The Doors: O filme – Resenha (hoje completam 33 anos do longa)

Há 33 anos, era lançado o filme “The Doors”, dirigido por Oliver Stone. A cinebiografia foca no vocalista Jim Morrison, interpretado por Val Kilmer. Dividiu opiniões em relação aos acontecimentos reais envolvendo o grupo. Leia a resenha abaixo, escrita há mais de 10 anos: 

Gostamos de cinema e rock, quando essas duas coisas estão juntas então, nem se fala. Hoje falaremos um pouco do filme “The Doors”, que contou a história da banda, homônima ao longa-metragem. Tudo bem que a película exalta muito mais a figura doideira do Jim Morrison (Val Kilmer) que dos outros componentes do grupo, ou a intelectualidade do vocalista (que lançou alguns livros nos EUA).

O filme é de 1991. Foi dirigido pelo renomado diretor Oliver Stone, que ganhou o MTV Movie Awards 1992 (EUA). Stone arrebentou, escolheu o ator Val Kilmer para o papel do lendário Jim Morrison, retratou os shows com ótimos efeitos e adicionou cenas reais ao filme.

O ator mais cotado para o papel era John Travolta, mas Kilmer enviou a Oliver um vídeo onde canta músicas da banda. Isso e o fato de ser muito parecido com o “Rei Lagarto” (como Morrison era conhecido) fez com que ele ganhasse o papel. E ele foi foda naquele filme, para mim, sua melhor atuação.

Para aqueles que não sabem (que devem ter vindo de Marte), o The Doors foi, na segunda metade dos anos 60 e início de 70, uma banda de rock norte-americana. O grupo era composto por Jim Morrison (voz), Ray Manzarek (teclados), Robby Krieger (guitarra) e John Densmore (bateria). A banda tinha influências de Blues, Jazz, Flamenco e Bossa Nova. Foi uma das maiores da história do rock mundial.

O filme conta a vida anárquica de Jim, todo tipo de loucura, paixão e sexo. Algumas amigas minhas detestaram a postura de Morrison, que faz muitas cagadas com sua namorada Pamela Courson (Meg Ryan), mas isso não é nenhuma peculiaridade dos rockstars (risos). O que queremos dizer aqui é: poucas películas fazem jus ao jargão “sexo, drogas e rock and roll” como esta obra de Stone.

Ouvimos dizer que Val Kilmer teve problemas para sair do personagem, andou meio doido, por ter vivido Jim. A atuação dele foi extraordinária, até Ray Manzarek e John Densmore elogiaram publicamente o desempenho de Kilmer.

O filme tem cada “liga torta” (mas muito bacana), como a influência xamânica de Morrison (que ele absorveu depois de presenciar um acidente de carro na estrada, onde um índio teria morrido e espírito do figura virou um “encosto” no rockstar (risos). O filme retrata até o envolvimento amoroso de Jim e a jornalista Patricia Kennealy.

Jim Morrison morreu em 1971, foi cedo demais, assim como muitos, antes e depois dele. Jim influenciou, definitivamente, uma geração que, posteriormente, influenciou outras. Por exemplo, Iggy Pop que decidiu fundar sua banda (Stooges) depois de ver Jim Morrison. Apesar de não gostar do som e da poesia dos Doors, Iggy admirava a postura sensual e misteriosa de Morrison.

Assim, juntando a vontade de criar uma nova sonoridade para o rock, a preocupação com o visual da banda nas apresentações ao vivo, os Stooges marcaram o início de um movimento que culminaria com o punk rock. Mas essa é outra história.

Voltando ao filme, Ray Manzarek (tecladista do Doors) lançou, anos depois, um livro falando de algumas “potocas” de Oliver Stone no filme e que a película conta “de forma horrível” a história da banda. Mas o diretor fez vários pedidos para que Manzarek trabalhasse como consultor no filme. Entretanto, Robbie Krieger (guitarrista dos Doors) foi o consultor, então tá valendo.

Enfim, este site aconselha a todos que não assistiram a fazê-lo. Os que já assistiram e gostam muito de rock e cinema, o assistem de vez em quando. Abraços na geral!

Ficha técnica:

Gênero: Biografia, Drama.
Direção: Oliver Stone.
Elenco: Billy Idol; Val Kilmer; Meg Ryan; Kyle MacLachlan, Frank Whaley, Kevin Dillon e Kathleen Quinlan.
Duração: 140 minutos.
Ano de produção: 1991.
Classificação indicativa: 18 anos.

Assista ao trailer do filme:


Elton Tavares e André Mont’Alverne
*Republicado.

Conheça o amapazeiro, árvore que deu origem ao nome do Estado do Amapá

Foto: Divulgação/IEF Amapá

O amapazeiro (Parahancornia amapa) é uma árvore nativa da região amazônica que estampa a bandeira oficial do Estado do Amapá e é, também, responsável pelo seu nome.

Várias são as espécies vegetais conhecidas popularmente como “amapá”, algumas pertencendo, inclusive, a famílias diferentes. Essas árvores, entretanto, acumulam uma série de similaridades, seu tronco chega até 35 metros de altura e delas é coletado um látex, chamado de “seiva-do-Amapá”.

Cada espécie da árvore produz seiva de coloração e sabor diferente, sendo mais procurada a que tem uma seiva branca de coloração amarga, muito utilizada para o preparo de medicamentos naturais.

O leite-do-Amapá é o medicamento natural amazônico mais utilizado pela população do Amapá, principalmente no tratamento de doenças respiratórias, gastrite, anemia, problemas musculares e no processo de cicatrização.

