Discos que Formaram meu Caráter (Parte 35) – “Lado B Lado A” …O Rappa (1999) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Muito bem moçada Rocker que nos acompanha nessa linda, longa e salutar viagem muito louca pelas ondas sonoras e discos revolucionários! Diretamente de sua nave, o viajante da música vem trazer mais um grande e indiscutível clássico. Apresento a vocês:

Lado B lado A – terceiro trabalho do Rappa.

Palmas pra ele!

Corria o ano de 1999 e a boa turma d’O Rappa, colhia os bons frutos conquistados com o esplendoroso “Rappa Mundi” (Já falei desse por aqui) e encontravam-se tranquilos já extremamente consolidados como banda de respeito no cenário nacional.

Visto isso, a intenção não seria de relaxamento; pelo contrário, Yuka, Falcão, Lauro, Xandão e Lobato, estavam cada vez mais se esmerando no discurso de ordem e procurando uma evolução musical que talvez nunca tenha sido vista por essas bandas. Não era hora daquele disco experimental que geralmente as bandas fazem para continuar um “tour” eterno falando sempre mais do mesmo.

Os caras preparavam uma surpresa para os fãs da banda; algo que além de ser ouvido, pudesse ser pensado. Nada muito progressivo, para ser chato e não tão difícil nas letras, para não passar batido. Era um disco para se viver, sentir.

Mesmo sendo reconhecidamente uma banda rock, os caras nunca esconderam suas influências ligadas ao Hip Hop, samba e afins; o que para muitos poderia parecer uma heresia, a rapaziada conseguia unificar e assim fazer algo próprio. As letras, magnificamente bem dosadas e falando do cotidiano fantástico do cidadão comum, que vive nas inúmeras comunidades cariocas e, por que não, nos muitos “brasis” que se espalham por todo nosso território.

Eu tinha 19 anos quando tive contato com este disco, e realmente pirei com os grooves e batidas eletrônicas misturadas a baixo, guitarra e bateria – muito bem trabalhados pelos caras. A poesia de Yuka, estava afiada e não teria como dar errado.

O disco é pancada do começo ao fim. Deixando o papo furado, vamos logo ao que interessa e dissecar este disco:

Começamos com uma batida suave que vai para uma porrada sonora em “Tribunal de rua”, uma batida policial intimidante, todos do bairro já conhecem essa lição. “Me Deixa”, estar de bobeira querendo apenas se divertir, deixar de lado o que te oprime. “Cristo e Oxalá”, o encontro de suas entidades positivas, falando a verdade, mostrando que o que salva é realmente a cultura e a fé. “O que sobrou do céu”, o dia-a-dia de quem é realmente excluído, vítima de uma opressão. “Se não avisar o bicho pega”, o sempre ‘Estar ligado’ para não ficar para trás. “Minha Alma (a paz que eu não quero)”, o comodismo, aquilo que não te atinge, não faz parte do teu cotidiano, não te interessa. “Lado B Lado A”, as incertezas diárias, desafios diários, a necessidade de ter o corpo fechado ou ser um guerreiro para poder passar por isso. “Favela”, ode a todas as comunidades, da onde pulsa o sangue e movimenta a cidade, homenagem aos grandes do samba. “O Homem Amarelo”, a ida para o desconhecido, mas central do ‘buzum’ fala outra língua.

“Nó de Fumaça”, a esperteza e sagacidade necessária para sobreviver às dificuldades. “A todas as Comunidades do Engenho Novo”, um samba rock, estilo Jorge Ben, um abraço nas comunidades, onde tem coisa boa e ruim. “Na palma da Mão”, o silêncio constrangedor depois de um tiroteio.

Uma bolacha realmente fantástica, onde crítica social e brasilidade são recorrentes em todas as letras e sons, sem o vitimismo geralmente exacerbado neste tipo de obra.

Medalha de ouro na categoria disco foda.

Este foi o trampo que consolidou Marcelo Yuka como um dos maiores letristas críticos desse país e mostrou o total comprometimento da banda com as causas sociais.

Eleito pela revista Rolling Stone como um dos cem maiores discos de música brasileira.

Um disco ímpar, que rendeu duas obras primas, se formos falar de clipe. Os vídeos de “O que eu sobrou do céu” e “Minha Alma” levaram o Brasil a outro patamar quando o assunto é esse.

Se você não conhece esse este trabalho, não tem gabarito para empunhar a medalha de foda, fique na sua e saia fora.

Por que no TRIBUNAL DE RUA da vida, você não pode dizer ME DEIXA, muito menos esperar por CRISTO E OXALÁ, ou o que vai te restar é somente O QUE SOBROU DO CÉU, meu brother SE NÃO AVISAR O BICHO PEGA, e MINHA ALMA, não é LADO A LADO B da vida, ela é de FAVELA. Sou HOMEM AMARELO dou muito NÓ DE FUMAÇA nas dificuldades da vida e agradeço de coração A TODAS AS COMUNIDADES DO ENGENHO NOVO, tendo levar minha história na PALMA DA MÃO.

Este texto é dedicado a João Moraes, Ramon Lamoso, Fabricio Ofuji, Fábio Evangelista, Gustavo Sousa Cruz, Rodrigo Ramthum, Alex Rodrigues, Eduardo Nicholas e Vinicius Loures. Todos meus irmãos de Brasília.

* Marcelo Guido é Jornalista. Pai da Lanna Guido e do Bento Guido e Maridão da Bia.

Discos que Formaram meu Caráter (Parte 34) – “… And out come The Wolves” – Rancid (1995) – Por Marcelo Guido

 


Por Marcelo Guido

Muito bem companheiros Rockers perdidos mundo afora, seus escarlates seres da não-obviedade, o mensageiro dos discos e sons do universo paralelo vem com sua nave muito louca trazendo para vocês mais um disco que marcou minha vida e provavelmente a vida de muitos de vocês. Com vocês :
“…And out come The Wolves” – Rancid (1995)! Palmas pra ele!

Formada em 1991 em Albany, na Califórnia, o Rancid já figurava como uma das principais influências da nova fase do Punk Rock, junto ao Bad Religion, The Offspring e Green Day: a turma da lendária gravadora Epitaph Records, sem dúvida alguma, a nata da boa música.

Vindos de dois seminais álbuns, (1993) e “Lest´s Go” (1994) os caras estavam na pressão para manter o caldo fervendo. Um eventual fracasso poderia colocar os planos de Tim Armstrong e Matt Freeman por água abaixo. Com as guitarras em riste, os caras abusaram da criatividade e lançaram os singles “Roots Radicals” e “I Wanna Riot”. Com boa aceitação do público, saíram em uma grande tour se apresentando nas grandes cidades americanas. Tudo parecia convergir bem para que a linha continuasse reta rumo ao sucesso.

Com letras que falam do dia de pessoas comuns, vitórias pessoais e desafios que aparecem no decorrer da vida e crítica social, os caras conseguiram arrematar uma multidão de fãs em toda parte.

A Juventude clamava por isso no rock and roll; era a nova virada do punk, arquitetada por caras que deixavam os dragões alados para o metal e a depressão para as grandes bandas conceituadas e surfavam em uma nova onda; o legal era falar de coisas comuns, mais Punk Rock impossível.

Eu, então com 15 anos, ser em formação, camisa preta e All Star, comecei a prestar mais atenção nisso; acabei chegando a este disco sem conhecer a banda, sem informação nenhuma. Me deparei com o disco na seção de “Rock” no estande de disco da Domestilar, loja onde um dia foi o Tecidos do Povo (momento histórico e nostálgico ) e confesso que comprei no impulso – no esquema “pela capa” -, junto com o “ Vamos invadir sua Praia” do Ultraje a Rigor (já falei desse).

Ao escutar os primeiros acordes de “Maxweel Murder”, a energia pulsante dos caras me contagiou e eu, a partir daquele momento, já me considerei fã da banda. As levadas de baixo e guitarra junto a uma letra bem trabalhada, que me fez pesquisar bem e, inclusive, tentar melhorar meu inglês de quinta série, junto a atitude dos caras que balanceavam um Ska bem digno e um punk contundente. Nada mais Hardcore possível.

