Discos que formaram meu caráter (Parte 26) – Rappa Mundi – O Rappa (1996) – Por Marcelo Guido


Muito bem moçada do bem ou do mal, aqui tem espaço pra todos. Voltamos com nossa programação normal. Nossa nave muito louca nos leva para mais uma viajem insólita. 

Embarcaremos nessa edição para os anos 90. Isso, os saborosos anos de Collor, fusca, Lilian Ramos sem calcinha e do Tetra campeonato. Mas como sempre falando de discos, bandas e afins.

O ano em questão é 1996, passando da metade da década e o disco que relembraremos hoje é “Rappa Mundi”, segundo trabalho dos cariocas O Rappa. Palmas pra ele.

A bomba lançada pelos Raimundos em 94, que simplesmente colocou de cabeça pra baixo todo mercado fonográfico nacional já tinha dado bons frutos, a geração “90” do Rock “Brazuca” começava a ganhar rosto, e com perdão do trocadilho, vinha dando e bem a “cara a tapa”. 

Gente como o pessoal do Planet com o seu “Usuário” (já falei deste), uma galera muito boa de Recife (leia-se Chico Science e sua Nação Zumbi, Fred 04 e seu Mundo Livre S/A, Canibal com seu “Devotos do ódio” no Gangrena Gasosa), o próprio Skank de Minas Gerais, dentre outros, conseguiam dar consistência  ao que a turma muito doida do cerrado tinha começado. 

Dar fim a toda àquela pasmaceira de dor de corno, bundas e bandas de colegas da Cohab. Muito obrigado Raimundos.

Os cariocas do Rappa, tinham se reunido para acompanhar o Jamaicano Papa Winnie (Regueiro do bom) em sua turnê por nosso país no de 93, eram eles Nelson Meirelles, Marcelo Yuca, Lobato e Xandão. Já eram excelentes músicos e tinham trabalhos contundentes no underground carioca. Resolveram formar a banda e colocaram anúncios em jornais e dentre muitas audições resolveram recrutar Falcão. Estava pronta a banda.

Já em 1994, eles lançam o excelente “O Rappa”, que infelizmente acaba passando em branco, apesar de conter clássicos como “Todo Camburão tem um pouco de Navio Negreiro”, uma critica voraz  ao  “apartheid  social” que acontece no Brasil, “ Candidato Caô Caô” releitura do clássico gravado por Bezerra da Silva nos anos 70, o disco acaba sendo pouco compreendido. Já falei algumas vezes de como andava a música brasileira naqueles tempos negros. 

Com o Grande sucesso do Planet em 1995, os caras passam a ser a bola da vez. Aquela formula de misturar vários elementos podia dar certo de novo, e deu.

Eles entram em estúdio, já com outra formação (sai Meirelles e entra Lauro) e gravam o disco que os colocariam no mapa da música nacional.

Vamos deixar de frescura e ir logo para as faixas:

“Rappa Mundi” começa logo de “Cima” com a “Feira”, com batidas envolventes e letra de fácil compreensão, essa verdadeira ode de duplo sentido mostra um cotidiano comum, um cotidiano malandramente brasileiro. Vai para “Miséria S/A”, o dia-a-dia do trabalho informal que todo dia sai para batalhar o “Seu” na honestidade. “Vapor Barato”, do poeta maldito Waly Salomão ganha nova roupagem. “Hey Joe”, do grade Jimi Hendrix ganha aqui uma versão carioca e uma cara brasileira, mas sem perder a ternura com a participação magistral de D2 essa música foi uma das mais executadas nos anos 90. “Ilê Ayê” composta pelo grande Paulinho Camafeu, hino do bloco que leva mesmo nome, também uma critica a divisão racial existente no Brasil. “Pescador de Ilusões”, uma viajem pela cabeça de alguém que clama por esperança. “Uma Ajuda”, a visão de alguém que vê a situação social do brasileiro pelo lado de dentro, imagine um desempregado ou alguém a margem da sociedade vivendo nos dias de hoje. “ Eu quero ver Gol”, essa uma parceria de Falcão e Xandão, mostrando que não havia uma ditadura nas composições, um dia de domingo normal. “Eu não sei mentir direito”, passando mais para o lado do “ska”, nessa faixa o jeitinho brasileiro vem a tona. “O Homem Bomba”, o excluído, o que passa longe, o marginal que fica de fora de tudo, um dia se revolta e cobra o seu. “Tumulto”, o que acontece de real quando a população encontra-se um ponto de revolta contra os governantes, mazelas sociais podem transformar o mais pacifico em um eventual terrorista. “ Lei de Sobrevivência”, como sobreviver e tentar mudar a própria situação, a visão do trabalhador. “Óia o Rapa”, a origem do nome da banda, nessa composição do Lenine.

As rádios tocaram como nunca essas faixas, “A Feira”, “Miséria S/A”, “Hey Joe”, foram logo se transformando em hits. Disco de platina garantido.

Com todo cunho social, e pela importância para o rock nacional medalha de clássico garantida.

A evolução de um disco para o outro e algo realmente marcante, esse disco também mostrou todo talento de Marcelo Yuca, como critico ferrenho da sociedade.

“Rappa Mundi” é um daqueles discos que merecem ser estudados bem, quase 20 anos após seu lançamento continua um disco “político e atual”.

Por que ainda existe muito “PESCADOR DE ILUSÕES”, na “FEIRA” atrás de um “VAPOR BARATO”, ou “UMA AJUDA”, que “NÃO SABE MENTIR DIREITO”, mas curte o “ILÊ AYÊ” e grita “EU QUERO VER GOL”, espera o “TUMULTO”, vira “HOMEM  BOMBA” já que essa é a “LEI DE SOBREVIVÊNCIA”…”ÓIA O RAPA.

Esse disco foi só o prenuncio de “Lado B Lado A”, mas essa é outra história.  Por hoje é só.

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor. “…Ainda quero  ver gol”

Discos que formaram meu caráter (Parte 25) – Standing on a Beach (The Singles)- The Cure (1986) – Por Marcelo Guido


Muito bem, moçada, voltamos para nosso compromisso de toda semana. Sim, estamos de volta para nossa tórrida e agradabilíssima viagem por discos, bandas e afins.


Nossa indomesticável e muito louca “maquina do tempo” nós leva para a década de 80, amigos adentraremos através dessas linhas tortas nos primorosos, perdidos, mas, por que não muito divertidos “anos 80”.

O ano em questão é 1986, e nosso Brasil tropical vivia uma espécie de “lua de mel”. O Rock in Rio I (1985) começava a dar frutos e bandas de rock nacional pipocavam a todo o momento. Nossos tão assustadores generais, que outrora tocavam o terror na ditadura militar, se viam agora vestidos em pijamas e viam sem opinar todo aquele frescor jovial tomando conta do pedaço. É sempre bom lembrar que aquelas múmias com cara de avô brabo, são ávidas para chegar ao poder de novo e pasmem ainda tem gente que apoia. Estamos de olho.

Mas como isso aqui não é aula de história e nem palco político, vamos ao que realmente nos interessa já que estamos aqui para falar de discos. A bolacha que eu, diga-se de passagem, muito feliz, apresento para uns e relembro pra outros é a gloriosa coletânea “Standing on a Beach” do The Cure. Palmas pra ela.

O popular “disco do velho na capa”, foi gerado com o melhor que a banda de Crawley, Inglaterra, havia produzido e lançado entre os anos de 1979 a 1985. Ou seja, o melhor que a sombria banda de Robert Smith tinha apresentado em seus discos até aqueles dias.

Lembrando que o nosso então atrasado país, não dispunha ainda de um mercado contundente para bandas internacionais, e essa coletânea acabou por iniciar muitos (inclusive eu) na arte de ouvir, entender e compreender o que aquela figura bizarra, com cabelos magistralmente desgrenhados e batom vermelho na boca (falo aqui de “Bob” Smith e não daquela sua tia velha e gorda e quer sair em todas as fotos da festa) queria dizer com letras como “A Forest” e “Primary”, por exemplo.

