Discos que formaram meu caráter: O Descobrimento do Brasil- Legião Urbana (1993) – Por Marcelo Guido – Hoje o álbum completa 30 anos – @Guidohardcore

Há 30 anos, o Legião Urbana lançava “O Descobrimento do Brasil”, seu 6º disco de estúdio. Foi gravado em um momento de tensão entre a banda e a gravadora EMI-Odeon. “Perfeição”, “Vamos Fazer um Filme”, “Só Por Hoje” e “Giz” são os destaques. Sobre esse álbum, republico o texto do amigo jornalista Marcelo Guido, publicado originalmente aqui no De Rocha em 2016.

Discos que formaram meu caráter: O Descobrimento do Brasil- Legião Urbana (1993) – Por Marcelo Guido

Muito bem amigos, voltamos mais uma vez para falar (sem querer ser repetitivo) de músicas, discos e afins. Como faço toda semana, espero acrescentar a vocês um pouco mais sobre assuntos um tanto quando piegas, mas relevantes.

O disco de hoje nos leva até a década de 90, mais precisamente ao ano de 1993, época de incertezas no campo político, onde um presidente eleito pelo voto popular acabara de renunciar, mostrando toda nossa frustração com nossa primeira experiência democrática depois dos áureos anos de Ditadura.

No campo musical, uma lastima sem precedentes (já falei algumas vezes sobre isso) um imensurável número de “duplas sertanejas” vindas mais precisamente do estado de Goiás e redondezas, armadas de suas calças apertadas, violas, agudos ensurdecedores (que deixava a Tetê Espíndola, morta de inveja), uma dor de corno imensurável. Da Bahia vinha à famigerada “Axé Music”, com seus refrãos grudentos, coreografias ensaiadas e a Daniela Mercury, clamando para si todas as cores da cidade e os cantos também (alguém deveria ser responsabilizado por isso), sem falar claro do “Pagode Romântico”, onde todos os amigos de bairro montavam um grupo e com músicas melosas conseguiam seus 15 minutos de fama, sentavam no sofá da Hebe (com direito a selinho) e se refrescavam na “Banheira do Gugu”. Realmente dá nervoso só de lembrar, essa parte dos anos 90 foi embora muito tarde.

Foi no meio disso tudo que, como verdadeiros “Salvadores da Pátria” a Legião Urbana nos brindou com esse excelente álbum que, com certeza, embalou a vida, a adolescência e juventude de muitos de nós. Com o coração cheio de orgulho que eu apresento para uns e relembro para outros “O descobrimento do Brasil”, todos de pé, todos de pé.

A coisa andava meio mal para os caras da Legião, o comodismo do mercado e também o preço do sucesso acabava por colocar os caras a mercê dos críticos, já não produziam nada novo desde o LP “V” de 1991 (muito bom, mas conceitual e compreendido por poucos) e vinham de uma coletânea deveras “Caça niqueis” (coisa de gravadora) chamada de “Musica para acampamento” (essencial para qualquer coleção digna de rock), mas os fãs queriam mais, queriam coisas novas.

Renato Russo encontrava-se, mais uma vez, frente a frente com outro tratamento para dependência química e alcoolismo. Mas diferentemente das outras tentativas, “a voz da geração Coca-Cola” (se eu não coloco isso os cults me apedrejam), encarava a situação com otimismo.

Foi no meio de todo esse circulo conturbado, envolto nesse cenário negro que a Legião Urbana se reinventa e volta à relevância com este verdadeiro calhamaço de belas canções, com letras contundentes e melodias de valor imensuráveis.

Vamos deixar de lengalenga e ir logo as faixas:

O Disco começa com a metódica “Vinte nove”, forte sem dúvidas, feita cheia de referências ao número “29” (oh), muitos acreditam ser uma lembrança do tratamento de 29 dias do cantor, sem contar que para os esotéricos (coisa que Renato era e bem) os 29 anos que saturno passa para percorrer sua própria órbita. Marca uma nova fase na vida de qualquer indivíduo. “A Fonte” é outra canção forte, você só passa a compreender depois de várias audições, as críticas envolvidas na canção, mostram a volta da “raiz punk” da Legião. Então vem “Do Espirito”, extremamente pessoal e punk, com suas guitarras distorcidas é uma ode a luta de Russo contra o álcool.

“Perfeição”, como o próprio nome diz, é um dos maiores sucessos da banda, música preferida de muitos, uma crítica pesada onde a ignorância do mundo é celebrada, mas a esperança aparece no final. “Passeio da boa vista”, instrumental para relaxar, excelente trilha para um passeio de barco ou uma consulta ao dentista. “O Descobrimento do Brasil”, a faixa título do disco, é uma nostálgica baladinha legal de se escutar, quem se apaixonou no segundo grau sabe muito bem do que estou falando.

“Os Barcos”, minha preferida desse disco, letra pesada o verso “Só terminou pra você”, já fala por si só. “Vamos Fazer um Filme”, fala de um sentimento de reconstrução pessoal, onde tudo pode te jogar pra trás, mas você vai estar bem se sua turma for legal. “Os Anjos”, lado “Ofélia” (palmas pra ela) de Russo que dá uma receita perfeita para o lado negro da vida. “Um dia Perfeito”, clima bucólico, ótima sintonia de guitarra com teclado, perfeita para tardes chuvosas.

“Giz”, outra da metáfora “Quero ser criança de novo”, nostálgica, letra magnifica considerada pelo próprio Russo como sua “obra prima”. “Love In The Afternoon”, creditada a várias perdas importantes, foi feita para um namorado falecido, é uma música romântica. “La Nuova Gioventú”, apesar do piegas nome em italiano, um “rockão” pesadíssimo, com direito a distorção e tudo, cita a maldita obra “On The Road”, a bíblia da contracultura dos anos 60. “Só por Hoje”, o lema do AA, fecha com perfeição esse disco. Escute e entenda.

Letras fortes, temas marcantes, banda afinadíssima nada mais a falar. Sem muita frescura, clássico de marca maior. Foda-se do disco do caralho!

Nem é preciso dizer, que este disco vendeu mais de meio milhão de cópias, um verdadeiro “chute nos colhões” do mercado vigente na época.

Muitas lendas sobrevoam essa bolacha. Posso dizer a vocês que, apesar de dedicada em show “Love In The Afternoon”, não foi feita para o Aírton Senna (só se fosse escrita pelo Walter Mercado, o disco é de 1993, e o Senna se foi em 1994). Se você fala isso, pare você está falando merda. E “Giz”, foi realmente escrita e feita para Zezé di Camargo e Luciano (e dai? O cara só queria liberdade para cantar “é o amoooooooooorr”), mas isso não arranha o brilhantismo da Bolacha.

Esse foi o sexto LP da Legião, o último que fez os caras saírem em turnê e que proporcionou o e primordial registro ao vivo “Como é que se diz eu te amo” (duplo). E saiba que o excelente “A tempestade” (1996) era para ser um trabalho solo de Russo. Sim amigos, esse foi o derradeiro. Nada mal para um último suspiro.

Por hoje é só. “Urbana Legio Omnia Vincit”!!

Marcelo Guido é punk, pai e jornalista e professor.

Há 38 anos, a Legião Urbana lançava “Legião Urbana”– da série “Discos que formaram meu caráter” (por Marcelo Guido)

Por Marcelo Guido

Legião Urbana, o primeiro álbum da banda de mesmo nome, foi lançado em 2 de janeiro de 1985. Um disco politizado, rebelde e ao mesmo tempo romântico. Um marco na história do Rock Brasileiro.

Parece que foi ontem, mas já tem trinta e oito anos. 38 anos que a gente começou. Digo “a gente” por que eu e muitas pessoas nos incluímos nessa Legião Urbana e foi a partir desta bolacha que nossas vidas foram tocadas. Com influência mais punk, o álbum trouxe músicas que marcaram a carreira da banda.

“SERÁ”, que a “DANÇA” que querem que a gente participe é essa mesma?, Ou estamos enganados?

Seria apenas “O REGGAE”, que colocaram em uma batida lenta, para que um conformismo tomasse conta de nós. Mas temos um certo “BAADER-MEINHOF BLUES”, para lembrar que a violência é tão fascinante, apesar de nossa vida ser tão normal.

