Poema de agora: Um dia chamado hoje…um momento chamado agora – Luiz Jorge Ferreira

Um dia chamado hoje…um momento chamado agora

Meu coração é uma Melodia com asas.
Muda o ritmo das suas incursões aladas…mas termina quase sempre no chão.
Meu coração é um desenho fosco.
Sem detalhes coloridos,
Cheio de entalhes mal definidos.
Que apenas ocupa a meia metade do esquerdo peito…que carrego comigo a um tempão.
Há dentro de mim e perto dele um espelho para que ele se veja, e não se sinta só.
Ele se reflete a si mesmo.
Quando o encontro vermelho, é sinal que chorou.
Aí, eu declamo Pessoa, ele imagina que sou eu, e zomba.
É quando saio para chorar tristonho , junto aos Anjos da terceira esquina.

Luiz Jorge Ferreira

Minhas dezenas de fitas K7 e a nostalgia – Crônica de Elton Tavares (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Arte de Ronaldo Rony

Certa vez, há alguns anos, ao procurar meus livros dentro do armário do quarto, dei de cara com minhas duas caixas de sapatos repletas de fitas cassete. Constituída por dois carretéis de fitas magnéticas, a fita cassete é popularmente abreviada como K7. Esse tipo de “tecnologia” foi desenvolvida pela empresa Phillips, em 1963, para substituir a fita de rolo e o formato 8-track, que eram semelhantes, mas muito menos práticos e mais espaçosos.

A tecnologia desse artefato traz uma fita de áudio de 3,15 milímetros de largura, que rodava a uma velocidade de 4,76 centímetros por segundo. Antigamente a gente ouvia tudo na fita K7, no vinil e, muito depois, CD. Hoje, apesar de alguns ainda usarem o “Compact Disc”, quase tudo é no MP3 e MP4.

Minhas caixas, com quase 40 fitas, têm de tudo: Sony, Maxell, Bulk, Basf, Phillips e TDK, de 40, 60 e 90 minutos. A maioria não possui mais capa, mas as que ainda têm estão com os nomes das músicas ordenadamente anotadas no papel interior da fita.

Naquela época, nós caçávamos sons novos como as bruxas eram perseguidas durante a Inquisição, ou seja, incansavelmente. Época de micro system Sanyo (Alguém aí se lembra do que é “rewind”?), walkman Sony e festas de garagem.

Dentro das caixas os velhos companheiros: Depeche Mode, The Smiths, New Order,The Cure, Iron, U2, A-ha, David Bowie, Queen, Pearl Jam e Nirvana (muito Nirvana) Titãs, Ira! ,Paralamas, Legião Urbana (muito Legião), Barão Vermelho, Engenheiros… todos esses e outros heróis da juventude. Além de umas do velho Chico Buarque.

Fizeram sucesso no final de 80, todos os 90 e início dos anos dois mil. Não tenho vergonha de ser tão antiquado. Meu brother André fala sempre, em tom pejorativo, que todo mundo já gravava CDs em 1999 e eu fitas. Bons tempos!

Aliás, gravar fitas era porreta. Quando curtia muito um som, todo um continha somente uma música (podia ser 30 ou 45 minutos de cada lado, com a mesma canção). Às vezes, ficava com o dedo no tape deck, esperando o locutor da FM calar a boca e soltar o som para que eu o tomasse. Oh, saudades!

Enrolar e desenrolar fitas com lápis ou caneta, sem falar em limpar cabeçotes do tape deck, isso sim é nostalgia.

Minhas fitas. Tenho dezenas até hoje. Sei que são inúteis, mas é o apego nostálgico.

A fita cassete não voltou como o vinil, que hoje é objeto cult. No máximo, estão em forma de adesivos de smarthfones (que acho legal pra cacete).

É, minhas velhas e empoeiradas caixas de sapato não estão somente repletas de fitas cassete, mas de ótimas lembranças. Eu as olhei por dezenas de minutos e as guardei novamente no armário, na memória e no coração…

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em 2020.

Governo do Amapá realiza Concurso de Redação para estimular o conhecimento da cultura afro-amapaense

Com o tema “Educação, Cidadania e Sustentabilidade; Identidade negra amapaense, sob o olhar do meu lugar”, o Governo do Amapá anunciou na segunda-feira, 22, o lançamento do edital para o Concurso de Redação que comemora o Dia Internacional da África e a III Semana da África. Podem participar estudantes regularmente matriculados no ensino médio das escolas públicas estaduais.