Era o nosso “debú” (sei, isso é meio gay) no pós- punk, e não tinha como ser diferente. Pegamos o melhor da banda que mais representa esse movimento (calma cults, eu também gosto de Sisters of Mercy, Bauhaus, The Mission e nutro uma certa e particular paixão pela Siouxsie). É que o The Cure é diferente.

Vamos as faixas:

O disco começa muito bem com a singular “killing an Arab”, originalmente lançada em 79, é inspirada no livro “O estrangeiro” de Albert Camus, e com seu instrumental sombrio e com linhas de baixo bem colocadas junto a uma batera prontamente delineada nos convida para a viajem. “Boys Don`t Cry” também de 79 vem em seguida colocando todo mundo pra “dançar olhando para parede”. Essa música dispensa maiores comentários ela com certeza foi o que lançou a “Cura” para o mundo (os fodas entendem). 


Segue com “Jumping Someone Else´s Train”, também de 79, é encorpada e não deixa a peteca do disco cair, lembra muito a música anterior. “A Forest”, entrando nos anos 80, uma viajem muito bem escrita e contada, uma representante da fase “gótica” da banda, mostra como seria a “Atmosfera” do som dos caras. “Primary”, de 81, é uma singela homenagem a Ian Curtis (falecido em 1980) que os fodas sabem quem é. “Charlote Sometimes”, também de 81, soturna, mostra também a atmosfera do The Cure, inspirada em outro livro o romance infantil (que leva o mesmo nome) de 1969, da autora Penélope Farmer, muitos versos da canção remetem a estrofes da história. 

Continua com “The Hanging Garden”, de 82, com uma batida que lembra uma “parada militar”, parece convocar as criaturas da noite, que habitam um Jardim suspenso, que pode estar dentro de você. “Let´s Go To Bed”, de 82, começa a quebrar o “Ar Gótico” da banda, um momento negro que os caras estavam passando, com brigas internas talvez mudar o um pouco o estilo seria uma maneira sarcástica de terminar com o grupo. “The Walk”, de 83, a descoberta comercial do The Cure. “The Lovecats”, de 83, outra com inspiração literária, “O Vivi Sector” de Patrick White, cujo em seu romance um personagem afoga um saco gatos vadios, os bichanos representam na música os membros mais inocentes e vulneráveis da sociedade. 


Em “The Caterpillar”, de 84, a beleza interior que cada um, guarda dentro de si. “In Between Days”, de 85, com seu inesquecível solo inicial de batera, uma ode ao envelhecimento e a perda dos medos. “Close To me”, de 85, encerra de forma magistral o disco, dançante e pra cima, deixa sempre um gosto de quero mais.

A ordem cronológica respeitada, um disco que mostra todas as fases então percorridas pela banda, do basicão praticamente cru, dos tempos de “Killing Na Arab” , para a fase gótica com “A Forest”, passando para uma verdadeira metralhadora de canções pop com “ In Between Days”, mostrando toda sua importância para o rock nacional e para a vida de muitos que como eu acabam por se encontrar  nessas letras, não pode ficar de fora. Merecida “medalha de Clássico”.

Desnecessário falar que o disco foi um sucesso de vendas no Brasil, recebendo platina dupla e os caralhos, as rádios executaram as músicas ao máximo e isso fez com que Robert e sua trupe já aportassem por aqui em 1987, uma excursão de oito shows (dois em Porto Alegre, um em Belo Horizonte, dois no Rio e três em São Paulo).


Uma curiosidade sobre esse disco é que ele foi relançado com o nome de “Staring at the Sea” (o mesmo nome do VHS que chegou por aqui nos anos 80) e ganhou mais quatro faixas “:  10:15 Saturday Night”, “Play For Today”, “Other Voices” e “A Night Like This”.

A importância desse disco é muito grande dentro da vida de muitos que conheço e por que não dentro do rock brazuca, muitos de meus velhos amigos têm pelo menos uma das faixas desse LP eleitas como preferida e na boa, escute com atenção “Tempo Perdido” (disco “Dois” Legião Urbana) e encontre “Primary”, ela esta lá escondida. 

Quase 30 anos após seu lançamento, essa bolacha continua relevante é obrigatória na estante de qualquer um que se mete a entender de Rock.

É isso.

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor. “É Chu mais um disco pra você…”.

Discos que formaram meu caráter (Parte 23) – (What`s the Story) Morning Glory ?- Oasis (1995)


Muito bem moçada, estamos de volta com nossa programação normal, falando mais uma vez de músicas, discos e afins. Sem a preocupação de darmos de cara com balas de borracha e “Marias Pretinhas”. Vamos voltar no tempo e falar de um disco que mudou os parâmetros da música alternativa do rock and roll e abalou as estruturas da terra da rainha, e por que não da vida de muitos de nós.

É com muito orgulho que volto para os anos 90 e apresento (ou relembro) para vocês “(What`s the Story) Morning Glory?” do Oasis de 1995.

Na ativa desde 1991 a banda dos irmãos Lian e Noel Gallagher já tinham brindado os ouvidos e consciências mundiais com o excelente “Definitely Maybe” de 1994 (aquele da inesquecível “Life Forever”, pretendo falar deste também) e obviamente o mundo esperava por algo muito superior, coisa difícil porque o primeiro disco já era muito bom.

O renascimento cultural que andava rolando na época na Grã- Bretanha e já tinha sido batizado como “Britpop” (uma abreviação de “Britissh pop”, na melhor tradução “música popular britânica”) já tinha apontado o Oasis como padrinhos (Calma cults de plantão, eu também gosto do Blur), uma espécie de volta as raízes, onde influências de Pink Floyd, The Who, Stones e principalmente dos Beatles eram realmente marcantes, além claro dos arranjos tipicamente radiofônicos.

Então, voltando ao disco, eu lembro que lia muito a revista “BIZZ” que na época tinha sido rebatizada como “SHOWBIZZ” (mas ainda guardava a essência) e vi uma critica bastante negativa sobre esse disco. Fiquei curioso e resolvi ouvi-lo. “Puta-merda” que disco.

Os geniais irmãos aparentemente tinham guardado o “filé” para o segundo disco, pra acabar com aquela onda de “Trauma do disco 2”. Sim, eles simplesmente arrebentaram todas as expectativas e com arranjos fantásticos, letras marcantes e uma banda bem situada gravaram um “puta de um disco foda”.

Vamos ás faixas:

A bolacha começa com estonteante (hummmm) “Hello”, uma sátira bem humorada para a canção de Gary Glitter, um dos percursores do Glam Rock. Vai para “Roll With it” que recebeu uma atenção especial da gravadora para ser lançada como single, dando começo a “guerra” do Oasis com o Blur. Partindo para “Wonderwall”, uma das mais belas canções de todos os tempos, marcante, reza lenda ser uma homenagem a um amigo imaginário de Noel que o ajudava na infância, foi trilha sonora de novela no Brasil. Indo agora para “Don`t Look Back in Anger”, um hino, rapidamente ganhou as arquibancadas dos estádios de futebol e foi inspirada em um fragmento de uma conversa de John Lennon (Se você não sabe de quem se trata, nunca terá sua credencial de “foda”, nem em seus melhores sonhos). 

“Hey Now!”, bela e muito importante, bem trabalhada e com um refrão marcante. “The Swamp Song”, porradaria instrumental. “Some Might Say” levou os caras para as cabeças das paradas inglesas, também pudera, é uma das minhas preferidas, excelente canção deve estar na lista das “melhores músicas dos anos 90”. “Cast No Shadow” uma doce e púrpura (ai…ai) homenagem ao vocalista do The Verve (grande banda) Richard Ashcroft, que era amigo da rapaziada e andava meio mal. “She`s Electric” a mais “Beatle” do disco, lembra a fase “pós 60” dos rapazes de Liverpool. “Morning Glory”, faixa título do disco, é forte  e muito palatável, um refrão cativante, uma afirmação a vida. “ The Swamp song #2”,instrumental. Encerando tudo com a doce “Champagne Supernova”, reencarnação, Chapar-se tomando champanhe? Tire suas conclusões.

