Pode dar o cano quem quiser porque não vou mais correr atrás de ninguém – Conto de Ray Cunha

Conto de Ray Cunha

Não havia sido um dia de sono restaurador para Amarildo Teixeira. A periodontite o torturava, de modo que passou o dia em claro. Foi trabalhar azedo. Era garçom no Chorão da Asa Norte.

Lá pelas seis horas da tarde apareceu uma cliente, uma senhora elegante, trajada com sapatos altos de couro preto, meias e vestido também pretos. Bonita, de belos cabelos negros, quase longos, era patente que estivesse de luto, pois acumulava duas alianças no dedo anular esquerdo. Pediu o cardápio e passado um momento perguntou se a caldeirada de frutos do mar dava para duas pessoas.

– Dá para quatro, senhora – informou o garçom Amarildo.

– Traga, então.

– E para beber?

– Nada. Fico sempre muito cheia quando bebo alguma coisa durante o jantar.

Naquela hora não havia quase ninguém no Chorão. Estava tudo silencioso e agradável. Tudo bem arrumadinho, à espera da turba que não demoraria a chegar noite afora. Depois que o garçom Amarildo serviu a caldeirada de frutos do mar, pôs-se a observar a mulher. Estava desconfiado de alguma coisa. Não sabia bem de quê. Ela pediu bastante pão francês e Amarildo serviu-lhe quatro pães. Um, ela comeu num relâmpago.

O impressionante é que a caldeirada dava mesmo para quatro pessoas normais e ainda sobrava. Era uma terrina enorme, cheia de um caldo cheiroso e saboroso, com grandes pedaços de peixe, moluscos e toda sorte de crustáceos. Amarildo Teixeira não acreditou no que viu quando ela o chamou para pedir a sobremesa. A terrina estava seca, o arroz e o pirão foram devorados e os pães sumiram.

– Queijo com goiabada! – ela disse.

O garçom Amarildo ficou confuso. Foi buscar a sobremesa. Quando voltou, a bela viúva sumira. Amarildo correu para a rua e ainda pôde ver o vulto na esquina, iluminado pelas primeiras luzes da noite. Não pensou duas vezes. Saiu no seu encalço. Ao alcançar a esquina, a mulher estava à sua espera e atirou-lhe uma pedra na cabeça. O garçom escorregou e caiu. Levantou-se. Ela desaparecera. Amarildo Teixeira voltou para o restaurante. A pedra fez-lhe um galo. “Ainda bem que não foi na testa” – pensou, apalpando o calombo no lado da cabeça. “Não vou nem contar essa. Ninguém vai acreditar. É melhor não contar. O pior é que eu vou ter que pagar a conta daquele animal; me deu o cano e quase quebra minha cabeça. Como é que pode?”

De volta ao Chorão, Amarildo Teixeira foi ao banheiro. Muita gente havia chegado e o gerente estivera atrás do garçom. Quando Amarildo saiu do banheiro havia um sujeito numa das mesas de sua responsabilidade. Um sujeito grandalhão, um verdadeiro mastodonte, olhando atentamente o cardápio. Aproximou-se cautelosamente.

– Escute aqui, meu jovem, esta caldeirada de frutos do mar dá para duas pessoas? – perguntou.

– Dá para quatro – disse Amarildo Teixeira.

– Quero uma. Traga logo uns pãezinhos até chegar a caldeirada.

“Não é possível que esse cara saia correndo também. Não acredito! Até porque não agüentaria correr com esse corpanzil” – pensou Amarildo, levando quatro pães franceses para o freguês.

– Putz, ô meu, só isto? Traga uns dez – pediu-lhe o homem, passando manteiga num deles e comendo-o em duas bocadas.

Amarildo Teixeira serviu a terrina de caldeirada olhando fascinado para o homem. “É um animal de bruta raça” – pensou.

O freguês era bom de boca. Em pouco tempo não restava mais nada na mesa que pudesse ser comido.

– Ô, meu, queijo com goiabada! – disse o homenzarrão.

O garçom Amarildo foi buscar o que o sujeito pedira. Serviu a sobremesa; o tipo devorou-a em segundos e pediu outra. Após comer quatro porções de queijo com goiabada o gajo não deu tempo para nada. Ergueu-se subitamente da mesa e partiu para a porta, ganhou a rua, e correu em direção à Avenida W3 Norte, com Amarildo Teixeira atrás. Mas o freguês tinha fôlego de peso pesado. Alcançou facilmente o calçadão da W3 Norte, onde estacou abruptamente. Amarildo aproximou-se dele e recebeu um cascudo na cabeça que o fez cambalear e cair. Levantou-se e retrocedeu. O brutamontes partiu para cima dele. Alcançou-o e lhe deu uma rasteira, fazendo o garçom se acabar na calçada. Levantou-se às pressas e correu o quanto pôde para o Chorão. Quando se sentiu em segurança olhou para trás e viu o mastodonte atravessando lentamente a W3 Norte. Olhou para si e viu que ficara bastante estragado.