CONFIRA O EDITAL

O envio das redações para a comissão avaliadora acontece até 4 de maio. A iniciativa, coordenada em parceria com a Academia Amapaense de Batuque e Marabaixo (AABM) e Secretaria de Estado da Educação (Seed), busca estimular a reflexão, o conhecimento e o reconhecimento da identidade e cultura afro-amapaense entre os estudantes do estado.

Durante a primeira etapa do concurso, cada escola deverá enviar a redação mais bem avaliada para os organizadores. Na segunda fase, uma comissão composta por cinco membros indicados pela Academia de Batuque e Marabaixo e pela Seed, será responsável pela avaliação das redações enviadas pelas instituições.

As redações devem seguir os seguintes critérios, de acordo com o edital:

Ser realizadas em sala de aula
Ser redigidas à mão, de forma legível, no formulário padrão disponibilizado
Ter no mínimo 20 e no máximo 30 linhas
Obedecer ao gênero textual dissertativo-argumentativo e abordar o tema proposto
Ser realizadas individualmente
Ser inéditas e originais

Confira o cronograma completo:

22 de abril – Lançamento do edital
22 de abril a 3 de maio – Período de construção e avaliação das redações nas escolas
29 de abril a 4 de maio – Envio das redações para a comissão avaliadora
6 a 15 de maio – Avaliação das redações
17 de maio – Resultado preliminar das redações classificadas
21 de maio – Resultado final e premiação

Texto: Marcio Bezerra
Foto: Lidiane Lima/Seed
Secretaria de Estado da Comunicação

Abertas inscrições para capacitação em Inteligência Artificial com foco no desenvolvimento sustentável da Amazônia para alunos do ensino médio

Estão abertas as inscrições para o curso de “Capacitação profissional para aperfeiçoamento / desenvolvimento de recursos humanos em Inteligência Artificial com foco no desenvolvimento da Amazônia”, ofertado pelo Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas (Dcet), em parceria com o curso de Engenharia Elétrica, da Universidade Federal do Amapá (Unifap). O público-alvo são estudantes do ensino médio e as inscrições, gratuitas, serão realizadas até 26 de abril de 2024 pelo link https://forms.gle/bqA8msAVyhL9Vs5E6.

CONFIRA O EDITAL DE INSCRIÇÃO

Estão sendo ofertadas 80 vagas de preenchimento imediato, sendo 50% do total de vagas destinadas a candidatas do sexo feminino. As inscrições excedentes até 20% do número de vagas ofertadas formarão cadastro reserva.

Os critérios de seleção para a vaga são:

a) Ordem de inscrição on-line até o preenchimento das vagas ofertadas;
b) Ter matrícula no ensino médio no ano de 2024.

O curso tem como objetivo a capacitação e formação de recursos humanos em Inteligência Artificial (IA) com o intuito de contribuir com o desenvolvimento sustentável na Amazônia e com o fomento e a ampliação, consequentemente, da área de IA na região.

A capacitação terá duração de dois meses (maio e junho), com carga horária de 150h/aula, no período de janeiro a abril de 2024. As aulas ocorrerão presencialmente no campus universitário Marco Zero do Equador, em Macapá (AP), às terças, quintas e sextas-feiras, com uma turma com aulas pelo período da manhã (8h30 às 11h30) e outra pelo período da tarde (14h30 às 17h30). Ao final do curso, o(a) aluno(a) receberá um certificado de conclusão emitido pela Pró-Reitoria de Extensão e Ações Comunitárias (Proeac).

O resultado final da seleção será divulgado no dia 29 de abril e o início das aulas está marcado para 30 de abril de 2024.

A capacitação é financiada com recursos do Centro Internacional de Tecnologia de Software (Cits).

Serviço:

Curso de Capacitação de Recursos Humanos em Inteligência Artificial com Foco no Desenvolvimento Sustentável na Amazônia para alunos do ensino médio
Inscrições gratuitas até o dia 26 de abril de 2024 pelo link https://forms.gle/bqA8msAVyhL9Vs5E6. 80 vagas. Edital de seleção disponível em https://www2.unifap.br/eletrica/capacitacao-ia-ctis/.