Na boa, nem tente dizer que entende de rock sem antes dissecar esse disco. Ele é daqueles que tem que estar na estante de qualquer um que se diz um bom ouvinte. Putz!!! Sem mais delongas, clássico de marca maior.

É necessário dizer que esse álbum vendeu mais de 23 milhões de cópias no mundo todo e é o terceiro mais vendido de todos os tempos no Reino Unido. O trato como o ponto mais importante do Britpop (pronto falei), chupa Blur.

Uma coisa que aprendi com esse disco é que quanto maior a critica negativa, melhor é o disco.

Meu fígado ainda lembra com orgulho o tanto de vinho barato e cerveja Antarctica (Paixão nacional) que consumimos nessa época ao som desse verdadeiro calhamaço de boas canções. Minha cabeça viaja com a lembrança do cheiro de mato queimado e solução de bateria (só os bem fodas), um brinde aos anos 90. No mais, é isso.

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor “ …Sim, eu acho intimidade uma merda”.

Discos que formaram meu caráter (Parte 22) – A Valsa das Águas Vivas – Dance of Days (2004)


Muito bem galera, estamos de volta com nossa programação normal. Se é que podemos achar normalidade nessa louca viagem, pelo universo paralelo da música, discos e afins. 

Nossa prosa nos levará ao mundo do underground paulista, ou melhor, nos subterrâneos da boa música brasileira, amigos é com muito orgulho que apresento para vocês “A Valsa das Águas Vivas”, o terceiro trabalho do Dance of Days.

Na ativa desde 1997, o Dance of  Days começou como um projeto paralelo do ex- vocalista do Personal Choice (Grande Banda) e figura tarimbada no movimento Punk Fabio “Nenê” Altro.

Com influencias claras do Punk/Hardcore, Hc Melódico  e o próprio rock “oitentista” (Indies indo ao delírio em 3,2,1…), os caras deram muito oque falar com “A História não tem fim” de 2001 o “debu” (hummmmm) e conseguiram um reconhecimento na cena alternativa do rock nacional.

Na sequencia bombástica veio o excelente “Coração de Troia” de 2002, os caras não deixavam a peteca cair e rompem as fronteiras paulistanas (legal isso) e excursionam pelo nordeste com os americanos do Avail (excelente banda), mostram que estão afinadíssimos, com letras coerentes e acidas. 

Dando tempo nas produções musicais, eles tiram um tempo para trabalhar em um disco que realmente abalaria os padrões de qualidade já alcançados por eles em dois discos, sim eles queriam realmente se superar.

Chegamos ao ano de 2004, já consolidados como expoentes marcantes na cena alternativa (se podemos dizer que alguém se consolida no alternativo nacional), os caras entram em estúdio e produzem esse verdadeiro míssil sonoro chamado “A Valsa das águas vivas”, sem mais delongas vamos desvendar esse mapa. 

Vamos às faixas:

O disco começa com a ótima “Um dia comum”, que fala de tempo, de juventude, versos como “Foi-se tempo, que ter o que dizer serviu pra alguma coisa…” nos colocam entre se vale a pena ser oque queremos, oque almejamos, aliais todos os dias são comuns, indo até a rapidíssima e não menos pesada “Vai ser assim mesmo”, que fala de relacionamentos. Chegamos a” Adeus Sofia”, uma das mais belas musicas nacionais dos últimos 20 anos, fala das certezas e incertezas do amor, essa faixa conta com participação da Fernanda Takai (Pato Fu). Em “Funerais do coelho branco”, música que leva o mesmo titulo de um dos livros do Nenê , fala também de incertezas que ocorrem dentro dos relacionamentos. 

“A Valsa das águas vivas”, canção que titula o disco é sem dúvida a minha preferida, começa com um baixo realmente estrondoso, que vai pra cima de uma guitarra estupidamente bem conduzida e uma batera que realmente vai passando por cima de tudo (essa musica é realmente foda) que fala de, quer saber escute e tire suas conclusões. Já “ Cem mil bolas de neve” é espetacular , fala sobre as crenças, da luta do dia-dia contra o inimigo que esta sempre dentro você mesmo, “Quando o veneno sobe a lança”, “…quando, outro dia se foi e viste oque passaste, mas depressa a que não percebestes…”, forte porém realmente intenso. Segue com “Dorian”, os motivos para estar bem, a agoniante. Depois “Quando dia aquece sementes mortas (a amarga história do rei do nada)” e seguindo a linha da porrada sentimental vem “Um canto para caronte (ou como a mantícora aprendeu a voar”, “Antítese” as discussões de reconhecimento sobre si próprio. 

E ainda tem “Nada demais”,  “Trabalhando em um bom título (mas que não seja repetitivo)” , fechando tudo com a estonteante “Vitória (ou qualquer coisa que o valha)” , a luta que todos temos que vencer para ser feliz.

Conheci esse disco através do grande Luís Xavier, o “Espalha Lixo”, que fazia parte do Sub-Versão (grande banda do DF, Guará “rules”), que como amigo sabia do período que estava passando.  

Realmente uma bolacha altamente sentimental, um disco que você pode ouvir e se encontrar em algum verso perdido dentro dele. Um disco fantástico, pessoal e por que não muito “foda”, jamais deixaria de receber sua medalha de clássico. 

Bom já foram 16 anos de banda, 10 discos dois DVDs e muitos fãs fervorosos, Nenê Altro, Marcelo Verardi, Fausto Oi e Samuel Rato continuam na linha de frente alternativa do underground, o Dance of Days com “A valsa das águas vivas” prova que a boa música não esta somente no “mainstream” e que a cena alternativa ainda dá muitos frutos bons.

Eu indico esse disco pra você, que um dia espera entender de rock. Vida longa ao Nenê Altro, vida longa ao Dance of Days, o Hardcore vence no final.

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor… “Você, MOCINHA deveria ouvir esse disco comigo”.  

Discos que formaram meu caráter (Parte 21) – Mantra – Shelter (1995)


Muito bem moçada, aqui estamos de volta para encher vocês. Encher de informação, de cultura, um singelo “Blábláblá” legal. Espero que curtam mais uma passagem louca por essa fantástica, ou melhor, “fodástica” viajem pelo mundo da música, discos e afins. Vamos a ela.

Estamos no ano de 1995, efervescência total, um ano sem Kurt e ainda respirávamos uma extrema alegria por conta do ainda bem sucedido “Plano real”, moeda forte, poder de compra e os caralhos. Deixando de enrolação, vamos ao que interessa.

Hoje falaremos de um disco de uma banda, que para muitos pode ser obscura, mas não menos respeitável. É com alegria que apresento a vocês “Mantra”, quarto disco do Shelter de 1995.

Na batalha desde o começo dos anos 90, o Shelter começa como um projeto paralelo do vocalista Ray Cappo que deixava um pouco de lado o lendário Youth of Today (grande banda), para explorar seu lado mais melódico e sua ideologia Hare Krishna, que se tornaria a maior peculiaridade da banda.

Cappo, junto guitarrista John Porceel (outro oriundo da já citada banda Youth of Today), já tinham certo nome respeitado no underground nova iorquino, principalmente na cena “Straight Edge” (uma linha do Hardcore) que prega o não consumo de bebidas alcoólicas, abstinência de drogas e a busca por uma vida mais saudável, dentre outras diretrizes. Era o começo do “Krishnacore”.

A banda saiu em turnê pelo território americano e conseguiu uma legião de fãs com seu discurso apurado, baseado nos ensinamentos da religião hindu. E em um comportamento que mostrava a valorização da vida, contra o consumismo e da postura “destrua tudo e a todos”. Shelter começava a chamar atenção dentro e fora dos EUA. Depois dos excelentes “Perfection of Desire” (1990), “Quest of  Certanity” ( 1992) e “Attaing The Supreme(1993)”, os caras arregaçam as mangas e produziram “Mantra”, com toda força e positividade.