Vamos ao que interessa e destrinchar este belo artefato de boas canções :

“Maxwell Murder”, história de um velho punk que morreu assassinado, mas que não perdeu sua influência. “The 11th Hour”, a hora de acordar para a realidade, todos temos esse momento. “Roots Radicals” , levada um pouco mais para um Ska , com a vivacidade do punk clássico. “Time Bomb”, você pode se tornar uma bomba relógio quando o conformismo toma conta da sua vida. “Olimpya WA”, a volta para sua cidade, uma ode aonde você se sente realmente seguro. “Lock, Step & Gone”, o sentimento de que você pode fazer alguma coisa, coisas quietas geralmente escondem o errado. “Junkie Man”, o problema de quem convive com elas, as drogas. “Listed M.I.A”, a vontade de desaparecer dos problemas. “Ruby Soho”, o término de relação sempre leva um pouco dos dois. “ Daly City Train”, a historia de Jackyl, que era um artista completo e não teve reconhecimento em vida. “Journey To The End Of The East Bay”, a história que remete a muitas bandas, que mesmo com muita força de vontade não encontram o sucesso, mas fazem por diversão. “She`s Automatic” , história de amor, um cara que encontra uma garota perfeita . “Old Friend”, a preocupação com os que realmente importam. “Disorder and Disarray” , quando não se intende o que está se passando, o por quê de tanta busca por poder, grana e afins. “The Wars End” , a incompreensão por parte da sociedade, o diferente não comum geralmente assusta. “You Don`t Care Nothin” , a importância que damos para quem realmente não merece . “As Wicked”, pequenas observações de histórias cotidianas, a sua pode estar presente. “Avenues and Alleyways” , a descoberta da onde vêm seus problemas, agora procure resolver todos. “The Way I Feel About You”, desculpas são algo desnecessário quando se quer mudança .

Um disco raivoso, seguro e extremamente sincero. Não tinha como dar errado.

Lançado no dia 22 de agosto de 1995, figurou logo entre os 40 mais da lista da Billboard .

Um Álbum que já nasceu clássico. Com momentos do mais puro e revivalista punk real. Sem ser cometido, não deixa nunca de ser um disco de puro fervor underground; a bolacha está qualificada na lista da revista Rock Hard dos 500 álbuns de rock e metal de todos os tempos .

Se você não conhece, corre atrás. Tua medalha de foda corre risco.

A arte da capa é uma homenagem ao Minor Threat (Banda super foda). O nome é um epígrafe de um dos poemas presente no livro “The Basketball Diares” de Jim Carroll, (vivido por Leonardo DiCaprio nos cinemas) .

Uma bolacha que começa bem, a partir do nome, capa, letras e, claro, no som e atitude. Punk em tudo.

Um disco realmente fundamental feito pelo Rancid, uma banda que abre portas.

Quando a mesmice tomar conta da música, o Punk Rock sempre vai estar a postos para mudar o cenário

Lembro que apresentei este disco pro Antônio Malária, e o bicho pirou no som. Ainda bem que ficamos brothers.

Marcelo Guido é Jornalista. Pai da Lanna Guido e do Bento Guido . Maridão da Bia.

Discos que Formaram meu Caráter (Parte 33) – Engenheiros do Hawaii – “Longe Demais das Capitais” (1986) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Muito bem meninos e meninas!

Estamos de volta do mundo incrédulo, vagando por ondas muito loucas – mas extremamente sonoras – com a cabeça a mil neste Brasil tropical que – sei lá por que caralhos – está a ficar conservador demais da conta para trazer a vocês mais um discão.

Apresento a vocês diretamente do Rock Grande do Sul:

“Longe Demais das Capitais” – disco de estreia dos caras dos Engenheiros do Hawaii. Palmas pra ele.

Já corria o ano de 1986: a nossa democracia estava jovial, os ares de liberdade sopravam por essas bandas e nossa juventude ainda respirava os bons fluidos trazidos pelas grandes atrações do “Rock in Rio”. Nossa jovem e democrata nação estava banhada pela influência rock and roll… Bons tempos aqueles.

Uns caras da faculdade de arquitetura da UFRGS, que já faziam um som contundente e já apresentado na grande coletânea “O Rock Grande do Sul” de 1985 (corra atrás desse disco), foram chamados nos acréscimos pra essa empreitada, só entraram pela desistência de uma das bandas vencedoras do concurso que escolheu as bandas do disco (Replicantes, Garotos de Rua , TNT, De Falla). Consolidados como banda Gessinger Licks e Maltz, eles preparavam uma verdadeira porrada sonora. E o que esperar de uma banda com nome desses? É, amiguinhos… a rixa com os estudantes de engenharia que usavam bermudas de surfista batizou a banda. Muito inspirador por sinal.

O rock fervia no eixo Rio-São Paulo, e não seria diferente no sul. Um disco gravado praticamente por acidente – só foi viável depois do estouro de “Toda forma de poder” e “Segurança” presentes na coletânea sulista. Algo que poderia ficar só pra lá, acabou pegando o país inteiro de “cabo a rabo”. Também pudera; quem conhece esse míssil sonoro, sabe do que estou falando.

As influências marcantes do “The Police”, eram características dos bons ventos vindos da Inglaterra. O lirismo impressionante das letras compostas por Humberto são e sempre serão uma marca consolidadora desse disco; ele realmente chegou para ficar e fixar os caras no panteão das grandes bandas nacionais.

Crítica social, amarrada de forma inquestionavelmente envolvente pelos caras, não tinha como dar errado.

Conheci este disco ainda bem moleque (acho que deveria ter uns nove anos), não me lembro por qual influência. Só sei que o mesmo faz parte da minha vida e, com certeza, da vida de muitos que agora estão lendo essas frases e parágrafos.

Vamos ao que interessa e esmiuçar esse bombardeio de boas canções:

O disco começa com tudo, logo em “Toda Forma de Poder”: uma raiva incrédula sobre o controle e a passividade, a inércia de um povo que, sem posicionamento político, sem ideais vive em um comodismo. “Segurança”: ganhou versão em inglês, interpretada pelo grande Nei Lisboa, com as bênçãos do excepcional Manito, fala das inseguranças em um relacionamento, você realmente precisa de alguém que te dê segurança e não te troque por um escroto de carro importado. “Eu ligo pra você”: a passividade de um relacionamento vivido a três. “Nossas Vidas”: a mais influenciável The Police do disco, chega a ser parecida com os Paralamas do Sucesso. “Fé Nenhuma”: um ralho visceral aos rebeldes sem causa. “Beijos pra Torcida”: crítica ao extremo, a preocupação com o rumo que as coisas estão: guerra iminente (fique com a letra, não se deixe levar pelo som alegre). “Todo Mundo é uma Ilha”: uma bela canção de amor ao avesso. “Longe Demais das Capitais”: a cara do disco, nada por menos batiza o álbum. “Sweet Begônia”: rejeição e insistência, quem nunca? “Nada a ver”: na carência, não há nada a perder. “Crônica”: uma reflexão pessoal sobre tudo o que está errado em nossa volta. “Sopa de letrinha”: trilha sonora de novela (Corpo Santo), uma paixão quase adolescente, algo doce porem destrutivo.

E aí, quem se atrever a dizer que não conhece este disco tem mais é que pegar a medalha de foda e enterrar no panteão da vergonha.

Sem dúvida alguma um dos melhores álbuns do rock nacional. Este disco é atemporal. Seria lindo se fosse lançado nos dias de hoje. Este disco foi o começo da consolidação de Humberto Gessinger como um dos grandes poetas do Rock Brazuca.

Impressionante como o fascismo fascinante ainda hoje deixa a gente ignorante fascinada.

*Marcelo Guido é Jornalista, Pai da Lanna Guido e do Bento Guido, Maridão da Bia.

“Não foi fácil esse fim de semana…”

Discos que formaram meu Caráter – (Parte 31) – Afrociberdelia – Chico Science e Nação Zumbi (1996) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Salve moçada do bem!

Dentre destinos lógicos ou ilógicos de um mundo repletamente miraculoso, eis que este viajante retorna.