A extração da seiva do Amapazeiro, se assemelha muito com o processo de extração do látex da seringueira, no qual um corte é aberto na casca da árvore, permitindo o escoamento da seiva para algum recipiente. Esse processo, entretanto, tem tornado os Amapazeiros cada vez mais difíceis de serem encontrados no Estado, já que a quantidade de árvores mortas por conta de ferimentos em seu tronco vem aumentando exponencialmente, principalmente por conta do manejo irregular e da utilização de ferramentas inadequadas na retirada do leite.

O amapazeiro é uma das plantas que representa a Amazônia Legal, tendo grande valor simbólico, principalmente no estado que teve seu nome inspirado por ele. Sua importância para a população da região é inestimável, e sua preservação contribui com a preservação deste símbolo ambiental.

*Com informações do ABC Amazônia e da Embrapa
Fonte: Portal Amazônia

Flip não dá outro (crônica) – Por Ruben Bemerguy – Contribuição de Fernando Canto

“TEXTINHO?

Recebi do amigo Ruben Bemerguy o texto abaixo que ele chama modestamente de “Textinho”. Vejam só a riqueza da sua escritura e o desenho de sua memória em relação a pessoas que viveram a velha e romântica Macapá. E o Flip? Quem, como eu, não provou desse refrigerante genuinamente amapaense na década de 1960 e início dos anos 70? Provem, então, desse sabor borbulhante do Ruben” – Fernando Canto.

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa” – Chico Buarque de Hollanda.

Moisés Zagury

Flip não dá outro

Muito embora se possa pensar, e não sem alguma razão, que me decidi por uma literatura lúgubre, digo sempre que não. Também digo não ser essa uma expressão de meu luto. Não. Não escrevo sobre os mortos porque morreram simplesmente. O faço como quem ora, sempre ao nascer e ao pôr-do-sol, em uma sinagoga feita à mão, desenhada n’alma da mais imensa saudade. Escrevo também para que os meus mortos permaneçam vivos em mim. Morreria mais apressadamente sem a memória dos que amei tanto. É só por isso que escrevo. Porque os amei e ainda os amo.

E quando esses meus amores partem e com eles já não posso mais falar, passo, insistentemente, a dialogar comigo. É um diálogo franco e, de fato, inexistente. Sempre que tento assumir a função de meu próprio interlocutor, uma súbita impressão de escárnio de mim mesmo me faz parar, e aí calo. Toco a metade de meu dedo indicador direito, verticalmente fixo, na metade de meus lábios, como a pedir silêncio a minha insensatez. Taciturno, faço vir à memória de um tudo.

É por isso, e tanto mais, que ando sempre atrasado. Demoro a escrever e quando decido o faço tão pausadamente que chego a aprender de cor todo o texto. Por exemplo, se medido o amor que tinha por meu tio Moisés Zagury, há muito me obrigava a ter escrito. Mas minha inércia não é voluntária e, por isso, não a criminalizo. Não há relação entre o tempo da morte e o tempo de escrever. A relação é de amor e é eterna. A morte e a palavra, ao contrário de mim, não se atrasam. Além disso, em minha vida andam juntas, nem que seja só em minha vida. Isso já aprendi, porque as sinto frequentemente, desde criança, tanto a morte quanto a palavra.

E é desde criança que lembro do tio Moisés. Lá, estive muitas vezes no colo. Pensei que adulto isso não mais aconteceria, mas aconteceu até a última vez que o vi. No aeroporto, quieto em uma cadeira de rodas, ele ia. Tinha um olhar paciente, de contemplação, de reverência a Macapá e, sem que ele percebesse, eu em seu colo observava obcecadamente cada movimento dos olhos, queria traduzir e imortalizar aquele momento. Não consegui e até hoje tento imaginar o que o tio Moisés dizia pra cidade. Acho que tudo, menos adeus. Macapá e o tio eram inseparáveis. Essa era a terra dele e ele o homem dela. Isso é inegável. Por baixo das anáguas de Macapá ainda velejam o líquido de ambos: do tio e da cidade.

O tio conheceu a cidade cedo. Ele, moço. Ela, moça. Daí, foi um passo para ser o abre-alas dela. Tinha dom. Rascunhavam-se incessantemente um ao outro. Eu os vi várias vezes passeando, trocando carícias. Ela costumava cantar para ele, enquanto ele fabricava um xarope de guaraná. O Flip. Flip guaraná. Dentro de cada garrafa havia um arco-íris. A fórmula era segredo do tio e da cidade, e até hoje o é. Por isso, só o tio conseguia pôr arco-íris em uma garrafa de guaraná. Acho mesmo que o Flip era feito da seiva da cidade. Eu o Tomava gut gut.

O Flip não foi só o primeiro guaraná produzido aqui. Não foi também só a primeira indústria. O Flip, me conta a memória, foi o cenário auditivo mais preciso de minha lembrança. Era a propaganda que anunciava promoção de prêmios a quem encontrasse no guaraná, além do arco-íris, o desenho de um copo no interior da tampinha da garrafa. O copo, sinceramente, não era minha grande ambição. O sabor estava mesmo na propaganda que vinha pelas ondas das rádios Difusora e Educadora, se bem lembro. Era o som de um copo quebrando, esquadrinhado por uma indagação seguida da solução: “Quebrou?. Flip dá outro”. E dava mesmo.

Não sei se por ingenuidade da infância ou ignorância, o que aquele sorteio me fixou é que tudo era substituível. Se o copo quebra, Flip dá outro. Se a bola fura, Flip dá outra. Se a moda não pega, Flip dá outra. Se o tempo passa, Flip dá outro. Se o ar falta, Flip dá outro. Se o amor acaba, Flip dá outro.

