Portaria do Ministério da Cultura ratifica o tombamento de Serra do Navio como patrimônio cultural do Brasil

Foto: Blog Olhando Pela Janela do Trem.

Por Cléber Barbosa

O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, assinou a homologação do tombamento de quatro bens culturais: o acervo do artista plástico sergipano Arthur Bispo do Rosário, os terreiros Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão, em Recife (PE), Tumba Junsara, em Salvador (BA), e a Vila de Serra do Navio, no Amapá. Isso garante a inclusão das obras e atrações no Livro do Tombo – inscrição definitiva que assegura reconhecimento de seu valor histórico e cultural.

A vila de Serra do Navio foi projetada pelo arquiteto brasileiro Oswaldo Bratke com o objetivo de abrigar os trabalhadores da Indústria e Comércio de Minério (ICOMI). Concebida para ser uma cidade completa e autossuficiente, foi a experiência precursora na região Amazônica na implantação de uma Cidade de Companhia, voltada para a exploração mineral. Tombado em 2015, o bem teve a rerratificação – um ajuste nas especificações do tombamento.

Efeitos – O tombamento é o instrumento de reconhecimento e proteção do patrimônio cultural mais conhecido, e pode ser feito pela administração federal, estadual e municipal. Em âmbito federal, o tombamento foi instituído pelo Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, o primeiro instrumento legal de proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro.

Fonte: Diário do Amapá.

O Brasil, felizmente, tem jeito, sim!

As manifestações deste sábado (29), contra o governo Bolsonaro, foram um banho de água, não fria, mas quente, quentíssima, para aquecer os ânimos de tantos, entre nós, que vivem repetindo que o Brasil não tem mais jeito.

Mas tem, sim.

O Brasil e os brasileiros – em sua grande maioria, vale dizer – parecem estar acordando, aos poucos, do pesadelo de ver que o País, mesmo patinando num enorme atoleiro, ainda tem condições de resgatar-se desse lodaçal e voltar a olhar para novos horizontes e seguir em frente.

Em todo o País, tivemos imagens como essas que vemos nas fotos que o Espaço Aberto pinçou e selecionou em vários sites.

São imagens que expressam indignação contra o desgoverno, contra a irresponsabilidade, o negacionismo, o fascismo – enrustido e/ou escancarado – que nos ameaça e o golpismo que alimenta os mais tenebrosos desejos de um segmento sectário da população.

Mas também são imagens que expressam, indubitavelmente, a disposição de a grande maioria da população buscar alternativas que proporcionem ao país consolidar um pacto político capaz de segregar o fanatismo nocivo, para que a democracia possa prevalecer.

E democracia, fique bem claro, comporta divergências, embates, confrontos e dissensos. Mas dentro dos estritos limites constitucionais.

Já o fanatismo, ao contrário, defende pautas próprias, em regra violadoras de preceitos constitucionais mínimos e, portanto, afrontosas à democracia. Por isso é que precisa ser segregado, proscrito e criminalizado.

Tomara que as manifestações de ontem sejam a semente de amanhãs mais animadores.

Fonte: Espaço Aberto.

Liberdade para Anne Frank – Crônica muito porreta de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Sempre que vejo alguma manifestação reivindicando alguma coisa, ou muitas coisas, penso em Anne Frank. Penso em alguém segurando um cartaz que bem poderia ser ultrapassado, mas não é. Um cartaz que diz: “ LIBERDADE PARA ANNE FRANK”.

“Anne Frank! Como assim?”, pergunta meu interlocutor invisível, aquele a quem sempre recorro quando tenho uma ideia meio fora de alguma lógica, se é que existe alguma lógica em alguma coisa. Pois a história de Anne Frank fugiu à lógica. Quem dera fosse apenas um filme, em que termina a ação, desligam-se as câmeras, desfaz-se o cenário e todos voltam para casa.

Penso em Anne Frank enclausurada por cerca de dois anos num esconderijo mínimo, um sótão, com sua família e outras pessoas, tentando escapar à perseguição nazista. Penso em Anne Frank e me pergunto quem vai devolver a ela o que foi tomado. Os sonhos de se tornar escritora ou atriz. As condições para que ela exerça com plenitude o alvorecer de sua sexualidade.

Um cartaz no meio de uma manifestação do nosso tempo pedindo liberdade para Anne Frank não estaria fora de propósito, nem soaria anacrônico, por que a perseguição a Anne Frank continua. Na guerra da Síria, por exemplo, que dura mais de sete anos e que não dá chance para que as crianças sejam somente o que deveriam ser: crianças, e não adultos menores dormindo e acordando em meio a sobressaltos. Há milhares de Anne Frank no caminhar desesperado dos refugiados, saindo de um lugar onde só há incerteza e indo para um lugar em que não há certeza alguma. Quantas Anne Frank estarão agora nas favelas, no meio do fogo cruzado de nossa guerra não declarada oficialmente, que faz suas vítimas diariamente? E quantas delas estarão aprisionadas em casa, cercadas de conforto e de solidão?