Com a vitrola completamente restaurada e com significância maior que a obviedade escarlate, volto das profundezas com minha nave sonora. Chega de papo e vamos ao que realmente interessa!

Abram alas para mais um discaço que realmente é de suma importância para mim e com certeza para muitos de vocês. Aumente o som para…

Afrociberdelia. Todos de pé …

Corria o ano de 1996, e a música brazuca estava realmente já tomada por feras; a juventude da época estava se esbaldando em muita coisa boa.

Tínhamos o Planet Hemp que já era consolidado como um grande nome; Os Raimundos eram o suprassumo da nova rebeldia; Charlie Brow Jr, com o chorão mandado ver em tudo que é lado e o O Rappa, fazendo a sempre boa e pontual crítica social que nos gostávamos e tínhamos que saber.

Vindos de outro eixo, deveras esquecidos, uns caras de Pernambuco (sim o Nordeste é Rock!) chegavam para abalar estruturas e cabeças por todo o solo brasileiro.

Curtindo louros do ótimo, Da Lama ao Caos (safra de 1994) – que vou falar em outra oportunidade -, os caras tinham consolidado o manguebeat e passavam pela pressão do segundo disco. Nada melhor que voltar às raízes e preparar algo realmente como gostamos de dizer hoje em dia: Raiz.

O peso constante do que a banda representava no palco, agora poderia ser degustado de forma condizente onde o ouvinte poderia sentir a energia dos tambores, rabecas, cocos misturadas à guitarra e ao baixo, à bateria, aos grooves e a porra toda. Um verdadeiro suco de brasilidade e história nordestina.

A poesia de mestre Salustiano, misturada com Jorge Mautner, junto com as letras de Chico de Assis deu uma aura diferente a tudo isso que estava proposto no disco. E caiu como uma verdadeira chuva de sobriedade na cabeça de gente como eu – na época só mais um escravo do rock internacional – que realmente olhava com aquele preconceito juvenil pra tudo que parecia diferente. Ainda bem que a música abre portas.

Vamos a uma verdadeira autópsia da bolacha:

“Mateus Enter” – Abre alas na porrada, anunciando a todos quem estava chegando. “Cidadão do Mundo” – Mostrava quem era a nação, e dizia que ali não existia nenhum besta. “Etnia” – A mistura latente de todas as nossas raças formadoras, mostrando a mistureba que somos. “Quilombo Groove” – Instrumental, sem deixar cair a potência. “Macô” – Mostra com outros olhos o interesse. “Um passeio no mundo livre” – Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar. “Samba de Lado” – Uma ode ao samba, o ritmo africano mais brazuca que existe. “Maracatu Atômico” – Releitura excepcional de um clássico. “O encontro de Isaac Asimov com Santos Dumont no céu” – Onde mais o firmamento e desejo idílico soberbo de voar iriam se encontrar? “Corpo de Lama” – Que o sol não segue pensamentos e, se o asfalto for amigo, continuo caminhando. “Sobremesa” – Borboletas se equilibram no espaço, tais como pensamentos. “Manguetown” – onde iremos, onde estamos, aceitar ou não a realidade. Somos seres pensantes, independente da situação. “Um satélite na Cabeça” (Bitnick Generation) – Andando por cima da terra, controlando seu próprio espaço é onde você pode estar agora. “Baião Ambiental” – Instrumental pra relax. “Sangue de Bairro” – Baile Perfumado. “Enquanto o Mundo explode” – somos batizados pelo batuque. “Interlude Zumbi” – Onde o pensamento apareceu pela primeira vez no mesmo lugar. “Criança de Domingo” – Homenagem a o domingo, dia morto “Amor de muito” – A inebriante espera pelo amado (a). Fecha com a elementar e instrumental “Samidarish”.

Um verdadeiro míssil sonoro nos ouvidos. Medalha de ouro na categoria disco foda.

Esse artefato de boa música, quebrou barreiras com sua singularidade, mostrou que o legal era tocar em Recife, remete a vanguarda, apenas os gênios tem a coragem de fazer algo assim. E Chico era Gênio.

Largar as batidas americanizadas e fazer algo brasileiro e perspicaz é algo que necessita esforço, inteligência e ousadia. Tal qual um drible de Dener na mesmice.

Este foi o último trabalho de Chico Science, sua vida nos foi retirada de maneira esdruxula, por que não imbecil. Mas sua arte é e sempre será eterna.

Salve Chico! Salve a Nação Zumbi!

Marcelo Guido é Jornalista, Pai da Lanna e do Bento …Maridão da Bia.

Fui no mangue catar lixo, pegar caranguejo e conversar com urubu.”

Discos que formaram meu caráter (parte 11) – Ramones – Ramones (1976)

 
E ai amiguinhos, como vão vocês? Espero que bem.
 
Bom sem muitas delongas, vamos ao que interessa, de forma crua, visceral e como pede a rapidez e a simplicidade dos três acordes lhes apresento: RAMONES, disco homônimo da grande banda de New York, percursora do punk que foi gravado em 1976.
Na corrida desde 1974, fazendo shows pelo underground nova yorkino, mas precisamente no histórico “pub” CBGB, não demoraria muito para  os Ramones começarem a chamar atenção da indústria fonográfica. Os caras assinam em 1975 com a obscura Syre Records e já em 76 nos brindam com o primeiro registro do punk rock.
 
Com 29 minutos de duração e um orçamento pífio algo em torno de U$ 6.400 (naquela época as grandes bandas gastavam milhões de dólares nas produções de seus álbuns), é um dos discos mais influentes da história do rock em todos os tempos.
 
Dado como uma incerteza comercial por não ter feito sucesso nenhum nos EUA, o disco tem como principal particularidade mostrar, que o rock é cru, e não erudito. O rock estava chato, com muitos solos intermináveis de guitarra, o caminho poderia ser tenebroso, é como costumo dizer, “Progressivo falhou, graças ao Ramones, em seu nefasto objetivo de acabar com o rock”. Graças a esse Lp (saudosismo por minha conta) os caras foram parar em Londres. E bandas como The Clash e Sex Pistons chegaram à conclusão que não estavam sozinhas e puderam dar a cara tapa.
Uma simplicidade básica caracteriza o disco do começo ao fim, coisa difícil em uma  época onde histórias de dragões solos intermináveis de guitarra (oh, coisinha chata) e epopeias épicas eram uma constante no cenário (Chupa  Led Zeppelin). Os caras simplesmente desmontaram tudo e deixaram somente oque realmente interessava. Ou seja, atitude e bom som. Apesar da curta duração das musicas, a lembrança tocante que nos faz lembrar o rock dos anos 50 dão certo ar polido e saudosista e por que não uma dose de “doçura” nas melodias. As letras falam de coisas banais, que poderiam acontecer comigo ou com qualquer um de vocês, por isso é tão mágico, que chega ate a ser comum.
 
Dissecando a bolacha:
 
O calhamaço ferrenho é agressivo começa com Joey berrando na sensacional “Blitzkrieg Bop”, que fala dos ataques nazistas na segunda grande guerra, nos apresenta ao velho e bom “Hey ho, lest go” grito de chamada para batalha, vai para insanidade juvenil de “Beat On The Brat”, quem nunca quis bater em um moleque com um taco?
 
 Chega em “Judy is Punk”, história de amor deveras bizarra, de um punk e uma anã, trava tudo e um relaxada em “I Wanna Be Your Boyfriend”, baladinha de amor, o cara só queria uma namorada, nos leva a “Chain Saw”, o que o tédio e uma serra elétrica não podem produzir no Texas? Fala sobre o prazer de cheirar cola (ops) em “Now I Wanna Snif Some Glue”, avisa que existe algo obscuro em porões na singela “I Don`t Wanna Go Down To The Basement”.
Segue com Babacas e mais babacas em “Loudmouth”, esculhambando com CIA (temida central de inteligência americana) em “Havana Affair”. “ Listen to My Heart”, nos apresenta ao velho e bom 1,2,3,4… (Dee Dee, berrando), “53rd And 3rd”, biográfica, fala dos tempos que Dee Dee Ramone teve que se virar como michê nas ruas de Nova York, “Let`s Dance”, um clássico de David Bowie  nas voz de Joey. Joey grita oque não quer em “I Don`t Wanna Walk Around With You”, e chega ao final com  “Today Your Love, Tomorrow The Word”, como podemos dizer, uma coisa de cada vez.
Com todo esse universo, juvenil e caseiro, os caras abriram as portas para muita gente. Confesso que o Punk Rock me atrai nisso, na simplicidade. Bom para os que se atrevem a entender de rock, tem que passar por isso.
 
