O ELOGIO DO PÉ – Poema de Fernando Canto para Ubiratan do Espírito Santo, o “Bira”, craque maior do futebol amapaense (que hoje completa 60 anos de vida)

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O ELOGIO DO PÉ – Poema de Fernando Canto para Ubiratan do Espírito Santo, o “Bira”, craque maior do futebol amapaense (que hoje completa 60 anos de vida)

I
Ainda que a mão guie
O rápido correr do atleta
O pé equilibra a perseguição da pelota e seu couro
Tal como o ouro em seu brilho
Desperta e arrisca o assombro à cobiça
No fado de explodir a bola
Num voo atômico em direção à rede.

II
O atleta – certeiro – atinge o alvo duas vezes
Pé e cabeça se harmonizam nesse objetivo
E mais vezes, mais os olhos se guiam à rede – incansável,
Mistura de inseto, soldado, animal de testa larga
Arranca cem vezes o grito da torcida enlouquecida.

III
É azul, preto e branco, vermelho
O gosto da loucura ecoante
De rugidos da selva, de cantares da alvorada
E de sangue guerreiro de norte a sul do Brasil:
É Bira de Nueva Andaluzia, paraoara,
Dos pampas, das alterosas,
Do espiritu sancto do gol, das vitórias domingueiras
Das tardes ensolaradas, crepúsculos festivos
Da tela não-pintada de Michelangelo
(Alegoria de Deus que entrega a bola a Adão
No leve tocar de dedos)
Como um contrato entre as partes no Éden tupiniquim.

IV
É Bira, príncipe da arte de chutar no gol
Viajante contumaz do oco da bola
Onde moram os querubins do futebol

V
No contato da chuteira e a bola
Centelhas rompem imperceptíveis aos olhos da torcida
Mas ali, na trajetória da pelota ensandecida
Girando em curva ou reta
Corre o chute mágico do atleta uBIRAtan
Que trave alguma, vento algum, goleiro algum,
É capaz de parar ante o fundo da rede, o seu destino.

VI
É certo que o tempo, implacável como o goleador
Também abre ruas no rosto em movimento
Ventos empoeirados surgem abruptos dos logradouros
Como quem logra a vida em ciclos imemoriais.

VII
Onde se vê de novo o voo rasante dos quero-queros
Sobre verde do gramado?
Talvez no espelho da lembrança
Porque a fama, efêmera e fugaz
Faz da vida o templo da memória, onde se clama
O que ficou para trás
Onde os cantares se repetem em rituais
Para abençoar a glória dos que vencem
Em tempos que escrevemos nosso esquecimento.

VII
A voz grossa dos que torcem e glorificam
Deixam grandes silêncios na alma
Cobram-se cobranças, cobram-se castigos
A falta, a mão, o pênalti
E o gol, que para sempre é objetivo
Resta, então, a festa da massa em labaredas
Em gritos, confetes e bandeiras
(ou o desterro infausto em outros horizontes)
VIII
Entretanto o pé-de-ouro arrisca
Em balés de pés-de-lã/ pés-de-moleque
Pés-de-pato sob as gotas de um pé-d’água na neblina
Nas estações mais aziagas das paisagens-penitências
E realiza seu trabalho de cerzir o tempo e as camisas coloridas

IX
Ora, a inveja é um olhar sinistro
Que se movimenta sobre a dádiva
Ofertada aos talentosos
É um ovo só
Saído das entranhas da serpente,
Para reduzir a alma que alimenta com seu ranço

X
Ora, o futebol não se limita a homens
Em seus campos de lama e de gramas aparadas
Há um árbitro, há rivais que se trajam de esperança
Oponentes opulentos em nervos eriçados
Quando a bola cintilante gruda ao pé do craque
E ele mergulha nas funduras do seu rio
Onde cardumes geram suas eternidades
E esperam uma coreografia não ensaiada
Para, enfim, soltar a voz contida em milênios de partida

XI
Ah, a pira dos deuses parece penetrar em águas abissais
De onde irrompe o grito final do campeão

XII
Quem não viu não mais verá. Nem ouvirá
O clamor dos ribeirinhos do Amazonas, o eco da baía de Guajará
O som ferrífero da serra do Curral e o brado dos gaúchos do Guaíba.
Quem não viu não sentirá
A poesia refletida na potência do olhar, da mira
Da luz mágica do Bira e seu bólido de vidro e luz
Transformando-se em espelho pela última vez.