Jacqueline Araújo (Jornalista – DRT/PA 2633)
Assessoria Especial da Reitoria – Assesp/Unifap
[email protected]
Contato: (96) 98138-9124

Incentivo à Cultura: Governo do Amapá anuncia data do resultado preliminar da seleção de projetos da Lei Paulo Gustavo

Alinhado ao Plano de Governo e a política nacional de cultura, o Governo do Amapá anuncia a data do resultado preliminar da seleção de projetos dos editais Latitude Zero e Maré Cheia, da Lei Paulo Gustavo (LPG). A lista com as iniciativas habilitadas e não habilitadas será divulgada no dia 6 de maio. A etapa atual, de avaliação do mérito cultural, se estende até o dia 30 de abril.

CONFIRA O CRONOGRAMA DO EDITAL LATITUDE ZERO

CONFIRA O CRONOGRAMA DO EDITAL MARÉ CHEIA

Foram registrados um total de 4.028 projetos inscritos nos dois editais da LPG, sendo, 1.165 no “Latitude Zero” e 2.863 no “Maré Cheia”. O Amapá foi um dos estados que teve 100% de adesão dos municípios. Ao todo, a lei destina mais de R$ 22,6 milhões em recursos para o segmento cultural do estado.

O edital Latitude Zero destina R$ 15,1 milhões para alcance de 334 projetos, enquanto o edital Maré Cheia distribuirá R$ 5,6 milhões para setores diversos, contemplando diretamente até 835 agentes culturais com iniciativas que serão reconhecidas e fomentadas em todos os 16 municípios amapaenses.

Durante o período de inscrições, a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) realizou uma série de ações para divulgar e esclarecer os 2 editais da Lei Paulo Gustavo. Sete equipes com agentes realizadores da busca ativa coordenada pela Secult, percorreram os municípios para divulgar e incentivar os fazedores da cultura popular de seus territórios.

A busca ativa resultou em um aumento significativo no número de inscrições. Ao longo de 32 dias, a equipe realizou 70 atividades formativas e informativas, incluindo 20 encontros, alcançando diretamente 1.056 participantes. As ações tiveram foco em localidades mais distantes dos centros urbanos, comunidades tradicionais e grupos sociais priorizados nas políticas de inclusão e afirmação.

A avaliação das iniciativas e projetos culturais será realizada por pareceristas credenciados nacionalmente, profissionais com ampla experiência em curadoria e reconhecido conhecimento no setor cultural. A equipe de avaliação conta com 25 analistas de 12 estados brasileiros.

Em continuidade ao diálogo com o setor cultural, na última semana a Secult apresentou ao Conselho Estadual de Política Cultural (CEPC) um relatório parcial dos indicadores coletados durante o período de inscrições em editais de fomento à cultura. A explanação destacou ações como apoio técnico à administração pública, plataforma e serviço de tecnologias da informação, busca ativa, seleção de pareceristas, assessoria comunicação, serviços de design, monitoramento e análise de resultados que no final do processo deve apresentar um perfil da aplicação da Lei Paulo Gustavo no estado do Amapá.

Texto: Alexandra Flexa
Foto: Albenir Sousa/GEA
Secretaria de Estado da Comunicação

Rock and Roll: banda Toxodonte apresenta Especial Sistem of Down no Pub On, na terça-feira (30)

Na próxima terça-feira (30), véspera do Dia do Trabalhador (1º de maio), a partir das 23h, vai rolar Rock And Roll no Pub On. A casa recebe o público a partir das 20h e a abertura fica por conta da turma do Club do Rock AP. Na sequência, a banda Toxodonte apresentará o Especial Sistem of Down.

Sim, roquenrou gringo cover que é sucesso de público e crítica. A noite contará ainda com som da banda Club do Rock AP, que abrirá o evento e ainda vai rolar o som do DJ Pablo Sales, com muita música eletrônica até às 4h da manhã.

A Toxodonte é formada pelo multi-instrumentista Sousa Singer (vocal), José Rafael (contrabaixo), Alex Soares (guitarra) e Ivan Dias (batera). A banda está bem ensaiada e promete uma apresentação em alto nível. Tá aí uma boa pedida. Só não irei porque estarei fora do Amapá, mas recomendo!