Quem vai pedir desculpas em nome da humanidade e de que forma isso pode acontecer? Como chegar e dizer assim: “Foi mal aí, Anne. Saia desse esconderijo, venha sentir o vento fresco no frescor do seu rosto de menina de 14 anos. Venha viver a sua vida, venha fazer tudo aquilo que a sua personalidade apontava em sua narrativa e digressões sobre a vida, o mundo, as pessoas. Venha passear livremente, paquerar, se quiser. Venha ser menina, ser moça, ser mulher. Venha ser famosa de outra forma, por outros escritos, além do seu diário. Ou não: seja somente alguém anônimo que acorda todas as manhãs e parte em busca da sobrevivência, que nunca é fácil, mesmo em tempos de paz. Ia escrever “mesmo em tempos de paz, como o nosso”, mas não achei que estava correto falar assim, apesar da vontade de que assim seja.

Não quero ficar triste. Anne Frank não era triste, embora sua vida de adolescente também comportasse momentos de tristeza, angústia, revolta e até umas fofoquinhas aqui e ali. Muito parecida com a maioria dos adolescentes. E como muitos adolescentes, Anne Frank era também vivaz, alegre, “pra cima”, como se diz hoje. É com essa imagem que termino esta crônica, não sem antes fazer um convite a mim mesmo, ao meu interlocutor invisível e a quem possa passar adiante esta mensagem sempre atual: “Vamos libertar Anne Frank!”.

Bob Dylan faz 80 anos hoje. Viva o Mr. Tambourine!! #BobDylan80

Bob Dylan (foto: Chris Pizzello/AP)

Hoje, 24 de maio, um dos figuras mais geniais da música mundial completa 80 anos.

Nascido Robert Allen Zimmerman, no estado de Minnesota (EUA), o compositor, cantor, pintor, ator e escritor norte-americano Bob Dylan chega, também é ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2016.

Autodidata, ainda adolescente, aprendeu a tocar piano e guitarra sozinho. Iniciou a fantástica carreira artística em 1959, em grupos de rock e imitando Little Richard. Com canções de protesto, crítica social, românticas e até religiosas, do folk ao rock, Bob Dylan foi ícone da contracultura nos anos 1960, ativista fervoroso, pacifista e ídolo de qualquer um que admira belas músicas e atitude.

Uma curiosidade: Bob tirou seu “Dylan” do poeta galês Dylan Thomas (1914-1953). Ele costuma dizer que: “Bob Zimmerman soava longo e pesado” e “Bob Dylan era menos sincrético”.

Não dá pra calcular a magnitude de Dylan, muito menos explicar sua contribuição e influências para a música. São 59 anos de carreira, 65 discos nessa trajetória; aproximadamente 500 canções escritas; mais de 3.400 shows. Seu trabalho é algo quase paranormal. Centenas de livros já foram escritos sobre ele. Por falar nisso, Bob escreveu sua obra literária, intitulada “Tarântula”, com pouco mais de 20 anos. Sem falar que ele pintou quadros, desenhou e atuou.

Bob Dylan- Foto: site oficial do artista

Difícil explicar um cara desses. Dylan é tido como o maior poeta da história do rock and roll e um dos artistas mais influentes do nosso tempo. Ao longo de sua sensacional história, Bob Influenciou grandes nomes do rock americano e inglês nas décadas de 60 e 70. Em 2004, foi eleito pela renomada revista Rolling Stone o 7º maior cantor de todos os tempos e, pela mesma revista, o 2º melhor artista da música de todos os tempos. Só ficou atrás dos Beatles. Uma de suas principais canções, “Like a Rolling Stone”, foi escolhida como uma das melhores de todos os tempos. Em 2012, Dylan foi condecorado com a Medalha Presidencial da Liberdade pelo presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Como já dito, se tudo aí já não fosse o suficiente para muitas vidas, ele foi o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2016. Tédoidé!

Bob Dylan, autor de “Tarântula” – Foto: site oficial do artista

Desejo uma vida ainda mais longa ao Mr. Tambourine. Que ele nunca encontre outro furacão, que não bata tão cedo na porta do céu e que continue a rolar pedras por pelo menos mais 80 anos. Desta forma, o cara seguirá com sua voz fanhosa, gaita, guitarra e liberdade criativa a nos emocionar.

Muito obrigado e parabéns, Bob Dylan!

O nome verdadeiro de Bob Dylan é Robert Allen Zimmerman(Foto: “Rolling Thunder Revue”/Divulgação)

Fontes: revistas, sites, papos de bar, programas da MTV e muuuita curiosidade sobre a obra do aniversariante.

Elton Tavares

Hoje é o Dia Nacional do Café

Hoje é o Dia Nacional do Café, bebida mais consumida do mundo. A ideia de se comemorar o Dia Nacional do Café nessa data partiu da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), pois é nessa época do ano que, no Brasil, dá-se início à colheita de café na maioria das regiões produtoras do País.