– Aquele desgraçado quebrou a minha cabeça só com um cascudo. Acho que tinha um pedaço de ferro na mão. Agora vou ter que pagar duas caldeiradas de frutos do mar e mais quatro sobremesas – choramingou. – A melhor coisa que eu faço é ir embora para casa.

Mas Amarildo não pôde ir embora, pois faltaram três colegas seus e na sua ala havia dois esgalamidos querendo caldeirada de frutos do mar.

“Droga, droga, droga” – disse de si para si, e foi buscar a primeira terrina, decidido a não correr mais atrás de ninguém, nem que tivesse que pagar a conta com sua poupança na Caixa Econômica Federal.

*Contribuição de Fernando Canto.

Nem morto! – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Fui ao médico e ele me disse uma coisa que me deixou muito chocado:

– Seu Ronaldo, sinto informar que o senhor não está mais entre nós.

– Hein? Como assim?

– Estou dizendo que o senhor está morto.

Me apalpei, me olhei, me examinei e nada indicava que eu estivesse morto:

– Doutor, o senhor disse: morto?

– Sim. Mortinho da silva, como se falava antigamente.

E o médico foi logo me apresentando um documento que acabara de assinar:

– Aqui está o seu atestado de óbito.

– Ei, o senhor está falando sério mesmo?

– Nunca falei tão sério!

Saí do consultório sem entender nada, mas eu não sou um exemplo de alguém que entende muito bem as coisas que acontecem. Devia ser a minha já conhecida distração. Me distraí e nem percebi que estava morto.

Já passei antes pela sensação de estar morto, mas aquela confirmação me deixou perplexo. E agora? O que fazer da minha morte, eu que nunca soube o que fazer da minha vida? Devia ser por esse motivo, o fato de eu estar morto, que as pessoas passavam por mim sem demonstrar qualquer sinal de me avistar. Atribuí ao costume atual de ninguém mais prestar atenção em ninguém, todos abduzidos pelos aplicativos dos celulares.

Levei o atestado de óbito ao INSS para saber quais seriam os próximos procedimentos, mas ninguém percebeu a minha presença. Achei normal, já que nessas repartições públicas dificilmente os funcionários prestam atenção em que está vivo, imagine em quem já morreu. Eu, que precisava provar que estava morto, tinha uma senhora ao lado que, para receber certo benefício, precisava dar conta de uma papelada imensa para provar que estava viva.

Bom, eu precisava me tocar (até me toquei, mas não senti o meu toque) e assumir a minha morte. Assumi tão poucas coisas na vida que assumir a própria morte seria algo bem estranho. Aí a curiosidade me tomou (sim, as pessoas continuam curiosas após a morte) e olhei mais atentamente o atestado de óbito para saber a causa da minha morte. Descobri que não teve um motivo só, mas vários motivos. Morri de tédio, de solidão, de euforia, de farra, de melancolia, de bebida, de cigarro, de respirar, de ficar doente, de ficar são, de sair pela madrugada, de ficar horas em frente à TV, de submissão, de rebeldia, de ouvir música, de falar palavrão, de gritar, de pedir silêncio, de comer, de jejuar, de fazer sexo, de fazer abstinência… Enfim, morri de uma coisa chamada vida. Lembrei imediatamente do meu amigo Gino Flex, que teve a mesma causa mortis: excesso de vida. Portanto, obrigado à vida que me deu tantos motivos para vivê-la, às vezes muito afoito, às vezes com uma preguiça terrível; aqui tomando as rédeas da situação, ali deixando as coisas rolarem.

Agora vou me encontrar com o Gino, fazer um brinde e continuar pela morte com a mesma disposição com que enfrentamos a vida.

Adeus! E saúde!

Sobre sonhos, pesadelos e outras viagens – Por Cleomar Almeida

Meu amigo Cleomar Almeida é um competente engenheiro. O cara também é a personificação da pavulagem e gentebonisse, presepeiro e boçal como poucos que conheço. Um figura divertido, inteligente, gaiato, espirituoso e de bem com a vida. Dono de célebres frases como “ajeitando, todo mundo se dá bem” e do “ei!” mais conhecido dos botecos da cidade. Quem conhece, sabe. Hoje ele escreveu essa:

Sobre sonhos, pesadelos e outras viagens

Queria que alguns de meus sonhos pudessem ser gravados, só pra eu assistir novamente, tal a veracidade das coisas que neles acontecem. Alguns seriam dignos de um Oscar, outros, mero refugo da pornochanchada. Dia desses, digo, noite dessas, creio eu, de tanto ficar assistindo programa de bicho, me peguei dormindo em meio a uma mata, riacho passando ao lado, canto de pássaros e uma penumbra bacana.

Eis que ao longe vejo aquele enorme felino, rastejando em minha direção, nessa hora de desespero meu único pensamento é correr. Posiciono-me para iniciar a disparada da minha vida, como Usain Bolt na linha de partida para os cem metros e só então percebo que não estou só naquela situação periclitante, minha mulher dorme ao lado, alheia ao risco de virarmos bóia do animal faminto. Onça chegando, eu pronto pra correr, mulher dormindo ao lado, macaco gritando, desespero total na mata e é quando tomo a decisão, vou correr, não sem antes avisar minha parceira, isso seria uma covardia sem tamanho.