Os magrelos de Nova York tem que ter um espaço relativo em sua estante ou em seu computador (tempos modernos esses).
 
Com capa em preto e branco, simplicidade a risca, conteúdo altamente inflamável, “Ramones” (1976) é o documento oficial do punk.
 
E aprendam, sem querer ser repetitivo: “Toda vez que o Rock ficar chato, vai recorrer ao punk  para se salvar”. RAMONES FOREVER!
 
Marcelo Guido é punk, pai da Lanna e Bento, marido da Bia, jornalista e professor.

THE CURE – São Paulo (06/042013): minha visão sobre algo realmente histórico (por Marcelo Guido)

 
É realmente impressionante como seguimos nossas vidas dando importância a fatos, histórias, mensagens e como a música esta relacionada a isso. No mundo perfeito, acredito, a vida teria trilha sonora.
Passei por mais um acontecimento marcante em minha trilha imaginaria. O THE CURE, resolveu botar as caras por aqui depois de exatamente 17 anos, um hiato relativamente grande para uma banda desse quilate, os puristas vão dizer que “Ha são uns mercenários”, “estão no limbo (tá a igreja já disse que isso é baboseira), e vem tirar dinheiro dos trouxas”, “tá velho, esquecido e vem fazer bestas felizes”. Foda-se! Para mim, apenas palavras ao vento. 
Beleza, 17 anos é muito tempo, muita onda, muita coisa. Tornei-me pai, me apaixonei varias vezes e casei, ou seja, vivi. Mas curiosamente, o sentimento pela banda não sofreu nenhum abalo.
 
Lembro-me dos saudosos anos 90, não serei falso em dizer que “há gostava desde os anos 80”, não, conheci a banda através de “Staring At The Sea”, aquele mesmo, o popular disco do “velho na capa”. O ano era 1993, e eu, na época, um amante do som pesado, me encantei com toda poesia tortuosa daquela banda do cara que “usava batom e tinha cabelos desgrenhados”. É realmente soava meio estranho alguém como eu escutar aquilo.
Quando soube que os caras viriam por aqui de novo, me lembrei de todo desespero que senti quando não consegui velos no “Hollywood Rock”, naquela época, eu com 16, não tive como ir. Jamais deixaria outra oportunidade passar.
 
Mas vamos lá, o show prometia muito, fãs sedentos querendo ver o que foi realmente marcante para todos (ou a maioria), pais, filhos e encontrei até um avô com netos (se tem algo que junta gerações é o rock). Todos lá querendo ver o senhor Robert Smith com sua trupe, elevar ao máximo suas notas musicais, colocar em dia sua guitarra e como não esperar pela sua peculiar “dancinha”. Eu era um desses caras por lá.
O show começa sempre por cima, “Open”, nessa hora, nem eu acreditei que estava lá, e foi caminhando por uma sequencia incrível de hits “oitentistas” , “noventistas” (atenção Cults de plantão)  pra não deixar nenhum tiozinho (já me incluo nessa categoria) botar defeito.
 
Chorei copiosamente em “Just Like Heaven”,uma das canções  de amor mais perfeitas de todos os tempos, “Pictures  Of You”, passou por lá também, “The Walk” pra lembrar de toda minha caminhada até aquele momento, em “Friday I`m Love”, eu te liguei “pessoa muito especial”, você deveria estar naquele momento comigo, não atendeu (chorei também), “The Love Cats”, “In Between Days”, “Boys Don`t Cry”, “Killing an Arab”, enfim todas passaram por lá e o senhor Smith estava realmente a vontade. Foram quarenta (pode escrever isso aqui?), musicas, três horas de show. Realmente algo épico, histórico, fantástico.
Minhas melhores impressões sobre a banda realmente se multiplicaram, em minha opinião o “melhor show dos caras de todos os tempos”, se me perguntarem o porquê?  Respondo: “Eu estava lá”.
Durante as horas que o concerto se deu, voltei a ter meus 16 anos, e realmente curti muito. E pensei comigo mesmo se passei por tudo que passei pra esses caras tocarem perto do meu aniversário, realmente valeu muito a pena (sei, é idiota mas foi isso que veio na mente).
 
Já posso dizer prestes há completar 33 anos, que eu no dia 06/04/2013 “estava no melhor lugar do mundo”.
 
Senhor “Bob” Smith, não demore muito a aparecer por aqui. E sim, minha vida volta a ter sentido.
 
MARCELO GUIDO.
*Republicado pelos 6 anos desse show.

Discos que formaram meu caráter – Que pais (Legião Urbana) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Salve terráqueos espertos, a nave dos bons discos aporta mais uma vez para vocês. Com anos luz de atraso, no qual seu piloto encontrava se em um esquema NAU A DERIVA, mas resgatado das profundezas insanas, vem de muito longe para falar de:

Legião Urbana Que pais e esse (de 1987. Rufem os tambores).

Corria o ano de 1987 , a coisa não andava boa para as bandas daqui. Inflação galopante, Tancredo dançou antes de chegar e o Sarney com seus planos furados caindo no desgosto da população.

Na trupe musical da nossa capital federal, o soneto não estava saindo como o esperado e o compasso estava prestes a desandar. Renato Russo, afogava se em litros de álcool e em seus problemas particulares. Renato Rocha, o Negretti, não conseguia se colocar dentro da banda como membro permanente. A relação entre os caras e a gravadora andava bastante estremecida por conta da negativa do projeto Mitologia e intuição (disco duplo, que foi abortado).

Em um cenário em suma bastante escroto e sob contrato, como fazer algo pelo menos semelhante a os seminais discos anteriores??

A solução só poderia vir da Cabeça pensante e extraordinária de Russo, o cara recorreu a seus arquivos e mostrou ao mundo e para historia canções esquecidas ou deixadas de lado, sobras eu disse SOBRAS , do que seria o projeto duplo.

São sete canções da época de Aborto Elétrico e da fase Trovador Solitário, e duas compostas para este disco ( Angra dos Reis e Mais do Mesmo). Um puta disco foda.

Dissecando a Bolacha:

O projetil musical começa com a faixa titulo Que Pais e Esse, uma ode soberba e vulcana sobre a ordem politica nacional, não foi gravada antes pela esperança de mudanças . Vai para Conexão Amazônica, nos alerta sobre nossos desejos, gostos e afins , melhor ensina que alimento pra cabeça não mata fome. Chegamos Tedio (com T bem brande pra você( , uma homenagem a vida tediosa para juventude de Brasília. Depois do Começo, da fase trovador solitário, um ska , bastante bem trabalhado. Química, esta já tinha sido apresentada pelos Paralamas do Sucesso ( Padrinhos dos caras(, a pressão inerente exercida sobre jovens cabeças pensantes. Eu sei, balada soft, com letra forte um relato quase pessoal , encaixa com perfeição quase profana em alguma fase da vida de muitos de nos. Chegamos em Faroeste Caboclo, a saga de Joao de Santo Cristo, com seus quase 10 minutos , colocou os caras na tela da Globo, ocupando espaço jamais sonhado por alguma banda de rock nacional na programação da Vênus, virou filme. Angra dos Reis, a melancolia operante , aquele gosto de domingo a tarde. Finaliza com Mais do Mesmo, um rock pesado , que não deixa a dever nada para o bom punk.

Resultado, sem o mesmo capricho de Dois , acabou sendo um disco singular, que foi o terceiro mais vendido da banda e laureado com disco de diamante.

Um disco que começa com que pais é esse ??, e termina com invés de luz tem tiroteio no fim do túnel tem que levar a Medalha de ouro da coluna.

Tem que ser celebrado, como grande que é, em suas orações agradeça a Titio Russo por ter compartilhado essas belas canções com vocês.

Esse foi o ultimo registro de Renato Rocha com os caras.