Não me cabe agora eleger um culpado pela singeleza de minha compreensão da vida. Fico cá a suspeitar do arco-íris, e nem por isso me zango. Se me fosse permitido optar entre a idade madura e o arco-íris, escolheria o arco-íris sem piscar. Mas isso não é possível, agora eu sei. A bola fura, a moda pega, o tempo passa, o ar falta e o amor acaba. Tudo, é claro, por falta do Flip.

É um desconforto viver sem Flip. Todas as vezes que a vida me recusa, eu lembro do Flip. Mesmo assim, não digo nada a ninguém. Chamo num canto os arco-íris que conservo desde tanto, faço mimos, beijo os olhos, o rosto, e sossego. Vem sempre uma chuva fina. Eu me molho e a guardo. Guardo muitas chuvas. Quando se guarda bem guardadinha, a chuva não dói. Só dói é saber que Flip não dá outro. Poxa, quanta saudade do meu tio.

Ruben Bemerguy

Jornalista Luiz Melo é absolvido na Justiça em processo movido por deputada

Por Douglas Lima

A Justiça do Amapá, através da 1ª Vara Criminal de Macapá, absolveu o jornalista Luiz Melo de acusação imputada a ele pela deputada federal Sílvia Waiãpi, como transgressor dos artigos 138, 139 e 140 do Código Penal Brasileiro.

A acusação da parlamentar foi em reação à publicação no Sistema Diário de Comunicação e nas redes sociais, assinada pelo jornalista, a respeito dos comentários e noticiários, em nível nacional, da então tida como participação dela nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

No curso dos comentários e noticiário da imprensa, e também das investigações sobre o ataque aos três poderes do país, ficou comprovado que a deputada federal, eleita pelo estado do Amapá, não estava em Brasília no dia 8 de janeiro do ano passado.

Os artigos do Código Penal invocados por Sílvia Waiãpi, para condenar Luiz Melo, trata dos crimes de calúnia (138), difamação (139) e injúria (140). O jornalista foi defendido no processo pelo advogado Helder Carneiro. Sílvia descreveu na denúncia que os comentários e notícias do jornalista “tentaram corromper a imagem pública” dela.

Na decisão, a Justiça, ao julgar improcedente o pedido da deputada Sílvia Waiãpi, assim se expressou: “Analisando detidamente a exposição fática, as provas juntadas nos autos, bem como o depoimento do querelado, é forçoso reconhecer que não restou configurado o crime de calúnia, difamação ou injúria”.

Fonte: Diário do Amapá.

Acadêmicos de História da Unifap participam de visita guiada no Centro de Memória do TJAP e Sala de Arquivo no Fórum de Macapá

Na quinta-feira (22), o Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP) recebeu acadêmicos do curso de História da Universidade Federal do Amapá (Unifap) para uma visita guiada pelas instalações do Centro de Memória, Biblioteca e Sala de Arquivos da instituição. A iniciativa visa fomentar o acesso à pesquisa e utilização do acervo de interesse histórico do Poder Judiciário amapaense. A ação foi organizada pela Coordenadoria de Informação, Documentação e Memória Judiciária do TJAP e professores da Unifap.

A recepção dos estudantes foi feita pelos membros da Coordenadoria de Informação, Documentação e Memória Judiciária do TJAP: a bibliotecária Simone Leite (coordenadora), o museólogo Michel Ferraz e o historiador Marcelo de Oliveira. A visita também foi acompanhada pelo professor Higor Pereira, da Unifap.

“As visitas são importantes porque é uma oportunidade que o TJAP tem de mostrar que cumpre sua função primária e essencial que é julgar, mas é também se posicionar e contribuir com seu acervo. Pois é de interesse histórico e cultural para a preservação, bem como fortalecimento da memória institucional. Assim, a classe acadêmica pode ver os documentos e processos, manipularem e absorver conhecimento de técnicas como tratamento dos mesmos e é fonte de pesquisa para os estudantes”, detalhou o museólogo do TJAP, Michel Ferraz.

Na oportunidade, além de conhecer o acervo em exposição, os alunos puderam ouvir explicações sobre a longa trajetória do Judiciário no Amapá.

“Parte importante do trabalho do historiador é o contato com a documentação, com a memória documental. O TJAP mantém um acervo documental riquíssimo, sobretudo para a perspectiva de História vinculada a essa disciplina. É essencial que os acadêmicos tenham essa experiência e vejam a preservação desse material, pois não temos um arquivo público e poucas instituições que estão abertas para receber pesquisadores. O Poder Judiciário é uma delas e serve de fonte de pesquisas para os alunos”, destacou o professor Higor Pereira.

A visita também se estendeu até a Biblioteca Juiz Francisco de Oliveira, onde os acadêmicos puderam conhecer o acervo bibliográfico, especialmente as novas aquisições da área de história. Em seguida, os estudantes se dirigiram ao Fórum Desembargador Leal de Mira e conheceram a Sala de Acesso Digital e a Sala de Arquivos do TJAP.

Na ocasião, os estudantes tiveram a oportunidade de um contato direto com processos judiciais antigos e percepção sobre sua importância como fonte de pesquisa histórica.

“Com essa visita, tivemos oportunidade de reconhecer os aspectos da memória e principalmente toda a trajetória política e institucional ocorreu no Estado. Ao mesmo tempo no próprio processo imperial no Brasil, inclusive colonial. Podemos observar processos jurídicos, a própria trajetória política do Amapá contada pela documentação. Agradecemos pelo importante trabalho da equipe do TJAP”, pontuou o acadêmico Marco Trajano.