Serviço:

Especial Sistem of Down, com a banda Toxodonte
Data: 30/04/2024
Hora: 23h (mas o bar abre às 20h)
Local: Pub on, na Rua General Rondon, Nª 1816 – Centro de Macapá.
Os ingressos do primeiro lote custam R$ 10,00 e podem ser adquiridos via Sympla: https://www.sympla.com.br/evento/rock-mod-on-5/2428934?share_id=whatsapp

Elton Tavares, com informações de Sousa Singer

Poema de agora: Tatuagens do tempo – Fernando Canto – @fernando__canto

Tatuagens do tempo

Quando minha pele for caindo pela força da gravidade
Quando o tempo abrir avenidas corporais
E o brilho das rugas inevitáveis,
Minhas tatuagens ficarão flácidas e ilegíveis
Pois não terão mais o desenho esticado na epiderme
Contudo, amor, o teu nome gravado permanecerá legível sob meus olhos lassos do uso de lentes,
Eles que são observadores da linha do tempo
E do tempo que as linhas costuram minhas memórias
Em cirurgias perdidas nas cerrações
Da paisagem.

Fernando Canto

Hoje é o Dia Internacional do Livro #diainternacionaldolivro

Hoje, 23 de abril, é o Dia Internacional do Livro. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no ano de 1995, em Paris (FRA), durante o XXVIII Congresso Geral. O objetivo é encorajar as pessoas – especialmente os jovens – a descobrirem os prazeres da leitura, disseminar a cultura e fazer com que o maior número de pessoas conheçam a contribuição dos autores de livros através dos séculos. Hoje também é celebrado o Dia dos Direitos de Autor.

Origem do Dia Internacional do Livro

A Unesco escolheu a data do Dia Internacional do Livro, por ser o dia da morte de três grandes escritores da história: William Shakespeare, Miguel de Cervantes, e Inca Garcilaso de la Vega. Essa é também a data de nascimento ou morte de outros autores famosos, como Maurice Druon, Haldor K.Laxness, Vladimir Nabokov, Josep Pla e Manuel Mejía Vallejo.

Uma tradição catalã ligada aos livros já existia no dia 23 de abril, e parece ter influenciado a escolha da Unesco, pois tradicionalmente, no dia de São Jorge (23 de abril), é costume dar uma rosa para quem comprar um livro. Trocar flores por livros já se tornou costume em outros países também.

Há alguns anos, quando perguntavam qual a minha profissão, dizia que era jornalista, assessor de comunicação e editor de um site. Mas que, um dia, gostaria de ser escritor. Então me tornei escritor. Tenho dois livros impressos publicados, “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias” e “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”. Também participo de duas antologias on-line e já penso em uma terceira obra.

É a velha máxima: “ler para ser”. Pois sei que é fundamental para fertilizar as ideias, principalmente na minha profissão. Que tal começar ou terminar um livro hoje?

Elton Tavares
Fonte: Calendar Brasil

A Santa Inquisição do Fofão – Crônica de Elton Tavares (Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Lembro-me bem, no início dos anos 90, do pânico em Macapá causado por um boato “satânico”. Espalhou-se que teria uma adaga ou punhal dentro do boneco do personagem Fofão, por conta de um suposto pacto demoníaco com o “Coisa Ruim”, feito pelo criador do personagem.

Iniciou-se uma caça, sem precedentes, aos brinquedos. Uma espécie de “Santa Inquisição”. De certa forma, parte da população embarcou na nova lenda “modinha” e os fofões foram trucidados por conta de um mero boato.

Meu irmão e eu vitimamos alguns fofões que pertenciam às nossas primas (prima sempre tinha Fofão, boneca da Xuxa ou Barbie). Na época, muitos diziam que ouviram do vizinho do “fulano”, que uma pessoa tinha sido assassinada por um dos então apavorantes bochechudos de brinquedo.

O Fofão tinha uma cara enrugada, era tosco, usava uma roupa parecida com a do Chucky (o Brinquedo Assassino), e dentro ainda tinha uma haste (punhal) de plástico, que era usado para manter o seu pescoço em pé.

Realmente os fatos estavam contra ele.

Houve até queima dos portadores do mal, em praça pública. Sim! Naquela praça que ficava em frente ao cemitério São José, que hoje abriga a Catedral, homônima ao espaço reservado aos que já passaram desta para melhor.

Na verdade, comprovou-se que o fato não passou de um golpe de marketing, pois muita gente comprou só para conferir e, em seguida, destruir o brinquedo. Coisas como o lance das músicas da Xuxa que, como se falou na mesma época, se tocadas ao contrário, continham mensagens do diabo.