Vamos às faixas:

O disco começa 100% com a bela “Message of The Bhagavat”, inspirada no milenar livro de Bhagavat, um dos pilares do Hinduísmo, vai para “Civilized Man” uma critica voraz a civilidade humana, que coloca o homem como o ser importante sobre todas as classes de animais. Segue com “Here We Go”, minha favorita, a valorização do sexo sobre o sentimento, a busca pela dita felicidade comercial. Em “Appreciation”, o questionamento sobre a época em que vivemos, a não valorização dos outros seres vivos. Já em “Empathy” nunca é tarde para procurar por mudanças. 

Chegamos em “Not The Flesh”, uma critica contra o racismo, guerras baseadas em pigmentos de pele. “Chance” fala das oportunidades que nós são dadas, temos que estar atentos a elas, pode não novas oportunidades. Continua com “Mantra”, musica que nomeia o disco, uma busca pela felicidade. Em “Surrender to Your TV” a escravização da sociedade pela televisão. Continua com “Letter To a Friend”, a mudança de atitude, mas não de ideal punk para todo sempre. Finalizando “Metamorphosis”, a mudança, a procura pela melhora, não nascemos como somos procuramos evolução.

Depois deste verdadeiro calhamaço de positividade, recheado de um discurso coerente, a banda passou a ser reconhecida mundialmente. 

Um dos discos mais bem gravados por uma banda de Hardcore, conseguindo unificar o som pesado com questões pessoais, causas humanitárias e existenciais, não pode deixar de receber sua medalha de Clássico.

Eu indico para você, que esta de bobeira a procura de bons sons e não quer cair na mesmice.

A música alternativa e o Hardcore sempre tiveram como particularidade a junção de temas e elementos um tanto estranhos, mas ao mesmo tempo bem singulares. Neste caso é marcante a mistura da cultura Hindu com a pesada musica ocidental. Mostra que varias “artérias” podem ser abertas, basta vontade de fazer música boa e honesta. 

Marcelo Guido e Punk, pai, marido, jornalista e professor “… Odeia Ricota e Tofú”

Discos que formaram meu caráter (Parte 20) – Beneath The Remains – Sepultura (1989) – Por Marcelo Guido


Muito bem ovelhas negras do mal, seu pastor (risos), em sua mórbida e insana viagem pelos discos, músicas e afins, levará seu sombrio rebanho para o lado negro, verdadeiro, violento e lascivo.

Amigos, todos de pé para apresentação desse verdadeiro calhamaço de porrada. Prestem atenção e não se esqueçam disso, o disco de hoje trata-se de um marco na música brasileira, o começo da bela história nas hordas do metal, a bolacha chama-se “Beneath The Ramains” (1989) e é do Sepultura.

Terceiro álbum de estúdio dos caras, o segundo com a formação clássica (Jairo dá lugar a Andreas logo em 1986), o primeiro por uma gravadora contundente no aspecto “metaleiro”. Sim, agora os rapazes de Minas Gerais estavam prontos para conquistar o mundo.

Eles já tinham dado seu recado deveras violento em trabalhos anteriores, sim estavam na luta desde 1984, fazendo metal na terrinha e falando de capeta. Não podemos deixar de dizer que “Bestial Devastation” de 1985 (Um “Split” junto com o Overdose, outra grande banda), “Morbid Visions” de 1986, e o excelente “Schizophrenia” de 1987, não tenham seu valor, e que “ Beneath” é extremamente diferente.

Prevendo como um guru (hummmm), a tragédia macedônica que se estalaria na musica nacional no começo dos anos 90, (aqui eu falo de Sertanejo e aquela musica para adestramento “Tira o pé do chão”, “Levanta o braço”, Cheiro de mijo” conhecida como Axé Music, e claro o pagode romântico) Max Cavalera viaja para Nova York e vai falar com quem realmente entende de som pesado, de lá ele trás o “mago da porradaria extrema” Scott Bums.

Com seu currículo invejável, tendo produzido já o Obituary, Death e Morbid Angel o cara chegou para dar respaldo para oque a molecada já estava fazendo. Agora sim bem assessorados e com companhia extra ninguém seguraria mais os “Jungle Boys”. O mundo metal estava para conhecer o jeito brasileiro de tocar.

Vamos às faixas:

O disco começa todo trabalhoso com a faixa titulo “Beneath The  Remains”, com uma introdução melancolicamente linda, que cai para uma verdadeira porrada de batera, e viradas espetaculares fala de guerra, devastação versos como  “…eu lutarei por você e por mim, mas e daí”, nos dão conta do que vem ainda pela frente, vai para “ Inner Self”, uma das minhas preferidas, o descontentamento profundo por regras sociais que não são inventadas por nós e temos que seguir, chega em “Stronger Than Hate”, sensacional, profundamente sarcástica fala dos erros interiores que toda pessoa tem. 

Indo ate “Mass Hypnosis”, a vida programada que te fazem acreditar que você tem. Obedeça ate o fim e marche como um soldado programado é isso que eles querem, “Sarcastic Existence”, seu mundo interior destruído, sua mente corrompida e destruída sua existência pueril e inútil, “Slaves Of Pain”, todos nós somos escravos da dor, mas não se pode ficar preso a os erros, a liberdade é um sonho mais é real. Pense nisso, chegando em “Lobotomy”, sua luta diária contra o sistema, como se pode ter um  mundo programado pra sobrevivência do mais forte, somos animais, “Hungry”, verdadeiramente desse o nascimento você procura dinheiro e poder, e não vai medir escrúpulos para conseguir seu objetivo, Fechando em “Primitive Future”, o que esperar, se não batalharmos por mudanças.

Extremamente “fodastico” e pessoal, se antes o legal era falar de diabo e mulheres, esse disco vem falar de dia-dia, de interior, do inferno que cada um de nós carrega dentro de si. É bom falar que nesse álbum, a evolução musical da banda é  latente, musicalmente falando os caras estão afinados, e com tudo em cima, letras mais profundas com a temática muito mais inteligente.

Uma edição de 1997 trás ainda três faixas bônus, um cover fantástico dos Mutantes “A hora e a vez do cabelo nascer” é o destaque dessa edição.

Um disco como esse realístico, que coloca o Brasil no “mapa mundi” do Metal, não pode deixar de receber a menção honrosa de Clássico, ou melhor, de FODA. É esse é um disco Foda.

Uma verdadeira viaje ao inferno, onde o pobre diabo e você , onde suas culpas são cobradas e seu pensamento é o melhor guia. Yes,  nós temos Metal!

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor “…Eu não gosto de ninguém”

Discos que formaram meu caráter (Parte 18): Os Cães Ladram, mas a Caravana não Para (1997) – Planet Hemp


Muito bem caros amigos, continuando nossa longa trajetória pela estrada encantada dos bons discos, estamos de novo aqui para falar de música, bandas e afins. Outra vez falando de som. Peço minutos de sua atenção para falar de “Os cães Ladram, mas a caravana não para”. Sim senhores esse é o nome da obra.

Já corria o ano de 1997, e o Planet ainda respirava os bons ares do sucesso, sim amiguinhos, a bomba já tinha sido lançada com “Usuário” (Já falei desse) e agora todos esperavam oque iria acontecer com o grupo. Seria a banda do D2 mais uma daquelas de um disco só? Mas uma daquelas fadadas bandas que só são lembradas naquelas horrendas coletâneas “caça niqueis”, que as gravadoras lançam no Natal? É amigos, os caras tinham que provar valor agora, já eram exigidos a responsa de um segundo disco é sempre maior.

Bom, os caras já tinham lançado um disco deveras “temático”, se queriam chocar a sociedade conseguiram, mas não tinha como ficar vivendo daquilo. E 1995 já estava meio longe. Então para não ficar presos em apenas “Maconha” eles vem com força total e colocando o dedo cada vez mais fundo na ferida, sim eles estavam afim de conquistar de vez o Brasil e agora o mundo. O caminho não tinha mais volta.

Com reunião da banda com um comparsa novo, o famigerado Gustavo “Black Alien”, figura carimbadíssima no underground carioca, eles voltam dois anos depois com a carteira cheia de grana a cabeça cheia de ideias e claro fumaça (ahahahaahha) para lançar mais um Vinil estrondosamente revigorante. Sim o Planet começou a colocar seu nome na história do Rock “brasilis”.