Marcelo Guido e punk, jornalista, professor, pai da Lanna e do Bento e marido da Bia. Ainda se pergunta: que pais é esse?

Discos que formaram meu caráter :“As quatro estações”- Legião Urbana (1989) – Por Marcelo Guido

 

Por Marcelo Guido
 
Saudações, terráqueos! Falaremos de um disco que com certeza para muitos, e inclusive para mim, é considerado uma “Obra Prima”.“As quatro estações”, de 1989, é um álbum clássico, que você pode ouvir hoje e continuará atual. Não que nossas humildes vidas tenham parado no tempo ou coisa parecida, e que se trata de uma obra seminal, na vanguarda de muitos acontecimentos. 
Olha, não sou um cara “Xiita”, daqueles que entram em comparações esdrúxulas com a figura do Renato Russo ou coisa parecida. Não costumo dizer que ele é um Guru, grande pensador ou algo parecido. O vejo como uma pessoa comum que como muitos de nós, passou por fases difíceis em sua existência. Resumindo não o vejo como “Porta-voz” de geração nenhuma (titulo que o próprio odiava). 
 
Falando do disco, foi o primeiro trabalho da banda como trio, também o maior sucesso comercial que os caras tiveram. Eles já vinham de bons trabalhos como “Legião Urbana “, de 85, o magistral “Dois”, de 86 e “E que país e esse”, de 87 (um disco de sobras).
 
Foram 16 meses entre concepção, gravação mixagem e lançamento do disco, ou seja, um hiato relativamente grande na indústria fonográfica, se o disco não fosse bom, com certeza seria o começo do fim para os Legionários. Mas como poderia dar certo? Se pararmos para pensar o quanto é difícil o disco.

Dissecando a bolacha, vemos que começa com “Parece cocaína, mas é só tristeza” (Há tempos), vai para “… Ela se jogou da janela do quinto andar, nada é fácil de entender” (Pais e filhos), canção para alguém especial que esta prestes a morrer (Feedback song for a dyng friend, que alguns acreditam ser para o Cazuza), “ …A Humanidade e desumana” (Quando o sol bater na janela do teu quarto), “…Ontem faltou água , anteontem faltou luz” (Eu era um lobisomem juvenil), mesmo assim “ …O Brasil é o país do futuro” (1965- Duas tribos), cita Camões “..Ainda que eu falasse a língua dos homens” (Monte Castelo), amor não correspondido “…Me sinto tão só, e dizem que a solidão é que me cai bem” (Mauricio), Homo sexualidade assumida “…Eu gosto de meninos e meninas” (Meninos e Meninas), a incapacidade de se entender “… Meu coração é tão tosco e tão pobre..” (Sete Cidades) e termina tudo isso com algo extremamente religioso “…Cordeiro de Deus, que tirai os pecados do mundo, dai nos a paz” (Se fiquei esperando meu amor passar).Um verdadeiro “Caldo de emoções” (odeio essa expressão, “Caldo”, geralmente intelectuais bundões há utilizam caldo cultural, caldo de emoções etc..), não tinha como esperar que tudo isso, convergido em um único aparato desse certo. Mas deu.

 

Nove, das 11 musicas, tocaram no rádio (Amiguinhos, já existiu um tempo que a abreviação “FM” tinha relevância) até torrarem a paciência, talvez algo parecido só tenha rolado com “Nós vamos invadir a sua praia”,“Radio Pirata”. Sucesso estrondoso. A fúria dos trabalhos anteriores deu lugar a uma sutileza marcante, realmente a Legião tinha se tornado algo mais parecido com o “Pop”, mas não aquela escrotice descartável e sim algo marcante para muitos.
“As quatro estações” marca a melhor fase letrista de Renato, e de certo o disco obteve êxito em falar intimamente de maneira popular, poucos discos conseguem. 
 
Enfim o trabalho é cheio de características que marcaram para sempre a carreira e a personalidade da banda, acredito eu que depois desse LP começa o terrível processo de mitificação. Deixo uma pergunta pra vocês: Quem não chorou, sorriu, viveu ou apenas se pegou cantando algum verso presente nesse disco??
 
A partir desse momento a Legião Urbana passa ser conhecida apenas como Dado, Renato e Bonfá.
 
URBANA LEGIO OMNIA VINCIT (Legião Urbana Vence Tudo).
 
Marcelo Guido é Punk, Pai, Jornalista, Professor e Marido. Acredita que mesmo que de vez enquanto faltem água e luz “o Brasil ainda é o País do Futuro”. 

Discos que formaram meu caráter- Legião Urbana- Dois (1986)

 

 
Muito bem amigos, estamos aqui mais uma vez para falar de discos, musicas e afins. A diferença é que agora temos um Papa argentino para torrar nossa paciência, ainda bem que o argentino é ele, não eu.
 
O disco em questão trata-se do segundo (obvio) trabalho da Legião Urbana e leva o simplório nome de “Dois”, gravado no ano de 1986. Foi o álbum que mais vendeu copias e o que trouxe o verdadeiro “respeito” a trupe da capital federal.
 
O sucesso do disco anterior, o homônimo “Legião Urbana”, de 1985 (grande disco falaremos ainda dele), não deu a confiança necessária para a gravadora dos caras apostarem em um dos desejos de Renato Russo. O líder da banda acreditava que o segundo projeto legionário deveria ser um trabalho mais singular, mais trabalhado um disco duplo. Chegou ate cogitar nome que seria algo como “Mitologia e Intuição”, mas como já disse os patrões não gostaram da ideia do cara e resolveram lançar em formato simples mesmo e assim em julho de 1986 as lojas recebem “Dois”. 
 
Convenhamos que é um nome muito simples para estar na capa de um dos melhores discos da geração perdida, que naqueles tempos respiravam um ar de liberdade que não se via já há algum tempo dentro de nosso país.
 
Diferente do caminho que as bandas estavam seguindo naquela época, o Titãs quebravam tudo com “Cabeça Dinossauro”, a Plebe Rude entrava em estúdio para dizer “Nunca fomos tão Brasileiros”, Capital Inicial reciclava o restante do “Aborto elétrico” no seu primeiro “Capital Inicial”, os dois Renatos (Russo e Rocha), Bonfá e Dado apostaram em outra pegada, sim a efervescência punk do primeiro disco e deixada de lado. Eles vieram com algo mais folk (os cults vão ao delírio com esse termo), pra resumir “Dois” é algo mais Beatles e menos Sid Vicious.

É um ótimo disco, porque pega o melhor de todos. Russo como compositor começa a mostrar um talento descomunal para escrever as letras, poucos como ele conseguem refletir tanta emoção em versos. A banda estava realmente afiada e passou bem pelo desafio do segundo disco. 
 
Então vamos dissecar o “Artefato”:
 
O disco começa a todo vapor com “Daniel na cova dos leões”, bíblico com certeza, mas longe disso, nos fala que “…Insegurança não  me ataca quando erro”. Vai para  “Quase sem querer”, baladinha com ar de festinha, que fala das angustias, dúvidas  da juventude “…provar pra todo mundo, que eu não precisava provar nada pra ninguém”. 

“Acrilic on Canvas”, linda, a forma dos versos nos permitem recitar a canção em forma de poema, dispensando a melodia. Já “Eduardo e Mônica”, linguagem simples, história de amor, mas lembrando que “…ela era de leão e ele tinha dezesseis”.  “Central do Brasil”, instrumental, pausa. “Tempo Perdido”, uma das musicas, acredito eu, mais exploradas no radio de todos os tempos, o clipe mostra a banda perto de ícones como Lennon, Hendrix etc…Ainda muito jovens.
 
Em “Metrópole”, uma das mais pesadas do disco, fala de violência assistia em nossa sociedade e como isso fica comum. Chegamos em “Plantas debaixo do aquário”, pesadíssima também, clama por paz “…não deixem a guerra começar”. “Musica Urbana 2”, resgate do repertorio do “Aborto Elétrico”, “Andrea Dória”, canção de amor, algo triste acredito que muitos já tomaram um famoso “pé” (os fodas vão entender). 
“Fabrica”, foi usada por muitos anos como abertura dos shows dos caras, prova maior de força não existe. E “Índios”, uma das músicas mais reflexivas já compostas.
 