XIII
E nós aqui tal degredados em nossa própria aldeia
Apenas com as imagens do passado e nosso orgulho
Fomos os pés, os pés do Bira
Quando o chute governava a bola
E a noite vigorava um brinde
A mais um campeonato ganho na história
Pelos pés do nosso ídolo
De sonho e de memória.

Fernando Canto

Pego carona na homenagem do Fernando. Bira jogou no Esporte Clube Macapá, Clube do Remo e Paysandu Sport Club (foi o maior goleador de todos os campeonatos paraenses disputados até hoje).

O artilheiro também atuou no Internacional de Porto Alegre (onde foi campeão gaúcho e campeão invicto do Campeonato Brasileiro) e Atlético Mineiro. Ele era amigo do meu saudoso pai, Zé Penha. Gosto pra caramba do Bira. Meus parabéns e vida longa ao nosso artilheiro!

Elton Tavares

62 anos de Zico, o maior jogador do Flamengo de todos os tempos

Hoje (3 ), é aniversário de Arthur Antunes Coimbra, o popular “Zico”, o melhor jogador de futebol da história do Flamengo e um dos maiores do Mundo.  Zico trabalha como treinador (sem clube) e é ex-dirigente do Mengão.
 
Zico liderou a vitoriosa trajetória do Flamengo nas décadas de 1970 e 1980. Ele ganhou campeonatos brasileiros, a Taça Libertadores da América e o Campeonato Mundial de Clubes e vários títulos cariocas. Jogou pela Seleção Brasileira nas Copas Argentina 1978, Espanha 1982 e México 1986, com boas atuações mas sem títulos com a camisa canarinho.
 
Também passou pelo pelo Udinese (ITA) (aliás, chorei copiosamente quando Zico partiu pra Udinese) e foi para o Japão, atuar pelo Sumitomo Metals, que depois se tornou Kashima Antlers, onde o jogador foi atleta e iniciou sua carreira como treinador. Ele foi o melhor jogador da história dos dois clubes. 
 
Quem resumiu brilhantemente a passagem de Zico pela Udinese foi o jornalista do “Il Gazzettino de Veneza”, profissional encarregado de segui-lo, Luigi Maffei:
 
Para nós, friulanos, Zico tem o mesmo significado de um motor da Ferrari colocado dentro de um fusca. Sentimo-nos os únicos no mundo a possuir um carro tão maravilhoso e absurdo”.
 
Além do Kashima Antlers, Zico fez sucesso como técnico no CSK Moscou (RUSS) e Fernebace (TUR).
             
Apesar de comandar a mágica Seleção Brasileira de 1982 (para muitos a melhor de todos os tempos) ter participado de três Copas do Mundo, Zico nunca se sagrou campeão mundial. 
 
O cara atuava como meio-campo, mas sempre foi artilheiro. Bater falta para ele então, era pênalti. Zico foi rotulado no exterior de “Pelé Branco”. Foram 970 jogos e 703 gols, destes, 509 pelo Flamengo. “Zico foi o líder do melhor time que vi jogar. Ele é um mito e não haverá outro como ele”. (Romário)

          

Meu saudoso pai, Zé Penha, sempre dizia que Zico foi o maior depois de Pelé. Discordo, a história do futebol teve Maradona, Romário e Ronaldo. Mas é verdade que Zico é ídolo de muitos ídolos, como o também ex jogador italiano Roberto Baggio (aquele mesmo que perdeu o penal em 1994, quando nos tornamos penta). 
Acredito que existem e existiram muitos craques no futebol mundial, mas poucos gênios. Zico foi um destes gênios. Além de felicitações, minha gratidão, respeito e admiração, pois o vi jogar e fazer a alegria da nação rubra negra. Enfim, palmas para o cara, que ele foi e é PHoda.  Parabéns Zico!
 
Elton Tavares

Santos-AP inicia venda de ingressos para jogo contra o Paysandu-PA

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Os torcedores amapaenses e paraenses já podem garantir os ingressos para o jogo entre Santos-AP e Paysandu-PA, pela Copa Verde no domingo, 8 de fevereiro, no estádio ‘Zerão’. A comercialização começou nesta quinta-feira (29). Oito mil ingressos foram postos à venda com os valores de R$ 60 e R$ 30 (meia), antecipadamente. Para o dia do jogo, os bilhetes serão comercializados a R$ 100 e R$ 50 (meia). A partida acontecerá às 18h (horário local).