Vamos a elas:

O disco começa a todo vapor logo com “Zerovinteum”, um verdadeiro retrato do caos que vive o cidadão comum Rio de Janeiro, são eles que chamam a atenção para “Guerra Civil”, que rola no dia-dia de quem mora lá, vai para “Queimando Tudo”, sim o assunto principal, temática escolhida pelos caras não poderia ficar de fora, sim eles continuavam “…queimando tudo ate a última ponta”, 

Com “Hip Hop Rio”, como o próprio letra diz é um “som que entra na cabeça e não tem hora”, chegando em “Bossa”, vinhetinha deveras relaxante, essencial para explosiva “100% Hardcore”, pesadíssima, boa como todo hardcore, excelente para colocar aqueles demônios para fora. 

Partindo para “Biruta”, instrumental, coloque sua cabeça no lugar para ouvir “Mão na Cabeça”, falando de policia, e de como o cidadão e tratado como refém pelo estado, que ainda te coloca leis que você é obrigado a respeitar, seguindo a linha “O Bicho tá Pegando”, ainda fala do descontentamento do cidadão, dizendo que para sobreviver, tem que ser “Malandro”, “Adoled (The Ocean)” letra em cima de batidas clássicas do Led Zeppelin, falam da manipulação sofrida pelas pessoas, mas já mostrando que nem todos escutam e seguem as normas. 

Em “Seus Amigos”, Hardcore de primeira linha, pra ver todo mundo “quebrar a cabeça”, “ Paga Pau” um cotidiano, uma mostra de quem segue sem ser escutado. Já “Rappers Reais” é um recado para a galera que andava com muito “glamour” no rap. Por sua vez,“Nega do Cabelo Duro”, é uma releitura do clássico de David Nasser e Rubens Soares. Continua com “Hemp Family”, mostrando muito das influencias, que a banda tem, como Funk Fuckrs, O Rappa, etc…Sim era uma união formada. 

A penúltima, “Que me Cobrou”, é hardcore do caralho, só digo isso. Termina tudo com um recado clássico um velho e bom “Se liga”, o sonho de uma juventude politizada, com opinião própria, só isso.

Ou seja, quem esperava um disco que falasse do mesmo assunto, se fode quando vê um verdadeiro calhamaço de verdades. Sim os críticos que achavam que eles estavam mortos se surpreenderam quando escutaram as letras mortais desse disco. Fora a evolução musical latente com o Dj Zé Gonzales de cima, e as outras influencias como samba e o Hardcore, coisas tão dissonantes que eles conseguiram como poucos misturar e fazer algo plausível. 

Longe de ser uma banda de rap, hip hop, reggae ou hardcore, os caras, em minha opinião, são um banda politica. Se antes tudo se resumia a Maconha, agora eles apontam sua verve para as autoridades (policia, políticos), para situação nacional, falam de racismo e segregação, ou seja um disco recheado de assuntos indigestos.

Um disco como esse é clássico. A partir desse disco o Planet Hemp coloca-se como um dos “pilares” da geração 90.

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor “…Muita saudade da torre”.

Discos que formaram meu caráter (Parte 17): Achtung Baby (1991) – U2


Muito bem “sementinhas do mal”, lá vamos nós para mais um etapa da nossa jornada musical. Vendo nada mais que belos discos, músicas inesquecíveis e momentos agradáveis. Iremos “descascar” mais uma bela bolacha do saudoso ano de “91”, não canso de lembrar vocês sobre a importância musical de 1991 (podem ler os outros textos), quando a natureza convergiu-se em inspiração e presenteou nós meros mortais com uma excelente safra de discos (mais fresco logo).

Sem mais delongas eu lhes apresento “Achtung Baby”. Sétimo disco (estúdio) do U2.

Antes de qualquer coisa, quero lembrar que não vou ficar naquele papinho deveras escroto de “Ah, o Bono vai salvar o mundo”, “Ele ama as criancinhas da África”, “Melhor banda do mundo”, esse papinho enche meu saco. Até por que todos sabem que a melhor banda são os Ramones (ahahaah). Vamos lá.

Os anos 80 tinham terminado e o U2 já estava consagrado mundialmente, discos como “Boy” (1980), “War” (1983) e principalmente “The Joshua Tree” (1987) já tinham feito isso pelos caras. Então oque fazer, quais forças para continuar, já se tem tudo o que se pode ter. No meio de tudo isso Bono magistralmente dá um susto em toda sua horda de fãs “Temos que partir – e voltar a sonhar tudo outra vez.” (1989). De quando tempo seria a espera?

Ai chega “1991” e eles não iriam ficar de fora da festa. Com um titulo realmente simples, acredito que chega até ser tolo, retirado de filme. Os caras conseguem se reinventar e marcar um verdadeiro golaço. 

Se antes eles eram os caras que representavam a toda a fúria, agora vieram com uma proposta totalmente diferente. Deixando de lado toda aquela “Sisudez”, mudaram toda sua direção musical, incorporando elementos do Rock Alternativo, Música Industrial e porque não da famigerada Dance Music. Sim caros amigos eles votaram mais obscuros, porem bem mais introspectivos, sim amigos era o U2 para as massas. 

Eram tempos novos, “The Fly” (alter ego de Bono), estava de óculos escuros e andando de limusine com fome ele queria conquistar o mundo.

A nova proposta chegou a chocar muitos puristas, que se acostumaram com a imagem revolucionaria da banda. Mas logo ao ouvir os primeiros acordes de “Zoo Station” chegaram a conclusão que realmente aquilo valia muito a pena. Vamos deixar de onda e ir para faixas.

O disco começa a todo vapor com “Zoo Station” que teve o titulo inspirada em uma estação de metrô de Berlin, alguns acreditam que existem referencias a “The Kids from The Zoo Station” (livro de Cristiane F, os fodas sabem quem é), vai para “Even Better Than The Real Thing” uma singela brincadeira com um slogan da “Coca-Cola”, extasia todos com “One”, uma das mais belas canções já executadas, fala de relacionamentos, fala de amor (uma de minhas musicas preferidas no vinil).

Depois chega em “Until The End Of The World”, simplesmente Judas conversando com Jesus, deixando aberta a qualquer um sua interpretação. Em “Who`s  Gonna Ride Your Wild Horses” uma força do Bono para o The Edge que passava por divórcio naqueles tempos. Já “So Cruel” fala como não a crença no amor verdadeiro, ou o desespero do parceiro para que o relacionamento não acabe. Tem também “The Fly”, magnífica parodia do rock star que eles queriam ser. A marcante “Mysterious Ways” o lado feminino de envolver um homem. Segue com “Tryn`To Throw Your Arms Around The World”, uma homenagem a um bar frequentado pela banda, quando os caras estavam nos EUA (nada mais justo, bar é bar). Por sua vez, “Ultra Violet (Light My Way) traz muitas metáforas românticas. Em “Acrobat” rola uma temática extremamente religiosa, como se você pudesse resolver todo caos que existe em sua vida. E termina tudo em “Love is Blindness” depressiva , algo como uma visão incorreta do amor. Na boa é ou não um PUTA DE UM DISCO FODA ??.

Fica redundante falar que esse verdadeiro míssil de emoções bombásticas vendeu mais de 18 milhões de cópias e foi premiado pra caralho. Clássico de primeira ordem.
Sim os caras, não perderam tempo e entraram relevantes nos anos 90, horas com uma bela bolacha dessas não seria diferente.

Hoje, mais de 20 anos após o lançamento dessa obra prima, ela  ainda consegue arrancar suspiros desse coração tosco e gorduroso que vós escreve.

Esse disco é grande, belo e foda, se você se mete a entender de Rock tenha esse em sua coleção. E não ligue para os papos furados do Paul Hewson.Se reinventar e continuar relevante é para poucos. Bem vido aos anos 90.

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor “Ainda deve One agarradinho para alguém”. 