Ai, uma menina que me ensinou quase tudo que eu sei diz que eu tenho medo, mas eu lembro a ela que “AINDA É CEDO”, para me considerar um desnorteado, e estamos os dois “ PERDIDOS NO ESPAÇO”.

Eu a lembro que somos “SOLDADOS”, que pedimos esmolas, somos as sobras da “GERAÇÃO COCA COLA”, por que comemos lixo comercial e industrial e mesmo sem religião ainda somos o futuro da nação. Lembro a ela que basta fazer um dever de casa para crianças derrubarem reis.

Somos o combustível de tudo, somos o “PETRÓLEO DO FUTURO”. E realmente “POR ENQUANTO”, vendemos o’que é certo pra pessoa errada, espero crescer e aparecer.

Esse é o “TEOREMA” de nossas vidas, ou será só imaginação.

“Urbana Legio omnia vincit…” – (“Legião Urbana a tudo vence”).

*Marcelo Guido é punk, jornalista, pai da Lanna e do Bento, maridão da Bia. “…Não é me dominando assim, que você vai me entender.”

Discos que formaram meu caráter (parte 13) – Ozzy Osbourne – No More Tears (1991) – Por Marcelo Guido – Republicado por hoje completar 31 anos de lançamento deste álbum

Por Marcelo Guido

Muito bem amigos, voltando a nossa programação normal. Eis que estamos mais uma vez aqui para falar sobre música, ou melhor, sobre discos. Minha viagem ultrassônica pelo que resta de minha macabra memória nos leva a relembrar mais um clássico.

O disco em questão é mais um da valiosa safra de 1991 (já disse algo sobre esse belo ano) e atende pela alcunha de “No More Tears”, do famigerado Ozzy Osbourne.

Bom, como já disse, corria o ano de 1991 e a música, ou melhor, o rock estava em maré alta, o Nirvana quebrava tudo com “Nevermind” (já falei desse), o Pearl Jam dava seu recado com “Ten” (também sobre esse), o U2 se reinventava com o espetacular “Achtung Baby” (desse ainda vou falar), os Ramones mais vivos do que nunca com seu “Loco Live” e o Metallica só lançou o “Metallica” (o preto, caso não tenham entendido). É ou não é uma excelente safra de discos? Mas amiguinhos o Ozzy andava mal.

Mais lembrado por suas peripécias etílicas (para ficar só no álcool), como por exemplo, cheirar formigas, tomar mijo, comer cabeças de pombos e, claro abocanhar morcegos. O velho Osbourne via sua vida, sua carreira e todo seu legado indo para o ralo junto com ele.

Com uma tentativa de estrangulamento contra sua esposa, brigas com produtores importantes, acusações na justiça americana e o pior: vendo que seus antigos companheiros de Black Sabbath tinham recrutado o “Todo poderoso” Dio e estavam, como era de se esperar, fazendo algo contundente. Ozzy estava cada vez mais atolado em sua própria sujeira e vendo o tempo passar.

Ele não poderia deixar essa época passar, seus últimos trabalhos solos, posso ser chato e dizer que todos estavam longe da genialidade de “Blizard Off Ozz” (1980) e de “Diary Of Madman” (1981), é realmente Ozzy não era uma boa companhia naquela época. Ele precisou passar por muita merda para “dar um tempo” na onda se internar e realmente fazer oque sabia fazer de melhor. Ele sai de cena para voltar e nos presentear com essa excelente bolacha.

Vamos a ela:

Começa com a sensacional “Mr Tinkertrain”, com seus riffs incríveis que fazem qualquer mortal levantar a cabeça e ter a noção de que o inferno está próximo, vai para “I Don`t Want To Change The World”, nessa faixa Ozzy mostra como está contente em ser ele mesmo. A sensacional “Mama, I`m Coming Home”, reflexão visceral sobre sua trajetória de excessos (próprio Lemmy contribuiu com versos para essa música), “Desire” para não se perder e cantar um belo refrão junto, “No More a Tears”, poderosa, faixa título, está na história do rock.

Em “S.I.N”, essa é para quebrar tudo, arrebentar com todos, “Hellraiser” Lemmy aparece de novo, para ajudar a contar essa história sobre a “vida na estrada”, “Time After Time”, o momento clássico de acender o isqueiro, “Zombie Stomp” para relembrar os gloriosos anos 80, “A.V.H” (ou melhor Alcohol, Vlium and Hashish), um verdadeiro estouro, a fórmula ideal com solos incríveis e refrão para todo mundo cantar e fechando com “Road To Nowere” para deixar os problemas realmente no passado. Na boa, um puta disco.

Reflexivo, porém fantástico. Clássico com letras garrafais.

Justo lembrar que essa bolacha eleva o patamar do “Hard Rock” e o velho Ozz estava muito bem acompanhado dos sensacionais Zakk Wilde nos solos e de Mike Inez no baixo, que depois iria para o Alice in Chains (Grande banda) e claro do Lemmy Kilmister (os fodas sabem quem é).

Esse disco devolveu o respeito para o “Príncipe das Trevas” e o tirou das profundezas da mesmice.

Ozzy Osbourne merece toda nossa consideração. E vai ser sempre lembrado. Para os jovens que o conhecem pelo personagem bonachão do seriado de TV, posso dizer que ele é muito mais que aquilo.

Vida longa, alteza!

*Republicado por hoje completar 31 anos de lançamento deste álbum

**Marcelo Guido é punk, jornalista, pai da Lanna e do Bento, maridão da Bia.

Discos que Formaram meu Caráter (Parte 55) – Def Leppard …“Hysteria” (1987) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Salve moçada que curti o bom e velho Rock and roll, o viajante das letras, riffs esta de volta, e já estaciona sua nave muito louca trazendo na bagagem mais histórico e inquestionável super disco que com certeza mudou a minha vida e também a de muitos de vocês, sem muito lari –lari vamos conversar sobre:

“Hysteria”, o quarto trabalho dos caras do Def Leppard, palmas pra ele.

Então estamos agora nos anos 80, e o hard rock estourado no mundo inteiro, era em propaganda de cigarro, bebida e ate em absolvente intimo feminino, realmente parecia que a brilhantina tinha ficado mais pesado.

Neste contexto, bandas do mundo inteiro se aventuravam e faziam bons sons e discos excelentes, e o Def  Leppard estava surfando e bem os bons momentos que seus excelentes trabalhos já haviam proporcionado, meu destaque vai para o excelentíssimo “Pyromania” de 1983 (prometo revisitar esse, ele também é formador), sendo assim a banda excursionava a valer e usufruía do seu prestigio por varias partes do mundo.

Integrantes assíduos do movimento NWOBHM , “New Wave of British Heavy Metal” (A nova onda do heavy metal britânico, literalmente) , os caras nunca esconderam que o objetivo era nada mais nada menos que estourar nos EUA, o que gerou uma certa antipatia lá pelas bandas da terra da Rainha, uma ilha tão legal que já tinha nos dado o Queen e Iron Maiden  por exemplo, mas a molecada queria estar no epicentro da coisa, ou seja fazer sucesso na terra do Tio Sam era sim um sonho a ser alcançado.

Assim sendo, deixaram o velho mundo e com seus penteados marcantes chegaram com tudo nas paradas americanas que já fervilhava neste novo som. A MTV era novidade e um dos primeiros clipes de Heavy Metal foi nada mais nada menos que “Photograph”, presente no já citado “Pyromania”, que desbancou nada mais nada menos que “Beat It” do Michael Jackson, este formador disco, vendeu milhões de copias no seu seu ano de estreia, sendo apenas superado por “Thriller”, que quem manja de som sabe do que estou falando.

 

Mas então, muito sucesso nos EUA, e um fracasso comercial na Inglaterra, os caras eram adorados nas américas e nem cheiravam o top 10 no velho mundo, coisa de inglês.

Neste contexto, os rapazes foram desafiados a nada mais nada menos, converterem o novo disco que ainda seria gravado em uma espécie de “Thriller” do estilo, ou seja pelo menos 7 musicas do disco teriam que estourar nas paradas, oque era de fato muita responsabilidade, sendo assim depois de toda pompa e promoção, os caras se mandaram para a Irlanda e se deram a trabalhar.