Hilário!

Foi muito divertido, confesso. Ateei fogo em vários fofões, e foi muito melhor do que a época junina. A maioria dos moleques adorou e grande parte das meninas chorou a partida daquele tão querido brinquedo.

Concordo com o dramaturgo inglês, William Shakespeare, quando disse: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que explica a nossa vã filosofia”, mas não neste caso. Porém, o episódio do Fofão foi uma histeria generalizada entre a molecada e virou mais uma piada verídica da nossa linda juventude, uma espécie de Santa Inquisição dos brinquedos.

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Há exatos 48 anos, a banda Ramones lançava “Ramones”, seu disco de estreia – Por Marcelo Guido – @Guidohardcore

Há 48 anos, os Ramones lançavam “Ramones”, seu disco de estreia. Um dos mais importantes da história do punk e do rock em geral, o álbum de “Blitzkrieg Bop” e outros clássicos foi gravado em sete dias, com orçamento de 6,4 mil dólares. Por conta da data, republico aqui a crônica rocker do jornalista Marcelo Guido, maios fã da banda que conheço:

Discos que formaram meu caráter (parte 11) – Ramones – Ramones (1976)

Por Marcelo Guido

E ai amiguinhos, como vão vocês? Espero que bem.

Bom sem muitas delongas, vamos ao que interessa, de forma crua, visceral e como pede a rapidez e a simplicidade dos três acordes lhes apresento: RAMONES, disco homônimo da grande banda de New York, percursora do punk que foi gravado em 1976.

Na corrida desde 1974, fazendo shows pelo underground nova-yorkino, mas precisamente no histórico “pub” CBGB, não demoraria muito para os Ramones começarem a chamar atenção da indústria fonográfica. Os caras assinam em 1975 com a obscura Syre Records e já em 76 nos brindam com o primeiro registro do punk rock.

Com 29 minutos de duração e um orçamento pífio algo em torno de U$ 6.400 (naquela época as grandes bandas gastavam milhões de dólares nas produções de seus álbuns), é um dos discos mais influentes da história do rock em todos os tempos.

Dado como uma incerteza comercial por não ter feito sucesso nenhum nos EUA, o disco tem como principal particularidade mostrar, que o rock é cru, e não erudito. O rock estava chato, com muitos solos intermináveis de guitarra, o caminho poderia ser tenebroso, é como costumo dizer, “Progressivo falhou, graças ao Ramones, em seu nefasto objetivo de acabar com o rock”. Graças a esse Lp (saudosismo por minha conta) os caras foram parar em Londres. E bandas como The Clash e Sex Pistons chegaram à conclusão que não estavam sozinhas e puderam dar a cara tapa.

Uma simplicidade básica caracteriza o disco do começo ao fim, coisa difícil em uma época onde histórias de dragões solos intermináveis de guitarra (oh, coisinha chata) e epopeias épicas eram uma constante no cenário (Chupa Led Zeppelin). Os caras simplesmente desmontaram tudo e deixaram somente oque realmente interessava. Ou seja, atitude e bom som. Apesar da curta duração das musicas, a lembrança tocante que nos faz lembrar o rock dos anos 50 dão certo ar polido e saudosista e por que não uma dose de “doçura” nas melodias. As letras falam de coisas banais, que poderiam acontecer comigo ou com qualquer um de vocês, por isso é tão mágico, que chega ate a ser comum.

Dissecando a bolacha:

O calhamaço ferrenho é agressivo começa com Joey berrando na sensacional “Blitzkrieg Bop”, que fala dos ataques nazistas na segunda grande guerra, nos apresenta ao velho e bom “Hey ho, lest go” grito de chamada para batalha, vai para insanidade juvenil de “Beat On The Brat”, quem nunca quis bater em um moleque com um taco?

Chega em “Judy is Punk”, história de amor deveras bizarra, de um punk e uma anã, trava tudo e um relaxada em “I Wanna Be Your Boyfriend”, baladinha de amor, o cara só queria uma namorada, nos leva a “Chain Saw”, o que o tédio e uma serra elétrica não podem produzir no Texas? Fala sobre o prazer de cheirar cola (ops) em “Now I Wanna Snif Some Glue”, avisa que existe algo obscuro em porões na singela “I Don`t Wanna Go Down To The Basement”.