Segundo o diretor financeiro do clube santista amapaense, Helivan Ramos, os ingressos deveriam ter sido postos a venda na segunda-feira (26), mas houve um atraso na entrega por parte da gráfica que confeccionou os bilhetes.

– Infelizmente houve esse atraso por parte da gráfica, mas acredito que não irá prejudicar as vendas. A promessa é que tenhamos casa cheia para a partida de estreia do Santos-AP na Copa Verde – comentou Helivan.

Confira os postos de venda:

CT do Santos AP
Rodovia Duca Serra, s/n.
Federação Amapaense de Futebol (FAF)
Avenida Fab, 2371, Santa Rita.

Loja Macapá Sport
Avenida Fab, 718, Centro.

Boutique da Escola de Samba Boêmios do Laguinho
Avenida General Osório, Laguinho.

Banca de Revista do Paulo
Avenida Padre Júlio, s/n, Santa Rita.

*Rafael Moreira, com orientação do editor Wellington Costa.

Fonte: GloboEsporte.Com

‘Torcida será o 12º jogador’, diz líder de organizada do Flamengo no Amapá


O presidente da torcida organizada do Flamengo no Amapá, a FLA Amapá, Kellder Costa, diz que o apoio da torcida servirá como o ‘12º jogador’ no jogo de volta contra o Atlético-MG, no Mineirão, pela Copa do Brasil, nesta quarta-feira (5). Costa diz que o rubro-negro deve respeitar o adversário, apesar da vitória no Rio, e espera uma partida equilibrada e difícil, com a lesão de Léo Moura.

– Meu palpite é de que o jogo fica no placar de 1 a 1 e vamos avanças. Acredito que o gol será de Eduardo da Silva, jogador frio e que não treme em decisão. Pelo Atlético Mineiro, Diego Tardelli marca – aposta o presidente. 

O presidente da FLA Amapá diz que as chances do Flamengo passar para mais uma final da Copa do Brasil tornam iminente a chance do tetracampeonato da competição. Mas para isso, acrescenta, é necessária a energia positiva da torcida de todas as regiões do país.

Kellder Costa diz que o trabalho do técnico Vanderlei Luxemburgo deu uma nova visão de jogo para o time rubro-negro.

– O time, com a chegada de Luxa, com certeza obteve um padrão tático em campo, organizado, marcando muito e explorando sempre os contra-ataques. Motivado e focado, é o melhor treinador em atividade no Brasil, pelo currículo e pelo que sabe de futebol. E está provando Isso – avalia.

O presidente diz que, com a possível classificação, membros da FLA Amapá irão à decisão. Flamengo e Atlético-MG jogam nesta quarta-feira (5), a partir das 22h (horário de Brasília), no estádio Mineirão.

Amapá terá exposição do livro ‘1283’ que conta a história do Rei Pelé


Pela primeira vez o Amapá recebe o livro ‘1283’ que conta a história do jogador Pelé, considerado por muitos como o rei do futebol. A obra ficará em exposição por dois dias em uma instituição de ensino superior de Macapá, localizada na Zona Norte da cidade, e será aberta para visitação pública na próxima quinta-feira (6).

Foram impressos 1.283 edições do livro, o mesmo número de gols marcados pelo camisa 10, que tem 500 páginas com 1.283 textos (em português e em inglês) contando histórias ‘pra lá’ de emocionantes do eterno craque do futebol brasileiro. Aline Burigo, responsável pela exposição do livro em Macapá, conta que será uma boa oportunidade de o amapaense conhecer a história do Rei Pelé, cuja carreira se encerrou há quase 4 décadas.

– Estamos muito lisonjeados de poder homenagear este grande brasileiro. Receber essa raridade nos permite valorizar a importância do esporte na trajetória de vida de pessoas como Pelé, que fez história no Brasil e no mundo. Para quem não conhece a história do rei do futebol talvez seja uma experiência única – afirma a diretora.
O livro ‘1283’ é digno de rei. O livro foi impresso na Itália com capa revestida de seda italiana, lombada em couro, estojo confeccionado artesanalmente e impresso em GardaPat Kiara – um papel fabricado às margens do lago de Garda na Itália. A obra chegou em Macapá no dia 31 de outubro.