Mas nem tudo eram flores e trabalhos, como se é de praxe muita onda também rolava, isso começou a atrasar as coisas e o clima foi ficando pesando, era gente desistindo e o processo criativo ficando caro, os caras desistiram de vir ao Brasil no primeiro Rock In Rio em 85, cederam o espaço para o geniais bichos do Whitesnake, e a gente sabe a história.

Para piorar, na virada do ano o baterista Rick Allen, conhecido como “The Thunder”, sofreu um grave acidente de carro, resultando na amputação de seu braço esquerdo, que merda para um baterista. Seria o fim, mais estamos falando de Heavy Metal porra, e a turma se recusou a mudar de baterista e o cara se superou.

Sendo assim entram em estúdio quatro anos depois de estourados e ficam na historia da musica com lagrimas, superação e muita onda este verdadeiro marco na longa trajetória do heavy metal. Vamos a ela:

Dissecando a bolacha:

O disco começa com “Women”, vai para “Rocket”, chega em “Animal”, “Love Bites”, “Pour Some Sugar on Me”, “Armageddon It”, “Gods of War” “Don’t  Shoot Shotgun”, “Run Riot”, “Hysteria”, “Excitable” e “Love and Affection”.

Primordial em todas as musicas, excelente em tudo com letras marcantes que falam em vitória, paixões, lutas diárias. Misturadas com a mais pura vontade de fazer realmente um disco foda, Joe Elliot no vocal, Rick Allen na bateria, Phil Collen e Steve Clarck nas guitarras e Rick Savage no baixo, fizeram historia e reconstruíram as bases do estilo.

Já em 88 venderam 3 milhões de copias, arrebentaram com tudo na ilha do príncipe Charles e chegaram com tudo nas terras do Pato Donald.

O objetivo inicial de fazer um super disco foi alcançado, esta bolacha esta listada em as 200 obras definitivas do Rock and Roll of Fame. E ela tem que estar obrigatoriamente na tua estante se tua inda sonhar com uma medalha de foda.

“Hysteria”, apareceu para mim nos anos 90, e ainda hoje esta presente na minha vida, sem duvida alguma me fez olhar com mais seriedade para o rock and roll por ser um disco profundamente respeitado.

O Heavy Metal passou a ter outra cara depois dele e por isso é um disco singular e atemporal mesmo quase 40 anos de seu lançamento.

O Def Leppard como banda nos ensina ter o orgulho exato da excelência no que se faz, e que nenhum desafio é grande que não possa ser superado.

Menção honrosa para versão nacional de “Love Bites” feita pelo Yahoo.

Uma puta banda, um puta disco. Recomendo ouvir no máximo e foda se a surdez.

Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento, maridão da Bia. 

Discos que Formaram meu Caráter (parte 54) – Legião Urbana … “A Tempestade ou O Livro dos Dias” (1996) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Muito bem moçada estamos de volta, de dentro de nossa nave com muitos sons, riffs e melodias para todos vocês, amantes do velho e bom rock and roll.

Este viajante foi até os derradeiros anos adolescentes e trouxe na bagagem mais um excelente míssil sonoro para o deleite geral, estamos falando nada mais nada menos de “ A Tempestade ou O Livro dos Dias”, derradeiro álbum de Renato Russo e dos caras da Legião Urbana, palmas pra ele.

Já corria o ano de 1996, a retomada do rock nacional já era uma constante, tinha uma turma muito boa tocando nas rádios e a turma da geração 80 tinha tomado um gás e estava fazendo muito para retornar aos caminhos da relevância.

Neste contexto a turma da Legião que andava meio sumida, não lançava nada desde o excelentíssimo “Descobrimento do Brasil” de 93 (procura aí, já escrevi sobre esse disco), os fãs não tinham muita notícia dos caras, e Russo já tinha brindado o público com os excepcionais “The Stonewall Celebration Concert” de 94 e “ Equilíbrio Distante” de 95, mas o mesmo já tinha assegurado que a Legião não tinha acabado e que estava fazendo algo muito legal, vide entrevista no Vídeo Show da Globo.

Como já disse, ninguém sabia muito sobre a banda, mas hoje em dia através de livros e entrevistas as coisas não andavam nada bem com Fontman, o abismo linear construído por Renato com a bebida e outras já não estava muito largo, e o cara já começava a pagar um preço.

Assim sendo a turma se reuniu para gravar o álbum, e entre janeiro e setembro existiram as incursões ao estúdio, nasceria como uma ideia inicial de um disco duplo, mas pelo estado do cantor a tal trama foi logo abortada.

O trabalho viaja por vários estilos, como soul, blues e o velho e bom punk rock que lembra  a Legião do comecinho, Renato foi poucas vezes ao estúdio, gravou tudo de primeira e voltou apenas para gravar “A via Láctea”, realmente ele não estava bem.

São melodias e letras tortuosas, a cara do momento dele e realmente acredito ser o disco mais pessoal do vocalista.

Vamos dissecar essa bela bolacha e deixar de papo furado:

O disco começa com a porrada na cara chamada “Natalia”, que trata toda esperança e hipocrisia. “L`Avventura” titulo de um filme de Michelangelo Antonioni. “ Musica de Trabalho” , o dia dia constante a alegria que se tem com pequenas vitórias. “Longe do Meu Lado”, melancólica tradução de uma paixão. “A Via Lactea” soa como uma despedida, foi regravada por Ricky Martin. “ Música Ambiente”, experimental. “Aloha”, sofrimento excessivo. “Soul Parsifal”, leveza constante. “ Dezesseis”, pesada trata de suicídio, com direito a trechos dos besouros de Liverpool. “Mil Pedaços”, reconstrução . “Leila”, sem dúvidas uma das mais descontraídas. “ 1º de Julho”, composta para a Cássia Eller. “Esperando por Mim”, um reencontro, perdão e desculpas. “ Quando Você Voltar”,  o fim, despedida. “O Livro dos Dias”, descanso.

Que puta disco bom bichos, na moral se tu não conhece não perde tempo. Não teve show, nem turnê promocional e mesmo assim vendeu pra caralho. Tua medalha de foda corre um sério risco, vai atrás.

Ah, gravaram uma versão de “Dezesseis” em inglês, mas o técnico de som apagou. Infelizmente.

Este disco foi realmente muito importante pra mim e sem dúvidas para muitos de vocês que estão lendo sobre ele agora. Solidão, passado, amor, intolerância, injustiça e saudade tudo isso misturado como sentimento puro e colocados em letras e melodias, sinceramente apesar das circunstâncias não tinha como dar errado.

Renato Russo se recusou a tirar fotos para o encarte, o disco  teve a participação foda do Carlos Trilha que é algo realmente singular.

Apesar de não conter “Urbana Legio Omnia Vincit” a Legião Urbana venceu mais uma vez. E mesmo sem o lembrete, é obrigatório ouvir no volume máximo.

Parte das vendas foram doadas para instituições de caridade e grupos de auto ajuda, Dona Penha a cozinheira do estúdio teve o privilégio único de ouvir a capela “ Là Soletude”, cantada por um Renato, já muito fraco.

 Renato Russo partiu desse mundo 21 dias após o lançamento do disco, no dia 11 de outubro de 1996.

Deixou belos trabalhos como esse nesse país que é o Brasil, uma República Federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus.

Discos que formaram meu Caráter (Parte 52) – Replicantes … “O Futuro é Vortex”  (1986) – Por Marcelo Guido

Salve moçadas esperta, amantes do rock and roll e afins, o viajante dos discos, notas solos e riffs está de volta como prometido trazendo mais uma belo disco,  mais um singular artefato sonoro que de certo mudou vidas e ao menos colocou pra poguear e dançar uma única vez.

Falo sem mais nem menos de “O Futuro é Vortex”, álbum de estreia dos caras do Replicantes, palmas muitas palmas pra ele.

Na ativa desde 1983 a gauchada do Replicantes já estava dando o que falar lá pelas bandas do sul do país, a cena de Porto Alegre é realmente um verdadeiro celeiro de bandas boas e nessa época estava em verdadeira ebulição.