Segue com Babacas e mais babacas em “Loudmouth”, esculhambando com CIA (temida central de inteligência americana) em “Havana Affair”. “ Listen to My Heart”, nos apresenta ao velho e bom 1,2,3,4… (Dee Dee, berrando), “53rd And 3rd”, biográfica, fala dos tempos que Dee Dee Ramone teve que se virar como michê nas ruas de Nova York, “Let`s Dance”, um clássico de David Bowie nas voz de Joey. Joey grita oque não quer em “I Don`t Wanna Walk Around With You”, e chega ao final com “Today Your Love, Tomorrow The Word”, como podemos dizer, uma coisa de cada vez.

Com todo esse universo, juvenil e caseiro, os caras abriram as portas para muita gente. Confesso que o Punk Rock me atrai nisso, na simplicidade. Bom para os que se atrevem a entender de rock, tem que passar por isso.

Os magrelos de Nova York tem que ter um espaço relativo em sua estante ou em seu computador (tempos modernos esses).

Com capa em preto e branco, simplicidade a risca, conteúdo altamente inflamável, “Ramones” (1976) é o documento oficial do punk.

E aprendam, sem querer ser repetitivo: “Toda vez que o Rock ficar chato, vai recorrer ao punk para se salvar”. RAMONES FOREVER!

Marcelo Guido é punk, pai da Lanna e Bento, jornalista e radialista.

Caixinha de Música – Conto porreta de Luiz Jorge Ferreira

Conto de Luiz Jorge Ferreira

Eu achei a caixinha de música no sótão. O estranho é que desde os doze anos eu não subia ao sótão. Eu achava que era por preguiça de subir os quase quarenta degraus da escada em caracol.

Culpava também meus acessos de espirros no contato com pó. E como havia pó no sótão. Dentro dele os móveis de minha avó estavam cobertos com panos e pareciam túmulos.

Última vez que eu havia estado no sótão foi por ocasião de um jogo entre os times da escola em que criamos bandeiras e eu precisei de pano colorido. Mesmo assim desci rapidamente, largando a única janela aberta o que fez com que mamãe durante a primeira chuva, vendo aquele rio de água descer pela escada, me aplicasse umas palmadas. Hoje eu sei. Eu tinha medo era do escuro do sótão. Tinha medo do seu espaço sempre em silêncio.

Depois achei a caixinha de música. Não, aí então eu criei coragem. Mas também eu já tenho oitenta anos. Agora subo as escadas com o auxílio de uma bengala de cabo rugoso. Lentes de grau espessas e uma paciência que nunca imaginei que criasse. Um pé por vez, pausadamente, como se ensaiasse um passo de balé. Demoro muitos minutos para vencer todos os degraus da escada. E cada dia parece que ela ganha um novo degrau. Antes eu os conferia. Agora deixei de fazê-lo.

Às vezes a roupa me pesa um pouco a mais e eu me dispo, atiro a calça, a camisa, a cueca e os chinelos escada abaixo e eles caem com um barulho de lata no chão. Deve ser pelos botões da roupa e o chinelo com biqueira de aço antiderrapante. Não tenho medo de atingir ninguém com meus pertences. Moro só. Todos partiram.

Da única janela do sótão posso vê-los. Digo, posso ver suas lápides que eu mesmo fiz com um desenho único para cada uma das cinco cruzes no jardim. A menor é a do nosso cão. Morreu de uma descarga elétrica. O único cão que eu soube que morreu atingido por um raio quando urinava debaixo de uma tempestade, em sua árvore favorita.

Da janela eu vejo cada um deles. E ela minha esposa. Era dela esta caixinha de música. Ganhou de presente num bingo da Igreja, mas nunca se afeiçoara a ela. Certo dia quando eu quis saber onde estava respondeu que havia perdido.

Quando ela morreu atropelada por um bando de borboletas enlouquecidas em disparada, fugindo de um incêndio, procuraram a caixinha para entreter uma menina de nome Anne Frank que chorava no velório, entediada. Ninguém a achou. Ficou por isso. Esta ocasião já morava aqui onde moro hoje. A casa era recém-construída. Eu recém-viúvo, os óculos recém-comprados, a unha recém-cortada e ela recém-vítima.

Fazia trinta anos que eu viera de Macapá. Nunca mais regressara. Fiquei só. Desliguei-me do emprego e comecei a pintar. Pintei as cercas que circulam a casa. Os muros. Os sacos de supermercado. As paredes da casa. A mim mesmo. Pintei-me todo.