Centro de Memória do TJAP

O Centro de Memória do TJAP foi inaugurado em 31 de agosto de 2019 com intuito de preservar e difundir a memória institucional da Corte de Justiça amapaense. Localizado na entrada do Palácio da Justiça, o memorial exibe objetos, livros notariais e processos judiciais emblemáticos provenientes de diversas fases do Judiciário no território Tucuju.

O espaço está localizado na Sede do TJAP, na Rua General Rondon, nº 1295, no Centro de Macapá. Aberto das 7h30 às 14h, disponível para visitação do público.

– Macapá, 23 de fevereiro de 2024 –

Secretaria de Comunicação do TJAP
Texto: Elton Tavares
Fotos: Flávio Lacerda
Central de Atendimento ao Público do TJAP: (96) 3312.3800

Hoje é o Dia Internacional do Maçom (meus parabéns à Ordem e sobre a ligação da Maçonaria com minha família)

Hoje é o Dia Internacional do Maçom. A data é celebrada em 22 de fevereiro por conta do aniversário do primeiro presidente dos Estados Unidos, George Washington. Ilustre Irmão Maçom e principal artífice da independência dos EUA. Inclusive, ao assumir o mandato, em 1789, prestou seu juramento constitucional sobre a Bíblia da Loja Maçônica na qual era Venerável Mestre.

O conceito de Maçom diz: “homens de bons propósitos, perseguindo, incansavelmente, a perfeição. Homens preocupados em ser, em transcender, num preito à espiritualidade e à crença no que é bom e justo. Pregam o dever e o trabalho. Dedicam especial atenção à manutenção da família, ao bem-estar da sociedade, à defesa da Pátria e o culto ao Grande Arquiteto do Universo”.

Maçonaria é uma sociedade discreta e, por essa característica, entende-se que se trata de ação reservada e que interessa exclusivamente àqueles que dela participam. Seus membros cultivam o aclassismo, humanidade, os princípios da liberdade, democracia, igualdade e fraternidade. Além do aperfeiçoamento intelectual, sendo assim uma associação iniciática, filosófica, progressista e filantrópica.

Maçonaria no Amapá e meu avô maçom

A Maçonaria existe no Amapá desde 1947, quando foi fundada a Loja Maçônica Duque de Caxias, localizada na Avenida Cloriolano Jucá, Nº 451, no Centro de Macapá. Hoje existem 24 lojas maçônicas no Amapá. Destas, 13 são da Grande Loja do Amapá e 12 da Grande Loja Oriente do Brasil. Além da capital, os municípios de Mazagão, Porto Grande, Santana e Laranjal do Jari possuem uma loja cada.

Meu avô paterno, João Espíndola Tavares, foi maçom. Aliás, foi um homem dedicado à Maçonaria. Vou contar um pouco dessa história:

Em 1968, após ser observado pela sociedade maçônica de Macapá, João Espíndola (meu avô) foi convidado a ingressar na Loja Maçônica Duque de Caxias, onde foi iniciado como Maçom. Logo se destacou dentro da Ordem por conta de seu espírito iluminado. Foi um dos maiores incentivadores de ações filantrópicas maçônicas no Amapá.

João foi agraciado, em 1981, após ocupar 22 cargos maçônicos, com o Grau 33 e o título de “Grande Inspetor Litúrgico”. Ele sedimentou seus conhecimentos sobre literatura mundial lendo de tudo.

Vô João transitou por todos os cargos da Ordem. As cadeiras que ocupou foram sua ascendência à graduação máxima da instituição. Foi Vigilante, 2ª Mestre de Cerimônias, Venerável Mestre, 1º Experto Tesoureiro, Delegado do Grão Mestre para o 11ª Distrito Maçônico e presidente das Lojas dos Graus Filosóficos. Também foi um dos participantes do Círculo Esotérico da comunhão dos membros.

Meu avô é o primeiro da esquerda. Nessa foto, com outros maçons, entre eles o senhor Araguarino Mont’Alverne (segundo da direita para a esquerda), avô de amigos meus.

Ele também integrou o grupo de humanistas da instituição, que objetivava a assistência social e humanitária, oferecendo atendimento médico gratuito ao público. A entidade filantrópica também ministrava aulas preparatórias para candidatos ao exame de admissão ao Curso Ginasial, que hoje conhecemos como Ensino Médio.

Quando ele morreu, em 1996, em nota, a Maçonaria divulgou: “Durante sua estada entre nós, sempre foi ativo colaborador e possuidor de um elevado amor fraterno”.

Homenagem ao vovô, em Mazagão

Há 12 anos a Loja Maçônica do município de Mazagão, Francisco Torquato de Araújo, comemorou 20 anos de fundação. No evento, a instituição homenageou seus fundadores, entre eles o patriarca da minha família paterna, João Espíndola Tavares.

Meu tio e querido amigo, Pedro Aurélio Penha Tavares, é o único maçom da minha família. Ele também foi Venerável Mestre da Loja Duque de Caxias. Meu avô, lá nas estrelas, deve ter muito orgulho de seu filho, que seguiu seu caminho Maçônico.

Tio Pedro, na época de venerável da Loja Duque de Caxias

Não sei se um dia terei perfil para ser um membro da nobre instituição, mas seria uma honra. Lembro de crescer com um certo fascínio sobre a Maçonaria por conta do meu avô. Além do vô João e tio Pedro, parabenizo todos os meus amigos maçons. Congratulações pela data!

*OBS: apesar de muitos maçons serem eleitores do ex-presidente inapto do Brasil, acredito que não podemos associar a maçonaria a ele, como muitos fazem. Como sabemos, toda generalização é errada. Todo candidato a um cargo público tem o direito a frequentar as mais rodas em busca de afinar o diálogo com seus eleitores Com Bolsonaro foi a mesma coisa. Assim como nem todo maçon é fascista (como os eleitores de Jair), nem todo evangélico vota naquele demônio (boto fé nisso, com o perdão do trocadilho).  Afinal, nem todo conservador é doido e seguimos na esperança do caminho para a iluminação.