Os caras já botavam pra arregaçar no lendário bar Ocidente, já tinham gravado o clipe da maravilhosa “Nicotina” e estavam estouradíssimos na Ipanema FM e começavam a  chamar a atenção do restante do Brasil. Em 1985 os caras participaram da excelente coletânea “O Princípio do Nada”, quando mostraram um excelente e bem apimentado punk rock nacional, ou seja, já se fazia punk de qualidade no Brasil fora de São Paulo.

Chega o ano de 1986, o Rock estava com tudo nas rádios e nas cabeças libertárias da juventude nacional, Rock in Rio tinha rolado um ano atrás , o país era governado pelo vice Sarney, o Tancredo tinha remado pra beira, um gosto de mudou mas nem tanto já pairava no ar, mas rock ainda encontrava um celeiro farto para continuar na crista da onda e dominar as paradas.

Neste contexto, os caras da banda conseguem um contrato com a RCA e se mandam para São Paulo, a Meca do Punk no Brasil e entram em estúdio para registrar pela primeira vez um disco e assim se deu o nascimento de “O Futuro é Vortex”.

Sem mais delongas vamos dissecar a bolacha:

O disco começa com nada mais nada menos que “Boy do Subterrâneo”, o encontro com a mudança na vida de todo jovem. “Surfista Calhorda”, a vil e estruturada farsa da juventude bem nascida, foi barrada pela banda no disco de covers do Lobão, ponto pra eles. “Hippie Punk Rajneesh”, uma crítica ao status quo que a sociedade impõe para todo mundo. “One Player”, opinião que se tem, você faz suas escolhas. “ A Verdadeira Corrida Espacial”, a dúvidas das incertezas que se colocam presentes na vida, pra onde vai o mundo. “O Futuro é Vortex”, imponente não a toa dá título ao disco. “Choque”, a desilusão com tudo que acontece na vida, nada mais punk que um choque de realidade. “ Ele quer ser Punk”, a vontade de destruir e reconstruir tudo. “ Motel de Esquina”, uma história de amor. “ Mulher Enrustida”, os desafios e as decepções da noite “ Hardcore”, bem explicativa, o mundo que morra. “ O Banco”, o assalto que sofremos. “ Censor”, a busca por justiça contra quem nos amordaçava. “Porque  Não”, uma crítica coesa a música brasileira.

Puta que pariu, um pouco mais de meia hora de uma verdadeira aula de rebeldia que todo mundo precisa, letras coesas e instrumental mais que bem trabalhado (contém demais ironia). Medalha de ouro para esta puta míssil sonoro. Eleito pela Rolling Stone o oitavo melhor disco de punk rock Tupiniquim. Se tu não conheces, tua medalha de foda corre um sério risco.

Wander Wildner, Claudio e Heron Heinz e Carlos Gerbase simplesmente conceberam uma verdadeira obra prima que deveria ser exibida nas escolas. Visceral, humano e cru como um verdadeiro disco punk.

Conheci essa bolacha ali por 94 ou 95, tinha lá meus quatorze pra quinze anos e realmente foi um estouro na minha cabeça de moleque, que na época recém saído das asas já estava nas ruas sendo um punk. Realmente foi uma época de muito aprendizado nas  universidades da vida.

Ainda hoje quando  vejo o pessoal da Stereo Vitrola (excelente banda) fazendo um cover contundente de “Surfista Calhorda”, ou vejo o Renato Punk um Wander Wildner Tucujú ( com uma personalidade estética similar mas diferente, os fodas vão entender) eu lembro dessa época.

O “Futuro é Vortex” é um disco essencial para quem se mete a entender o Rock Nacional, atemporal soa como se Ramones tomassem chimarrão e tomassem cerveja polar.

Vida longa ao Punk Rock.

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia.

Discos que formaram meu caráter (parte 51) – Metallica … “Kill ‘Em All” (1983) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Salve nação roqueira, o viajante dos sons volta do multiverso das notas e acordes com mais riffs e solos para o deleite soberbo de vocês.

A bolacha de hoje vem do longínquo ano de 1983, e é o álbum de estreia de uma das mais importantes bandas que já pisaram neste planeta, falo nada mais nada menos que de “Kill ‘Em All” do Metallica, senhoras e senhores todos de Pé.

Como já dito neste texto corria o ano de 1983, uma enxurrada de bandas estavam aparecendo no cenário mundial do rock and roll, varios estilos estavam bombando por ai, tínhamos metal clássico com suas vestes pretas e cruzes do avesso, o farofa, com roupas coladas e cabelos a lá poodle e claro o Thrash Metal, com suas músicas ensurdecedoras, rápidas e com várias influências do hardcore.

Formado em 1981 pelo baterista Lars Ulrich, que colocou um anuncio em jornal de anúncios de São Francisco ( O The Recycler), o Metallica ainda era só uma ideia perto do que é hoje, de tal anúncio brotaram James Hetfield (vocal e guitarra), Dave Mustaine (guitarra) e Ron MacGovney (baixo) que logo começaram a tocar e sair em pequenas turnês começaram a arrebatar fãs e chamar a atenção de nomes já consagrados na cena como por exemplo o Motorhead.

O primeiro registro em estúdio seria uma questão de tempo, mas não sem antes uma mudança radical na banda que trocou Ron MacGovney, que estava longe das pretensões de ser um rock star, por Cliff Burton e Dave Mustaine, que metia o pé na jaca e fazia merda por Kirk Hammet, essa segunda substituição deu pano pra manga, Mustaine chegou a partir pra cima de James, e de tão puto fundou o Megadeth, ainda bem.

Chega o ano de 83 e um mês aproximadamente após as mudanças já citadas acima o Metallica agora de cara nova e com uma sonoridade agressiva entra em estúdio no dia 25 de julho e concebe essa obra prima da porradaria generalizada, vamos a ela.

Dissecando a bolacha temos:

“Hit The Lights”, vamos para “The Four Horsemen”, a incrível “Motorbreath”, na sequência vem “Jump In The Fire”, a instrumental “(Anesthesia) Pulling Teeth, “Whisplash”, o clássico “ Phantom Lord”, “ No Remorse”, a incrível “Seek & Destroy”, e para fechar “Metal Milita”.

Batizado pelos membros da banda como “Metal Up Your Ass”, e rebatizado pela gravadora (que literalmente peidou na farofa com o título) como “kill ‘Em All”, este disco de 10 músicas revolucionou o jeito de fazer música extrema e colocou os caras do Metallica em um outro patamar nas estruturas do universo do Metal.

São um pouco mais de 50 minutos de uma sonoridade crua, visceral, porém bastante sincera, feita por uma banda que ainda era formada por uma molecada jovem que colocava toda a energia nas composições das letras e melodias, bundando para termos técnicos e métricas afins.

Com seu orçamento baixo o disco teve uma ótima recepção pelos fãs e critica especializada, sua tiragem de 15 mil exemplares, quadriplicou em vendas e no primeiro ano vendeu fácil 60 mil copias.

“Kill ‘Em All” é um disco foda, que tem que estar na discografia básica de qualquer um que se meta a entender de som porrada e de rock and roll, se tu não conhece nem cheira uma medalha de foda.

Com quase 40 anos de idade este disco não é só o marco inicial do Metallica e sim um monumento vivo na história do metal , alçando um mar de respeito e qualidade sobre Trash Metal.

Conheci este álbum quando ainda era bastante moleque, ali por 94 e digo que ele fez e ainda faz parte de muita coisa bacana na minha vida, em 2017 foi reconhecido pela revista Rollig Stone como o trigésimo quinto disco mais importante da história do metal.

O Metallica tem uma história de respeito na música e cenário mundial do metal, mas tudo isso que sabemos começou aqui.

Curtam esse disco e lembrem, escutem no volume máximo.

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia.

Discos que formaram meu caráter (parte 50) – “Pela Paz em Todo Mundo”… Cólera (1986) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Muito bem nação Rocker, o misterioso viajante dos sons regula sua nave e aparece de volta na vida de vocês para trazer mais míssil sonoro que abalou estruturas, mudou vidas e com certeza tocou pra caralho na trilha sonora de muitos, muitos de vocês, falo com lagrimas no rosto, com muito de:

“Pela Paz em Todo Mundo”, segundo trabalho dos caras do Cólera, salva de palmas pra ele.