A revista “Rolling Stones” coloca o álbum entre os 100 mais importantes da música brasileira de todos os tempos, a evolução musical da banda é algo gritante, dos três acordes do primeiro trabalho para “Dois” ocorreu em apenas um ano. Resultado, não outro que não seja “Clássico”.
 
Não posso deixar de dizer que “Dois” é um disco pop, mas sem negar que é inteligente. 33 anos depois, continua atraente e, detalhe, é o disco da Legião que teve a maioria de músicas boas que não tocaram no rádio.
 
URBANA LEGIO OMNIA VINCIT!
 
Marcelo Guido é Punk, Pai, Marido, Jornalista e Professor. “Ainda não sabemos quem guarda os portões da fábrica….”
   

Discos que formaram meu caráter: O Descobrimento do Brasil- Legião Urbana (1993) – Por Marcelo Guido

Muito bem amigos, voltamos mais uma vez para falar (sem querer ser repetitivo) de músicas, discos e afins. Como faço toda semana, espero acrescentar a vocês um pouco mais sobre assuntos um tanto quando piegas, mas relevantes.

O disco de hoje nos leva até a década de 90, mais precisamente ao ano de 1993, um ano de incertezas no campo politico, onde um presidente eleito pelo voto popular acabara de renunciar, mostrando toda nossa frustração com nossa primeira experiência democrática depois dos áureos anos de Ditadura.

No campo musical, uma lastima sem precedentes (já falei algumas vezes sobre isso) um imensurável numero de “duplas sertanejas” vindas mais precisamente do estado de Goiás e redondezas, armadas de suas calças apertadas, violas, agudos ensurdecedores (que deixava a Tetê Espíndola, morta de inveja), uma dor de corno imensurável. Da Bahia vinha à famigerada “Axé Music”, com seus refrãos grudentos, coreografias ensaiadas e a Daniela Mercury, clamando para si todas as cores da cidade e os cantos também (alguém deveria ser responsabilizado por isso), sem falar claro do “Pagode Romântico”, onde todos os amigos de bairro montavam um grupo e com músicas melosas conseguiam seus 15 minutos de fama, sentavam no sofá da Hebe (com direito a selinho) e se refrescavam na “Banheira do Gugu”. Realmente dá nervoso só de lembrar, essa parte dos anos 90 foi embora muito tarde.

Foi no meio disso tudo que, como verdadeiros “Salvadores da Pátria” a Legião Urbana nos brindou com esse excelente álbum que, com certeza, embalou a vida, a adolescência e juventude de muitos de nós. Com o coração cheio de orgulho que eu apresento para uns e relembro para outros “O descobrimento do Brasil”, todos de pé, todos de pé.

A coisa andava meio mal para os caras da Legião, o comodismo do mercado e também o preço do sucesso acabava por colocar os caras a mercê dos críticos, já não produziam nada novo desde o LP “V” de 1991 (muito bom, mas conceitual e compreendido por poucos) e vinham de uma coletânea deveras “Caça niqueis” (coisa de gravadora) chamada de “Musica para acampamento” (essencial para qualquer coleção digna de rock), mas os fãs queriam mais, queriam coisas novas.

Renato Russo encontrava-se, mais uma vez, frente a frente com outro tratamento para dependência química e alcoolismo. Mas diferentemente das outras tentativas, “a voz da geração Coca-Cola” (se eu não coloco isso os cults me apedrejam), encarava a situação com otimismo.

Foi no meio de todo esse circulo conturbado, envolto nesse cenário negro que a Legião Urbana se reinventa e volta à relevância com este verdadeiro calhamaço de belas canções, com letras contundentes e melodias de valor imensuráveis.

Vamos deixar de lengalenga e ir logo as faixas:

O Disco começa com a metódica “Vinte nove”, forte sem dúvidas, feita cheia de referencias ao numero “29” (oh), muitos acreditam ser uma lembrança do tratamento de 29 dias do cantor, sem contar que para os esotéricos (coisa que Renato era e bem) os 29 anos que saturno passa para percorrer sua própria órbita. Marca uma nova fase na vida de qualquer individuo. “A Fonte” é outra canção forte, você só passa a compreender depois de várias audições, as criticas envolvidas na canção, mostram a volta da “raiz punk” da Legião. Então vem “Do Espirito”, extremamente pessoal e punk, com suas guitarras distorcidas é uma ode a luta de Russo contra o álcool.

“Perfeição”, como o próprio nome diz, é um dos maiores sucessos da banda, música preferida de muitos, uma critica pesada onde a ignorância do mundo é celebrada, mas a esperança aparece no final. “Passeio da boa vista”, instrumental para relaxar, excelente trilha para um passeio de barco ou uma consulta ao dentista. “O Descobrimento do Brasil”, a faixa título do disco, é uma nostálgica baladinha legal de se escutar, quem se apaixonou no segundo grau  sabe muito bem do que estou falando.

“Os Barcos”, minha preferida desse disco, letra pesada o verso “Só terminou pra você”, já fala por si só. “Vamos Fazer um Filme”, fala de um sentimento de reconstrução pessoal, onde tudo pode te jogar pra trás, mas você vai estar bem se sua turma for legal. “Os Anjos”, lado “Ofélia” (palmas pra ela) de Russo que dá uma receita perfeita para o lado negro da vida. “Um dia Perfeito”, clima bucólico, ótima sintonia de guitarra com teclado, perfeita  para tardes chuvosas.

“Giz”, outra da metáfora “Quero ser criança de novo”, nostálgica, letra magnifica considerada pelo próprio Russo como sua “obra prima”. “Love In The Afternoon”, creditada a varias perdas importantes, foi feita para um namorado falecido, é uma música romântica. “La Nuova Gioventú”, apesar do piegas nome em italiano, um “rockão” pesadíssimo, com direito a distorção e tudo, cita a maldita obra “On The Road”, a bíblia da contra cultura dos anos 60. “Só por Hoje”, o lema do AA, fecha com perfeição esse disco. Escute e entenda.

Letras fortes, temas marcantes, banda afinadíssima nada mais a falar. Sem muita frescura, clássico de marca maior. Foda-se do disco do caralho!

Nem é preciso dizer, que este disco vendeu mais de meio milhão de cópias, um verdadeiro “chute nos colhões” do mercado vigente na época.

Muitas lendas sobrevoam essa bolacha. Posso dizer a vocês que, apesar de dedicada em show “Love In The Afternoon”, não foi feita para o Aírton Senna (só se fosse escrita pelo Walter Mercado, o disco é de 1993, e o Senna se foi em 1994). Se você fala isso, pare você está falando merda. E “Giz”, foi realmente escrita e feita para Zezé di Camargo e Luciano (e dai? O cara só queria liberdade para cantar “é o amoooooooooorr”), mas isso não arranha o brilhantismo da Bolacha.

Esse foi o sexto LP da Legião, o último que fez os caras saírem em turnê e que proporcionou o e primordial registro ao vivo “Como é que se diz eu te amo” (duplo). E saiba que o excelente “A tempestade” (1996) era para ser um trabalho solo de Russo. Sim amigos, esse foi o derradeiro. Nada mal para um último suspiro.

Por hoje é só. “Urbana Legio Omnia Vincit

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor. “…é Chu, sempre rola um amor antigo..”

Legião Urbana – 30 anos – Discos que formaram meu caráter (Marcelo Guido)

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Parece que foi ontem, mas já tem trinta anos.

Trinta anos que a gente começou, digo a gente por que eu e muitas pessoas nos incluímos nessa banda e foi a partir desta bolacha que nossas vidas foram tocadas.

“SERÁ”, que a “DANÇA” que querem que a gente participe é essa mesma?, Ou estamos enganados?

Seria apenas “O REGGAE”, que colocaram em uma batida lenta, para que um conformismo tomasse conta de nós. Mas temos um certo “BAADER-MEINHOF BLUES”, para lembrar que a violência é tão fascinante, apesar de nossa vida tão normal.

Ai, uma menina que me ensinou quase tudo que eu sei diz que eu tenho medo, mas eu lembro a ela que “AINDA É CEDO”, para me considerar um desnorteado, e estamos os dois “ PERDIDOS NO ESPAÇO”.