Por fim não havia amigos que me visitassem ou que me telefonassem, cobrando notícias. Os dias eram enormes e as noites eram dias escuros. Não tendo nada mais a pintar.

Eu ia ao sótão todos os dias. E acionava a caixinha de música. Ouvia as melodias que eram cinco. Ouvia-as inteiras por várias vezes. Depois com saudades de todos, chorava. Estranhamente, um dia, comecei a pintar as lágrimas.

Luiz Jorge Ferreira

*Do Livro Antena de Arame – Rumo Editorial – 2ª Edição (2017) – São Paulo – Brasil.

Minhas ausências involuntárias – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Certa vez, há alguns anos, passei duas semanas sem ir na casa da minha avó paterna. Fico pensando quanto de convívio aquele meio mês me custou. Estas “ausências involuntárias” são muitos ruins. Se você se ausenta ou some por algum motivo que foge ao seu controle é bem triste, principalmente quando quem sente sua falta são as pessoas que você ama.

Eu deveria, por exemplo, me organizar para ir ver mais vezes os meus corações que moram em Belém (PA), periodicamente. Falo da minha sobrinha, irmão e cunhada. Mas por pura falta de empenho, trabalho ou planejamento isso não acontece.

Essa rotina frenética nos afasta de muita gente importante, às vezes chego cansado do trabalho, tomo um banho e vou direto para cama. Mas nunca esqueço de quem amo. Às vezes, já tarde da noite, penso: “eu poderia ter ao menos telefonado hoje, mas agora já não dá mais tempo ”.

Um dia, encontrei um amigo do passado e comecei a me perguntar: por que nos afastamos? Não encontrei motivo algum, foi a vida, nossas prioridades e escolhas, mas o cara ainda é “considerado” um amigo querido. Doideira, né?

Graças a Deus (ou seja lá o nome Dele), tem muita gente que gosta de mim, já passei por diversas turmas, tenho velhos e bons amigos. Quando encontro alguns deles, seja em Belém ou Macapá, sempre rola aquele papo: “pô, vamos marcar algo, será muito legal”. E nunca acontece o tal encontro, falamos tudo da boca para fora, involuntariamente.

Meu falecido pai um dia me disse: “temos que dizer para as pessoas que amamos que as amamos hoje, amanhã pode não ser possível”, concordo.

É isso mesmo. Preciso urgentemente visitar pessoas queridas, prestigiar aniversários e ir a festas de gente que gosta de mim. Tudo isso parece simples, mas, por algum motivo, às vezes deixo de lado. Não sei vocês, mas preciso dar um jeito nas minhas ausências involuntárias.

O amor calcula as horas por meses, e os dias por anos; e cada pequena ausência é uma eternidade” – John Dryden.

Pensem nisso!

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Preâmbulo da Horas – Conto porreta de Lulih Rojanski

Conto porreta de Lulih Rojanski

Havia um moço triste que passeava todas as noites na sala de um apartamento do edifício em frente ao meu. Era angustiante a sua solidão no oitavo andar. Eu havia me habituado a trazer para casa o trabalho do escritório e ficava até altas horas ruminando documentos, trocando ideias com xícaras de café e um maço de cigarros, na companhia das badaladas do velho relógio de parede. Pensava que minha solidão era a maior de todas, até a noite em que o vi pela primeira vez, a passear incansável pela sala à meia luz. Observei que também fumava um cigarro atrás do outro.

Todas as noites ele chegava às 23 horas, tirava, ainda na porta, a camiseta, e a jogava num canto qualquer, depois apagava as lâmpadas no interruptor próximo à porta de entrada, deixando acesa apenas uma luminária de luz opaca, que lhe permitia mover-se sem tropeços. Então começava a andar de um lado para o outro, sem descanso. Às vezes debruçava-se à janela. Outras, desaparecia por outros cômodos. Depois voltava a fumar pela sala, impaciente. À uma hora da madrugada, indefectivelmente, atendia ao telefone, e só então tinha descanso.

De meu apartamento, eu não podia ouvir o toque de seu telefone, mas todas as madrugadas, quando meu relógio de parede soava uma nostálgica badalada, o moço atendia ao telefone. Falava por alguns instantes e tornava a sair, vestindo a mesma camiseta que deixara abandonada num canto qualquer. Algumas vezes deixava o aposento às escuras e só era possível localizá-lo pela brasa pequenina do cigarro, que se acendia como um vagalume na janela.