– Originalmente a recomendação era que o livro fosse exposto apenas para os funcionários da Estácio Seama, mas entramos em consenso que esta grande obra tem que ser mostrada para todos. Por isso, abriremos dois dias de exposição para os alunos amapaenses – disse Aline Burigo.
Confira os dias e locais onde será exposto o livro ‘1283’:

Quinta-feira (6)
Local: Faculdade Estácio Seama 
Horário: 18h às 21h
Endereço: Avenida José Tupinambá, 1223, Jesus de Nazaré
Tel: (96) 2101-5151
Sexta-feira (7)
Local: Famap
Horário: 18h às 21h
Endereço: Rodovia Juscelino Kubitschek S/N – Km 02
Tel: (96) 3312-2200 

*Rafael Moreira, com orientação do editor Wellington Costa.


Paysandu está de volta à série B do Brasileirão


Um ano depois do descenso para a Série C o Paysandu garante uma vaga e retonra à série B do Brasileirão ano que vem. A partida que definiu o retorno do Papão foi realizada na tarde deste sábado (25) em Juiz de Fora (MG).  Vale lembrar que no jogo de ida, disputado no sábado passado, no Mangueirão, em Belém, o Paysandu já tinha vencido  o Tupi por 2 a 1

O Tupi começou melhor na partida , com maior posse de bola enquanto o Paysandu ficou  recuado no campo defesa e esperando o contra-ataque. Uma reclamação de ambos os times foi sobre má condiçao do gramado no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, em Juiz de Fora. A primeira boa chance do Paysandu no jogo foi com o lateral direito Pikachu que aos 26 min do primeiro tempo chutou de fora da área, mas o goleiro Rodrigo pegou bem. No fim do primeiro tempo foi a vez do Tupi fazer boas jogadas. Chico chegou a drilbar Charles do Paysandu e  chutar,  mas a bola foi para fora.

No segundo tempo o Paysandu partiu para o ataque  Bruno Veiga e Pikachu chegaram a  chutar para o gol mas foram atrapalhados muitas vezes pelas péssimas condições do gramado. No fim do segundo tempo um cartão vermelho para o jogador Wesley Ladeira do Tupi favoreceu o Papão que já se saia bem no jogo. Aos 41 minutos, Ruan abriu o marcador e faz o primeiro gol do jogo para o Paysandu garantindo a volta do time paraense para série B do Brasileirão em 2015.

Em Manaus, Santos vence o Princesa e está na 2ª fase da Série D


Após derrotar por 3 a 2 o Princesa do Solimões no estádio Ismael Benigno, no último sábado, 20, em Manaus, o Santos, do Amapá, eliminou o time rival e se classificou para a segunda fase da Série D do Campeonato Brasileiro de Futebol. Até os 39 minutos do segundo tempo, o jogo estava empatado.

O terceiro gol do “Peixe da Amazônia”, que garantiu a classificação, foi feito pelo goleiro Diego numa cobrança de falta. Os outros gols do time do Santos foram feitos no primeiro tempo pelos jogadores André Beleza, aos 3 minutos e Carlinhos Maraú, aos 43.

Se o jogo tivesse terminado com um empate, o Princesa do Solimões teria se classificado.  

Na partida, o time do Santos-AP contou com os jogadores Diego, Cavalo (Aldair), Welington, André Luis, Pretão (Michel) e Carlinhos Maraú; Sandro, André Cabeça e Acosta (Tiquel); André Beleza, Jean Marabaixo e o técnico Darlan Souza.

O Santos vai jogar no próximo domingo (28). Atualmente, o time é o vice-líder com 16 pontos na tabela e com o saldo de 4 gols. O Princesa do Solimões está com a mesma pontuação do Princesa, porém com o saldo de 1 gol.

Flamengo, Master Supremo das Improbabilidades.

Por Arthur Muhlenberg


Meu irmão e minha irmã, todos os infiéis e incréus que não comungam do culto aos nossos deuses vermelho-e-pretos preferem morrer pra não ter que admitir que eles sabem muito bem que o único clube do planeta que reúne os traços do herói arquetípico clássico é o Flamengão Fuderosão Hexacampeão.

