dele), tem muita gente que gosta de mim, já passei por diversas turmas, tenho velhos e bons amigos. Quando encontro alguns deles, seja em Belém ou Macapá, sempre rola aquele papo: “pô, vamos marcar algo, será muito legal”. E nunca acontece o tal encontro, falamos tudo da boca para fora, involuntariamente.

Meu falecido pai um dia me disse: “temos que dizer para as pessoas que amamos que as amamos hoje, amanhã pode não ser possível”, concordo.

É isso mesmo. Preciso urgentemente visitar pessoas queridas, prestigiar aniversários e ir a festas de gente que gosta de mim. Tudo isso parece simples, mas, por algum motivo, às vezes deixo de lado. Não sei vocês, mas preciso dar um jeito nas minhas ausências involuntárias.

O amor calcula as horas por meses, e os dias por anos; e cada pequena ausência é uma eternidade” – John Dryden.

Pensem nisso!

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Richarlyson, um tapa na cara do conservadorismo dentro do futebol – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

Ao ser assumir bissexual o ex -jogador quebra barreiras, chama para o debate e da um verdadeiro tapa na cara de toda uma estrutura machista , homofóbica e conservadora no futebol brasileiro.

Richarlyson é um ex futebolista brasileiro, que brilhou nos campos sua carreira teve muito destaque no São Paulo, pelo tricolor paulista foram três títulos brasileiros, um Mundial de clubes, pelo Galo Mineiro veio a Libertadores da América, além de estaduais (dois), o Paulistão pelo Ituano, fora os prêmios individuais, vestiu a Canarinho. Currículo invejável dentro das quatro linhas.

Sua força, rigidez, categoria o faziam ser sempre demostrado como acima da média para um volante, a evolução para “meiuca” foi natural, Richarlyson o filho do Lela Careta ( Campeão brasileiro de 1985) era de certo um jogador fora de série, daqueles que não precisaríamos de muito para concordar que o cara era foda.

O cidadão Richalyson, agora um ex- futebolista deu uma verdadeira aula de coragem, ao se assumir bissexual, talvez o maior premio que o mesmo já tenha ganho, o apoio de muitos clubes e de muitas pessoas já era esperado, a evolução que a nossa sociedade vem passando já permite que o assunto venha a tona, sim a sexualidade do atleta não o impediu de exercer seu talento de forma alguma. Seria natural, mas estamos falando do futebol.

Futebol, esporte mais popular do mundo, onde vemos torcidas apaixonadas vivendo o dia a dia do clube, transformando vidas, sendo democrático, futebol é jogo, nada é certo, nada é exato, o futebol é bem diferente da realidade.

A realidade é que vivemos em um país extremamente homofóbico, onde os crimes de ódio contra a comunidade LGBTQI+ ainda tem índices alarmantes e absurdos, onde a segregação social destes seres humanos é clara e parece não incomodar, é preciso ser muito homem para ser gay no Brasil.

O futebol, ou melhor, o preconceito já vitimou Justhi Fashanu, inglês , atacante o primeiro a se assumir, tirou a própria vida ao ver a carreira degringolar e a depressão tomarem conta depois de um grito de liberdade. Eram outros tempos, mas já sabíamos que machucávamos quem era diferente. Richarlyson, mesmo um vencedor, conviveu com gritos homofóbicos das torcidas adversárias e muitas vezes da própria torcida, mas isso não o fez baixar a cabeça. Um exemplo.

O ex jogador, apenas sendo natural, com uma declaração entrou de carrinho na hipocrisia, deu um drible seco na homofobia e marcou um verdadeiro golaço contra a caretice, se fez presente, chamou para as críticas e recebeu todo apoio merecido, o futebol que mais de uma vez se demonstrou a válvula de mudança em muitas ocasiões vai ter mais essa missão.

O cara foi homem pra caralho em mostrar a cara e dar esse verdadeiro tapa na cara do conservadorismo dentro do futebol.

Que muitos outros sigam o exemplo, não só futebol ou nos esportes, que as famílias sejam mais receptivas e aprendam a lidar com essas questões, que mercado de trabalho também abra suas portas e que o melhor que ninguém seja julgado por seus gostos e afins.