Produzido a partir dos grãos do fruto do cafeeiro, o café já foi, em 1980, ele era a segunda mercadoria mais vendida em todo o mundo, ficando atrás apenas do petróleo.

O café começou a ser produzido na Etiópia, mas foi no Egito e Europa que ele difundiu-se para o restante do mundo. Em 1727, o governador do Estado do Grão-Pará enviou o sargento-mor Francisco de Melo Palheta em uma viagem, encarregando o oficial de conseguir trazer algumas mudas de café para plantação. Na Guiana Francesa, o sargento conseguiu ganhar a confiança da esposa de um importante político de lá, e foi ela quem deu uma muda de café-arábico, trazida para o Brasil de forma clandestina.

Por apresentar sabor agradável e por ser estimulante, o café era o produto da moda digno de receber grandes investimentos. O crescente interesse pela bebida permitiu sua “globalização” e facilitou a intervenção cultural tanto nas formas de consumo quanto nas técnicas de plantio.

Em 2013, tomando café com a fotógrafa Márcia do Carmo, entre uma pauta e outra.

A tradição de “tomar um cafezinho” no mundo

O hábito de tomar café como bebida prazerosa em caráter doméstico ou em recintos coletivos se popularizou a partir de 1450. Ele era muito comum entre os filósofos que, ao tomá-lo, permaneciam acordados para a prática de exercícios espirituais. Poucos anos depois, a Turquia foi responsável em difundir o “hábito do café”, transformando-o em ritual de sociabilidade. O país foi palco do primeiro café do mundo – o Kiva Han – por volta de 1475. Desde então, tomar café passou a ser “um rito” que se propagou mundo afora. Em 1574, os cafés do Cairo e de Meca eram locais procurados, sobretudo, por artistas e poetas.

O mercado brasileiro de café é um dos que mais crescem no mundo. O país é o segundo maior consumidor, após os Estados Unidos. Em 2012 foram industrializados 20,33 milhões de sacas, um crescimento de 3,09% em relação ao ano anterior. Já o consumo per capita registrado em 2012 foi recorde: 4,98 kg por habitante/ano, superando o de 1965 (apurado em 4,72 kg pelo extinto IBC – Instituto Brasileiro do Café). Continua sendo também maior que os da Itália, da França e dos Estados Unidos.

Em 2020, tomando o café da quarentena.

O produto que, durante muito tempo foi o principal produto agrícola do Brasil, é o predileto de nove entre 10 jornalistas. Se a pessoa for fumante então, é café e cigarrete pra caramba!

Pois numa redação falta tudo, menos café. Eu, por exemplo, tomo litros no trabalho. Aliás, ele salva nos dias que a ressaca está feroz.

Este texto foi somente pra “encher linguiça” na sessão “datas curiosas” deste site, mas tá valendo. Vai um cafezinho?

Fonte: ABIC

Elton Tavares

Lei Aldir Blanc: Secult premia mestres da cultura popular e tradicionais do Amapá

A Secretaria de Estado da Cultura do Amapá (Secult/AP) , por meio de edital da Lei Aldir Blanc, reconheceu diversos mestres das culturas populares do estado, com o prêmio Maestro Siney Saboia. São 298 artistas que configuram neste hall que deve ser eternizado no Amapá, pela secretaria.

A premiação, que aconteceu no dia 20 de dezembro de 2020, é um reconhecimento devido à atuação de personalidades como Tia Biló, Nonato Leal e Munjoca, que tanto ajudaram a construir o alicerce artístico do estado, que hoje segue preservado e continua sendo difundido, em forma de memória histórica para as demais gerações de amapaenses.

Tomamos todos os cuidados para que o recurso da Lei Aldir Blanc chegue à cadeia produtiva cultural conforme os critérios exigidos. O Amapá precisa preservar, reconhecer e premiar seus grandes nomes em todas as áreas de atuação. Temos trabalhando neste fortalecimento cultural e é uma satisfação homenagear essas 298 personalidades da nossa cultura, tradição e história“, pontuou o titular da Secult, Evandro Milhomen.

Esses artistas contemplados ajudam e ajudaram na promoção da diversidade cultural do Amapá. É destinado a homens ou mulheres que possuem grande experiência e conhecimento dos saberes e fazeres tradicionais, com vida e obras voltadas para expressões culturais amapaenses, e ações reconhecidas nos locais onde vivem e atuam.

A Secult disponibilizará uma galeria, no site do órgão, com banners de todos os artistas contemplados com a premiação, para eternizar os homenageados dentro da plataforma digital.

Algumas das personalidades premiadas:

Tia Biló – 96 anos exalando Marabaixo

Benedita Guilerma Ramos, a “Tia Biló” é uma das contempladas pela A Secult/AP, com prêmio “Maestro Siney Saboia”.

“Tia Biló” nasceu em Macapá, em 10 de fevereiro de 1925, é filha do Mestre Julião Ramos, um dos grandes precursores do Marabaixo no Amapá, e de Januária Ramos, e trouxe no DNA a paixão pelo Marabaixo herdada do pai. É precursora do primeiro grupo desse ritmo afro, a Associação Folclórica Raimundo Ladislau (fundada em 1988) e que segue encantando várias gerações de amapaenses com seu canto forte e sua batida contagiante.