Eu a lembro que somos “SOLDADOS”, que pedimos esmolas, somos as sobras da “GERAÇÃO COCA COLA”, por que comemos lixo comercial e industrial e mesmo sem religião ainda somos o futuro da nação. Lembro a ela que basta fazer um dever de casa para crianças derrubarem reis.

Somos o combustível de tudo, somos o “PETRÓLEO DO FUTURO”.images (1)
E realmente “POR ENQUANTO”, vendemos oque é certo pra pessoa errada, espero crescer e aparecer.

Esse é o “TEOREMA” de nossas vidas, ou será só imaginação.

Marcelo Guido é Punk, Pai, Jornalista, Professor e Marido. “….Não é me dominando assim, que você vai me entender.”

* Legião Urbana, o primeiro álbum da banda de mesmo nome foi lançado em 2 de janeiro de 1985, . Um disco politizado, rebelde e ao mesmo tempo romântico. Um marco na história do Rock Brasileiro.
“Urbana Legio omnia vincit…” “Legião Urbana a tudo vence”.

 

Discos que formaram meu caráter (Parte 29) – “Back In Black”- AC/DC (1980)

Muito bem moçada, estamos de volta com nossa programação normal, ou não. Perdidamente em um espaço sinistro de um mundo particularmente miraculoso, eis que retornamos com nossa muito louca nave para mais uma edição dos “Discos que formaram meu caráter”.

Sei que devo ter deixado várias pessoas chateadas e putas da vida, principalmente o dono desse blog, que é um cara muito legal (faz logo uma farofa), mas não voltaríamos à toa. Sem mais delongas e “eltontavarices” à parte, é com orgulho que volto do inferno para apresentar para vocês o sétimo disco dessa turma de Sidney (AUS). Senhoras e senhores com toda pompa e circunstancias que a ocasião permite, orgulhosamente apresento a vocês : “ Back In Black” do AC/DC. Todos de pé de PÉ.

Muito bem, corria os anos 80, ressaca dos famigerados anos 70 ainda estava no ar e os caras do AC/DC já tinham provado à Europa que na Austrália não existia só Canguru, coalas e o Men At Work (grande banda, por sinal). Mas faltava ainda a conquista da América, a invasão australiana aos EUA já era um objetivo. Os planos da banda quase foram abortados por uma tragédia. Em fevereiro de 1980 o carismático e competente Bon Scott morre afogado no próprio vomito (yeah), mais rock impossível.

Sem muito tempo para frescuras e digerindo a perda, coisa que Scott não fez direito (rá), os caras recrutaram o não menos foda ex- vocal do Geordie, Brian Johnson. Com nova formação, o AC/DC partiram para um estúdio e resolveram fazer uma homenagem ao finado frontman. Sem as 15 músicas escritas por Bon Scott para um novo álbum (um sinal de respeito dos caras), as cartas estavam na mesa.

Lançado em 25 de julho de 1980, o disco foi uma homenagem póstuma, um tributo a Bon Scott, caras que Tributo sem mais salamaleques e leros vamos dissecar este belo artefato:

A bolacha começa coma hoje clássica “Hells Bells”, na mais justo do que tocar os “sinos do inferno” para homenagear o saudoso e “vomitão” vocalista, ai o clima sombrio da espaço a um alucinado rif de Angus, ai meus velhos a pauleira corre solta com Brian falando em alto e bom som que “ se você é mal então é dos meus”. Entra a não menos alucinante “Shoot To Thrill”, que particularmente considero atemporal, mesmo com quase 30 anos ainda pode ser aproveitada pela grande indústria, não é a toa que é o tema da vida de Tony Stark (só os bem fodas). 

Vamos para “What Do You Do For Money Honey”, a mais digamos “pop” do disco fala oque as pessoas podem fazer por dinheiro, segundo os caras “principalmente as mulheres”. “Giving The Dog A Bone”, o clássico “balance a cabeça e acompanhe o refrão”, recheadas de conotações sexuais é uma das melhores da bolacha. Chegando a “Let Me Put My Love Into You”, começa vagarosa, mas logo é dominada por riffs e uma bateria insana. 

Sem deixar a peteca cair “Back In Back” a faixa título do discão, mostra exatamente o que os caras estavam passando, a volta do “luto” ou você não sente isso quando ouve “de volta do luto/eu cai na cama/Estive longe por muito tempo….Sim eu fui libertado da forca”. O clássico dos clássicos, a melhor música já composta, os acordes, riffs e letras mais perfeitos, sim amigos “You Shook Me All Night Long”, e sem duvida alguma,  um dos hinos do rock no mundo, uma homenagem de Brian a sua namorada da época (risos). 

“Have A Drink On Me”, em time que esta ganhando não se mexe, ou seja mesma formula, começa calma e termina em um espetáculo de porradaria. “Shake A Leg”, cantada por Brian com um vozeirão dos infernos, mostra oque seria a banda a partir daquele momento. E Fecha tudo com “ Rock And Roll Ain`t Noise Pollution” uma introdução improvisada na hora, e riffs animalescos fecha o álbum com chave de ouro. São quarenta e um minutos e trinta segundos de pura porrada nos ouvidos. Sem dúvida nenhuma, um disco que já nasceu para ser foda. Medalha de clássico em primeira linha.

Esta bolacha foi um sucesso de vendas, vendeu até hoje 51 milhões de cópias é o disco de rock mais vendido de todos os tempos, e o segundo álbum mais vendido de toda história (perde apenas para “Thriller” do Michael Jackson, que realmente não conheço ninguém que tenha).
Se Bon Scott precisou morrer para a concepção desde verdadeiro míssil sonoro em ode ao rock, cara sua morte não foi em vão. 

Este álbum foi um verdadeiro “chute nos colhões” da dita New Wave da época. Tive a imensa felicidade de receber meu mais novo exemplar das mãos da Bia (minha garota), que viu quanto fiquei feliz com o presente. Muito bem macacada é isso.  Velhos, quem não conhece o disco não merece nem em 100 anos a patente de foda, pegue seu dito passado roqueiro e jogue no lixo. No mais, é só.

Marcelo Guido é Punk, Pai da Lanna e barba (mal feita) da Bia… “ nem a morte, muito menos o Diabo podem parar o Rock In Roll”.   

Discos que formaram meu caráter (parte 28) – “Transpiração Continua Prolongada”- Charlie Brown Jr-( 1997)


Muito bem galera, sei que já faz muito tempo, mas por muitos percalços e também por extrema falta de tempo a  viagem por discos, músicas e histórias em geral esteve interrompida, mas é com muito orgulho que digo que, NOSSA MUITO LOUCA NAVE está de volta para continuarmos nossa caminhada pelo mais estrondoso, escuro, imenso mundos dos DISCOS, MÚSICAS E AFINS, todos de pé, de pé.

Sem mais delongas e frescuras a parte vamos logo ao que interessa. Nossa nave nos leva à famigerada década de 90, sim a retomada do rock “brazuca” (gosto desse termo). O ano era 1997, é com orgulho e lagrimas nos olhos que apresento a vocês, “TRASPIRAÇÃO CONTINUA PROLONGADA”, o disco de estréia do Charlie Brow Jr. Palmas.

Corria ali o final da década, e muitos ainda tinham um medo no ano 2000, mas o rock nacional que tinha ressuscitado no longínquo ano de 1994 com os caras do RAIMUNDOS (já falei disso) continuava rendendo bons frutos. Era muita banda boa aparecendo, muita banda ruim também o que importava era que semente jogada no solo árido do mercado fonográfico nacional pela molecada de Brasília (DF), tinha dado certo e frutos já tinham sido colhidos. 


“ O RAPPA ”, por exemplo, já era uma realidade com o seu “Rappa Mundi”, os próprios “RAIMUNDOS” já se davam ao luxo de lançar “LAPADAS DO POVO”, um disco extremante punk (sem baladinhas radiofônicas), o PLANET HEMP, ainda com “ Os cães ladram mas a caravana não passa” davam muito o que falar, ou seja tudo conspirava favor.