Dou-lhe um belo de um tapa na bunda e grito: Amor, corre que tem onça!! Minha disparada é curta e breve, minha cama é colada à parede, quase arrebento os cornos por conta da velocidade impressionante que atingi naquele meio metro que tinha pra avançar. Ainda atordoado olho para o lado, minha mulher sentada na cama me fita com ar de reprovação e diz: Eu “mínino”, tu vais quebrar esta parede!!!. Mal sabe ela a fogueira que acabamos de pular.

Frases, contos e histórias do Cleomar (Parte III)

Meu amigo Cleomar Almeida é um competente engenheiro. O cara também é a personificação da pavulagem e gentebonisse, presepeiro e boçal como poucos que conheço. Um figura divertido, inteligente, gaiato, espirituoso e de bem com a vida. Dono de célebres frases como “ajeitando, todo mundo se dá bem” e do “ei!” mais conhecido dos botecos da cidade. Quem conhece, sabe. Na mesma linha das PRIMEIRA e SEGUNDA edições sobre seus papos no Facebook, mais uma vez selecionei alguns de seus relatos na referida rede social. Boa leitura:

Papo com Deus

– Se eu pudesse falar com o Criador só teria uma pergunta. Chefe, o Senhor vai precisar mesmo desses carapanãs? Fooooolego, tá demais.

Sobre a doidice da política

– Prometi que ia dar um tempo, sério, mas quando tu vês o Faustão dando esculacho e lição de moral é porque a coisa tá ruim de verdade. Vai vendo, é só o começo.

– Deixa eu ver se entendi direito. Biroliro emprestou 40 paus pra o motora que tinha 1.2 milhão na conta, é isso mesmo?

– Bizonharo babando o ovo do Trump e ele diz que tá sem tempo pra vir na sua posse. Cadê o “consideramento”?

– Na goiabeira já vi muita coisa, só não vi um ninho de caba-tatu. Infelizmente, as cabas me viram e eu, por tabela, quase vi Jesus.

– Rosa, azul… vão ficar dando confiança pra doido agora?

– Como diria o ilustríssimo Dr. Papaléo, quem tem com o que me pagar, com o ferro será ferido.

Falando de WhatsApp

Em 2019 vou parar de levar ideia com quem não deixa essa porra azular, acho falta de “consideramento”.

Amapalidades

– Em outros lugares: Você acha certo o que fez?
Em Macapá: Ei bonito, tua mãe não te vende?

– Nortista é um bicho estranho, passa o ano reclamando do calor infernal dessas bandas, aí chega o inverno e neguinho passa mal, baixou de 30 graus sujeito já acha que mora na Sibéria, quer andar de sobretudo e cachecol. Eu por exemplo tô a três dias com reumatismo por conta desse frio ártico. Soube até que acharam um cara congelado lá pelos Alpes da Serra do Navio. Dá nem pra sair de casa mais. Eu hein!

Companhia de Energia e outras falhas de serviço

– Na hora de propor aumento na tarifa é uma piranha, na hora de consertar a porra da energia é uma aranha. CEA sua quenga.

– Porra CEA, bem na hora do Axé Pelô??

Parece praga, toda vez que vai embora a energia, o celular tá com menos de 10% de bateria e não tem comida pronta. Fôlego!!

Provolone

– Daí tu estás de boa no boteco, quando na mesa ao lado o cabôco fala alto pra se aparecer pra gatinha que o acompanha: garçom, traz um tira gosto de queijo POMODORO, aquele que tem cheiro de meia velha. VTF!

Círio de Nazaré

Foto: Márcio Pinheiro

– Esse fim de semana a gente faz merda, daí semana que vem a gente sai na corda e pede pra Nossa Senhora ajudar.

Coerência

– Às vezes um bom “vai tomar no cu” resolve a bronca toda.

Economia

– Eu, na minha jaranice, resolvi pegar os sabonetes mais baratos que vi no supermercado esse mês, me lasquei! Acho que são feitos de cerol, areia, pó de mármore ou algo parecido, tu vais passando e o bicho vai arrancando a pele junto, a única vantagem é que acho que não vou precisar comprar esse mês, dos dez que comprei, só usei dois e já passei pro sabão Cutia em barra, que tá mais suave.

Ócio

– Se a vadiagem fosse remunerada, já teria feito uma grana preta, só nesse sábado.

Frases, contos e histórias do Cleomar (Parte II)

Meu amigo Cleomar Almeida é um competente engenheiro. O cara também é a personificação da pavulagem e gentebonisse, presepeiro e boçal como poucos que conheço. Um figura divertido, inteligente, gaiato, espirituoso e de bem com a vida. Dono de célebres frases como “ajeitando, todo mundo se dá bem” e do “ei!” mais conhecido dos botecos da cidade. Quem conhece, sabe. Na mesma linha da PRIMEIRA PUBLICAÇÃO sobre seus papos no Facebook, selecionei alguns de seus relatos na referida rede social. Boa leitura:

“Não vem dar teco no meu açaí, toma o teu que eu tomo o meu”. Pra eu deixar de ser enxirido.