Nossas vitórias impossíveis, nossas frequentes e inexplicáveis ressurreições após a expedição apressada de atestados de óbito forjados pelos nossos magoados rivais e nossa magnífica e incomparável Sala de Troféus com suas dimensões épicas e em constante processo de expansão desde 1895, enche nossos clientes, fregueses e fornecedores de ira impotente.

Essas características do herói arquetípico vocês conhecem muito bem, talvez por outro nome. Os gregos pontificaram há milênios que o herói é o protagonista nos gêneros épico e dramático. O centro das atenções, o condutor da história e personagem da História. O herói é mais que os outros, ele fica no meio do caminho entre os deuses e os reles mortais. Ora, só podem estar falando do Flamengo, concordam?

O herói (e o Mengão) é semidivino porque mesmo sendo humano ele consegue exercer aquelas virtudes que estão ao alcance de todos os homens, mas que são muito difíceis de se praticar na real, tipo coragem, força de vontade, paciência, determinação, bla-blá-blá. Mas pela sua parte humana o herói também vacila, tem fraquezas e dúvidas. Essas vacilações aproximam o herói do público, que se identifica, se vê representado por aquele personagem e se irmana na sua fraqueza momentânea.

Uma coisa muito importante é que o herói, por ser um protegido dos deuses, tem que ser sempre um exemplo de conduta em sua busca pela justiça, pela paz ou, às vezes, pela vingança (mas sempre para vingar uma injustiça). Existe algum time no mundo que reúna todas essas características que não seja o Flamengão?

Nos cânones da dramaturgia está mais ou menos escrito que pra história ficar maneira e interessante o herói não pode se dar bem logo no começo porque aí quebra a firma. Os pessoal gosta de sofrer um bocadinho. O herói tem que enfrentar reveses, dificuldades e peripécias antes de alcançar o seu objetivo, que é sempre o clímax da narrativa. São esses perrengues aparentemente insolúveis (cátedra em que o Flamengo é doutorado magna cum laude) que vão prendendo a atenção da massa.

Os gregos sabiam das coisas, imaginem que tédio seria se o Hércules resolvesse suas paradas rapidamente e ficasse no 0×0 com o Rei Euristeu logo no começo do livro. Hoje ninguém ia falar dos 12 cascudos trabalhos que o cara teve que fazer pra se livrar do inquérito por ter matado a própria mulher e a filha ( um acidente armado pela venenosa Hera conforme apurou o inquérito subsequente).


Justamente por causa desse preciosismo dramatúrgico muitos rubro-negros mal conseguem disfarçar a alegria com que se inscrevem em qualquer crisezinha fajuta que tentem erguer lá pros lados da vitoriosa Gávea Sinistra. É uma alegria para esse ramo de flamenguistas quando a nossa casa ameaça cair. Não os julgo mal, eu entendo perfeitamente esse tipo de torcedor. Eles não são menos Flamengo que nenhum de nós, mas estão doidos pra entrar em cena e darem aquela moral pro herói se dar bem no final. E quem não está a fim de formar no bonde do Mengão quando ele começa a subir a ladeira pra poder dizer depois:- Eu tava lá! Nossa torcida arrebentou e fez a diferença! ?


Assim é o Flamengo e assim é a torcida do Flamengo. Temos mesmo essa veia heroica pulsando no pescoço, sempre na iminência de estourar de um momento pro outro. Não suportamos os benefícios terapêuticos de uma trajetória de discreta ascensão gradual rumo ao topo. Não, a torcida do Flamengo se viciou na adrenalina que só a beira do abismo produz. A liderança inconteste nos aborrece, as chances matemáticas de uma quarta rodada em um grupo de 6 nos enfada, buscamos a ameaça da catástrofe entre os saltos acrobáticos que damos a cada rodada.

Porque acreditamos piamente que só quando tudo parece perdido e só a nossa pequena e indomável torcida e o darwinismo bancam a aposta em nossa sobrevivência, que se faz o milagre flamengo. É nesse preciso momento, com a chapa bem quente e mínimas chances de êxito, a finest hour de qualquer rubro-negro. É quando o torcedor, agora investido mediúnicamente dos poderes divinos do Manto Sagrado e da longa sequência de Pais da Nação que remonta a 1895, se torna ainda mais indispensável, necessário e decisivo.