Que todos possam conviver bem e que cada um cuide da sua própria vida, que com isso possamos melhorar como pessoas e construir assim um mundo melhor.

Que venha um tempo que podemos falar “Richalyson é bissexual e dai ? O cara era foda em campo e é ídolo do futebol”.

Parabéns Richarlyson, que tua coragem sirva de exemplo, e que muitos como tu possam surgir e que daqui a um tempo essa pauta não cause estranheza, susto ou o que quer que seja.

Tu foi campeão dentro e fora de campo.

Tu é foda.

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia.

O Torcer para o Fluminense – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

O torcedor do Fluminense é um ser astuto, leva no coração as três cores que traduzem a tradição.

Tem com ele a paz, a esperança e o vigor unido e forte, faz do branco verde e grená do pavilhão o verdadeiro sentido da vida.

O torcedor do Fluminense esta do lado dos grandes como Mario Lago,  Paulo Gustavo e Cartola levando para eternidade a honra de torcer para o clube tantas vezes campeão.

O torcedor do Fluminense é tricolor noite dia, é vencedor por merecimento, tem um time de guerreiros que honra nos 90 minutos pelos gramados as lágrimas e suor de sua torcida.

O tricolor dá elástico nos problemas como Rivelino, bate no peito como um coração valente de  Washington e leva  a vida como um sorriso de Fred.

Se revigorar com conquistas e vitórias, lembrar-se dos períodos difíceis para que nunca sejam repetidos e ver a perfeição como um passe de Conca.

É vibrar em um Maracanã lotado do mesmo jeito com a pintura de Dodô e a barriga de Renato, lembrar da máquina que tinha um certo Aldo, Dom Romeo e Branco.

O Tricolor tem a avidez de quem usa um terno feito sob medida e sabe quem tem que correr é a bola assim como já dizia o canhoto Gerson.

O tricolor vibra na humildade, com a segurança de Félix , com a rigidez de Ricardo Gomes e a elegância de Edinho , sempre visando conquistas capitaneadas pelo Super Ézio , sabe ainda vão ser muitas, pois olha para o passado e sabe que seu destino é a glória.

O Torcedor do Fluminense é um fascinado pela disciplina, sabe que quem espera sempre alcança  e com o sangue do encarnado sob as bênçãos de João de Deus faz a torcida vibrar de emoção com o tricampeão.

*Texto dedicado aos meus Tios Ênio, Evaldo e Rodolfo.
**Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia

A ordem do discurso, a Ignorância é vizinha da maldade – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

Em sua memorável obra “A ordem do discurso” o brilhante filósofo francês Michael Foucault levanta hipótese:

“Seleção, organização  e redistribuição da produção de discursos, a saber: os sistemas de exclusão interno e externo ao discurso, bem como as regras impostas ao sujeito”.

O discurso imposto que pode ou não conduzir nossas vidas depende e muito de quem está com a palavra, ou seja em uma sociedade as palavras importam muito por quem são ditas.

Vivemos tempos negros, onde a escuridão da ignorância simplesmente parece pairar sobre nossas cabeças, indicando as ações de muitos e validando a barbárie constante seja ela nas mais estapafúrdias teorias até a barbárie extrema do assassinato.

O poder executivo do país, está na mão de alguém que em plena pandemia de Covid 19, organizava caravanas de apoiadores, ia de encontro a ciência e teve a coragem de afirmar não ser coveiro, resultado” Mais de meio milhão de brasileiros mortos, por atraso em compra de vacina, por propaganda desenfreada de remédios ineficazes, um puro estado de ignorância.

Palavras de um Presidente da República, validam ações, “No meu governo, nem um centímetro de terras para índio”, agora quem pensa diferente ou age ao contrário de tal afirmação, correm risco.

Bruno Araújo e Dom Phillips são as mais novas vítimas dessas ações, corpos desmembrados e queimados, em uma região que deveria ser protegida e preservada para o bem da humanidade, o crime deles ? Denunciar os mandos e desmandos de quem explora de maneira criminosa terras indígenas. Os autores? Pessoas que enxergam no mandatário do Poder Executivo um exemplo, um certo Messias ou Mito.

A vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram brutalmente assassinados a quatro anos com tiros de fuzil, no centro do Rio de Janeiro por pessoas ligadas ao crime organizado da cidade que foram apoiadores, assim como a classe média de tal “novo governo” que prometia metralhar petistas, esquerdistas e tudo isso com sorrisos e “arminha” nas mãos. Seu crime? Batalhar pelas minorias, ser do Psol, ser preta, lésbica e mulher.

A ação foi validada, não via decreto, muito menos por lei claro, mais pelo discurso escroto, lascivo e canalha de quem está no poder.

A política de preços de combustíveis adotada pela Petrobras, onde os acionistas ganham bem mais e engordam seus porquinhos em prol de uma alta de combustíveis onde no final tudo aumenta, vemos pele de frango sendo vendida, fila por ossos de boi. O resultado é a fome de grande parte da população, “ Não entendo de economia, isso é com o Guedes”, bradou em alto em bom som o atual Presidente.

O que isso quer dizer?

Quer dizer que a mais de três anos somos governados por alguém que valida seu discurso com teses ignorantes, que coloca em risco a vida de milhões e rir descaradamente de tudo o que está acontecendo. Seus apoiadores se regurgitam como toda boa manada do que acontece, mas fazer o que se “o fascismo fascinante deixa gente ignorante fascinada”.

Sem medir suas palavras, sem ter o traquejo necessário de sua posição Jair Bolsonaro continua sendo uma espécie de “mentor intelectual” dessas barbaridades,  e de muitas outras, como o parlamentar do município de Macapá que faz campanha ainda hoje contra a vacina, ou pelo fato de meu filho assistir aula ainda hoje de máscara, já que tem pais que não vão vacinar seus filhos e falam isso de peito aberto, achando que estão fazendo política por que sua opinião tem que ser respeitada, lembrando o “mito” também disse isso.

E continuamos assim, entre passeios de moto sem capacete ou com foragido da justiça de carona. Com tiradas, ou comediantes de quinta categoria para divertir as massas.

Bolsonaro chegou ao poder assim, com esse discurso, lembro da liberação das armas como meta, ou falando em Deus,  família e outras coisas que não tem nexo vide ai “Kit Gay”, “mamadeira de piroca”. E a gente burra aplaudiu e continua aplaudindo, infelizmente.

Felizmente falta pouco.

Seguimos na luta.

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia

A Simples Beleza – Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

Sim, caros amigos leitores, afetos e desafetos ( se bem que nem tenho tempo mais para tê-los) estou bêbada. Acabo de chegar em casa após um dia inteiro na companhia de meu mais sincero amigo alucinógeno. Olhei para meu PC e senti vontade de vomitar em vocês o que se passou entre meus devaneios do dia. Vocês já sabem, essa cabeça aqui anda por lugares inesperados, quase sempre e, abastecida de álcool, vai a lugares que só os fortes ou os loucos tem coragem de entrar. Então vamos lá para mais uma efeméride da vez.

Hoje, enquanto eu estava em uma feliz e apropriada bebedeira, recebi um vídeo feito por minha filha adolescente. Ela fez uma junção de várias fotos minhas com a famosa música do nosso saudoso poetinha. O trecho que ela usou foi : “ Ah, se ela soubesse que quando ela passa, o mundo inteirinho se enche de graça e fica mais lindo por causa do amor”. Ela escreveu caridosamente no vídeo: “ A mulher mais linda do mundo: Minha mãe”. Quando eu vi o vídeo, meu coração (de mãe, pois o outro desconfio que levaram quando me tiraram a vesícula) esquentou e derreteu no exato momento. Eu nunca me achei uma mulher bonita e, quem me conhece sabe, nunca achei que a beleza fosse um atributo que sustente por muito tempo.