Discos que formaram meu caráter (Parte 16) – Vários- Sub (1982)


Muito bem moçada, estamos aqui de novo para falar de discos, musicas bandas e afins. Traduzindo melhor, estamos aqui para falar de Rock na maior essência da palavra.

A bolacha de hoje é uma junção do melhor que varias bandas estavam produzindo no ano de 1982. Antes de toda liberdade conquistada, antes dos milicos saírem das nossas vidas, ainda com a mordaça na boca, o disco de hoje é rápido e rasteiro, o vinil em questão se chama SUB.

Gravado no ano de 1982, era para ser um disco só do Cólera (grande banda, falaremos muitas vezes dela nessa seção), inicialmente seria batizado de “Sub- Ratos”, mas o intuito e o pensamento comunista do “grande” Redson (vocalista do Cólera) fez com que outras três bandas fossem chamadas e mostrassem o seu melhor no disco. Eram elas Ratos de Porão, Psykose (com “Y” e “K” mesmo) e o Fogo Cruzado.

O que era pra ser um disco de uma banda só, acabou se transformando em uma das mais importantes coletâneas de Punk Rock da história, sendo mundialmente respeitada e aclamada.

Sub mostrou o melhor que aquela molecada feia, que andava de preto pelas ruas estreitas e recheadas de concreto de São Paulo estava fazendo.

Antes de tudo, é preciso falar que o sentimento de liberdade ainda era raridade em nossas terras e que foi preciso muita coragem para ser feito isso naqueles anos. O movimento punk ainda estava engatinhando na América Latina, como sempre, muitas ideias eram distorcidas. Mas na cara e na coragem, essa rapaziada foi  lá e fizeram o disco que para muitos é o marco inicial do movimento (beleza existe o “Grito Suburbano”, mas falaremos desse outro puta disco em outra oportunidade) punk.

O disco é incendiário do começo ao fim, são exatamente 24 musicas em apenas 32 minutos, ou seja como já disse é rápido e rasteiro, como um bom punk rock.

Vamos às faixas:

O Cólera contribui com as faixas “X.O.T”, “Bloqueio Metal”, “Quanto vale a liberdade”, “Histeria”, “Zero Zero”, “Sub Ratos”, o Ratos de Porão entra de sola com “ Parasita”, “Vida Ruim, “Poluição Atômica”, “Não podemos Falar”, “Realidades da Guerra”, “Porquê ?”. Já o Psykose veio com “Terceira Guerra Mundial”, “Buracos Suburbanos”, “Fim do Mundo”, “Vitimas da Guerra”, “Alienação do Homem”, “Desilusão”. Já o Fogo Cruzado fecha o caixão com “Desemprego”, “União entre os Punks do Brasil”, “Delinquentes”, “Inimizade”, “Punk Inglês” e “Terceira Guerra”.

Falando em desespero, miséria, fome, guerra e ecologia (sim eles já falavam antes de virar modinha) os caras colocaram a cara para bater em plena ditadura, coisa que muitos dos nossos conceituados artistas não estavam mais fazendo. Ou seja, estavam na vanguarda não esperaram o tempo amenizar para colocar a boca no trombone e falar da podridão da vida, e deixar de lado o lado bonitinho do “Pra frente Brasil”.

Pelo registro histórico e pelo verdadeiro bombardeio de verdades a serem cuspidas, “SUB” merece e muito patente de Clássico.

Ao ouvir os acordes infernais desse disco você, caro leitor, vai aprender duas coisas:

Que o gosto de pinga barata que vai tomar conta de sua boca é em decorrência do som, e que nossa juventude foi bem mais que uma veadagem de ser uma “… Banda numa propaganda de refrigerantes”.

Redson que todos os coiotes uivem por você. Vida longa ao PUNK.

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor “Pura revolta nessa porra”.

Discos que formaram meu caráter (parte 15) – Pantera- Cowboys From Hell (1990)


Que se abram as portas do inferno deixem todos os demônios passarem e podem fazer toda reverencia para este disco. Quem não conhece, com certeza vai ficar assustado, mas a “bolacha” de hoje algo extremamente surreal, algo como uma volta no andar de baixo o disco de  hoje e “porradaria” do começo ao fim e com certeza colocou muita cabeça pra bater, eu falo de “Cowboys From Hell” do Pantera.

Na batalha desde 1981, o Pantera não era muito conhecido, soava mais como uma cópia de todas as bandas de metal que perambularam pelos anos 80. Era um tempo de cabelos “cor de rosa” e roupas de couro, onde o que importava mesmo era o visual, o som ficava meio de lado, por que praticamente todas as bandas faziam a mesma coisa.

Mas dando uma parada no tempo, esse é o quinto disco da banda, mas marca uma mudança radical no estilo dos caras. Simplesmente eles chegam a conclusão que o tempo de “Glan Rock” ficou no passado com os anos 80, e resolvem fazer uma verdadeira “sonzeira”, algo como uma reinvenção, do tipo “daqui pra frente nós somos assim e foda-se se você não gostar” e assim começa os anos 90 para os caras.

Deixando de lado tudo oque já tinha sido feito pela banda “Cowboys” é como já disse um recomeço, uma volta à estaca zero na história da banda, realmente eles estavam muito a fim de serem reconhecidos como uma banda “realmente porrada”, muito longe da proposta dos primeiros trabalhos.

O disco nada mais é do que uma overdose frenética de intensidade, algo que o Metal estava precisando, o “Grunge” dominava as paradas universais da música e o metal era tratado simplesmente como “pária”. O Pantera, com esse “míssil”, ressurgiu das cinzas como uma verdadeira injeção de sangue vermelho, cheio de nutrientes no coração doente dos metaleiros.

Vamos às faixas infernais:

A porrada sonora começa com “Cowboys From Hell”, a faixa título tem um dos riffs mais conhecidos do metal, os caras mostram logo que estão “por cima” da situação. Depois vai para “Primal Concrete Sledge”, muito legal, puro chumbo nos ouvidos, chega em “Psycho  Holydi”, rápida como tem que ser, vocal incrivelmente alto,. Seguida por “Heresy”, versos como “para que eles possam lamber meu saco”, mostra toda mudança da banda. Na sequencia rola ”Cemetery Gates”, baladinha, os vocais são melódicos uma pausa para respirar. Em “Domination”, umas da minhas favoritas, Phil rosna com raiva nessa faixa, um sentimento de ódio pode pegar você de surpresa. 

A porrada continua em “Shattered”, lembrando o Judas (nos bons tempos), essa canção lembra a clássica “Painkiller” eu acho ela fantástica. “Clash With Reality” a parte do “vamos encher a mortadela”, mas não pode ser desconsiderada, porradaria também, “Medicine Man”, solo bem feito, riffs legais um fleter com rap (?), sim ela é falada não cantada. 

Em “Message In Blond” uma guitarra assombrosamente verdadeira, para levantar a moral de qual quer um. Já na “The Sleep”, segunda baladinha do disco, menos tensa e mais palatável que a primeira, um introdução magnifica e descamba em um estrondoso manancial de riffs inesquecíveis, terminando tudo em “The Art  of Shredding”, uma maneira muito agradável de finalizar o disco, uma trituração em sua cabeça, não poderia deixar de fechar o disco.

Com um som mais pesado, direto e sujo, os caras começaram os anos 90 reescrevendo sua biografia dentro da história do rock, o que poderia ser um tiro no pé se mostrou a atitude mais inteligente.

Tudo nesse disco aparece como novidade, e sim, o metal precisa disso. Hoje em dia, mais de 20 anos de seu lançamento, por sua atitude e importância, “Cowboys From Hell” não desmerece nenhum pouco a nomenclatura de clássico.

É ainda muito relevante, o Pantera pode se orgulhar de ter feito um disco muito bom, melhor excelente….Um disco extremamente cru, ou melhor um “PUTA DE UM DISCO PORRADA”

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor. “A insanidade é algo necessário em minha vida”.