Fale de sua aldeia e estará falando do mundo” – Leon Tolstoi.

Elton Tavares

Valor histórico: Centro de Memória do TJAP recebe doação de acervo com mais de 150 anos

Com objetivo de oportunizar à comunidade a pesquisa em documentos antigos que constam fatos históricos do Amapá, o Centro de Memória Institucional do Tribunal de Justiça do Amapá recebeu, na terça-feira (21), um acervo de livros antigos doados pelo Cartório Jucá Cruz, de Macapá. O patrimônio, já sem serventia para o órgão cartorário, conta com arquivos com mais de 150 anos e que em breve estarão disponíveis para consulta pública.

Cerca de 75 documentos, entre livros de escrituras, procurações e blocos de jornais, foram entregues aos servidores do Centro de Memória do TJAP, museólogo Michel Ferraz e o historiador Marcelo Jaques. A transferência se deu via decisão da Corregedoria-Geral de Justiça TJAP, por meio do Processo administrativo nº: 2023081388.

O tabelião do Cartório, Francisco Cruz, explicou que por serem muito antigos, os arquivos já tinham perdido o interesse em relação ao registro público.

“Em relação ao conteúdo desses livros, há informações históricas de valores inestimáveis relacionados à cultura do nosso povo, à história das pessoas, da população aqui em Macapá. Para que eles não se percam no tempo, porque os livros já são muito antigos, eles estão sendo transmitidos para o Tribunal de Justiça para que sejam melhor acomodados e estudados”, contou o tabelião.

Foram recebidos: Livros de Notas do período de 1854 a 1925; Livros de Procurações do período de 1913 a 1923; e Jornais da década de 1940 e 1950.

O museólogo Michel Ferraz, chefe da Seção de Memória Institucional do TJAP, ressaltou que trata-se de um vasto acervo, muito importante do ponto de vista documental e histórico para o Centro de Memória.

“Ele tem um potencial muito grande ainda do ponto de vista informacional e foi doado para que nós pudéssemos analisar esses documentos, cuidar, catalogar e também oportunizar o acesso público. O que temos neste acervo não são registros e nomes pessoas que, de alguma forma, foram importantes e ajudaram na construção do Estado. Tem um valor excepcional”, disse o museólogo do TJAP.

Centro de Memória do TJAP

O Centro de Memória Institucional do TJAP tem o intuito de preservar e difundir a memória institucional da Justiça amapaense. O espaço está localizado na Sede do TJAP, na Rua General Rondon, nº 1295, no Centro de Macapá. Aberto das 7h30 às 14h, disponível para visitação do público.

– Macapá, 21 de fevereiro de 2024 –

Secretaria de Comunicação do TJAP
Texto: Fernanda Miranda
Fotos: Hugo Reis
Central de Atendimento ao Público do TJAP: (96) 3312.3800

O antigo Bar Xodó e o velho Albino Marçal (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Meu amigo Fernando Canto escreveu uma vez: “Lembrar também é celebrar. E quando se celebra se rememora, ou seja, se re-memora num tudojunto inebriante, pois o coração aguenta. E ao coração, como sabes, era atribuído o lugar da memória – Re-cordis“.

Portanto, quem tem mais de 40 anos, bebe desde os anos 90 e estudou no Colégio Amapaense gostava do antigo Bar Xodó e de seu proprietário, Albino Marçal Nogueira da Silva, o velho Albino.

Albino era uma figura querida por mim e pelos meus amigos. Principalmente pelo Edmar Campos Santos, o nosso ilustre “Zeca”.

Eu e o Zeca “gazetávamos” aula e íamos beber no Xodó. Escutávamos todas as histórias que Albino contava, ouvíamos suas músicas antigas, ríamos quando ele cortejava as garotas e fingíamos surpresa a cada vez que nos mostrava seu diploma em couro de carneiro. Era divertido.

O Xodó era um botecão no estilo antigo. Tinha um banheiro apertado, com cheiro forte de desinfetante (creolina) e frases sacanas na parede. Ah, lá tinha de tudo: fotos, velas acesas, objetos inusitados para o lugar (como um boneco do Pelezinho). Acho que dentro do Xodó tinha até bainha de foice.

Para todos aqueles que matavam aula na década de 90 só para reunir com a galera, beber, falar besteira, aquele boteco no canto da Rua General Rondon com a Avenida Iracema Carvão Nunes era o local perfeito. Os biriteiros da velha Macapá se reuniam lá para “molhar a palavra” e botar os papos em dia. Bons tempos…

O saudoso Albino Marçal

Albino faleceu há alguns anos e o Xodó fechou logo em seguida, duas grandes perdas. Quem não viveu aquela época não entende tal saudosismo, pois o nome do bar era apropriado.

Vez ou outra tenho necessidade de escrever sobre aquela época. Tempos felizes e, entre tantas ótimas lembranças, Albino e o seu Xodó foram vivências marcantes na minha memória afetiva, pois o antigo bar e seu proprietário eram nossos xodós. É isso.

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em 2020.

Jornalista e escritora/poeta Alcinéa Cavalcante gira a roda da vida. Feliz aniversário, querida amiga! – @alcinea

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Neste décimo nono dia de fevereiro, a jornalista, professora e escritora/poeta, Alcinéa Cavalcante, gira a roda da vida e lhe rendo homenagens.