Já corria o ano de 1986, o Brasil respirava os ares da democracia, os generais estavam largando o osso, e 25 anos de ditadura estavam começando a dar o adeus que tanto esperávamos que fiquem pra lá seus velhos cães e viva a liberdade.

Na ativa desde 1979 os caras do Cólera já tinham consolidado um papel marcante na cenário Punk nacional, com os excepcionais “1.9.9.2” (1984) e “Tente Mudar o Amanhã” (1985) e tinham passado o ano de 1985 colhendo os louros do reconhecimento pelas suas obras.

A banda andava muito na ativa, fazendo shows em conjunto com outras bandas colocando para frente o movimento que ajudou a fundar, moldar e que começava a ganhar corpo não só nas ruas de São Paulo, mas no país inteiro. As possibilidades de se poder protestar contra um sistema que te oprime e te reduz a nada já estava aberta, faltava a direção correta a se seguir. Ninguém, nem a famigerada matéria do Fantástico que pintou os punks como simples desordeiros sem cérebro , nem teu tio reacionário padrão que achava que aquilo tudo era só “folga de moleque mimado”.

Dentro deste contexto Pierre , Val e Redson entram em estúdio e com faixas simples e melodias boas conseguem dar um sentido ao movimento com um disco que antes de tudo é revolucionário do começo ao fim.

Para quem um dia chegou a acreditar que seria muito difícil levantar a voz em português contra as mazelas sociais, esta bolacha é um verdadeiro cala boca, com a sagacidade de poucos, Redson, consegue como poucos alocar em notas curtas versos simples e diretos sobre assuntos como militarismo, exclusão social, ecologia, violência urbana, autogestão,  dentre outros que incomodavam e incomodam ainda hoje muitos de nos dentro deste Brasil Varonil.

Balelas a parte , vamos dissecar a bolacha e mostrar a todos o que tem dentro dela:

O disco começa com a sugestiva “MEDO”, o medo mesclado com a raiva dos novos tempos que estão por vir, clamar por mudanças. “FUNCIONÁRIO”, o ponta pé contra a padronização em tudo. “ SOMOS VIVOS”, ao grito de “não” contra o que é imposto contra a sua vontade. “ ALTERNAR”, as correntes que te prendem precisam ser arrebentadas. “MULTIDÕES”, pessoas sem opiniões, correndo atrás apenas dos lucros. “DIREITOS HUMANOS”, a exclusão social de muitos. “GUERREA”, a negação a guerra imposta pelos governos. “VIVO NA CIDADE”, as más condições das cidades entupidas de pessoas. “HUMANIDADE”, a auto reflexão necessária para que haja uma verdadeira mudança. “ALUCINADO”, o caos da sociedade entorpecida. “CONTINÊCIA”, o que te espera nas forças armadas. “NÃO FOME!”, o básico para que se possa pensar. “ADOLESCENTE”, a liberdade para poder protestar contra o mundo. “PELA PAZ” , faixa título, te chama a pensar o que tu está fazendo pela paz.

São 14 faixas, que na moral vão te convidar a pensar. Putaquepariu que puta disco. Se tu não conhece não perde tempo. Tua medalha de foda corre um certo risco.

Este disco, transformou o punk rock nacional, tirando aquela pecha troglodita do “vamo quebrar tudo”, para algo muito mais inteligente, perder o rigor cru, que é uma marca registrada do movimento.

Como já disse é revolucionário do começo ao fim, sem uma vírgula a ser tirada, é um disco atemporal, que apesar de quase quarenta anos de sua gravação continua vivo, relevante e pode ser tocado hoje em dia, infelizmente.

Este disco vendeu 30 mil cópias na época de seu lançamento,  um marco ainda hoje no cenário independente, foi considerado o segundo melhor álbum de punk rock do Brasil pela revista Rolling Stone. E fez do Cólera a primeira banda Punk nacional a excursionar pela Europa.

Uma verdadeira obra de arte , conservando a qualidade singular do punk nacional que antes de tudo sempre foi um som de protesto.

Salve Redson, que se foi em 2011 mas deixou um grande legado.

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia.

Discos que formaram meu caráter (parte 32) – The Smiths – The Smiths (1984) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Salve nação rocker, estamos voltando para mais uma transmissão singular, de algum lugar perdido neste espaço sideral musical para o mais espetacular disco. Este viajante manteve-se profundamente ébrio para vir das mais longínquas margens do caos orgânico para trazer para vocês:

“The Smiths – 1984”, o primeiro disco da banda independente mais importante de todos os tempos. Palmas pra ele.

Formados na industrial e sombria Manchester em 1982, os Smiths galgaram seu espaço nas rádios pouco a pouco; o encontro fundamental entre as letras melancólicas de Steven Patrick Morrissey, com a melodia marcante de Jonh Maer (mais tarde rebatizado Johnny Marr) foi o caminho encontrado para muitos jovens cercados de sintetizadores e sobreviventes da onda punk e pós-punk que varreu a Inglaterra no começo dos anos 80.

Surrupiada da revista do Elton Tavares, em 1995

O lirismo exacerbado, uma preparação quase que mitológica nos acordes, competência acima de todos os integrantes (Mike Joyce – bateria e Andy Rouke baixo), fazia realmente a diferença para as bandas da época. Estourar seria questão de tempo.

Com som praticamente industrial – como falei logo acima – feito por exemplo pelo New Order (Grande banda – falaremos em breve), com sintetizadores e recursos eletrônicos tocando nas rádios e TVs da Inglaterra, os caras vieram com uma proposta totalmente diferente, som completamente galgado em harmonia, arpejos de guitarra sóbrios e a voz extremamente marcante uma postura singular do frontman, algo que foi novidade e não esperado para uma banda de rock na época.

Capa de caderno de 96 (8ª série) de Marcelo Guido

As letras falando do cotidiano dos jovens ingleses na época, uma recessão braba, desemprego, Manchester estava realmente um lixo. Nada mais inspirador do que a melancolia do dia-a-dia para que o poder da inspiração de quem vive isso na pele aflore e comece ferver para fora. Realmente o clima ajuda e muito.

Mas como uma banda tão trabalhada chegou em minhas mãos?? Eu, na época com 15 anos, mais brutal impossível, porradas e camisas pretas faziam parte do meu cotidiano, nunca, jamais me rebaixaria a escutar algo que não fosse porradaria e ainda o visual play (pra mim da banda) não colaboravam para que eu me interessasse em escutar. Aí entra em ação o Adriano Joacy, o “Bago” e o saudoso Helton “ He – Man”, que em uma tarde etílica me deram uma fita K7 com o primeiro disco da banda. Foda-se! Que presente!

Quem não conhece essas figuras, aí vai uma palhinha dos caras. Adriano Bago para os íntimos era uma espécie de curador. O cara tinha de tudo de som bom na casa dele (ou melhor, no quarto), em um período pré-jurássico, sem youtube e outros caralhos, era legal ter um brother assim. He-Man era outra figura singular no erário amapaense, dono de um humor sagas e de tiradas homéricas o cara tinha por característica sacar bastante de som. E com essas palavras me passaram o presente: “Escuta essa porra, tu tá muito Johnny Lydon”. (referencia clássica ao vocalista do Sex Pistols e do PIL).

Velhos, o que foi aquilo? Não tenho outra expressão pra dizer do que CARALHO! Como pude ficar tanto tempo longe disso.

Vamos deixar de delongas e conversa mole e vamos explorar logo essa ode à boa música.

Descascando a bolacha:

O disco começa com uma introdução bem trabalhada e fantástica para “Reel around the Fountain”, uma belíssima e melancólica canção sobre um término de relacionamento, uma linha marcante como uma carta de despedida para quem se ama. Vamos para “You`ve Got Everting Now”, sem perder a ternura, uma porrada, outra despedida mas onde se tem mais raiva que saudade. Chegamos em “Miserable Lie” , antevendo e muito o grunge, um misto de melancolia e porradaria colocados em doses milimetricamente pensadas e, sem dúvidas, programadas para ser uma canção inesquecível – a letra nos fala de despedida… Fique com os seus, eu ficarei com os meus.