Na batalha desde 1992 a molecada de Santos, procurava um lugar ao sol e acabou caindo na graça de um cara chamado Rick Bonadino, que estava com a moral lá em cima depois dos “Mamonas Assinas” e pode bancar aquela banda de “SANTOSSSS”.

Com uma linguagem simples, que elevava à máxima potência a cultura de rua, palavreado do skate, temática fantástica que ia da vida familiar, a relacionamentos e não um simples “rolê” urbano, a banda de Chorão (com certeza o vocalista mais carismático dessa geração) mostrou logo a que veio no seu primeiro disco.

Deixando as gloriosas mesmices de lado, e todo aquele papo chato de critico musical vamos logo ao que interessa e dichavar (ops) o belo disco.

O disco começa com uma singela vinhetinha, com lance meio descomprometido chamado “O ultimo frango da Malásia”, tecnicamente instrumental. Caindo logo para “O coro vai comer”, que avisava os menos entendidos (cruzes) que “os caras do Charlie Brow invadiram a cidade” e era bom avisar a mãe o cachorro e a sogra que “o couro ia comê”. Indo para uma história de amargar chamada “Tudo que ela gosta de escutar”, singela e simples historinha de romance entre um cara largado e uma patricinha (muitos saberão o que falo). 


Chegando em “Sheik”, a velha lenda do cara que é o ás da mulherada. “ Hei Arreia”, instrumental para relaxar. “Gimme o Anel” dos inesquecíveis versos “Dinheiro você já tem, eu te ofereço meu míssil”. “ Molengol`s Groove” outra da linha instrumental. “ Aquela Paz”, o julgamento feito pelos outros, suas atitudes mostrando que você realmente é. 

Segue com “Quinta Feira”, um flerte com o Ska, uma batida simples, letra fundamental que conta algo sobre o que parece inofensivo, mas que te domina. “Proibida pra mim”, a mais “jabá” do disco, essa levou os caras ao Monte Olimpo, uma porrada na cara de quem naquela época não se pegou cantando “…ela achou meu cabelo engraçado..”. 

Continua com “Lombra”, aqui um flerte com Rap. “Corra Vagabundo”, aqui uma dose de criticas contra as autoridades policiais. “Falar Falar”, a critica versátil contra todos os repetitivos discursos. “Festa”, uma verdadeira zona só com pessoas legais, sem os “pau no cu” e adjacentes. “Escalas Tropicais”, um dia normal, na vida boa de sombra e cerveja. E fechando tudo com “Charlie Brown Jr”(deixa estar que eu sigo em frente), com certeza um aviso que aquilo tudo era só um começo.

O disco vendeu tranquilamente mais de 250 mil cópias, nada mal para um álbum estréia. Um trabalho regado a muita energia e muitos causos a parte. Com certeza merece sua estatueta de CLÁSSICO. 

O Charlie Brown apareceu em uma época onde tudo já parecia pronto, onde novidades já estavam sendo aclamadas pelo grande público. Depois da morte do Chico Science, com um tipo de música que quase que por osmose e adquirida pela parcela jovem, um público dos esportes radicais por exemplo. Com influencias claras das bandas nacionais, como O Rappa, Raimundos, Planet Hemp (Chorão nunca escondeu isso) misturando tudo com a “gringalhada” do Blink 182, Rage Against the Machine, Sublime e Suicidal Tendencies, os caras conseguiram emplacar um discos bom atrás do outro e esse meus jovens foi só o primeiro.

Meus parabéns Chorão pela eficiente mistura de cultura de rua, skate rock e rap de branco. Um verdadeiro Red Hot Chili Peppers nacional, um disco essencial por que todos nós já tivemos 18 anos.

Marcelo Guido é Punk, pai da Lanna, Namorado da Bia, Jornalista e Professor “…gosta mais de cerveja do que de pessoas”.

Discos que formaram meu caráter (Parte 27) – Wezzer (Blue Álbum)- Wezzer (1994)- Por Marcelo Guido


Muito bem moçada, voltando depois de longas e propositais férias de verão, estamos de volta com nossa programação normal. Prometo não abandona-los mais e me sinto em divida com vocês.

Sem mais “frescurites”, partiremos sem escalas rumo ao mundo da música, discos e afins. Nossa muito louca nave ou como queiram “maquina do tempo” nos leva ao ano de 1994.

Sem gritos de “É TETRA, É TETRA, É TETRA”, sem gravatinha com bandeira dos Estados Unidos e muito menos Pelé (ou o Edson) pendurado no meu pescoço, volto do inferno e lhes apresento (que rufem os tambores)…WEZZER (BLUE ÁLBUM). Palmas pra ele.

Como já disse corria o ano de 1994, começo dos belos anos 90. Sim o Grunge já tinha dado as caras, o ano dourado “1991” já havia passado e música começa a engatinhar no esquema digital. Foi o fim precoce das saudosas k7s (muito conhecidas como fitas). O magistral Vinil começava a entrar na escuridão (para depois ressurgir) dando espaço para o CD e realmente ganhando em tecnologia mais perdendo em charme (hummmm). Nesse cenário aparece um bando de nerds, que resolvem colocar em pratica seu plano e assim conquistar uma infinita quantidade de fãs, primeiro na Califórnia e depois em todo globo o Wezzer dava as caras.

Na batalha desde 1992, os caras não pegaram o bonde andando. Sim, com suas letras simples, temática engraçada e realmente comum, que ia da saudável vida adolescente ate shows do Gree Day  os caras já davam o que falar no underground (não o bar do Tassio) californiano.

O tiro para o reconhecimento mundial se deu com essa fantástica bolacha, que seguia um preceito básico, álbum de estreia  auto intitulado “Wezzer” e depois batizado pelos fãs como “Blue Álbum”, lindo isso.  Sem mais delongas vamos dissecar esse belo artefato:

O disco começa com a salutar “May Name is Jones”, com uma guitarra e bateria forte é um bom começo de disco, sim quem escuta esses primeiros acordes com certeza vai lembrar de Ramones pela simplicidade que é colocada, a letra simplista fala da vida urbana que leva um tal de Jones. Entra sem pedir licença “No One Else”, com uma levada mais curtida e muito pra frente da o ar “pop”, para os caras a letra fala sobre um cara que foi abandonado por uma garota. 

Segue com “The World Has Turned And Left Me Here”,  uma ode ao inconformismo adolescente, as mudanças no mundo e a solidão. Continua com “Buddy Holly”, o roqueiro dos anos 50 batiza essa bela canção sobre um amor platônico (reza a lenda que o vocalista da banda nutria um sentimento por uma garota asiática no colegial). 

Avança com “Undone-The Sweater Song” a raiva constante de se matar um velho suéter (isso mesmo). Prosegue com “Surf Wax America” com letra rimada e instrumentos bem colocados uma comparação esdruxula de guiar um carro e surfar, são metáforas do cotidiano. Em “Say It Ain`t So”, letra romântica, com interjeições musicais de peso, possante. 

Vai para “In The  Garage” , uma singela e “caipiresca” gaita, abre a musica que conta a história da banda, entre livros de RPG e shows do KISS, mais nerd impossível. “Holyday” essa bela canção de amor que se passa em um feriado e termina tudo com a singular e também romântica “Only In Dreans”.

Sem duvidas o Wezzer saiu para dar a cara à tapa e foi muito feliz em sua investida, seus fãs estão por ai para provar isso. Esse disco por falar de histórias comuns a qualquer pessoa (basta que se tenha um suéter para matar) merece com muito orgulho e honras militares sua medalha de clássico. 

Tenho um carinho especial por esse disco, ganhei um exemplar do meu velho pai. Que tinha recebido a incumbência de trazer de uma viagem o “Three Imaginary Boys” do The Cure e me presentou com um marco do “Rock Alternativo” no esquema “ …Não tinha aquele que tu pediu, a vendedora falou que esse é parecido”. Bela errada pai.

Com certeza um dos melhores discos dos anos 90, cumpre sem duvida alguma função magistral de te alegrar em um dia triste.

No mais é só. Semana que vem se não rolar nada estaremos de volta.

Marcelo Guido é Punk e Pai da Lanna. “ É Chu, aja oque ajar…”