Tia Biló é grande entusiasta e divulgadora da cultura afrodescendente, cantando e repassando toda tradição e todo o legado deixado por seu pai ao povo amapaense.

Nonato Leal

Outro premiado foi o intérprete e compositor de música popular e erudita Nonato Leal. Nascido no dia 23 de junho de 1927, em Vigia, no Pará. O artista teve um papel fundamental na formação do violão no Amapá. Nonato, foi o primeiro professor de violão no Centro Profissional de Música Walkiria Lima, onde formou uma geração de virtuosos violonistas.

Hoje, aos 94 anos, Nonato Leal é sem dúvida uma importante personalidade e continua dando uma contribuição imensurável à arte. Autor de 22 obras para violão solo, cujo as peças estão ambientadas entre o choro, valsa, MPB, flamenco e seresta. Suas produções foram essenciais na disseminação da sonoridade instrumental e também na formação de uma identidade própria na cultura musical amapaense.

Munjoca

A Secult concedeu o prêmio “Maestro Siney Saboia” também a Joaquim Ramos da Silva, o Mestre Munjoca, como é conhecido. Exímio tocador de Marabaixo, também canta e dança com orgulho, preservando o legado deixado por seu avô Mestre Julião Ramos, de quem herdou a coragem e a bravura para defender e exaltar a bandeira do Marabaixo no estado do Amapá. Presidente da Associação Folclórica Raimundo Ladislau, a primeira entidade marabaixeira fundada no nosso estado, em 1988.

Munjoca desde adolescente dá seu sangue e suor pela preservação e manutenção da cultura negra amapaense, já foi “festeiro” por várias temporadas e coordenador geral do Ciclo do Marabaixo.

No Samba também fez história, na década de 80 foi intérprete da escola de samba Boêmios do Laguinho (sua grande e eterna paixão) e também da Maracatu da Favela. Em 2020, voltou a fazer parte da ala de intérpretes da agremiação laguinhense.

Para conferir a lista com todos os premiados, na íntegra, basta acessar o link: https://cutt.ly/Sb4yjua

O bairro do Laguinho – Crônica porreta de Fernando Canto republicada por conta dos 77 anos do bairro– @fernando__canto

*Imagem: Acervo pessoal de Fernando Canto – 1978

Por Fernando Canto

Em nenhuma cidade do Norte do Brasil se conhece um bairro, em termos proporcionais, onde a maioria da população seja negra e os elementos formadores de sua comunidade sejam descendentes diretos de escravos, como acontece no bairro do Laguinho, em Macapá. Os negros, originalmente, ocupavam a frente da cidade, próximo ao trapiche municipal e ao estaleiro. Muitos viviam da pesca e do plantio da mandioca, no largo de São José, hoje Praça Barão do Rio Branco. E com a transformação do Amapá em Território Federal e a consequente instalação do primeiro governo, Macapá foi decretada capital.

A transferência dos negros para a parte norte da cidade não foi um fato enfrentado com passividade por eles; daí naturalmente surgiram alguns núcleos de reação contra a arbitrariedade cometida pelo governo, que retirou os negros da frente da cidade com o objetivo real de preparar o referido local estrategicamente situado às margens do rio Amazonas.

Foto: Elton Tavares

O Laguinho, chamado antes de Poço da Boa Hora, era uma ressaca de águas estagnadas, cercada de buritizeiros, local hoje situado entre as ruas Odilardo Silva e Eliezer Levy. Tratava-se de um lugar temido, misterioso e encantado, moradia de caruanas e iaras, excepcionalmente tétrico à noite e culpado pelo desaparecimento de muitas crianças. O Poço da Boa Hora era temido pelos negros que, mesmo professando a religião católica – embora não houvesse nenhum padre em Macapá, na época – consultavam pajés, catimbozeiros e benzedeiras para espantar os espíritos maléficos que habitavam o lugar.

Fotos: Blog Porta Retrato

O Laguinho é palco de muitas manifestações tradicionais, entre elas o Marabaixo mais autêntico, organizado por mestre Julião, Ladislau e pela saudosa parteira Mãe Luzia. A criação de escolas de samba em Macapá também começou nesse bairro, com a fundação da Universidade de Samba Boêmios do Laguinho.

Foto: Mariléia Maciel

É interessante lembrar o quanto aquela gente de fala mansa, quase cantante, contribuiu para a formação cultural de Macapá. Hoje, em qualquer botequim do bairro, pode-se ver três ou quatro pessoas reunidas tomando uma “pura”. Basta ter um atabaque ou um violão por perto para ouvir essa gente cantar os versos do maior compositor do Laguinho, Raimundo Lino: “Laguinho, ô Laguinho/ É bairro da tradição./ Laguinho mora no meu coração./ É ódio dessa gente que não sabe o que faz./ Laguinho é o orgulho de nosso carnaval”.