“Pretty Girls Make Graves”: Garotas bonitas fazem túmulos; uma ode a baixa auto-estima. “The Hand That Rocks The Cradle”, uma baladinha para apertar o coração. “Stiil ill”, a dificuldade do dia-dia, “Inglaterra é minha e me deve sustento”, dúvidas recorrentes da juventude. “A mente governa o corpo …” “Hand in Glover”, uma fenomenal introdução de gaita. Amigos uma música sobre o amor perfeito.

“What Difference Does It Make”, a confiança depositada em alguém, que depois por motivos singulares sai de sua vida levando consigo seus maiores segredos. “I Don`t Owe You Anything”, baladinha perfeita para aquele sofrível domingo. “Suffer a Little Children” soturnamente maravilhosa, crianças sofrem. “This Charming Man”, a primeira música que eu realmente gostei dos caras, foi o single do disco e lançada em 1983. Eu sempre quis ser apenas um homem charmoso (risos).

Se você não conhece esta obra prima, por favor vá ao RH e entregue seu distintivo de foda, e não toque mais no assunto.

Medalha de ouro na categoria disco foda, um dos 100 maiores discos britânicos segundo o The Gardian, e a Rolling Stone o coloca entre os 100 maiores álbuns de estreia de todos os tempos.

Um disco foda, de uma banda foda, com dois caras fodas. Talvez nada igual tenha sido feito até hoje. Este disco muda vidas. Vai por mim. De repente, eu empunhava com orgulho uma capa de caderno feita a mão com uma foto do Morrissey, e tu tinha que ser bem escroto para ter essa coragem.

Esperar o quê, de uma banda formada pelo presidente do Fã Clube do The New York Dolls .

Algo tão espetacular, nunca deve ser esquecido; talvez por isso pagamos pau para Marr e Morrissey ate hoje.

Guardadas as devidas proporções, esse encontro foi mais importante que Lennon e McCartney.

*Marcelo Guido é Jornalista, Pai do Bento e da Lanna, Maridão da Bia.

**Este texto é dedicado ao He-Man, saudades eternas caro amigo Adriano Bago, uma das melhores almas que eu conheço.

Coisas que aprendi com Russo – Por Marcelo Guido

Foto: perfil oficial de Renato Russo no Instagram

Por Marcelo Guido

Lá se vão 25 anos da partida do cara que semeou o rock, embalou romances e construiu o caráter de muitos, inclusive deste que escreve.

Com russo aprendi que que realmente não temos  mais o tempo que passou, que somos  soldados pedindo esmolas e que somos as sobras da geração coca cola.

Aprendi que o gosto amargo fica realmente na boca, que o céu que já foi azul ficou cinza, e que no  espelho vemos um mundo doente.

Descobri que a tristeza se parece com a cocaína,  que ao fugir de casa queremos colo, perguntei que país é esse e acreditei que o Brasil é o país do futuro.

Perdi mais de 29 amizades , por conta de pedras nas mãos , me senti só,  e convivi bem com isso, pois dizem que a solidão me cai bem.

Foto: perfil oficial de Renato Russo no Instagram

Vi que nas escolas não tem personagens, que o fim do mundo já passou e que realmente o sistema é mau, mas a turma é legal. Realmente viver é foda.

Cansei de ouvir Freud e  Marx em mesa de bar e muitas vezes soube que alimento pra cabeça nunca vai matar fome de ninguém.

Tive filhos e repassei ” On The Road” pra eles, e muitas vezes eu não pertenço a ninguém.

Vi que o amor é bom, não quer o mal, não sente inveja. Que nas tardes queremos descansar , sem ligar pra quem guarda os portões da fábrica.

Não confundo mais a ética com éter,  e quando ele se foi eu só tinha dezesseis, mas o que de tão estranho se tem se bons morrem jovens.

Foto: perfil oficial de Renato Russo no Instagram

E mesmo dizendo que ainda é cedo, mesmo ficando com a saudade e pedindo explicações para o inventor do amor , nós vamos celebrar a estupidez de quem escreveu essas linhas.

Mesmo só aparecendo quando convém aparecer, nós sabemos quem é o inimigo, quem é você.

Salve Renato Russo!

*Marcelo Guido é jornalista, pai da Lanna Guido e do Bento Guido e maridão da Bia.

Discos que formaram meu caráter: Achtung Baby (1991) – U2 (30 anos do álbum) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Muito bem “sementinhas do mal”, lá vamos nós para mais uma etapa da nossa jornada musical. Vendo nada mais que belos discos, músicas inesquecíveis e momentos agradáveis. Iremos “descascar” mais uma bela bolacha do saudoso ano de “91”, não canso de lembrar vocês sobre a importância musical de 1991 (podem ler os outros textos), quando a natureza convergiu-se em inspiração e presenteou nós meros mortais com uma excelente safra de discos (mais fresco logo).

Sem mais delongas eu lhes apresento “Achtung Baby”. Sétimo disco (estúdio) do U2.

Antes de qualquer coisa, quero lembrar que não vou ficar naquele papinho deveras escroto de “Ah, o Bono vai salvar o mundo”, “Ele ama as criancinhas da África”, “Melhor banda do mundo”, esse papinho enche meu saco. Até porque todos sabem que a melhor banda são os Ramones (ahahaah). Vamos lá.

Os anos 80 tinham terminado e o U2 já estava consagrado mundialmente, discos como “Boy” (1980), “War” (1983) e principalmente “The Joshua Tree” (1987) já tinham feito isso pelos caras. Então oque fazer, quais forças para continuar, já se tem tudo o que se pode ter. No meio de tudo isso Bono magistralmente dá um susto em toda sua horda de fãs “Temos que partir – e voltar a sonhar tudo outra vez.” (1989). De quanto tempo seria a espera?

Aí chega “1991” e eles não iriam ficar de fora da festa. Com um título realmente simples, acredito que chega até ser tolo, retirado de filme. Os caras conseguem se reinventar e marcar um verdadeiro golaço.

Se antes eles eram os caras que representavam toda a fúria, agora vieram com uma proposta totalmente diferente. Deixando de lado toda aquela “Sisudez”, mudaram toda sua direção musical, incorporando elementos do Rock Alternativo, Música Industrial e porque não da famigerada Dance Music. Sim caros amigos eles voltaram mais obscuros, porém bem mais introspectivos, sim amigos era o U2 para as massas.

Eram tempos novos, “The Fly” (alter ego de Bono), estava de óculos escuros andando de limousine com fome ele queria conquistar o mundo.

A nova proposta chegou a chocar muitos puristas, que se acostumaram com a imagem revolucionária da banda. Mas logo ao ouvir os primeiros acordes de “Zoo Station” chegaram a conclusão que realmente aquilo valia muito a pena. Vamos deixar de onda e ir para faixas.

O disco começa a todo vapor com “Zoo Station” que teve o título inspirada em uma estação de metrô de Berlin, alguns acreditam que existem referências a “The Kids from The Zoo Station” (livro de Cristiane F, os fodas sabem quem é), vai para “Even Better Than The Real Thing” uma singela brincadeira com um slogan da “Coca-Cola”, extasia todos com “One”, uma das mais belas canções já executadas, fala de relacionamentos, fala de amor (uma de minhas músicas preferidas no vinil).

Depois chega em “Until The End Of The World”, simplesmente Judas conversando com Jesus, deixando aberta a qualquer um sua interpretação. Em “Who`s  Gonna Ride Your Wild Horses” uma força do Bono para o The Edge que passava por divórcio naqueles tempos. Já “So Cruel” fala como não a crença no amor verdadeiro, ou o desespero do parceiro para que o relacionamento não acabe. Tem também “The Fly”, magnífica parodia do rock star que eles queriam ser. A marcante “Mysterious Ways” o lado feminino de envolver um homem. Segue com “Tryn`To Throw Your Arms Around The World”, uma homenagem a um bar frequentado pela banda, quando os caras estavam nos EUA (nada mais justo, bar é bar). Por sua vez, “Ultra Violet (Light My Way) traz muitas metáforas românticas. Em “Acrobat” rola uma temática extremamente religiosa, como se você pudesse resolver todo caos que existe em sua vida. E termina tudo em “Love is Blindness” depressiva , algo como uma visão incorreta do amor. Na boa é ou não um PUTA DE UM DISCO FODA ??.