Se eu, Cleomar, pego uma cagada que nem a que o Gilmar Mendes pegou do Ministro Barroso ontem, aproveitava o apagão e mandava avisar: Gente, queimou uns bagulhos aqui em casa e tô tentando arrumar, não poderei ir na repartição hoje. Pense numa lapada. (Em março de 2018, sobre o “mau sentimento).

Como é a vida! Lembro de um episódio nessa lida de engenheiro em que um potencial cliente me chamou pra acompanhar uma obra e que, por ser um serviço simples, ele me pagaria com “o da gasolina”. Na hora fiquei puto da vida, perguntei pra ele se achava que eu tinha cara de motor, virei as costas e saí dali indignado. Se tal proposta fosse feita hoje, nem ele teria condições de me pagar o prometido e nem eu me encheria de frescura em aceitar. (Durante a falta de combustível, em maio de 2018).

Ia comprar o AmapaCap pra ver se diminui essa lisura mas acho que primeiro vou me mudar pra Santana, pense num povo de sorte, só dá eles.

Já tô mordido com essas porcarias de goteiras, pior que só aparece quando tá chovendo. Parece o gás, que só acaba quando a gente tá cozinhando.

São estilo “Walking Dead” os carapanãs da minha casa, só pode. Tu entopes o quarto de veneno e vai caindo um por um, em meia hora já começam a se levantar, só que agora totalmente transformados, possuídos, com ódio no coração, dá pra ver a ira em seus olhos esbugalhados e sedentos de sangue. Coisa do Belzebu mesmo.

Nenhum “Fake news” foi tão devastador quanto o da faca no boneco do Fofão. Tinha até fogueira pra queimar o boneco do capeta. Tédoido!

Coisa boa mesmo é o cara ser desembargador federal, dia que tu acordas de cu sujo, tu bagunças com o domingo da galera toda. (Sobre o habeas corpus concedido ao ex-presidente Lula, pelo desembargador Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no dia 8 de julho de 2018).

Você foi chegando aos poucos, ocupando cada espaço em minha cabeça, quando percebi já era tarde. Sai de mim calvíce da peste, logo eu, que era o Urso do Cabelo Duro.

Fala a verdade, tu tá mais puto por conta das folgas que tu perdeu, no fundo a gente sabia que não ia ganhar porra nenhuma. (Sobre a eliminação do Brasil na Copa do Mundo 2018).

Quer encontrar gente aru, é só ir na fila do caixa eletrônico, fôlego.

No meu entendimento, se o cara fez a comida, ele tá livre de qualquer obrigação com as louças, se eu cozinho, eu não lavo.

Se a vadiagem fosse remunerada, já teria feito uma grana preta, só nesse sábado.

Já tô cansado de tanto descansar, amanhã vou trabalhar de qualquer jeito. Meeeeentheeeera, ainda aguento ficar nessa vadiagem mais uns dez dias. Pra melhorar só faltava uma rede e uma frieira.

Ninguém, eu afirmo ninguém, teve um domingo mais tiricento de que eu. Sai de mim.

Tá decidido, vou votar no Dr Rey, ele tá prometendo que vai deixar todo mundo bonito, bora comigo bando de feio.

“Agora é que são Eles”: Epaminondas Gustavo e Adilson Alcântara em mais um show de humor caboco em Macapá

Os humoristas Cláudio Rendeiro e Adilson Alcântara estarão novamente em Macapá apresentando um show com piadas e histórias que se passam nas ilhas do Pará, muitas vividas por ribeirinhos e moradores do Norte do Brasil. “Agora é que são Eles” é o novo espetáculo da dupla, que tem como personagem principal o Epaminondas Gustavo, interpretado por Cláudio Rendeiro, e músicas que cantam o caboco e a vida amazônica. O show será hoje (3), no Teatro das Bacabeiras, às 20h.

“Agora é que são Eles” tem a marca da dupla, que faz sucesso nos palcos e redes sociais, principalmente na rede de relacionamento wathsapp, onde os áudios com as piadas se espalham instantaneamente. Palavras, expressões populares e “causos” são contados por Epaminondas e Adilson, que transportam a vida dos ribeirinhos para os palcos. As aventuras, reclamações, desavenças, conselhos, fatos, são contadas com o sotaque típico das margens dos rios, e acompanhados por canções que se encaixam no contexto do show.

Epaminondas Gustavo é uma criação do juiz do Tribunal de Justiça do Pará, Cláudio Rendeiro, que o caracterizou como um morador de São Caetano de Odivelas, onde o nasceu o magistrado, com linguajar caboco e cheio de expressões engraçadas. Com uma graça ingênua e natural, Epaminondas dialoga sem dificuldade com o público, que se identifica com o personagem e se tornam parte do espetáculo.

Adilson Alcântara é um artista experiente do Pará, tem 25 anos de carreira como cantor, compositor, humorista e produtor cultural. Ele é o responsável por equilibrar o humor com a paródia, que também faz parte da vida dos ribeirinhos, e conta as piadas com ritmo e acompanhado por um violão. Adilson renova o jeito de fazer humor com seu talento para as artes cênicas e musicalidade latente.