Admirar pessoas sempre foi meu maior tesão. Não serei hipócrita ao ponto de não admitir que tal atributo não te abra o apetite, mas sustenta por pouco tempo. Meu foco sempre foram os fodedores de mente. Nós, mulheres, não somos tão visuais como os homens são desde a tenra idade, inclusive, uns dias atrás, após fazer um ensaio fotográfico, recebi elogios de uns amigos de minha filha, nada mais do que esperado vindo de pequenos punheteiros adolescentes cheios de hormônios. Homens exercendo suas características desde miúdos. Mas, no momento que eu li e maturei o agrado de minha filha, me veio na mente o conto de nosso velho safado, A mulher mais bonita da cidade. Conto que você encontra no livro Crônicas de um amor louco, de Bukowski. Cass, a mulher mais bonita da cidade, se punia pela beleza que tinha. Preferia os feios e desvalidos, e ela , dentro da visão do autor, era aquele tipo de pessoa que valia à pena estar perto. Percebem toda a metafísica da coisa? O que seria o conceito de beleza? Segundo nosso amigo dicionário, Beleza é um substantivo feminino que expressa a qualidade do que é belo ou agradável. E sendo tão subjetivo tal conceito, visto que o que é belo para mim pode simplesmente te amargar os olhos, dá para concluir que o belo, por concreto, não existe. Ao menos não dentro de um senso comum.

Então, após uma boa bebedeira e com meus sentidos alterados, fico com a visão da minha filha e, talvez com a minha. Crendo que o belo está nas coisas que te fazem vibrar, que te fazem crer que ainda há algo que nessa vida te vire o pescoço, aquilo que te dá um sorriso malandro no canto da boca, ou simplesmente refazer passos na memória pelo simples prazer da lembrança. Ou melhor, dentro da visão Socrática, sendo esse atributo não associado à aparência, mas o quão proveitoso é, pois, como dizia Sócrates : “”A beleza é uma tirania de curta duração”. Agora vou beber água, passar meu renew e dormir.

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora contista e cronista. E, ainda, mãe de duas meninas lindas, prima/irmã amada deste editor.

Torcer para o Botafogo – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

Torcer para o Botafogo é ter a certeza de ter sido escolhido, abençoado com uma dádiva divina pelos próprios Deuses da bola.

Torcer para o Botafogo é duvidar dos caminhos certos e sentir na pele o deslumbre complexo e sonhar com vitórias, é ter a certeza apenas no final, sendo muitas vezes a máxima correta é que “tem coisas que só acontecem com o Botafogo”.

É estar do lado de Armando Nogueira, João Saldanha e do velho lobo Zagalo. É saber que Nilton Santos, a enciclopédia , já defendeu o manto listrado , que Mauricio desafogou 22 anos de espera, que Dodô brindou com belos tentos e que Túlio sempre tinha algo a dizer.

Torcer para o Botafogo é driblar os problemas da vida, deixando para trás desnorteadas as angústias como verdadeiros “Joãos” , que nem fazia um certo Mané que encantou o mundo.

Torcer para o Botafogo é ter a alcunha sagrada de ser Botafoguense, é não desistir nunca, é sempre olhar para frente, é vislumbrar vistorias impossíveis e fazer acontecer, é gargantear feitos históricos e guardar na lembrança as conquistas sagradas que já aconteceram.

É vestir preto e branco como clássico, é listrar a vida pelos caminhos mais tortuosos , quem espera moleza jamais receberá algo tão sagrado. É Esperar pelo futuro próspero e saber que ainda o melhor está sempre por vir.

É honrar a “7” mais que a “10” e nunca abandonar o time, é saber que não se explica, se sente. Como a verdadeira e mais pura paixão. É beijar a estrela como única e vibrar com Loco Abreu fazendo o tempo parar.

É sorrir como Emil, é ser lutador como Gonçalves, é derramar lágrimas contra injustiças, mas antes de tudo é sempre acreditar no impossível e ser o Glorioso.

Torcer para o Botafogo é saber que no caminho da estrada dos louros há um faixo de luz que tem a estrela solitária como guia, e saber que desde 1907 é o campeão .

Texto dedicado a Bruno Juarez, Marco Antônio, Marlon Coutinho, Alexandre João, Caio e Vinicius.