Fernando Canto, Renivaldo Costa e outros ilustres cidadãos do Laguinho, na “marabaixeta”. Arquivo do jornalista Renivaldo Costa.

*Laguinho é berço da cultura de Macapá. O escritor e querido amigo, Fernando Canto, nasceu e se criou no Morro do Sapo, no Laguinho. E diz que desde antes da chegada de Janary Gentil Nunes, o primeiro governador do Amapá, que ocupou o centro de Macapá com as residências e prédios oficiais, em 1945, quando os habitantes de Vila Engrácia foram transferidos para o então Poço da Boa Hora, e o povoamento do bairro Laguinho ja existia, mas essa é a data oficial e são 77 anos

Memória: Rua no bairro Alvorada recebe nome de dentista pioneiro da década de 50

Foto: PMM

A memória de Macapá é escrita por seus pioneiros. Pessoas como Luiz Albuquerque Queiroz Brasiliense, odontólogo conhecido na capital nos anos 50 por Dr. Luiz Brasiliense, que agora, tem uma rua em sua homenagem. A Companhia de Trânsito e Transporte de Macapá (CTMac) oficializou a mudança do nome da via nesta quarta-feira (19) com a instalação da placa nova.

A mudança é resultado de um Projeto de Lei do de autoria do vereador Carlos Murilo (PSL) e substitui o nome da Rua 02, no bairro Alvorada. No ato de instalação da placa, os filhos do homenageado estavam presentes.

Foto: PMM

História

Em 1953, a convite do então governador do Território Federal do Amapá, Dr. Amílcar da Silva Pereira, o odontólogo Luiz Albuquerque Queiroz Brasiliense, nascido em Belém, veio para exercer a profissão e trabalhou em vários municípios do estado. Sua principal atuação foi na capital Macapá, onde conquistou muitos amigos, dentre eles, o farmacêutico Rubim Aronovitch e o médico Alberto Lima.

Dr. Brasiliense – Foto: Blog Porta Retrato

Conhecido como Dr. Brasiliense, tinha como características marcantes alegria, competência e dedicação ao trabalho, tendo atuado em todos programas de saúde dentária nos municípios e localidades. Teve 9 filhos, aposentou-se em 1989. Faleceu dia 19 de maio de 1995, em Belém. Se estivesse vivo, completaria 100 anos dia 20 de outubro de 2021.

“Esse reconhecimento é muito importante, pois nosso pai foi um pioneiro no estado, prestou um grande serviço à sociedade e essa homenagem mostra que seu nome não será esquecido nesta terra onde ele tanto trabalhou e dedicou sua profissão”, conclui Iria Braziliense Leite, filha do homenageado.

Secretaria Municipal de Comunicação Social

Se vivo, Joey Ramone faria 70 anos hoje – Por Marcelo Guido

Photo : Richard E. Aaron/Redferns – Revista Rolling Stones

Por Marcelo Guido

O que seria de um mundo sem ele, com certeza um mundo menos contestador , um rock ameno e sem diretrizes, algo nefastamente dominado pelo progressivo, com seus solos intermináveis e seus músicos com gabarito.

Joey Ramone, com seus amigos todos desajustados, conseguiram com letras banais, sobre o dia-a-dia tocar e revolucionar todo um universo, Joey Ramone salvou o rock de ser chato, de ser exclusivo , erudito. Joey Ramone tornou o rock popular.

Fotos: site oficial de Joey Ramone (https://www.joeyramone.com/)

O faça você mesmo, foi o lema máximo do punk. O punk rock nunca foi pensado, discutido ele foi realizado por caras como Joey.

Joey, que tinha tudo para passar em branco por esse mundo, ele veio e deixou sua marca.

Jeffrey Ross Hyman, deixou uma vida onde as dificuldades em fazer amizades, as doenças que lhe foram dadas e o anonimato que são condenados os que não se enquadram ao sistema sofrem. Criou um mundo próprio, onde todos eram iguais e sem mazelas, um mundo punk.

Johnny Ramone, Tommy Ramone, Joey Ramone and Dee Dee Ramone perform at CBGB’s in New York in the 1970s. – Photo : Roberta Bayley (Revista Rolling Stones).

Joey era um anti-herói, com um íman para os fãs, era o mesmo no palco do CBGB , com quinhentas testemunhas , do que no Olimpia em São Paulo para mais de 20 mil.

A energia, a vontade e o respeito eram os mesmos.

Antes de tudo foi um cara que nunca se rendeu, nunca se rebaixou a nenhum sistema. Não aceitou o que lhe foi dado e deu um soco na cara da mesmice.

Falou sobre o prazer de se cheirar cola, sobre espancar alguém com um taco, sobre corações venenosos.

Pediu para não ser enterrado no maldito cemitério, ele não quer viver outra vez, ainda deu tempo de achar o mundo maravilhoso e ainda nos disse para não nos preocuparmos com ele.

Revolucionou um estilo musical, mudou o mundo e está presente até hoje na vida de muitos, como este que escreve.