Nunca o vi durante o dia e creio que ele nunca chegou a me ver, nem de dia nem à noite. À tarde havia um velho cachorro sonolento, um dálmata, que dormia na sacada do quarto de um apartamento ao lado do seu. Por diversas vezes, tive a absurda impressão de que o cachorro morava sozinho, pois jamais presenciei ali qualquer outro sinal de vida. Algum tempo depois, percebi que durante a noite também o dálmata dormia na sacada.

Durante meses nossas noites foram iguais: eu trabalhava até a madrugada, observando o rapaz solitário, suas lâmpadas obsoletas e sua triste pontualidade, o cachorro dormia um sonho de sonhos cansados, e o rapaz andava sem medidas na penumbra da sala, na expectativa inquietante de sua hora marcada. Por muitas vezes, no transcurso dos meses em que o observei, tive o impulso de lhe telefonar. Não sei o que lhe diria. Talvez uma frase piegas sobre o amor e o desamor, ou talvez lhe contasse uma história engraçada, e ele, por um instante, abandonaria o cigarro para gargalhar, para olhar pela janela e ver quanta noite havia no céu cravejado de estrelas. Depois desisti do incômodo desejo de salvar alguém que talvez nem precisasse ser salvo. Continuei a assisti-lo, em sua cronologia obsessiva.

Nas raras vezes em que me deitei mais cedo, continuei a vê-lo, pois quando dormia, ele, iluminado pela brasinha do cigarro, passeava pra lá e pra cá na penumbra dos meus sonhos. Acabei por me irritar com aquela criatura que passara a se intrometer em minha solidão, e por algum tempo deixei de observá-la.

Uma noite, entretanto, vencida pela culpa por ter abandonado o moço à sua própria sorte – como se em algum momento eu tivesse participado dela – tornei à janela. Ele esperava pela ligação. O dálmata dormia. Caía uma chuva de pingos enviesados na noite em que seu telefone não chamou. Ele acendeu todas as lâmpadas da sala, tornou a andar de um lado para o outro, pegou o telefone, conferindo se havia algum defeito, e colocou-o de volta à mesa, devagar, como se não soubesse o que fazer depois disso. Ficou parado diante da mesa, olhando para o telefone. Sob a luz intensa, ele era belo. Tristemente belo.

Acho que odiei a criatura que deixou de lhe telefonar naquela noite chuvosa. Mergulhei em meu trabalho, com a promessa de não me ocupar mais de vidas que não eram minhas, mas quando tornei a olhar para fora, ele estava sentado no parapeito, com as pernas dependuradas no vazio. Nem ao menos fumava. A súbita certeza de que ele ia pular me estremeceu o corpo num calafrio. Ainda hoje, quando recordo, tenho a sensação de vê-lo mergulhando num voo sem volta, libertando-se de sua infinita espera. Acenei-lhe com uma insistência patética, e ele não me viu. Gritei, atribuindo-lhe nomes diversos, talvez nenhum fosse o seu, e ele não ouviu porque havia entre nós o ruído da chuva. Senti um amargo arrependimento por nunca ter procurado o número de seu telefone. Eu beirava o pânico, estava com o telefone na mão para chamar a Defesa Civil e impedir que ele pulasse, quando ele desceu da janela e fechou-a.

Respirei, profundamente aliviada, e fui dormir com a decisão irrevogável de nunca mais me preocupar com o desconhecido. Mas ele estava em meus sonhos, flutuando no ar sob um chuvisco renitente. Quando saí para o trabalho, pela manhã, havia na calçada de seu edifício um ajuntamento de pessoas, homens, mulheres, até crianças, unidos por uma curiosidade mórbida, falando alto, apontando apartamentos. Naquele instante, porém, o mundo para mim ficou mudo. Eu só ouvia meu coração saltando no peito, e talvez ele até me dissesse da culpa que eu teria que carregar por toda a vida por ter dormido indiferente à dor alheia. Abri caminho aos empurrões para ver o que os curiosos viam. No centro do círculo humano, estendido sobre o próprio sangue, e morto, estava o velho dálmata solitário.

*Conto premiado pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo – SP. Publicado na IX Antologia de Contos Alberto Renart – 1996.