*Marcelo Guido é Jornalista , Pai da Lanna e do Bento e Maridão da Bia.

Giovanni : “ O Messias da Vila” – Crônica de Marcelo Guido

Quando os deuses da bola revolvem conceder talento eles geralmente não brincam sem serviço. Talvez estivessem cansados de ver o comum tomando conta do meio campo, ou queriam apenas ver alguém brincar com bola nos campos, como se estivesse no sonho e assim, magistralmente concederam o dom para Giovanni Silva de Oliveira, um dentre muitos Silvas no futebol.

Revelado pela gloriosa Tuna Luso, passou por Remo, Paysandu, São Carlense, Barcelona – ESP, Olympiacos – GRE , dentre outros, mas eternizou-se em três passagens pelo Santos.

Na Vila Belmiro fez sua morada. Inteligente conquistou a torcida com passes precisos e gols, muitos gols.

A facilidade com que deixava os companheiros na cara do gol era algo extraordinário, que deixava boquiaberto os felizardos que o viram vestir o branco da baixada santista.

Elegante, conseguia abrir o peito e matar a bola com uma envergadura ímpar de 1,90 metros. Levou o despretensioso time do Santos de 1995 à final do campeonato nacional ao lado de Robert, Jamely e Marcelo Passos. O título acabou faltando, coisas do futebol.

Inesquecível na semi- final daquele ano contra o Fluminense de Renato e Joel Santana, só não fez chover, aliás fez. Uma chuva de gols, uma atuação de gala que lhe fez render a bola de ouro, e o prêmio de melhor jogador do campeonato.

Partiu para conquistar o velho mundo, foi ídolo da torcida Catalã. No Barcelona fez dupla com Rivaldo, meio campo que fazia tremer os adversários. Em seis anos de clube, seis canecos levantados. Chega na Grécia, e a terra de Zeus conhece um semideus da bola, o penta campeonato nacional atuando cinco anos em solo helenístico.

O meio campo era uma salão de baile, onde os craques disputavam a dama “bola” para lhe ser concedida uma dança, e o Messias estava sempre de terno. A pelota sua amiga corria em seu lugar. Ela tinha que correr.

Os críticos de seu futebol o diziam ser “lento”, mas a inteligência e a sapiência em saber os caminhos do campo o faziam diferenciado. Defendia a tese sagrada que o futebol não podia ser comum, não pode ser feijão com arroz, futebol e ousado tem ser tentado mesmo que se perca o lance.

Chegava na hora certa, decisivo, enganava adversários que não acreditavam que ganharia o lance, era craque que além de dar o espetáculo sabia fazer gol, e foram muitos.

Pelo Santos, 3 passagens, 3 faixas no peito. Os Paulistas de 2006 e 2010 e a Copa do Brasil de 2010 e a idolatria eterna de uma torcida que não via sua 10 vestida tão bem desde Pelé.

Solto, tendo o gol como objetivo, ereto, com a cabeça erguida sabedor dos caminhos, aproveitava tal abençoada técnica e tamanho para destituir sem culpa adversários. E vestindo seus pavilhões, como um messias sabia levar seus times a o caminho das vitórias.

Felizes foram aqueles que foram Testemunhas de Giovanni, que jogou em um tempo que bom jogador e futebol brasileiro eram pleonasmos.

*Marcelo Guido é Jornalista. Pai do Bento Guido e da Lanna Guido. Maridão da Bia.

Desconfortáveis encontros casuais – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Encontro um velho conhecido.

Ele: “cara, você tá muito gordo!”. Eu, (em pensamento, digo eu sei caralho, vai tomar no cu!): Ah, cara, sabe comé, sem exercícios físicos, sem tempo pra muita coisa, muita cerveja e porcarias gordurosas (que amo).

Sem nenhum assunto, fico em silêncio.

Ele: virei médico e você?

Eu: sou jornalista.

Ele: ah, legal (com um ar de desdém que vi ao encontrar outros velhos conhecidos advogados, administradores, contadores, ou alguma outra profissão mais rentável).

Aí um de nós subitamente diz que está atrasado e marca uma gelada qualquer dia com nossas respectivas esposas ou namoradas e vamos embora. Com certeza, passaremos mais 10 anos sem nos falarmos, graças a Deus.