Jornalista Marcelo Guido com sua camisa em homangem a Joey Ramone e sua tatuagem da banda Ramones – Fotos: Bianca Lobato.

Pra quem ficou, só restou as desesperanças de um mundo sem ele.

Mas ele permanecerá vivo enquanto viver a sua obra.

Joey Ramone
19 de maio de 1951
Pela Eternidade.

Foto: site oficial de Joey Ramone (https://www.joeyramone.com/)

*Marcelo Guido é Punk e Jornalista. Marido da Bia, Pai da Lanna e do Bento. Fã dos Ramones.

Roberto Carlos de Santana, meu louco favorito – Crônica de Fernando Canto (republicada por conta do Dia Nacional da Luta Antimanicomial)

Crônica de Fernando Canto

Não sei bem em que jornal eu li sobre um maluco que morava numa praia do Rio de Janeiro, mas quem o deixou comigo foi meu amigo RT na volta de uma viagem à cidade maravilhosa. O texto o descrevia como um homem corpulento, negro e barbudo, que fumava maconha, mas que não incomodava ninguém. Cumprimentava a todos e fazia parte da paisagem urbana de Ipanema. Todo mundo o conhecia no bairro e o autor do artigo falava em uma espécie de reencontro com ele depois de muitos anos que passou fora do Brasil.

Em Macapá conheci algumas dessas pessoas alienadas, praticamente abandonadas por suas famílias. E foi exatamente na minha adolescência, quando era estudante do ginásio. Na saída das aulas os mais velhos instigavam os mais novos a fazerem chacotas com elas e apelidá-las quando passavam em frente ao colégio.

Nunca esqueci a “Onça”, que possivelmente não era louca, mas viciada na cachaça. Quando convidada fazia espetáculos sensuais, levantava a saia rodada e dançava Marabaixo, sem se desvencilhar da garrafa de “Pitú’ equilibrava na cabeça, rebolando, para o delírio da turma, que a aplaudia sem parar, rindo e gritando com aquelas vozes de fedelhos em mudança, quase bivocais.

Ainda posso ver o “Cientista” lá pelas bandas do Mercado Central trajando seu paletó azul claro e um calção sujo e descolorido. A barba rala, as feições indígenas e o olhar sereno. Vez por outra procurava alguma coisa embaixo de uma ficha de refrigerante ou em uma pequena poça d’água, como se tivesse perdido algo muito valioso. À vezes anotava (ou fazia que anotava) alguma coisa em um papel de embrulho, daí as pessoas acharem que eram importantes fórmulas de um cientista, vindas em um “insigth”, um estalo de ideia. Eu o vi também trajando o pijama de interno do Hospital Geral, de onde fugia de uma ala reservada aos doentes mentais.

Quase decrépito, mas imponente, calvo e meio gordinho era o famoso “Pororoca”. Para mim é inesquecível a cena que vi dele descendo a ladeira da Eliezer Levy, no bairro do Trem, no sol quente do meio dia, bem embaixinho da linha do equador, quando os raios do sol pareciam rachar os telhados das casas e estalar a piçarra. Lá vinha ele, rindo à toa, descalço, de cueca branca e um imenso couro de jiboia enrolado no peito. Um figuraço!

Creio que todos os frequentadores do bar Xodó chegaram a conhecer o “Rubilota”, um senhor de aparência forte, que andava invariavelmente sem camisa, que pedia um cigarro e ia embora. Mas de repente surtava e começava a gritar pornofonias das mais cabeludas possíveis. Quando ficava violento era preciso chamar a polícia, mas com um bom reforço, pois ele era durão.

Quem sempre aparecia pela Beira-Rio era o Zé, cearense e empresário de sucesso, mas que enlouqueceu, dizem, de paixão. Ele me conhecia, e sempre que me via nos bares ia me cumprimentar ou pedir um cigarro. Os garçons tentavam expulsá-lo do ambiente porque andava sujo e com o pijama do hospital, de onde fugia igual ao seu colega “Cientista”. Porém eu não deixava que o escorraçassem.

Havia um cara que eu conheci ainda sem problemas psiquiátricos. Ele tocava violão e cantava na Praça Veiga Cabral, ali na parada das kombis que faziam linha para Santana. Estudava, salvo engano, no Colégio Comercial do Amapá. Anos depois eu o encontrei pelo centro da cidade cantando sozinho pela rua as músicas seu ídolo: era o Roberto Carlos de Santana.

O pessoal da sacanagem do Xodó chegava a pagar R$1,00 para ele cantar o “Nego Gato” no ouvido de algum freguês desprevenido. O RC de Santana chegava por trás da vítima (normalmente um amigo que não sabia da onda da turma) e dava um berro que até o Rei da Jovem Guarda se espantaria. Cantava “Eu sou o nego gato de arrepiar…” em alto e bom som e em seguida saía correndo com medo da porrada até a intervenção dos gozadores que morriam de rir.