Discos que formaram meu caráter (Parte 14) – Plebe Rude- O Concreto já Rachou (1985)


Muito bem gente, depois de muitas emoções na semana passada, estamos de volta para falar de disco, música e muitas outras bobagens interessantes. Sim, pois o que seria da vida sem elas.

O disco em questão trata-se de uma perola dos anos 80, ah os anos 80, década perdida, liberdade, estouro do rock, e muitos outros clichês que vemos por ai. Sim, estamos falando de “O Concreto já Rachou”.

Corria o ano de 1985, o melhor time do Brasil era o Bangu e o craque da moda atendia pelo nome de Jacozinho. Eleições indiretas, inflação, fim da ditadura.

No parâmetro musical, as bandas brasileiras faziam sucesso. A discoteca do Chacrinha ia todo vapor. Nesse contexto, vem do distrito federal uma banda com o nome sugestivo de “Plebe Rude”. 

Na batalha desde o começo dos anos 80, a trupe formada por Philipe Seabra (com “PH”, mesmo), Jander, André X , Gutjer, andava mais focada em critica social e a demostrar toda sua influencia do punk inglês. Talvez influenciada por toda aquela onda de novidade, ou aquela de “agora a gente pode falar, e mostrar oque está errado”. Eram tempos novos. Não é exagero falar que os caras eram praticamente o “The Clash” brasileiro (já tínhamos “The Police” nacional, o “The Smiths” Tupiniquim)  não custava nada mais outra cópia.

Curiosamente, o disco inaugura um novo formato, tal de “mini LP”, contem apenas sete músicas, isso por que  a gravadora resolveu aproveitar um  “surto” de consumo e jogou a molecada  logo no mercado, estouro comercial, duzentas mil “bolachinhas vendidas”, o maior sucesso dos caras.

Mas apesar do tamanho pequeno o disco não passa em branco, o contexto explorado e sim de muita importância, não é a toa que o “mini” esta entre os 100 discos mais influentes da música brasileira, segundo a Rolling Stone (importante revista musical). 
A rádio tocou ao máximo o conteúdo, e não teve como não conhecer a verve dos caras.

Vamos as faixas:

Começa forte com “Até quando esperar”, sim ela mesma o cargo chefe da banda abre as cortinas da curta viajem, letra genial, praticamente um pedido por justiça social. Vai para “Proteção”, um calhamaço de criticas ao sistema, a polícia, a politica e tudo que oprimia os cidadãos. Chega em “Jonhy vai Guerra”, baseada em um filme de mesmo titulo, fala de guerra, repressão e intolerância, algo marcante na época. 

Tem também “Minha Renda”, uma singela homenagem Herbert Viana, que para muitos estava ganhando uma boa grana. “Sexo e Karatê”, apesar do nome fala de televisão, melhor a mesmice dos enlatados (odeio esse termo) americanos que passavam na nossa telinha. “Seu Jogo”, o jogar diário da vida, a busca pelo velho e bom “se dar bem” do dia-dia, e termina em “Brasília”, mostrando todo lado critico da capital da esperança.

Sim curtíssimo no tamanho, mas imenso na importância. Um disco atemporal, se ouvir hoje, não vai dever nada.

Um dos melhores discos de Rock Nacional, de todos os tempos, não pode deixar de ser reconhecido como clássico.

É triste reconhecer que hoje, 28 anos depois, ainda não sabemos “até quando esperar”.

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor “Infelizmente, caras como eu estão ficando velhos…”.

Discos que formaram meu caráter (parte 13) – Ozzy Osbourne -No More Tears (1991)


Muito bem amigos, voltando a nossa programação normal. Eis que estamos mais uma vez aqui para falar sobre música, ou melhor, sobre discos. Minha viajem ultrassónica pelo que resta de minha macabra memoria nos leva a relembrar mais um clássico.

O disco em questão é mais um da valiosa safra de 1991 (já disse algo sobre esse belo ano) e atende pela alcunha de “No More Tears”, do famigerado Ozzy Osbourne.

Bom, como já disse, corria o ano de 1991 e a música, ou melhor, o rock estava em maré alta, o Nirvana quebrava tudo com “Nevermind” (já falei desse), o Pearl Jam dava seu recado com “Ten” (também sobre esse), o U2 se reinventava com o espetacular “Achtung Baby” (desse ainda vou falar), os Ramones mais vivos do que nunca com seu “Loco Live” e o Metallica só lançou o “Metallica” (o preto, caso não tenham entendido). É ou não é uma excelente safra de discos? Mas amiguinhos o Ozzy andava mal.

Mais lembrado por suas peripécias etílicas (para ficar só no álcool), como por exemplo, cheirar formigas, tomar mijo, comer cabeças de pombos e claro abocanhar morcegos. O velho Osbourne via sua vida, sua carreira e todo seu legado indo para o ralo junto com ele.

Com uma tentativa de estrangulamento contra sua esposa, brigas com produtores importantes, acusações na justiça americana e o pior: vendo que seus antigos companheiros de Black Sabbath tinham recrutado o “Todo poderoso” Dio e estavam, como era de se esperar, fazendo algo contundente. Ozzy estava cada vez mais atolado em sua própria sujeira e vendo o tempo passar.

Ele não poderia deixar essa época passar, seus últimos trabalhos solos, posso ser chato e dizer que todos estavam longe da genialidade de “Blizard Off Ozz” (1980) e de “Diary Of Madman” (1981), é realmente Ozzy não era uma boa companhia naquela época. Ele precisou passar por muita merda para “dar um tempo” na onda se internar e realmente fazer oque sabia fazer de melhor. Ele sai de cena para voltar e nos presentear com essa excelente bolacha.

Vamos a ela:

Começa com a sensacional “Mr Tinkertrain”, com seus riffs incríveis que fazem qualquer mortal levantar a cabeça e ter a noção de que o inferno esta próximo, vai para “I Don`t Want To Change The World”, nessa faixa Ozzy mostra como esta contente em ser ele mesmo.  A sensacional “Mama, I`m Coming Home”, reflexão visceral sobre sua trajetória de excessos (próprio Lemmy contribuiu com versos para essa música), “Desire”  para não se perder e cantar um belo refrão junto, “No More a Tears”, poderosa, faixa titulo, esta na história do rock. 

Em “S.I.N”, essa é para quebrar tudo, arrebentar com todos, “Hellraiser” Lemmy aparece de novo, para ajudar a contar essa historia sobre a “vida na estrada”, “Time After Time”, o momento clássico de acender o isqueiro, “Zombie Stomp” para relembrar os gloriosos anos 80, “A.V.H” (ou melhor Alcohol, Vlium and Hashish), um verdadeiro estouro, a fórmula ideal com solos incríveis e refrão para todo mundo cantar e fechando com “Road To Nowere” para deixar os problemas realmente no passado. Na boa, um puta disco.

Reflexível, porem fantástico. Clássico com letras garrafais.

Justo lembrar que essa bolacha eleva o patamar do “Hard Rock” e o velho Ozz estava muito bem acompanhado dos sensacionais Zakk Wilde nos solos e de Mike Inez no baixo, que depois iria para o Alice in Chains (Grande banda) e claro do Lemmy Kilmister (os fodas sabem quem é).

Esse disco devolveu o respeito para o “Príncipe das Trevas” e o tirou das profundezas da mesmice.

Ozzy Osbourne merece toda nossa consideração. E vai ser sempre lembrado. Para os jovens que o conhecem pelo personagem bonachão do seriado de TV, posso dizer ele é muito mais que aquilo.

Vida longa, alteza!

Marcelo Guido é Punk, Pai, Marido, Jornalista e Professor “ e Marco Feliciano não me representa…”  

Discos que formaram meu caráter (parte 10): Nós Vamos Invadir sua Praia- Ultraje a Rigor (1985)

E ai meus caros, chegamos ao numero “10” da nossa estrada de “tijolos amarelos”, e não poderia ser algo menos especial do que esse belo registro musical. Não é um disco comum, trata-se, acredito eu, do primeiro grande fenômeno do rock brazuca. Sim, amigos. Falaremos hoje de “Nós vamos invadir sua praia”, quem já teve a honra de ouvir sabe do que estou falando.