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Tomei uma com Zaratustra – Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

Eu gosto é de paz, mas minha cabeça insiste em viver na porrada. Socos que são trocados todos os dias. Um ringue montado ao fim do dia e que se estende por horas ininterruptas. É uma merda, mas a vitamina de meus neurônios mais brigões é o álcool. É como se essa substância quase indigna fosse o Duke do Apollo. (Não é problema meu se tu não sacar de Rocky Balboa, te informa). Nos últimos tempos não estava conseguindo escrever.

Os pensamentos vinham e eu os sufocava ao invés de levá-los para dançar no papel. Não queria nada difícil. Não queria organizar a quebradeira que tomava conta da minha cabeça. Não estava bebendo e se, fosse fazê-lo, queria coisas simples. Fui beber com uma amiga que, aparentemente, tinha os pensamentos e uma vida mais organizada que a minha. Com ela seria simples, seria leve.

Mas é aí que a gente encontra o engano. Subestimamos as pessoas. Temos a péssima mania de concluir coisas pela superfície. Eu pude sentir o tapa da Clarisse Lispector no pé da minha orelha, dizendo; ‘’ Decifra-me, mas não me conclua, eu posso te surpreender”. E na realidade não é assim com tudo na vida? Uma sequência de boas e más surpresas mescladas tanto por nossa inocência quanto por nossa soberba.

Eu e minha amiga começamos a beber. Foi a primeira caixa de cerveja. Logo já estávamos trazendo a segunda e, quando chegou a terceira, foi quando eu soube mais sobre quem me fazia companhia. É engraçado como a mesa de bar se torna um divã, onde as dores aparecem e a gente percebe que cada vida tem uma boa dose de alegria e uma maior de tragédia.

Aquela mulher risonha com quem eu só falava de futilidades e os preços das coisas, me trouxe a sua história e que, para minha surpresa, havia mais desgraças do que eu poderia ter imaginado um dia. O Duke vestido de cevada então entrou em ação e eu tentava entender como ela havia se tornado a pessoa que é, mesmo tendo comido um caminhão de merda oferecida pela vida. Foi nesse momento que o inevitável paralelo e as associações começaram a surgir, eu estava bebendo com Zaratustra!

Ela havia passado pelas três transformações: foi um camelo submisso, rebaixado e humilhado. Durante as porradas da vida se transformou no leão, uma combatente. E agora, o leão se transformava na criança que é inocência, o esquecimento que recomeça. Enfrentou seus demônios e afirmou a vida. E mesmo com toda a dor, ela amou a guerra, pela consciência de que nos tornamos mais fortes com a dor. Ela entendeu que o esforço é contínuo. Me ensinou que o caminho é seguido não largando tudo, mas transformando a dor e o sofrimento em força. Não tenha pressa na hora de viver, o mundo está cheio de gente querendo te foder.

Eu não sou uma pessoa de certezas, aliás, ultimamente o que mais tenho são dúvidas, mas mesmo com toda minha ignorância e imperfeição, sei que é possível descer a montanha, mesmo que esteja bêbada de álcool, verdades ou dor.

Bebemos por mais de dez horas e eu consegui entender mais coisas sobre minha própria vida do que em dez horas de terapia. Não estou desmerecendo nenhum psicólogo, apenas enaltecendo a didática desses momentos e as pessoas que podem sentar contigo em uma mesa de bar, onde o álcool e a embriaguez podem te despir da armadura que a vida e as dores te colocam. Eu sou uma pessoa torta e não seria uma surpresa que eu aprenda da maneira menos usual para os retos. E por fim, como disse Zaratustra: ‘’ Recebe ordem aquele que não sabe obedecer a si próprio”.

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora contista e cronista. E, ainda, de prima/irmã amada deste editor.

Escrotos legais, falsos bacanas e a velha conveniência – Crônica de Elton Tavares (ilustrada por Ronaldo Rony)

Um dia, durante uma conversa com uma amiga, ela disse: “existem pessoas com grandes qualidades, que abafam seus defeitos, mas ninguém está imune de ser escroto”. Concordo plenamente! Não que eu possua conhecimento amplo sobre a natureza humana. É só meu achômetro mesmo.