Por isso mesmo eu não acredito muito quando o Flamengo faz aquele tipo de campanha impecável onde nossos guerreiros saem de campo com os calções imaculadamente alvos. Sou muito mais o Mengão quando ele vem-que-vem-que-vem-quicando pra passar o rodo geral. Tropeçando 3 vezes e levantando 4, partindo pra cima e ganhando tudo.

Isto posto, considero até desnecessárias as recomendações para que o time, seja lá qual for a escalação, parta com tudo pra cima do pequeno Coritiba. É mais do que evidente que a vitória é obrigatória, ainda que a classificação não seja. Como já foi dito anteriormente, essa é a Copa do Brasil mais mole do ano, a que foi disputada em junho e julho é que foi cascuda.

Se o Mengão entrar na mesma onda da torcida, que não admite frescagem ou desânimo, nossa honra se manterá intacta, seja qual for o resultado da peleja. E cá pra nós, o que é meter 4 gols no coxa para quem já voltou das profundas do inferno? O que é restabelecer o nexo causal em uma competição esdrúxula para quem costuma saltar para fora do próprio esquife em apoteóticas rentrées no mundo dos vivos?

Adotar nossas crenças, adorar nossos deuses, seguir nossos ritos, enfim, fazer parte da grande aventura de ser Flamengo, é muito maior do que qualquer ambição esportiva transitória. As outras torcidas precisam conquistar, ter, possuir algo. O torcedor do Flamengo é diferente. O torcedor do Flamengo, assim como o próprio Flamengo, simplesmente é.

Mengão Sempre!

Égua-moleque-tu-é-doido: Grêmio é excluído da Copa do Brasil


O Grêmio está excluído da Copa do Brasil. A decisão ocorreu após julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) na tarde desta quarta-feira. Em quase quatro horas de sessão no Rio de Janeiro, os auditores resolveram, unânimes em 5 a 0, pela punição após denúncia feita pela procuradoria, baseada no artigo 243-G (e seus parágrafos) do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). O caso ocorrera na última quinta-feira, quando o goleiro do Santos Aranha foi alvo de injúrias raciais por parte de torcedores gremistas, no 2 a 0 do clube paulista, pelo jogo de ida das oitavas – a volta estava suspensa. (Leia mais)

Valeu, Mengão!


Cinco vitórias seguidas, sendo q três delas fora de casa. 18 pts conquistados, em 21 possíveis. Ñ sei ao certo onde esse time chegará, mas independente do tropeço no meio da semana, e do q acontecerá no jogo de volta, conseguimos resgatar nossa dignidade. Valeu, Mengão!

Abriu, não troca mais. (crônica do amigo @idanielsa em homenagem aos 100 anos do Palmeiras)


Havia chegado o grande dia. Finalmente compraria seu primeiro time de futebol de botão.

Subiu em sua bicicleta e se dirigiu ao pequeno estabelecimento comercial, onde, tradicionalmente, se vendia de tudo um pouco. A distância a percorrer era razoavelmente grande para uma criança com pouco menos de dez anos.

Apesar da pouca idade, ele já se declarava torcedor do Flamengo, só que o time de futebol de botão que encheu seus olhos foi o do Palmeiras, com aquele verde forte e imponente. A década de 80 foi um período com grandes conquistas do rubro-negro carioca no futebol nacional e internacional, sendo previsível que crianças em todo o país passassem a simpatizar e torcer por ele. Mas o garoto, desconhecendo o longo período sem conquistas que o clube paulista enfrentava, escolheu o alvi-verde palestrino* como seu primeiro time de futebol de botão.

Voltou para casa todo orgulhoso pela compra, ansioso para estreá-lo mostrando ao irmão mais velho, ao tio quase da idade do irmão, aos primos e aos amigos da vizinhança. Agora poderia brincar sem ter que pedir emprestado deles.

Quando abriu a embalagem, uma surpresa nada agradável. As peças estavam todas retorcidas… tudo empenado. Talvez por ter sido exposto ao calor excessivo do meio do mundo**, o material plástico não suportou e entortou. Ou o defeito poderia ser da fabricação, não havia como descobrir. O certo é que todos disseram pro garoto voltar lá para trocar, e foi o que ele fez.