Corria o ano de 1985, um ano mágico da década perdida. Digo isso, pois a ditadura militar que calou uma população inteira começava a sair de cena, e junto com ela a censura que mutilava pensamentos e calava a criatividade dos nossos artistas. MPB estagnada, naquele engajamento politico que não teria mais sentindo sem ter o inimigo para bater, os velhos militares ainda assustavam, mas eram apenas cópias dos monstros do passado (ainda recente) da tirania, ou seja, todo aquele “fervor” politico não faria mais sentido nos anos que estariam por vir, já era “85”. 

Nesse cenário meio “Cachorro sem dono”, vem de São Paulo uma turma aparentemente só queria tocar e se divertir, mas que nas entrelinhas tinham muito a dizer, eles eram o Ultraje a Rigor.

Na batalha desde o começo da década de 80, com a formação de Roger, Edgard Scandurra (que priorizou o “!Ira”, e foi substituído por Carlinhos Branco), o baixista Mauricio DeFedi e o excelente Leospa na bateria, o Ultraje largou as cores cinzentas de “Sampa” e alçaram voo maior, os caras queriam literalmente invadir a praia.

Esse álbum foi um verdadeiro estrondo, podem ver pela quantidade de músicas que tocaram no rádio, e nas pistas de dança. Todos adoraram aquela novidade, já que foi o primeiro disco de uma banda de rock, como posso dizer “Escrachada”, pelo conteúdo de suas letras, que conseguiu destaque na mídia, por isso se tornou um tijolo presente e importante no muro da revolução musical brasileira. O disco conseguiu ouro, platina e platina duplo.


Dissecando a Bolacha vemos a faixa titulo “Nos vamos invadir sua praia”, que é uma ode a experiência paulista de invadir o Rio de janeiro (berço do Rock na época) e literalmente mudar as estruturas do que estava sendo feito, “Rebelde sem Causa”, uma homenagem aquela figura que conhecemos, que tem tudo na mão e se acha no direito de revolta, vai para. “Mim quer Tocar” critica ao sistema quase amador que as bandas passavam no Brasil, tudo que era bom era importado (instrumentos, equipamentos de som) os nacionais pareciam mais coisa de índio mesmo, chegamos em “Zoraide”, a mina grudenta que quer casar.

 “Ciúme”, sentimento comum para muitos, que permeiam muitos relacionamentos vida há dentro, “Inútil”, histórica e emblemática, tornou-se hino da campanha das “Diretas Já”, quando o então deputado Ulysses Guimarães utilizou seus versos (“A gente não sabemos escolher presidente/ A gente não sabemos tomar conta da gente/ A gente não sabemos nem escovar os dentes…”) para abrir uma seção no congresso nacional, “Marylou”, galinhas, vacas, muitas interpretações escolha a sua, essa em particular saiu na versão carnaval, oque prova que realmente os caras não estavam de brincadeira. 


“Jesse Go”, fala da história de um relacionamento, muito legal mas infelizmente a menos compreendida do disco, “Eu me Amo”, hino mor ao egocentrismo, alto estima transpira nos versos dessa musica, ninguém consegue viver sem uma dose de amor próprio, “Se você sabia”, a velha história da namorada que engravida, uma celeuma pela qual passei e acredito eu muitos de vocês, fecha com “Independente Futebol Clube”, mais uma que fala de relacionamento, mas agora alguém suplicando por liberdade.

Não existe uma pessoa que conheço, que ainda não tenha se pego cantando pelo menos uma dessas faixas, esse é um relato histórico do rock nacional, um disco com todos esses elementos distribuídos não tinha como dar errado, um verdadeiro “caminhão de hits” que conquistou do netinho ao vovô. Um clássico imediato.

A superexposição acabou surpreendendo e também porque não prejudicando os caras, ficaram com a aquela ingrata marca de “engraçadinhos”, ou seja, os 20 anos de ditadura militar tinham realmente tapado à cabeça da população. 


Ouvindo o disco hoje em dia, quase 30 anos depois, ele ainda é atual, pois ainda existe um amadorismo na música. Para muitos, não sabemos ainda escolher presidente, ainda existem playboys sem cérebro andando por ai, o amor próprio anda em voga, sem contar que nada melhor que levar a farofinha pra praia.

No mais, jovem você que esta completando 18 anos, aprenda esse é um dos melhores discos de estreia de todos os tempos e assim ele foi feito. Uma verve satírica, ou seja, o bom humor a serviço da coisa séria.
Marcelo Guido é Punk, Pai, Marido, Jornalista e Professor “E olha todo mundo é adulto nessa torre”.

Discos que formaram meu caráter (parte 9) – Copper Blue – Sugar (1992)


Depois de um longo e tenebroso inverno, eis que estamos de volta com nossa inóspita viagem pelos discos que permeiam minha vida e com certeza a vida de muitos de vocês. Do fundo de minha alma tenho a obrigação de dizer, sim amiguinhos existe vida inteligente sem internet.

Nossa viagem leva agora a década de 90, que nos proporcionou o “Grunge”, o Collor e a ressurreição do Fusca (não esse de playboy, mas aquele que a sua tia tinha), deixando meu saudosismo de lado vamos ao que interessa.

O disco em questão trata-se de um verdadeiro divisor de águas para mim, antes um apreciador radical do punk, com uma queda leve pelo metal e apreciador das melodias perturbadoras de Seattle (já falei sobre isso), como todo moleque de 15 anos: “Eu já sabia de tudo”. Até ser apresentado a este verdadeiro míssil sonoro, chamado Copper Blue.

Com o fechamento do Husker Du (grande banda) o vocalista e principal letrista, Bob Mould sai de cena e volta com dois trabalhos cheios de violoncelos e ressentimentos, os excelentes e sombrios Workbook  (1989) e Black Sheets of Rain (1991). Tendo exorcizado seus fantasmas e deixado a frescura de lado decide formar junto do baixista Dave Barbe e do baterista Malcoln Travis o Sugar.

Unindo a sujeira do Punk Rock (lembranças dos tempos de Husker), com melodias muito mais acessíveis eles gravam “Cooper Blue” que conseguiu alavancar certo sucesso no mercado americano e foi considerado o disco do ano pela “New Musical Express” na terra da Rainha.

O espaço cedido pela verve do punk nesse disco e ocupado com maestria por uma verdadeira explosão de guitarras ardidas, bem situadas e comprimidas, do começo ao fim. Ou seja, nada deve ao que estava sendo feito na época.

O álbum inicia com azedíssima “The Act We Act”, que nos faz cair na lembrança do Husker Du, mas ao contrario ela é animada com uma boa base instrumental, vai para “A Good Idea”, que faz parecer mais Pixies do que nunca, faz todos viajarem em “Changes” que realmente é um dos destaques da bolacha, tem também a sóbria “Helpless”, a homenagem ao maestro George Martin em “Hoover Dan”, o tributo apaixonado aos quatro caras de Liverpool em “If I Can Change Your Mind”, ou seja a ternura chega e toma conta. Não se pode deixar de lado “The Slin”, “Fortune Teller”, “Slick” e a memorável “Man On The Moon”, realmente um discaço.

O saudoso Zeca Jagger costumava dizer que o Rock é simples, que quando se complica o Rock ele fica chato, “Cooper Blue” vai pra longe disso, as musicas são emotivas, feitas para serem cantadas, estudadas e vividas como o bom Rock and Roll deve ser, sem firulas a temperatura do disco é a mesma do começo ao fim. Musicas incríveis, resultado de letras fantásticas e melodias fenomenais. Não existe nada de mal nessa bolacha. Um verdadeiro clássico.

Acredito em minha opinião que este foi um dos momentos mais felizes da música no século XX. De tão atual, hoje mais de vinte anos depois de seu lançamento ouvi-lo ainda é uma boa ideia. Se você jovem ainda não teve essa experiência, corra ainda há tempo. É realmente eu ainda lembro oque ouvia em 1994.

Marcelo Guido é Punk, Pai, Marido, Jornalista e Professor “e não, NÃO estava em tratamento”.