Paralelo ao show de humor, serão lançados no Amapá as obras “Sátira de um Ribeirinho” e “Lírica Ribeirinhas e Outras Margens”, editados pela Imprensa Oficial do Pará. Os livros são uma obra casada, “Sátira de um Ribeirinho” é assinado por Epaminondas Gustavo, com seu olhar caboco, e traz crônicas e histórias; e “Lírica Ribeirinhas e Outras Margens”, revela o lado poético de Cláudio Rendeiro. Macapá está descrita neste último na poesia Coração Tucuju, inspirado no Hino Cultural do Amapá, “Jeito Tucuju”. As histórias e poesias estão disponíveis para serem ouvidas por meio de um QRCode, disponível para celular.

O lançamento dos livros acontecem após a palestra-show para alunos que cursam Direito, no auditório do Sebrae. O valor arrecadado com as entradas deste evento será para investimento na formatura de turmas do curso de Direito, que estão envolvidas na organização do evento.

Serviços:

Data: 3 de agosto
“Agora é que são Eles”
Local: Teatro das Bacabeiras
Hora: 20h
Ingresso: R$ 30,00
Data: 2 de agosto
Local: Auditório do Sebrae
Palestra Show para alunos de Direito
Hora: 19h
Entrada: R$ 20,00
Lançamento dos Livros
Hora: 20:30
Entrada: Livre

Mais informações: 98139-9346 (Ruth Reis)

Mariléia Maciel
Assessoria de Comunicação

Ronaldo na área – Crônica de Ronaldo Rodrigues e imagens de Ronaldo Rony

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Atenção, galera! Ronaldo entra em campo aos 44 minutos do segundo tempo para virar esse jogo! Agora o time engrena!

Não, senhoras e senhores! O Ronaldo a que me refiro não é o gajo Cristiano Ronaldo, o maior jogador do mundo da atualidade (pra você ver como o mundo e a atualidade andam carentes). O Ronaldo portuga mais parece um vaidoso pavão do que um jogador de futebol (aliás, como a maioria dos jogadores de agora).

Mas deixa ele pra lá e passemos a falar do Ronaldo que interessa. Além dos Ronaldos que já tivemos, o Gaúcho e o Fenômeno, o nosso futebol conta com o Ronaldo Anônimo, que reivindica agora, através desta crônica, seu justo lugar na História das Copas.

O COMEÇO DE TUDO

Inglaterra 1966

O Brasil já tinha perdido o complexo de vira-lata e vencido duas copas (Suécia/1958 e Chile/1962). Mas a nossa seleção se apresentou de maneira pífia e não trouxe a taça. Tudo porque o nosso Ronaldo não tinha sido convocado.

México 1970

Brasil Tricampeão. Ronaldo foi novamente ignorado e o mundo deixou de presenciar seu jovem talento. Tudo bem que ele só tinha 4 anos de idade, mas custava o técnico Zagallo dar uma chance à nova geração?

A ASCENSÃO DE UM ASTRO

Ronaldo foi crescendo e o craque se revelando. O técnico insistia em deixá-lo no banco de reservas, mas a torcida já reconhecia seu talento precoce e exigia sua entrada em campo.

Aos 10 anos, Ronaldo declarou todo o seu amor ao futebol, em vários idiomas, pra deixar claro que sua intenção era ser astro internacional.

Era uma paixão não correspondida. Ronaldo amava o futebol e o futebol o desprezava totalmente.

Argentina 1978

Apesar de não contar com Ronaldo, que continuava sem sua merecida chance, o Brasil não teve uma derrota sequer e, mesmo assim, não trouxe a taça. A anfitriã venceu o torneio com um time bom, a violência de sempre e a decisiva ajuda da ditadura argentina.

Espanha 1982

Ronaldo tentava de tudo para se inserir no mundo do futebol, mas nem como torcedor se dava bem. O futebol-arte do Brasil caiu diante da pálida Itália, que fazia uma Copa muito da miada. Poderíamos até empatar que a classificação viria, mas o até então apagado Paolo Rossi resolveu desencantar justamente naquele dia e fez três gols. A seleção canarinho voou de volta pra casa e Ronaldo levou toda a culpa.

México 1986

Onde estava Ronaldo? Assistindo pela TV ao show de Maradona, fazendo, contra a Inglaterra, um gol de malandragem com la mano de Dios e outro de extrema habilidade, quando enfileirou metade do time bretão. O Brasil foi eliminado pela França nos pênaltis e Ronaldo continuou seu sonho de um dia disputar uma Copa.

Itália 1990

A era Dunga não decolou. O Brasil foi desclassificado pela Argentina, num gol de Caniggia, recebendo o único passe que Maradona conseguiu fazer em todo o jogo.

Estados Unidos 1994

Acaba o jejum de 24 anos e o time mediano do Brasil sagra-se campeão nas terras do Tio Sam. A torcida teve que se contentar com um xará do nosso craque, que não saiu do banco.

França 1998

O Brasil amarelou na final e Zidane comandou a vitória da anfitriã. Culpa de quem?