No estabelecimento comercial, com o brinquedo em mãos, pediu que fosse trocado por outro em perfeitas condições de uso, mas ouviu do comerciante, com um ligeiro sorriso na boca, uma frase que marcaria sua infância:

_ Abriu, não troca mais.

Um abatimento profundo tomou conta daquela criança, que voltava para casa em sua bicicleta deixando pelo caminho não só as marcas dos pneus, mas também as marcas da sua tristeza infindável, com as lágrimas que pingavam no chão.

“Crônica autobiográfica que escrevi em 2009, em meu antigo blog “anônimo”, que hoje dedico ao centenário da Sociedade Esportiva Palmeiras” – Ivan Daniel Amanajás

* Palestra Itália foi o primeiro nome do Palmeiras.
** A cidade é cortada pela Linha do Equador.

Obs: Eu, o dono do blog, sou flamenguista graças a Deus. Mas o texto é legal e o cara é brother. Parabéns a ele e ao seu time. 

Seleção Brasileira pega o time alemão. Hoje sou mais Brasil!


Aí escuto coisas como: “é preciso recuar o time” ou “a Alemanha tem conjunto” e “O Brasil não é nada sem Neymar”. Porra! É claro que o nosso camisa 10, que foi covardemente machucado no combate contra a Colômbia, faz falta. E é lógico que os germânicos possuem um timaço. E daí? 

O lance é chutar o medo no ângulo do gol alemão. O Neuer (nóia para alguns) é um grande goleiro, mas hoje engole dois ou mais. Não é o caso de subestimar o escrete alemão e muito menos uma soberba ilusória. É que hoje nós venceremos sim!

Não acredito que fechar o time e colocar “todo mundo” e mais o Felipão para defender é a solução. É preciso que esses jogadores façam o que sempre fizeram em seus clubes (ainda acredito que a estrela do Fred vai brilhar), joguem organizados, com muita força de vontade e disciplina tática. 

Este texto parece excessivamente otimista? A ideia é essa mesmo. Não para a auto ilusão ou tentativa efusiva de contagiar o torcedor brasileiro. A verdade é que nossa seleção possui qualidade técnica, força física e talento de sobra para enfrentar os famigerados alemães. 

Motivos? Primeiro que se a seleção brasileira jogar a bola que jogou no jogo passado, goleia. Segundo, o time vai entrar unido e com mais garra ainda pelo fator “força Neymar”. Terceiro, estamos em casa e essa Copa, a mais firmeza de todas, é nossa. 

David Luiz emana força e garra; Júlio César transmite segurança, Luiz Gustavo marca muito bem e dá porrada quando é preciso. Além disso, os apagões do talento dos demais certamente são coisas do passado, pois é semifinal de Copa. A nossa Copa. 

Hoje realmente será um lance meio Davi x Golias, mas neste caso, nós somos o gigante e ele não cairá. 

Aposto que ganharemos dos alemães hoje.  Ok, pode ser megalomania nacionalista, mas acredito do fundo do coração e como fã de futebol há mais de 30 anos, que o time vem com tudo. E quando a bola rolar, sou mais Brasil!

Elton Tavares

As costas que suportam o mundo não suportaram covardia

Crônica / Matheus Pichonelli

Na coletiva de imprensa da véspera da estreia na Copa do Mundo, um repórter desafiou Neymar a fazer uma pergunta ao chefe, Luiz Felipe Scolari.

-Eu jogo amanhã, professor?, perguntou o camisa 10, provocando não um riso, mas uma gargalhada no treinador e nos jornalistas que acompanhavam a entrevista.

A pergunta era quase um drible característico: tão improvável quanto absurdo. Que ele jogaria estava claro desde que vestiu pela primeira vez a camisa da seleção brasileira, em um amistoso contra a seleção dos EUA, em 2010, ainda sob o comando de Mano Menezes. Desde então, a equipe se resumia a uma frase: era ele e mais dez. Ele e mais dez contra a rapa.