Alcinéa Cavalcante é brilhante em tudo que se propõe a fazer. Jornalista, escritora premiada, uma das maiores poetas amapaenses, ativa militante cultural, respeitada blogueira, fotógrafa, numismática, apreciadora da Lua, experiente e perspicaz repórter, imortal da Academia Amapaense de Letras (AAL), amante de carnaval e integrante da Escola de Samba Maracatu da Favela (apaixonada por sua verde & rosa), degustadora de Chandon, mestre em produzir lindos origamis, entre outras muitas coisas porretas que a Néa é.

Mas ela desempenha ainda melhor os papéis de esposa do gentil e gente boa Soeiro, mãe do meu querido amigo Márcio Spot, avó amorosa da Alice, irmã da Alcilene, Alcione, Zoth, entre outros que não conheço, além de amada amiga deste editor.

Há décadas, com sua escrita ímpar, Alcinéa faz arte e comunicação de forma sublime. No compasso suave das palavras tecidas com esmero, sua poesia se entrelaça com a história do Amapá. E seu jornalismo franco, contundente e responsável revelam verdades e colorem os dias neste nosso lugar no mundo.

Néa herdou o talento de seu pai, o lendário Tio Alcy Araújo (um cara que eu queria ter conhecido). Literalmente o toque dela, por onde vai, faz a diferença no mundo. Com seus mágicos origamis, espalhava poesia pela cidade na época do seu Poesia na Boca da Noite. Com ela, a palavra vira poema ou notícia, informação coesa e responsável, pautada pela sua marca pessoal, a credibilidade. Dia a dia vira retrato de uma paisagem antiga, que a gente não quer esquecer.

Seus passos são marcados pelas veredas da cultura e do jornalismo. E ecoam como cânticos de resistência, pois Alcinéa pavimentou o caminho para muitos passarem, como eu.

Adoro quando vou até ela e a gente fica batendo papo no escritório de sua casa, uma mistura de biblioteca e sala de estar aconchegante. Ou quando vamos ao barzinho que fica quase em frente à sua residência, tomar um chopp e molhar a palavra. Quando passo tempos sem ir, ela me ameaça e fala que irei para seu caderninho de ex-amigos. Logo dou um jeito de dar as caras, colocar a conversa em dia e rir bastante em sua companhia.

Ah, Néa sempre nos atualiza, nos ensina e diverte. Para mim, Alcinéa é conselheira, incentivadora, confidente e protetora (sim, ela protege e é extremamente fiel aos seus).

Já escrevi muitos textos sobre a Alcinéa Cavalcante e sempre repito: Néa é um misto de doçura e acidez. Quando jornalista, suas colocações inteligentes, com pontos de vista diferenciados, o leve humor ácido e a abordagem refinada sobre qualquer tema, fascina leitores. Quando poeta, desperta as melhores sensações em quem lê ou escuta seus lindos poemas, pura ternura.

Em resumo, se é que dá pra resumi-la em um texto de felicitações: Nea é uma pessoa sensacional. Uma mulher do bem, mas que combate o mal com força (e ela é forte pra caramba, pensem numa caneta pesada). Não à toa, nós, seus amigos, a amamos. E é impossível ser diferente.

Alcinéa, querida. Parabéns não somente pelo seu dia, mas por ser essa pessoa lindeza que és. Sou grato pelo apoio mútuo e pela amizade que construímos. É uma honra pra mim ser querido por alguém como você . Que teu novo ciclo seja repleto de luz, saúde, harmonia e paz. Que tua vida seja longa. Que sigas alegrando nossas vidas com teus poemas, sacadas, ironia fina e amor. Sou feliz pela tua existência orbitar a minha. Agradeço sempre pelo apoio contínuo e aprendizado. Que sigas, por pelo menos mais uns 100 fevereiros, com essa alegria, energia e força contagiantes.

Parabéns pelo seu dia, Néa. E feliz aniversário, querida amiga!

Elton Tavares (mas tenho certeza que falo também em nome da publicitária Bruna Cereja, minha namorada e também amiga da Néa).

Deus segundo Spinoza (muito bom)

Deus segundo Spinoza (muito bom)

“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
 
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
 
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.


 
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
 
Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria.
 
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.


 
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho… Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
 
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
 
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.


 
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
 
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?
 
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?
 
Que tipo de Deus pode fazer isso?


 
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
 
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
 
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
 
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
 
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.


 
Eu te fiz absolutamente livre.
 
Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
 
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho.
 
Vive como se não o houvesse.
 
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.
 
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.


 
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste?
 
Pára de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar.
 
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
 
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
 
Pára de louvar-me!
 
Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
 
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
 
Te sentes olhado, surpreendido?… Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.
 
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.
 
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas.


 
Para que precisas de mais milagres?
 
Para que tantas explicações?
 
Não me procures fora!
 
Não me acharás.
 
Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti”.


 
*Baruch Spinoza (ditas em pleno Século XVII. Continuam verdadeiras e atuais até a data de hoje).

Ariano Suassuna, escritor brasileiro falecido em 2014, em um vídeo que encontrei no Canal Brasil, reproduz de outra forma o que Spinoza disse. Ele discorre sobre Deus, o sentido da vida e declama a poesia de Lenadro de barros.

Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?

Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?

Lenadro de barros

 

Definitivamente, o meu Deus, é o de Spinoza (Elton Tavares).

Fontes: Divulgando Ascensão , Canal Brasil e Canal Curta.