Fica redundante falar que esse verdadeiro míssil de emoções bombásticas vendeu mais de 18 milhões de cópias e foi premiado pra caralho. Clássico de primeira ordem.

Sim os caras, não perderam tempo e entraram relevantes nos anos 90, horas com uma bela bolacha dessas não seria diferente.

Hoje, há 30 anos e alguns meses após o lançamento dessa obra prima, ela  ainda consegue arrancar suspiros desse coração tosco e gorduroso que vós escreve.

Esse disco é grande, belo e foda, se você se mete a entender de Rock tenha esse em sua coleção. E não ligue para os papos furados do Paul Hewson. Se reinventar e continuar relevante é para poucos. Bem vindo aos anos 90.

*Marcelo Guido é jornalista, pai da Lanna Guido e do Bento Guido e maridão da Bia.

Discos que Formaram meu Caráter (Parte 45) – “The Stooges”… The Stooges (1969) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Muito bem moçadinha esperta, atuante e atenuante estamos de volta com nossa programação normal, a nave e a cabeça deram pane mas já estão recuperadas e prontas para o serviço. As ondas sonoras continuam muito loucas e o tédio escarlate já pode começar a ruir por que vem ai mais uma porrada sonora, com muito orgulho que trago para vocês:

“ The Stooges” primeiro álbum dos caras do The Stooges, todos de pé e máximo respeito.

Corria o ano de 1969, e o mundo fervilhava em explosões joviais, na França a molecada já havia bagunçado o coreto nas ruas um ano antes, e essa rebeldia que se espalhou pelo mundo, começava a dar muitos frutos positivos. O verão do amor em 1967, conhecido como o “verão hippie” com suas discussões sobre a vida e o por que devemos nos rebelar contra o sistema um verdadeiro caos positivo instaurado.

Dentro desse contexto as bandas de rock começaram entrar em uma fase nova, e os medalhões conhecidos mundialmente como o Led Zeppelin, Pink Floyd , e os Beatles que ainda bem já tinham conhecido o Bob Dylan (O fânio mais incrível do mundo) dentre outros já conheciam as coisas boas que o sucesso podia proporciona, era uma experimentação danada, um progressismo com viradas de bateria e solos intermináveis, uma viajem muito louca que para mim e muitos acabava deixando o Rock muito Progressivo, ou seja chato pra caralho.

Assim na cidade de Ann Arbor no Michigan, caras como Iggy Pop começavam a formar suas bandas , mas tinha um diferencial as letras e as melodias eram para as massas, temáticas comuns e nada muito complicado para se tocar assim o bardo recrutou Dave Alexander para o baixo e os irmãos Ron e Scott Asheton estava formada a espinha dorsal da banda que meteoricamente explodiria em popularidade.

As apresentações eram extremamente insólitas, com Iggy sujo de pasta de amendoim, carne crua e se cortando adoidado a galera ia a loucura, parte se identificando com as letras e outra só xingando a banda mesmo. A adoração por ídolos passava longe daqueles caras.

A banda foi a guerra e em um show em Detroit acabaram sendo vistos por Danny Fields , que tinha ido ver o MC5 (Banda boa pra porra, falaremos dela) e gostou de toda aquela insanidade e simplicidade apresentada por Iggy e seus garotos.

Fechado contrato entre Junho e Julho de 69 os caras entram em estúdio para imortalizar o que já apresentavam no palco, produzidos nada mais nada menos por John Cale do Velvet Underground. Tudo em cima, tudo na paz mas só tinham 5 músicas. Rejeitados pela gravadora que dizia precisar de mais material, precisaram de uma noite para escrever mais 3. Que foda!

Deixando as enrolações de lado, vamos a o que interessa e dissecamos a bolacha:

O disco começa com “ 1969” , a crítica sobre o que não ter o que se fazer, dane se se é ouro ano, o tédio é o mesmo. “ I Wanna Be Your Dog”, a submissão para alguém que se gosta, você a quer mesmo com todos os defeitos. “We Will Fall”, a luta contra seus próprios impulsos. “No Full”, a famosa ressaca moral depois dos excessos, quem nunca ?. “Real Cool Time” a expectativa pelo o que está por vir. “Ann” bela homenagem a pessoa amada. “Not Rigth” ela está certa, muitos acreditam ser para heroína outros para uma garota. “Little Doll” , homenagem para uma group.

Visceral, cru , escroto, reto e direto nada mais nada menos que um disco foda, foda demais.

Nem chegue perto de uma medalha de foda se ousar não conhecê-lo. Os caras simplesmente mandaram a merda o que estava sendo feito e colocaram a verve própria, mesmo que meteoricamente apresentaram ao mundo o conceito clássico do faça você mesmo.

O Rock and Roll não é e nunca foi erudito, é música de protesto, da massa, esses caras foram os que chegaram e mostraram como se fazer.

O disco não vendeu porra nenhuma na época, o que levou os caras pra Los Angeles e o mundo pode conhecer melhor o Iggy Pop, que antes era Iggy Stooges.

Reverenciado na lista da revista Rolling Stone como um dos 200 discos mais importantes de todos os tempos, foi a apresentação de “1969” e “I Wanna Be Your Dog” que ainda hoje são referências.

Se na época o rock sujo, cru e barulhento dos Stooges foi mal compreendido, a banda no decorrer dos anos foi influencia maior de caras como Ramones, Sex Pistols , The Clash, Mudhoney dentre outros e pelos serviços prestados esse disco e indispensável na coleção de quem pretende gostar de rock.

“THE STOOGES” FOI O PONTA PÉ INICIAL DO QUE CHAMAMOS DE PUNK ROCK.

*Marcelo Guido é jornalista, pai da Lanna Guido e do Bento Guido e maridão da Bia.

Discos que formaram meu caráter (parte 8) Cabeça Dinossauro- Titãs (1986) – Por Marcelo Guido (por conta dos 35 anos do Cabeça Dinossauro)

É gente ano novo, muita coisa para ser feita e muita coisa pra ser deixada pra depois. Mas vamos lá com nossa insólita viagem pelo mundo irreal no qual me coloco à disposição de vocês neste blog do agora municipal Elton Tavares.

O disco a ser tratado hoje se chama “Cabeça Dinossauro”, terceiro trabalho de estúdio dos paulistas Titãs. Chegou para nossas vidas no sexto ano da “Década Perdida”, ou para os mais saudosistas a “Década Divertida”, melhor falando de 1986.

Antes de tudo, é necessário dizer que o ano de 85 não tinha sido uma maravilha para os caras,  eles que já tinham feito a juventude cantarolar com “Sonífera ilha”, se divertir em “Televisão” e dançar agarradinho em “Insensível” (Faixas presentes nos outros discos da banda), agora tinham que lidar com estigma de “drogados e subversivos”.

Falo da prisão de Arnaldo Antunes e de Tony Bellotto por porte de heroína. De repente a banda engraçadinha formada por oito caras esquisitos (tinha até um ruivo) que alegrava as tardes de sábado no Chacrinha tinha caído em desgraça. A barra andava pesada como já disse, não dava mais pra ser uma banda “Pop”, os pais das garotinhas não gostavam mais deles, a família brasileira não os tolerava mais, promotores de justiça os utilizavam como exemplo em suas esdrúxulas sentenças. Pra onde correr agora?

A resposta veio tão forte quanto um soco no meio da cara, tão libertador como um chute na costela (quem desfere o golpe, quem recebe, sinceramente não sei se concorda comigo). O clima de “sem saber o que fazer” foi logo transformado em um belíssimo “Foda-se”, e esse clima nos proporcionou esse belíssimo álbum.