Esse era o meu maluco predileto. Não sei por onde ele anda, se morreu como a maioria dos aqui citados, se ainda recebe uma grana para cantar o “Nego Gato” ou se ainda canta acreditando que é o Roberto Carlos, lá em Santana. O interessante é que as pessoas sempre têm uma explicação para a causa da desgraça alheia. Dizem que todos eles tiveram desilusões amorosas, que foram vítimas de traições, e por isso surtaram, e assim viveram e assim alguns morreram. Mas com certeza viveram bem, imersos no seu mundo, sem se importarem com que os “normais” pensassem a seu respeito, sem se indignarem com os acontecimentos inescrupulosos dos políticos indignos, estes sim, os deficientes mentais que precisam ser recolhidos definitivamente da sociedade.

*Republicada por hoje ser o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.

Poema de agora: EMBUSTE DE LIBERDADE – Arilson de Souza

EMBUSTE DE LIBERDADE

Oh, ansiada liberdade!
com asas de Ícaro [rumo ao sol] voaste!
Perpetuada pelos pigmentos da Carta Áurea,
te fizeste pseudo, e à própria sorte nos jogaste.

Oh, cobiçada liberdade!
Por quanto nosso povo te clamou,
Mas vieste em des[vida]
e às mínguas nos largou!

Porém, quem nos deu des[esperança]
em seu pre[conceito] se afogou
Pois, NEGRO é vida em abundância!

Viva, NEGRO!
NEGRO,viva!
Viva a liberdade, na sua essência viva!

Arilson de Souza

Dia Nacional da Denúncia Contra o Racismo – Mazagão homenageia seus heróis zumbis

Por Reinaldo Coelho

Dia 13 de Maio é considerado o Dia Nacional da Denúncia Contra o Racismo, celebração alternativa à data em que foi assinada a Lei Áurea, que “aboliu” a escravidão no Brasil, no ano de 1888.
A abolição da escravatura foi um dos acontecimentos mais marcantes da história do Brasil e determinou o fim da escravização dos negros no Brasil. A partir desse momento grandes heróis zumbis traçaram uma luta para manter nossa identidade cultural e religiosa, vamos homenagear alguns de nossos guerreiros Zumbis que sempre lutaram pela nossa tradição; José Jorge da Silva, Olavo Aires de Oliveira, José Espíndola, parteira Maria, Ramiro Santos, Josefa Laú, Sabará, Bilo Nunes, Vavá Santos, Rozicema Viana e Araba.

Fonte: Jornal do Municípios.

Figuras históricas do Amapá estão registradas em processos judiciais – Via @alcinea

Dando continuidade nas pesquisas e acervo históricos contidos em documento da Justiça Amapaense, os servidores do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP) Michel Duarte Ferraz (Museólogo) e Marcelo Jaques de Oliveira (Historiador) durante análise documental, encontraram um processo de 1925 intitulado “Autos Cíveis de Justificação para Declaração, por sentença, de domicílio”, no qual atuou como Juiz de Direito o Dr. Álvaro de Magalhães Costa.

Nessa ação figuraram como partes Jerônimo Bernardo da Rosa (requerente – quem faz o pedido), representado por seu advogado Raymundo Agostinho Nery, e do lado oposto o Coletor Estadual de Impostos, Pedro Álvares de Azevedo Costa, e o adjunto do Promotor Público, Benedito João do Couto Torrinha.

Segundo o historiador Marcelo Jaques de Oliveira, a ação teve como objeto a solicitação, por parte de Jerônimo Bernardo da Rosa, do domínio de propriedade conforme descrito nos autos como “uma pequena sorte de terras devolutas situadas nesta cidade de Macapá à rua Barão do Rio Branco, outrora Conde d’Eu, cujas confrontações e extensão são as seguintes: duas braças e meia de frente para esta rua e trinta de fundo, até uma rua sem nome…”, terras originalmente pertencentes ao Governo do Estado do Pará.

O servidor Marcelo Jaques destaca que, nesse conflito, as discussões giraram em torno dos efeitos de usucapião (aquisição do direito de propriedade sobre um bem móvel ou imóvel pelo seu uso durante um certo tempo) em terras público-devolutas, bem como a competência do juiz e do promotor público da Comarca de Macapá para atuar na demanda envolvendo propriedades do Estado.

O historiador informa ainda que nos autos o requerente alega ter adquirido a posse das ditas terras desde o ano de 1881(ainda no Período Imperial), as quais teriam sido compradas da “mulata Lucinda, escrava do Coronel Procópio Antônio Rolla Sobrinho” (figura pública de destaque na Macapá de finais do século XIX), transação esta realizada sob o consentimento de seu senhor.

O processo indica que o cartório em que teria sido registrado o negócio, em 1881, estava situado na Rua do Príncipe, Comarca de Macapá, tendo como tabelião Manoel Picanço Pereira. Revela ainda a participação do Coronel Coriolano Filnéas Jucá (que quatorze anos mais tarde seria o primeiro intendente do Município de Macapá) como uma das testemunhas da transação de compra e venda.