 

 

 

 

 

 

 

Raízes Aéreas, mas profundas na Cultura do Amapá (Uma crônica sobre a lendária banda amapaense) – Do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Arte: Ronaldo Rony

No início dos anos 90, no tempo em que os jovens de Macapá despertavam de vez para a música regional, surgiu a banda Raízes Aéreas, grupo formado pelos músicos Naldo Maranhão, Helder do Espírito Santo, Beto Oscar, Alan Yared, Helder Brandão, Black Sabbá, Hemerson Melo e Alexandre, sob a influência luxuosa de Antônio Messias. Na época foi o grupo de maior expressão, que chegou com músicas próprias, talento e atitude – todos os elementos para o sucesso, e ainda a experiência de alguns dos integrantes em outras bandas alternativas de Macapá.

Bar Lennon – Macapá anos 80 – Foto cedida por Edgar Rodrigues

Os jovens músicos resolveram fazer algo diferente e fizeram, quando a vida cultural de Macapá girava em torno de músicos iniciantes, que na maioria das vezes estudava em Belém (PA), e a ferveção era no Bar do Lennon. Com a ideia na cabeça, sem dinheiro, mas muita vontade, e algum incentivo financeiro, gravaram um disco, onde os sons do Amapá se misturavam com os da Jamaica e Caribe. Virou uma seleção sensacional de estilos que agradou de roqueiros a regueiros, e os aproximou de nomes já estabelecidos na música regional, como Osmar Júnior, Amadeu Cavalcante, Val Milhomem, Sabá-Tião, entre outros.

Black Sabbá, Helder Brandão, Hélder Espírito Santo e Naldo Maranhão

Logo a Raízes Aéreas caiu no gosto popular, por conter, principalmente, elementos da musica regional e do rock, que eram os ritmos mais em moda. Sem a internet e os apelos da mídia de hoje, eles alcançaram sucesso e popularidade tocando em bares e praças, e contando com míseros espaços na imprensa. A formação inicial foi substituída algumas vezes, e o revezamento revigorou a banda, que teve nos instrumentos músicos do quilate de Heder de Melo.

Por motivos particulares, cada um pegou seu caminho e a Raízes Aéreas virou um mito entre a geração da época. Em 2009, eles se reuniram para um show de reencontro que contou com a participação de Celso Viáfora, Enrico Di Miceli, e outros artistas.

O show foi uma festa entre amigos que encantou quem o assistiu. O evento foi memorável, crédito para a produtora Clicia Di Miceli, proprietária da Bacabeira Produções, que realizou o reencontro.

Raízes Aéreas, em 2009, com Celso Viáfora, Enrico Di Miceli e outros artistas.

Em 2015, o CD com as músicas que deram a fama para os integrantes do Raízes foi reeditado, mostrando hoje, como há mais de 20 anos, podia ser produzido um disco com muita beleza, poesia e arranjos inovadores. Quem nunca ouviu não pode deixar de curtir o som da lendária banda.

*Crônica escrita pelos jornalistas Mariléia Maciel e Elton Tavares.
**Fotos: Mariléia Maciel, nos bastidores do show de 2009.
***Do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de autoria de Elton Tavares, lançado em 2020.

Uma crônica baseada em baseados reais – Crônica de Ronaldo Rodrigues

GinoflexForever

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Mais uma história verídica quase ficção do meu amigossauro Ginoflex Vinil.

Tocou o celular, eu atendi:

– Alô.
– Fala, Ronaldo!
– Fala, Gino. Qual é o papo?
– Tá rolando uma festinha aí na tua casa?
– Não é bem uma festa, só uns amigos reunidos. Fizemos aquela coleta básica e compramos umas latinhas.
– Eu posso ir praí?
– É… Pode! Mas olha lá, hein! Tu vais trazer algum amigo contigo?
– Vou. O senhor sabe que eu sempre levo alguém.
– Mas quantos tu vais trazer?
– Calma, Gabiru! Relaxa! Vou levar dois.
– Dois? Tá legal. Pode vir.

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Desliguei o celular e me reuni aos três amigos que conversavam e bebiam no pátio de casa, lá no bairro do Trem. Fiquei um pouco apreensivo porque eu sabia que o Ginoflex costumava SE convidar para as reuniões de farra e aproveitava para convidar muita gente. Eu estava pensando nisso quando o Ginoflex apareceu dentro de um carro com mais cinco pessoas. Ao lado, parou outro carro, este com seis pessoas dentro.

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Ginoflex e Ronaldo Rodrigues

O Ginoflex, com aquele jeito todo à vontade, foi logo me apresentando a galera. Na discreta, chamei o Ginoflex para o lado:

– Porra, Gino! Eu falei que não era uma farra grande e tu disseste que só ia trazer dois amigos!
– Calma, Gabiru! Eu falei que ia trazer dois! Dois carros!

Eu compreendi e sorri com mais uma do Gino. Já ia me recolher ao meu canto quando ele, abrindo um pacote de uma erva (que eu não vou dizer aqui), falou com a cara mais sem-vergonha deste meio do mundo:

– Mas eu trouxe outras coisas também, Gabiru!

Aí demos início ao ritual de boas-vindas. Se é que me entendem.

A Banda Paralela no universo do folião amapaense – Crônica de Elton Tavares

Foto: Elton Tavares

Crônica de Elton Tavares

Na última terça (13), o tradicional desfile do bloco “A Banda” foi adiada em Macapá, por conta de chuvas intensas que atingiram a cidade desde a madrugada e por boa parte do dia. A Prefeitura de Macapá decretou situação de emergência no município e muita gente ficou desabrigada ou prejudicada de alguma forma por conta da tempestade.

Em decisão conjunta com órgãos de governo e do município, a coordenação do maior bloco de sujos do norte reagendou o desfile da Banda, para o dia 3 de março de 2024.

Foto: Elton Tavares

Como A Banda é do Povo e o poder público está na assistência das pessoas e segurança da população, muita gente foi para as ruas na terça-feira gorda sim. Eu estava entre as centenas de pessoas que fizeram uma espécie de bloco paralelo, na contramão da ordem do Gabinete da Tristeza de São Pedro, que arriou toda aquela chuvarada desnecessária aqui no meio do mundo.