Japão e Coreia do Sul 2002

Desta vez, acontece um fenômeno. Ronaldo faz dois na Alemanha e o Brasil é penta.

Alemanha 2006

Ah! Deixa essa Copa pra lá! A única coisa legal foi a cabeçada do Zidane no Materazzi!

África do Sul 2010

Outra chatice! Essa foi tão meia-boca que até a Espanha ganhou…

Brasil 2014

Nesta Copa, Ronaldo foi mais um dos brasileiros que conseguiram transformar em piada o que teria sido uma tragédia.

Rússia 2018

Mesmo com 52 anos, Ronaldo não para de treinar e ainda acredita em uma convocação de última hora. A torcida do Brasil está meio desmotivada, mas vamos deixar a bola rolar e ver no que vai dar. Pior do que tá não fica, como disse aquele pensador contemporâneo. Ronaldo está aí e, caso seja convocado, ainda tem muito jogo pra mostrar.

* Imagens de Ronaldo Rony.

Moz Day: feliz aniversário, Morrissey! – O dia do astro!

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Foto: Elton Tavares

Hoje, 22 de maio, o cantor britânico e ex-vocalista do Smiths (uma das melhores bandas de que se tem notícia), para muitos, “o inglês mais foda vivo” e lenda do rock and roll mundial, Steven Patrick Morrissey, completa 59 anos de vida. E que vida!

Morrissey fez história com o The Smiths (o grupo existiu de 1982 a 1987). Ele foi coautor de todas as músicas com o guitarrista Johnny Marr. Após a separação da banda, o vocalista segue uma carreira solo sólida, recheada de sucessos, de fazer inveja a muitos rockstars.

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Foto: Elton Tavares

Com 30 anos de carreira, Morrissey se recupera de vários problemas de saúde, o mais grave é um câncer no esôfago. Mas está em plena atividade artística. Não à toa, lota casas de shows, como ao que fui em novembro de 2015, com público ávido por escutar suas canções.

Hoje, como já ocorre há vários anos rola o Encontro anual de fãs do Morrissey. Por todo mundo, admiradores do menestrel inglês comemoram a data de seu nascimento.

Ele merece todo esse frisson, pois além do sarcasmo e mau-humor, marcas registradas do cara, ele possui um talento extraordinário para fazer canções. Obrigado, Morrissey. Suas músicas fazem parte da trilha sonora da minha vida ( e da de muitos de minha geração).

Definitivamente a Rainha não está Morta. Palmas pro cara, pois ele é PHoda. Vida longa ao Moz!

Elton Tavares

O humor do ribeirinho Epaminondas Gustavo e outras histórias e cotidiano amazônico

Epaminondas Gustavo, direto das ilhas do Pará, estará no dia 5 de maio em Macapá, depois de atravessar rios e igarapés, trazendo na bagagem uma sequência de histórias que serão contadas no show “Humor à Primeira Espiada”, no Teatro das Bacabeiras. Epaminondas é um dos personagem criado pelo juiz de direito Cláudio Rendeiro, e este show é uma criação dele em parceria com o humorista e cantor Adilson Alcântara, também paraense, com quem divide a cena. O show tem ainda caráter social, e o cachê de Cláudio Rendeiro será destinada à ações comunitárias.

Cláudio, Adilson e Epaminondas

Epaminondas Gustavo é o personagem mais conhecido do público e saiu dos palcos e rádios para as redes sociais, retratando o dia a dia na Amazônia, principalmente nas ilhas do Pará, que têm uma relação direta com o Amapá. O ribeirinho Epaminondas, interpretado pelo juiz do Tribunal de Justiça do Pará, Cláudio Rendeiro é de São Caetano de Odivelas, e tem um linguajar carregado de expressões facilmente identificadas por nortistas, ingênua, irônica e que são bastante comuns principalmente em Cametá, Abaetetuba e Igarapé Mirim.

Adilson Alcântara é o parceiro que transforma a apresentação em show, entremeando piadas e música. Com 25 anos de palco, ele é cantor, compositor, humorista e produtor cultural, com uma carreira consolidada em casas noturnas, teatro e eventos sociais. Neste show de humor ele mostra o talento diversificado e inova a cena com atuação teatral, humor e músicas de sua autoria.

Humor à serviço da cidadania

Mestre no improviso, Cláudio Rendeiro criou uma relação muito próxima da população, que se identifica com o personagem Epaminondas, e aproveita para passar mensagens de utilidade pública. Epaminondas dá orientações jurídicas através do Minuto da Justiça no programa “Escuta, Mano, o Meu Recado”, onde fala sobre cidadania. O personagem também participa da campanha do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de combate ao trabalho infantil, e da campanha de combate à violência doméstica, do Tribunal de Justiça do Pará, e tem um stand up com estes dois temas. A questão antimanicomial é abordada em uma palestra-show, e traduz em linguagem popular a conscientização sobre biometria e novembro azul.

Em Macapá, o “Humor à Primeira Espiada” chega com as expressões bastante populares, e que diariamente estão nas casas e redes sociais, onde as palavras “pavulagem”, “gito”, “porrudo”, “rezistro”, “arreda”, ganham mais graça no sotaque característico de Epaminondas e Adilson Alcântara, que contam e cantam as brigas com parentes como as quadrigêmeas, e as aventuras nas beiras dos rios amazônicos.