O museólogo Michel Duarte Ferraz destaca que essas fontes dão um pequeno panorama da sociedade “amapaense” em cada período histórico, apresentando um pouco de suas relações sociais, econômicas, políticas e culturais, bem como suas interações com a justiça. “Essa análise documental fornece amostras de expressões usuais de cada época, assim como nomes de figuras que outrora exerceram grande influência na região, tanto política quanto econômica, e que por sinal hoje nomeiam muitas das principais ruas do nosso Estado”, relata.

Nos documentos apresentados é possível destacar muitas denominações de logradouros públicos presentes nas antigas comarcas do espaço Amapaense, desde o período Imperial até o Território Federal do Amapá, “como o Cartório da Comarca de Macapá, que no ano de 1881 localizava-se na Rua do Príncipe, ou mesmo que no ano de 1925 as audiências da justiça eram realizadas na sala de audiência do juízo, no Paço Municipal, e os editais de convocação afixados na porta da Intendência Municipal”, observa o servidor, acrescentando que “a propriedade do processo destacado acima, localizava-se na Rua do Barão”.

Michel Ferraz explica que, por meio do processo em pauta, foi possível fazer uma leitura e análise a partir de diversos temas, como: escravidão; processo de transição do Período Imperial para o Republicano; legislações pretéritas e suas mudanças e conflitos ao longo do tempo; questão agrária e patrimonial; ocupação/modificação/transformação urbana; costumes; política e relações de poder; e as relações entre o Poder Judiciário e a sociedade amapaense, “entre outros que se fazem importantes para a compreensão da própria formação histórica da justiça amapaense”.

Fonte: Blog da Alcinéa

Hoje é o Dia do Goleiro – meu saudoso pai foi/é o meu goleiro preferido

No Brasil, em 26 de abril é comemorado como o Dia do Goleiro. A data foi criada há quase 40 anos para fazer uma homenagem para aqueles atletas que por muitas vezes não tem o reconhecimento devido do seu trabalho. A ideia foi do tenente Raul Carlesso e do capitão Reginaldo Pontes Bielinski, que eram professores da Escola de Educação Física do Exército do Rio de Janeiro, e começou a ser comemorada a partir da metade dos anos 70, segundo relata Paulo Guilherme, jornalista que escreveu o livro “Goleiros – Heróis e anti-heróis da camisa 1”.

Como eu já disse aqui, por diversas vezes, amo futebol. Goleiro é posição maldita do esporte bretão (chamado assim por ter sido inventado na Grã-Bretanha). Meu saudoso e maravilhoso pai, José Penha Tavares, era goleiro. Posso afirmar, sem paixão (talvez com um pouquinho dela), que ele foi muito bom.

Papai agarrou pelos times amapaenses (quando o futebol aqui era amador) do São José e Ypiranga Clube. Também foi amigo de um monte de conhecidos boleiros locais. Infelizmente, meu amigo Leonai Garcia (que também já virou saudade), esqueceu-se dele no seu livro “Bola da Seringa”.

Quando moleque, acompanhei papai em centenas de peladas. Torcia e sofria quando ele levava gols, principalmente quando falhava. Aprendi a admirar goleiros com ele. Lembro bem de expressões como: “Olha essa ponte!”, “Que defesa, catou legal!” ou algo assim, bons tempos aqueles.

Bem que tentei jogar em todas as posições, inclusive o gol (sempre era o último a ser escolhido), mas nunca consegui me destacar pela bola, mesmo antes de engordar. Não sei se as crianças de hoje ainda escolhem o pior dos meninos (ou meninas) para agarrar, aquilo é bullying (risos). Digo isso com conhecimento de causa.

Quando me refiro ao goleiro como “posição maldita”, falo de uma série de injustiças que vi goleiros sofrerem ao longo dos meus 44 anos, mas uma é mais marcante: a crucificação do arqueiro Barbosa, da seleção de 1950. Há alguns anos, assisti a um documentário sobre a derrota para o Uruguai na final daquele mundial. Aquele homem foi estigmatizado até o fim de sua vida.

Em 2010, durante uma entrevista, Zico (não preciso dizer quem é, né?) declarou que o Barbosa, no fim da vida, disse a ele: “desculpe, mas gostei de ver você perder aquele pênalti em 1986, pelo menos me esqueceram um pouquinho”. Imaginem como o velho goleiro sofria pela falha de 1950? É a maldição do goleiro.

Vi grandes goleiros jogarem. Raçudos e classudos, voadores, pegadores de pênaltis. Foram tantos que é difícil enumerar, mas lembro bem do Buffon, Gilmar, Taffarel, Raul, Dida, entre tantos outros arqueiros que nos encantaram com a segurança debaixo da trave. Mas para mim, meu pai foi o melhor de todos eles.

Este texto é uma homenagem aos goleiros profissionais e peladeiros, que se machucam em saltos destemidos, levam chutes meteóricos, além de divididas violentas. Em especial ao meu pai, meu goleiro preferido para sempre. Amo-te, Zé Penha. Um beijo pra ti, aí nas estrelas!

Elton Tavares