Mesmo com o adiamento do evento decretado, centenas de foliões estiveram presentes na Rua Cândido Mendes. Eu entre eles. Pois a fome e sede de Carnaval, foi saciada no churrasco de alguns amigos, que tinham se reunido para ver A Banda passar, “cantando coisas de amor”.

Foto: Elton Tavares

Sim, uma porrada de gente fantasiada ou com abadás aproveitaram a bateria da Império da Zona Norte e caixas de som que embalavam o festejo na casa em que os caras se confraternizavam e lá se esbaldaram.

A justificativa, embora nobre em sua essência, não foi atendida pelos amantes do Carnaval. Claro que ninguém ficou feliz com o problema das pessoas atingidas com as chuvas torrenciais, mas o Estado, Prefeitura e demais autoridades cuidaram da situação.

Foto: Elton Tavares

Afinal, era a semana mais esperada do ano, um período de liberdade e celebração onde as tradições se sobrepõem até mesmo às preocupações mais pragmáticas. Ir contra isso era como tentar segurar o ímpeto das ondas com as mãos nuas.

“A Banda paralela” não deixou a desejar em nada a irreverência e alegria contagiante de seus foliões sujos de purpurina. Os tambores continuaram a ecoar pelas ruas, os carros de som improvisados surgiram em cada esquina e as manifestações da quadra momesca encontraram espaços para florescer na Rua Cândido Mendes, em frente ao Teatro das Bacabeiras e no Mercado Central de Macapá.

Tradição foi difícil ir contra. Uma boa parte da população ganhou as ruas e curtiu cada batucada, cada carro de som e cada manifestação da quadra momesca que rolou. Afinal, a chuva não apagou o fogo sagrado do Carnaval. Para mim, foi a expressão mais genuína da alma de um povo que encontra na festa uma forma de reinventar e de afirmar sua identidade cultural diante de qualquer tempestade que possa surgir.

Eu e Kledson Mamed, o Jesus que operou o milagre da Banda Paralela

“...A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira…” – A Felicidade – (Vinícius de Moraes).

É Carnaval, é a doce ilusão, é promessa de vida no meu coração – (Crônica de Elton Tavares sobre a maior festa cultural brasileira)

Essa semana começa mais um Carnaval, a maior festa popular do Brasil. Amo a quadra carnavalesca, particularmente os festejos de rua. A “festa da carne” é paixão e amor, só entende quem sente. Para aqueles que acham tudo uma grande besteira, azar o de vocês, pois não sabem curtir a maior festa cultural brasileira.

Macapá já teve bons carnavais de clube. Na época, os foliões compravam temporadas (as mesas eram “bancas”) carnavalescas, bons tempos. Cresci no meio de gente alegre: meus pais, tios e os amigos deles. Todos “pulavam” nos bailes carnavalescos mais disputados da cidade. Eram realizados no Trem Desportivo Clube ou no extinto Círculo Militar (esse mais elitizado). Ainda adolescente participei de muitas dessas festas memoráveis.

Eu, Rei Momo

Esse ano, desfilarei mais uma vez pela minha amada Piratas da Batucada, como faço desde 1990. O lance é curtir o Carnaval, a emoção e a alegria que ele proporciona. Afinal, “todo mundo bebe, mas ninguém dorme no ponto”. Mentira, muitos passam sim, mas a gente gosta assim mesmo.

Não tenho ziriguidum, não toco surdo de repique, tamborim ou bumbo, tudo pra não atravessar o samba. Também não sou pierrô e nem palhaço, mas já fui Rei Momo e serei sempre pirata da batucada.

Eu, no Piratas da Batucada, em 2015 (como faço desde 1990) – Foto: Abinoan Santiago

Sim, sempre fui um folião fervoroso, pois não nasci em fevereiro, mas o Carnaval tá no meu coração. E nem me venham com o lance de ser “pão e circo”, pois isso é argumento furado de quem não entende que essa é a maior festa popular do Brasil. Cheio de memória, arte, homenagens, é muito mais que uma disputa de agremiações em uma grande passeata festiva. Ou “um bando de bêbados nas ruas”, como dizem os desavisados (ou burros mesmo).

O Carnaval é inspiração, vibração, talento, organização, imaginação, arte, luz, cores, alegria, magia e amor. Fala de nossos costumes, história e tradições. Um contagiante evento de luz, cor e muita alegria. Sem falar na importância que possui para a economia, pois faz o dinheiro circular e beneficia toda a cadeia produtiva, comércio formal e informal.

No ensaio aberto do Piratas da Batucada, com a Bruna Cereja, minha namorada – Fevereiro de 2024

Tô louco desfilar na minha amada escola de samba Piratas da Batucada e andar todo o percurso d’A Banda, a louca marcha alegre. Sim, também estarei no Piratão e naquela multidão de máscaras coloridas. Vamos botar pra quebrar nas ruas de Macapá. Como diz a velha marchinha do remador: “Se a canoa não virar, olê, olê, olá, eu chego lá”.

Enfim, o Carnaval é festa que contempla as tradições e a história afro-cultural brasileira e nos dá a falsa sensação de liberdade, música, suor e alegria. Como diz o samba: “É Carnaval, é a doce ilusão, é promessa de vida no meu coração”. O que resta é esperar a cor que virá depois do cinza. E ela virá (se Deus quiser). Afinal, a festa da carne é isso: ludicidade, beleza e esperança. Tenham todos um ótimo Carnaval!

Elton Tavares – jornalista, escritor e folião.