Serviço:

Humor à Primeira Espiada

Com Epaminondas Gustavo e Adilson Alcântara
Data: 5 de maio
Local: Teatro das Bacabeiras
Hora: 20h
Vendas: Sorveteria Jesus de Nazaré e pelo site: www.simpla.com.br
Informações: (96) 98139-9346

Mariléia Maciel
Assessoria de Comunicação

PORCA – Conto de Fernando Canto

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Conto de Fernando Canto

Eu insistia com ela todas as noites de lua cheia.

– Para com essa história de se transformar em porca, mulher. Não aguento mais esse cheiro de lama.

Era um segredo nosso que tive de aceitar por pura dependência financeira, desde que nos casamos. Mas ela não parava. Queria porque queria parecer melhdownloador que a Velha Xambica, do sítio do seu Ladislau, vizinho ao nosso, que tinha o mesmo fado dela e se transfigurava em Matinta. As duas concorriam para ver quem assustava mais as pessoas desprevenidas nas noites enluaradas da minha cidadezinha.

Um dia eu estava num couro doido, numa pindaíba roxíssima. Era meu aniversário e eu vivia sempre cobrado pelos meus amigos do boteco da Waldirene Boca de Tambor.

– Quando é o churrasco, porra? Perguntavam o tempo todo, me pressionando pra valer.

Eu dizia que quporca-dente-de-ouro-480x788e ia depender da indenização que estava para receber do frigorífico que fui botado injustamente pra fora, sem justa causa. O processo estava tramitando há tempos, sempre acompanhado de perto pelo iminente causídico Dr. Robário Paladino, que me garantiu o recebimento para logo, antes do fim do mês.

Na véspera do aniversário eu não aguentei mais o fedor da minha galega. Ela havia voltado de um Passeio de Assustamento da lua cheia e estava no quintal grunhindo e chafurdando na lama do chiqueiro, antes de voltar a ser mulher. Ela dizia sempre que a transformação era um processo doloroso, mas que tinha prazer em fazer sempre, pois se achava renovada toda vez que isso acontecia.

Ela estava lá. Tinha acabado de chegar. Eu fiquei pensando, pensando, pensando… Peguei a peixeira e a enterrei no pescoço dela por trás. A porca revirou os olhos e o sangue esguichou com tanta força que me sujou toporcamortado. Estrebuchou e deu três longos e desesperados grunhidos. Enrolei a boca e o focinho com uma corda até ela parar de se debater. Depois coloquei o corpo em um camburão de água fervente para raspar os pelos, e, como bom açougueiro, comecei a preparar o corpo do animal para fazer um belo churrasco. Os raios do dia chegaram com uma intensidade que me feriu os olhos.

Fui ao boteco da Waldirene Boca de Tambor e convidei a rapaziada malandra pro churrasco. E ainda churrasco-widedizia, brincando:

– Levem um presente, seus vadios. Cheguem perto do meio-dia pra me ajudarem a assar.

Cada um se servia como podia. Eu havia trocado os miúdos da porca por cachaça e farinha com a Wal. Todo mundo se refestelou e ficou de bucho cheio. Tomaram cachaça à beça, arranjaram uns tambores e o batuque correu o dia todo. Quem chegava pro churrasco também trazia uma bebida. Mas eu não tive coragem de comer nenhum pedaço de carne, talvez em respeito à minha falecida mulher.

Já era quase meia noite e todo mundo já estava “calibrado”, tomando cachaça e dançando uns sambas de cacete. Ninguém notou a ausência da minha galegcartaz-a-matinta-perera-1998uinha, só o Ambrósio, saliente que só ele. E eu lhe disse que ela tinha ido à casa da mãe doente lá em Mazagão.

A lua rompeu uma nuvem escura e iluminou mais ainda o terreiro da festa. E o batuque ensurdecia e ecoava em toda a área.

Mas tudo parou de repente quando uma mulher idosa com bico de pássaro surgiu perto da mata onde ficava o chiqueiro da minha esposa.

– Quero tabaco, ela dizia. Quero tabaco pra levar pra minha comadre.

porcosOs convidados se entreolharam e o medo tomou conta de todos. Atônitos viram seus ventres se mexerem involuntariamente e em todos eles uma voz dizia:

– Onde está minha costela? Cadê minhas coxas? Quede meu peito?..

A lua parecia descer do céu de tão grande, naquele momento de desespero dos imagesconvivas. E todos eles saíram correndo para o mato se transformando a cada passo em caititus, porcos-do-mato, queixadas e javalis.

A velha Matinta me olhou de soslaio, cuspiu pelo bico de pássaro um cuspo negro de quem masca tabaco. Eu caí de costas no chão e tive que sustentar com os braços até de manhã a lua quase cheia que parecia ter caído em cima de mim.