Estudando a Bolacha:

Bom a “BOMBA” no bom sentindo começa coma faixa titulo “Cabeça Dinossauro”, pra avacalhar logo só tem 3 versos, “Cabeça Dinossauro”, “Pança de Mamute” e “Espírito de Porco”, com uma sonoridade bem pesada é o abre alas (carnaval minha gente), pra todos verem que os caras estavam realmente putos, vai para sugestiva “AAUU”, que vem com porrada extrema do vocal de Sergio Brito, nos fala das regras que temos, ou não que respeitar e seguir “Esta na hora de almoçar, está na hora de jantar” está bela canção virou até trilha de novela, chega em  “Igreja”, uma verdadeira critica as instituições religiosas mas enfaticamente a igreja católica , causou furor dentro e fora da banda, Arnaldo Antunes que se dizia religioso não concordava com as criticas inseridas na canção e se retirava do palco quando a musica era executada no palco, e claro eles tinham que falar em “Policia”, escrita pelo ex- encarcerado Tony Bellotto faz criticas duras e ferozes contra a intuição de segurança, foi regravada anos depois pelo Sepultura, “Estado Violência”, nos faz pensar em nossa relação com as leis, sobre ate onde nos realmente somos livres para pensar e agir, ate onde vai nossa liberdade em uma sociedade corroída pela hipocrisia, “Face do Destruidor”,  com apenas 34 segundos é um porrada seca nos ouvidos e por ser tão rápida nem chegou as rádios, “Porrada”, saúda, parabeniza e enche de mimos os que fazem algo, e mostra o que merece quem não faz nada.

“Tô Cansado”, mostra o cansaço com a rotina, cansaço com o comum, o igual já não satisfaz mais o conformismo já era, “Bichos escrotos” executada pela banda desde 1982, veio a luz nesse disco, foi censurada nas rádios por um bipe sonoro no magistral verso “Vão se foder”, já era hora da terra dar lugar para os bichos escrotos, “Família”, escroteia com classe as relações familiares, sua família comum onde tem um bebê chorão, cachorro, gato, galinha onde as manias são comuns e a filha não pode fugir de casa, “Homem Primata” nos mostra a verdadeira realidade que vivemos, não fazemos nada de diferente do que os primatas já faziam criamos e destruímos no nosso dia-dia. E somos escravos do nosso “Capitalismo Selvagem”. Chegamos em “Dívidas” fala da nossa relação com nossas contas, como nossas vidas são baseadas em uma relação de “corre-corre” atrás de valores, como nossos momentos mudam quando não conseguimos ou quando conseguimos saldar nossos credores. Termina com “O que” que nada mais é que uma poesia de Arnaldo e é um divisor de águas na sonoridade da banda, batidas eletrônicas passam a partir dessa musica a fazer parte da vida da banda.

Esse emaranhado de emoções fortes, criticas coesas, e um foda-se generalizado, foi lançado sem nenhuma expectativa e acabou rendendo disco de ouro, virou clássico e trouxe do limbo os Titãs. Não se pode deixar de mencionar que os caras estavam afiados e que apostaram tudo no que queriam realmente fazer. Um Discão.

Dizer que o disco é punk pode parecer exagero, existem viagens por dentro do reggae (Familia), Funk (O que), batidas da tribo Xingu (Cabeça dinossauro), mas a possibilidade discussão sobre vários pilares da sociedade valeu a pena. Ninguém sabia o que aconteceria  com os caras a pecha de drogados, fracassados e incompreendidos ainda estava em cima. Depois de “Cabeça” o milagre se fez. Trata-se de um trabalho radical, feito sem pressão de mercado por caras putos e ariscos que estavam vivendo uma estranha realidade. O alto nível não cai em nenhum momento.

A partir de “Cabeça Dinossauro”, os Titãs passam a ser levados a sério. Considero este um dos melhores discos da minha vida. Bem vindo há os anos 80.

Marcelo Guido é Punk, Mario, Pai, Jornalista e professor. “Também não gosta de padre, madre e muito menos monta presépio”. 

*Republicado pelos 35 anos desse disco completados hoje. 

Discos que formaram meu caráter: 25 anos de lançamento do disco “Lavô tá Novo” – Raimundos (1995) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Salve moçada! Encarcerados em casa por uma boa razão, fiquemos ligados porque o bicho tá pegando! O viajante das notas, solos e riffs vem de longe com sua nave, munido de máscaras, álcool gel e sons para falar de mais uma bela bolacha sonora. Apertem os cintos e aumentem o som para:

“Lavô tá Novo”, o segundo trabalho dos caras dos Raimundos. Podem ficar de pé e aplaudir.

Corria o ano de 1995, o Brasil vivia a ressaca do tetra, Romário era o melhor do mundo e caía nos braços da nação rubro negra, o Real valia pra caralho e o povo tinha elegido o ministro responsável pela bonança; eram os primórdios do governo FHC.

No campo musical, o rock estava batendo de frente com axé e sertanejo nas rádios e na televisão, uma enxurrada de bandas boas de todo lugar do Brasil fazia a molecada bater a cabeça sem parar, nas festas, bailes e afins.

Vivendo os louros conquistados pelo lançamento do primeiro disco (que já falei aqui), os Raimundos viviam a tensão do segundo disco. Sim, o fantasma da cobrança assombrava os caras; é difícil lançar um trabalho tão relevante quando o primeiro é muito bom. Seria os Raimundos uma banda de um disco só? A história provou o contrário.

Entre junho e setembro de 1995, Rodolfo, Fred, Digão e Caniço entraram em estúdio, cheios de moral com a gravadora e recrutaram Mark Dearnley, que já tinha no currículo Ozzy, AC/DC e Motorhead. Ou seja, o som seria porradaria novamente.

As letras magistralmente escatológicas, com a mistura do forró com hardcore e a participação do sanfoneiro Zenilton deixam claro que essa era a marca da banda: ousar sempre.

Em 2 de novembro de 1995, o disco saiu para ganhar o imaginário coletivo e consolidar a banda como um dos expoentes da nova safra roqueira no país do futebol e carnaval, os Raimundos realmente tinham vindo para ficar.

Deixemos as chorumelas de lado e vamos logo dissecar esse belo apetrecho musical:

O disco começa a mil por hora com “Tora Tora”, com um riff seco no começo e cheia de referências à maconha, ensinava a manha da ariranha que proibia de contar pro pai, e diz que vem ele não vai. “Eu quero ver o oco”, gíria dos calangos do cerrado para confusão, história de opalão. “Opa! Peraí, Caceta”, ela gosta do saco grande porque quando balança enche o cu de terra, menção honrosa ao herói Sidney Magal. “O Pão da Minha Prima”, cover do Zenilton, homenagem a prima gostosa. “Pintando no Kombão”, história de uma certa perua que carregava as bandas de Brasília. “Bestinha”, saga de uma mina novinha, mas muito pra frente.

“Esporrei na Manivela”, clássico da 5º série. “Tá Querendo Desquitar”, outro clássico do Zenilton, a história de seu Vavá com uma nova roupagem. “Sereia da Pedreira”, a saudade plena daquele amor sujo e escuso e gostoso. “I Saw You Saying (That You Say That You Saw), a dificuldade de se encontrar a Madonna, e não saber falar inglês. “Cabeça do Bode”, uma larica selvagem, tem a participação do X. “Herbocinética” uma homenagem à erva.

Putaquepariu que disco foda! Redondinho da primeira à última música.

Com certeza um dos discos que eu mais ouvi em toda minha vida e, com certeza – de novo, moldou não só o meu caráter, mas o de muitos que ouviram.

Mais de 400 mil cópias vendidas logo de cara; se algum cristão não conhece nem deve sonhar com medalha de foda.

Este disco mostrou que os Raimundos não eram aquela banda engraçadinha que seria só uma febre de um verão; afastou os caras do grande público pop, que se pauta em modinhas (sorte dos Mamonas Assassinas que ficaram com eles), tornou os moleques de Brasília uma consolidada banda de respeito, e provou sim que os caras realmente tinham um caminhão de hits.

Tanta referência à maconha, quase fez o disco se chamar “Dedo Amarelo”, sinceramente não entendi (risos).

Um dos melhores discos de rock já feitos no Brasil; didático, aprendemos nele que o coletivo é muito bom pra nossa raça, que em inglês ovo é egg , que a rainha do pop não entende uma palavra em português, a manha da ariranha e que falar da vida alheia é feio.

Hoje, há exatos de 25 anos e um dia de seu lançamento, continua sendo um dos pilares do hardcore.

É por isso que os Raimundos nunca vai se acabar.

Escute no volume máximo.

* Marcelo Guido é jornalista. Pai da Lanna Guido e do Bento Guido. Maridão da Bia.