Não sou santo. Procuro não fazer mal a ninguém. Meu falecido pai sempre dizia: “Não faça mal a ninguém e já estará fazendo o bem”, e tento me nortear por essa filosofia. Mas muitos me acham escroto – ledo engano. Só sou autêntico e sei dizer não. Também não faço média, não me iludo ou me empolgo facilmente.

Sei que é preciso respeitar a liberdade, seja das ideias, artística, comunicação, etc. Até aí, tudo bem. Pois discordar é preciso, afinal, o debate de ideias é que formula teorias e métodos para o desenvolvimento humano. O problema é a minoria impertinente e maldosa. Esses me deixam aporrinhado.

Acredito que existem pessoas más tentando ficar boas e que figuras que foram legais a vida toda se tornam babacas, da noite para o dia, muitas vezes por conta de motivos pífios.

Como eu já citei em outro texto, em um de seus contos, o escritor alemão Franz Kafka disse uma vez: “existem bestas-feras”, que detonam tudo, ferram com a sua vida. Mas mesmo sendo feras, não deixam de ser bestas”. Cirúrgico!

Por exemplo, muitos, que não me conhecem, pensam que sou um boçal. A quantidade de amigos que tenho (e me gabo sempre disso), que são muitos, desmente tal discurso. Tudo bem, às vezes sou insolente, pois nunca fui dado a hipocrisias e acredito que, em dadas ocasiões, uma porrada é mais do que justificável.

É com coração entrecortado de tristeza que vejo pessoas queridas embarcarem na onda desses vermes numa passagem subterrânea escurecida. Um dia esse show de horrores acaba por si só. Pois esse pessoal não consegue fingir pra sempre. Esse texto é um recadinho para os que acham que não sei das coisas. Detesto meias verdades e mentiras sinceras. E isso é coisa séria. Muito séria.

Conheço muitos escrotos legais, que são turrões, geniosos e até mal educados, mas possuem boa índole e falam tudo pela frente. Mas também saco falsos bacanas, que distribuem simpatia, fazem sala, capa e demais artifícios comportamentais para algum tipo de proximidade. Estes são verdadeiros mestres em sua escrotidão.

Enfim, bondade e maldade são trabalhadas de acordo com seus respectivos interesses e conveniências. Mas fica a dica: eu sei!

Quem só tem martelo pensa que tudo é prego.” – MARK TWAIN.

Elton Tavares

A “POLARIZAÇÃO MUSICAL: acabou a mamata sertaneja – Por Nelson Motta – @siganelsonmotta

Por Nelson Motta

A polêmica entre Anitta e um tal Zé Neto, que transbordou para Gusttavo Lima e outros sertanejos bolsonaristas, deflagrou a polarização musical na campanha eleitoral.

De um lado, a MPB em peso com todos os seus orixás, os roqueiros em massa (menos Roger), sambistas, funkeiros, pessoal do axé (menos Netinho), o pop multissexual, e do outro, sertanejos raiz, universitários e sofrentes velhos e novos, perdendo de lavada para “o outro lado”, como Bolsonaro chama todos que não são seus aliados.

“Acabou a mamata”, o sórdido slogan criado e multiplicado para estigmatizar artistas anti-bolsonaristas, acusando-os de usar a Lei Rouanet para enriquecer, agora volta-se contra os sertanejos bolsonaristas, contratados a peso de ouro por prefeituras de pequenas cidades pobres e carentes com verbas destinadas à saúde e educação. E, depois de toda a vergonha que passou no 7 de setembro, Sérgio Reis volta à cena para dizer que “isso não é dinheiro público, é dinheiro do público.” Mas é claro, cumpadi, é dinheiro dos nossos impostos patrocinando a festa dos artistas, sem concorrência ou qualquer fiscalização, sem nenhum beneficio à população além de entretenimento de baixa qualidade. Essa mamata acabou, véio!