O drible de Neymar na coletiva era o drible em uma armadilha. O que todos queriam saber, dentro e fora daquela sala de imprensa, era se ele, a partir do dia seguinte, suportaria todo o peso do mundo em suas costas. Durante cinco partidas ele suportou. Nem sempre com brilho, mas suportou: foram quatro gols, um pênalti derradeiro contra o Chile, e duas assistências, uma delas no duelo das quartas, quando fez a bola atravessar, oblíqua e dissimulada, a área colombiana até chegar aos pés do capitão Thiago Silva.

Àquela altura já imaginávamos como seria o duelo com os alemães, na semi: o Brasil, um time entre médio e esforçado, contra uma equipe tão fria e previsível quanto mortal (um amigo costuma dizer: “nada contra a seleção alemã, mas eu prefiro futebol”). Mas os anfitriões tinham um trunfo, ele vestia a camisa 10 e era o único dos 22 em campo capaz de desembaralhar um castelo de cartas construído na base da ciência, da técnica e da aplicação.

Triste ironia: as costas que suportaram o mundo não suportaram a covardia, uma entre tantas sofridas desde que pisou em campo como profissional. Dessa vez, a joelhada do lateral Camilo Zuñiga, aos 40 minutos do segundo tempo de um jogo quase ganho, doeu mais. Não a dor física, a menor das dores, ainda que imensa. Mas a dor de ser içado, com um gancho de guindaste, do próprio espetáculo: uma Copa, em casa, no auge da forma técnica e física.

O Brasil que se chocou ao ver a fratura da tíbia de Anderson Silva, a rótula exposta de Ronaldo Fenômeno e a batida fatal de Ayrton Senna assistia, assim, ao seu principal jogador na década deixar o estádio a caminho do hospital na maca, aos prantos, com um lenço no rosto como um sudário. Não, não precisávamos de um outro mártir, não a essa altura do campeonato. Porque, no fundo, sabemos: não há lição na perda se não a dor, e esta não deixa legados. Mas se há didatismo em toda tristeza é que no esporte, como na vida, não são os músculos e o desejo que moldam o destino, mas as rasteiras. As rasteiras e suas variações: uma joelhada nas costas, um pênalti cavado, uma mordida no rival, um carrinho criminoso. O arsenal entra na lista das habilidades humanas, e tudo o que é humano é imponderável.

No mundo ideal, o futebol seria só futebol, um intervalo lúdico de uma rotina ordinária. Na vida real o esporte é mais que isso: é a rotina ordinária em retrato instantâneo. A rotina ordinária e suas contradições. Nele reconhecemos a beleza, como o consolo de David Luiz sobre James Rodríguez ao fim do jogo. Mas reconhecemos também nossas misérias.

Dentro de campo é possível identificar em tempo real a potencialidade destruidora da nossa preguiça, da nossa mesquinharia, da nossa covardia, da nossa pequenez, da nossa arrogância, da nossa presunção. No esporte, como na vida, ensinam apenas que o importante é vencer. E que não há superação sem conquistas. Por causa dessa lógica, muitos foram limados do esporte, e da vida, sem ter a chance da redenção. Neymar é jovem, vai ser reerguer, vai disputar outras Copas e pode levantar a taça ainda este ano. Mas será sempre, e a partir de agora, a imagem, carregada na maca, de um tempo projetado por Carlos Drummond de Andrade: o tempo em que as mãos tecem apenas o rude trabalho, e o coração está seco – por mais que chorem, eu diria, porque choram de aflição e medo. Justo ele, que suportou o peso do mundo sobre os ombros.

Neymar não é só vítima do absurdo: é vítima de um risco calculado, a estratégia que ensina obediência tática pela imprudência física. Uma imprudência modelada na preleção: se for para perder o jogo, é melhor não perder a viagem. Zuñiga obedeceu às ordens, como os rivais brasileiros, e suas botinadas não menos imprudentes, ao longo de toda a Copa.

A fratura na terceira vértebra lombar tirou Neymar da Copa, e tirou do mundo a oportunidade de assistir, na próxima terça-feira, ao duelo mais nítido entre a razão e o improviso, entre a matemática e a falta de juízo. Não só: tirou o mundo das costas de Neymar e o distribuiu aos outros jogadores da equipe. Nem o mais pessimista dos torcedores imaginaria um roteiro tão cruel, mas do absurdo pode nascer a redenção. Agora não é mais Neymar e mais dez. É Neymar e mais onze. O mundo agora, diria Drummond, não pesa mais que a mão de uma criança.