Os TCEs, os TCMs, o TCU, os MPs estaduais e municipais e outros órgãos de controle caíram em cima dos contratos milionários, que seriam pagos com verbas de extração de minérios ou de petróleo, que só podem ser usadas para saúde e educação. Ou com verbas do orçamento secreto enviadas para prefeituras promoverem, na prática, “showmícios” durante a campanha eleitoral, proibidos por lei.

A diferença é que, na Lei Rouanet, as empresas podem destinar parte do dinheiro que pagariam em impostos para financiar produções artísticas. O Estado deixa de arrecadar, mas lucra com os empregos e impostos gerados pela indústria do audiovisual. Mas na abertura da porteira aos sertanejos, bancada com os impostos pagos por pobres, remediados e ricos, só eles ganham, quem perde de verdade são todos que trabalham duro para pagar impostos, e certamente não é para financiar mamatas caipiras. A têta secou”.

*Contribuição da amiga Alcilene Cavalcante.

O Fernando de todos nós – Crônica porreta de Carlos Bezerra (*) sobre Fernando Canto

Fernando Canto, com o título de Cidadão Amapaense – Foto: Sônia Canto

Por Carlos Bezerra (**)

Sou um homem de sorte, para a tristeza dos meus inimigos, que eu os tenho e muitos., pois não aceito compactuar com a lassidão moral que devasto o mundo no geral e o Brasil no particular, recusei-me a morrer há uns anos atrás, de modo que continuo vivo, lépido e lampeiro.

Graças a isso tive o privilégio de participar do lançamento do livro “O Bálsamo e Outros Contos Insanos”, do escritor amapaense (o Pará das nossas origens que me perdoe) Fernando Canto.

Fernando Canto – Caricatura do artista plástico e ilustrador J. Márcio. Colorida pelo designer Adauto Brito.

Foi uma noite de gala para a nossa incipiente, mas nem por isso, menos viçosa Cultura. Presentes, amigos de todos os naipes. Escritores, compositores, poetas e cantadores, alguns já de renome, outros nem tanto, mas todos, ímpares nos seus campos de atuação. Uma noite de alegria, de confraternização, de fé e de esperança nos destinos da nossa tão maltratada terra. Noite de música. O Grupo Pilão, impecável como sempre, nos remete para a beleza e a angústia das nossas florestas ancestrais. A presença de Manoel Sobral, Zaide, Obdias, Jamil, Luiz Guedes, Hélio Pennafort, Bomfim Salgado, Isnard Lima, Graça Vianna, Manoel Bispo, Vitória, Hernani Guedes, Zé Miguel, entre tantos outros, nos dá ideia dos que compareceram para levar o abraço, o carinho e o incentivo ao nosso escritor do qual o Brasil ainda ouvirá falar. É possível que esteja possuído do puxa-saquismo mais deslavado mas, um dos meus credos é o de que os meus amigos não têm defeitos. Quanto aos inimigos, se não os tiverem, eu arranjo um.

Fernando Canto é uma das mais belas páginas do livro extraordinário chamado Amapá. O Amapá das ruas poeirentas, do motor de luz na praça da igreja, do Trapiche Eliezer Levy, da Doca, do Merengue, da Piscina Territorial, da nossa juventude perdida que não voltará jamais, nem ela nem as ruas seguras e casas idem, pela ausência de maldade dos macapaenses de então. Fernando torna mais verdadeira a afirmação do nosso poeta maior, Álvaro da Cunha, quase esquecido mas nem por isso menor: “A lua minguante do Amapá, brilha mais do que a lua cheia de qualquer outro lugar”.

Jornalista Carlos Bezerra – Foto: Tribuna Amapaense.

O Brasil e o mundo tiveram muitos Fernando: o Noronha, o Católico, O Lopes, o Dias, o de Magalhães, o de Melo e atualmente o Cardoso. Nós, amapaenses, tivemos mais sorte. O nosso Fernando é Bálsamo, é literalmente Canto.

(*) Crônica publicada no jornal Diário do Amapá. Macapá, sexta-feira e sábado, 18 e 19 de agosto de 1995.
(**) Jornalista e cronista amapaense, in memoriam.