Filme “Eu, eu mesmo e Irene” – Por @giandanton

Por Ivan Carlo

Eu, eu mesmo e Irene é ótimo filme de Bobby Farrelly e Peter Farrelly. A história trata de um policial (Jim Carrey) que, humilhado por todos, acaba desenvolvendo uma dupla personalidade: uma totalmente boa e ingênua e a outra sacana. Em meio a essa situação ele vai escoltar uma moça que está sendo procurada por policiais corruptos, que pretendem matá-la.

Mistura de humor e ação, o filme tem bom roteiro, atrapalhado apenas pela necessidade de fazer piadas de mal-gosto. Um personagem com dupla personalidade é uma maravilha em termos de desenvolvimento de trama e permite ótimos momentos, como quando os dois brigam entre si. Há também algumas piadas que lembram Monthy Pyton, como a da vaca supostamente morta na estrada, mas que sobrevive a seis tiros na cabeça.

Assista ao trailer do filme: 

Fonte: blog Ideias Jeca-Tatu

Contos, causos e histórias do Cleomar

Meu amigo Cleomar Almeida é um competente engenheiro. O cara também é a personificação da pavulagem e gentebonisse, presepeiro e boçal como poucos que conheço. Um figura divertido, inteligente, gaiato, espirituoso e de bem com a vida. Dono de célebres frases como “ajeitando, todo mundo se dá bem” e do “ei!” mais conhecido dos botecos da cidade. Quem conhece, sabe. Selecionei alguns de seus relatos na rede social Facebook. Boa leitura:

Na esquerda, meu amigo Cleomar. Na direita, a foto do lutador Lyoto Machida, feita pelo repórter fotográfico Tarso Glaidson Sarraf Rodrigues.

Luta garganteada

Comparo a luta do Lyoto Machida dessa madrugada a um pé de porrada que me meti certa vez quando moleque, só consegui acertar a primeira, daí pra frente só apanhei, mas apanhava como quem está ganhando, garganteando o tempo todo. Ao final, todo quebrado, ainda avisei ao meu quase algoz: Isso é pra tu aprender a não mexer com que tu não conhece! Ninguém entendeu nada, mas muita gente achou que saí vencedor daquela peleja.

Nortista e frio

Tem felicidade maior do que chegar a noite em casa, ligar a central de ar no 17, se meter debaixo do cobertor mais grosso que tiver e passar a noite inteira entrevado, brigando com o frio? Nortista é um bicho estranho mesmo.

Avaliações anuais

Dando uma avaliada no ano de 2017 e levando em consideração a merda que foi 2016 me veio na mente o refrão da música de Rio Negro e Solimões ” Tá ruim mas tá bão “. E vai melhorar mais ainda.

Em 2018 eu quero mais é perder, perder menos tempo com gente que não vale a pena, perder menos dinheiro com coisas desnecessárias e finalmente, perder uns dez quilos, de preferência sem ter nenhum membro amputado. Bora perder !!!

Brasileiro

Ainda ontem, conversando com dois amigos sobre violência, porte de armas, política… Surge a melhor definição sobre nós.
– Cleomar, brasileiro é doido!!!
Pronto, acabou a discussão.

Bar de corno

Daquelas histórias que só acontecem numa mesa de bar. Dia desses, estávamos eu e um amigo, jogando aquele papo furado, contando mentira, falando mal da vida dos outros e é claro, tomando aquela cerveja bem gelada, quando descem de um carro, cinco cabôcos, com visíveis sinais de embriaguez, como diz um outro amigo meu, e em alto e bom som um deles ao passar por nós grita: É aqui o Empório do Índio, o bar que só dá corno? Eu em resposta à pergunta do nobre cidadão respondi: Sim, inclusive acabou de desembarcar mais uma carrada neste exato momento. Foi um pára pra acertar, o cabra ficou puto, queria brigar. Quem fala o que quer…

Passando bem

Outro dia, assistindo ao noticiário local, vejo o repórter relatando uma tentativa de homicídio, em que a vítima havia sido alvejada por três tiros de arma de fogo mas, segundo o repórter, passava bem. Porra, quem levou três tiros não pode estar passando bem, passando bem está o cara que ganhou 7 milhões na mega sena, passando bem, tá o namorado da Paola Oliveira. Quem levou três tiros e sobreviveu, no máximo, tá levando muita largura.

Mercado

Aí tu sais pra comprar um peixe e chegando no Mercado, dá de cara com umas “mini-aparelhagens” espalhadas pelos boxes, umas tocando hino de igreja, outras pagode e outras aquele brega rasgado, todas com o volume até o “talo”. Acrescente a isso algumas doses de ressaca, a agonia é tanta que o cabôco até esquece o que foi fazer.

Fim dos tempos

Mais uma da série ” Fim dos tempos “. Conversando agora a pouco com um amigo e ele me conta:
– Te contei que meu pai foi assaltado na frente de casa?
– Não, como foi isso?
– Porra, meu pai acorda cedo e com mania de velho, vai varrer as folhas da mangueira em frente de casa, numa dessas, dois malandros de bike, foram pra cima do coroa.
– E aí, o que aconteceu?
– Um dos malacos entrou com ele em casa e fez uma geral, enquanto o outro “reparava” lá na frente. Nessa geral o malandro achou 700 contos.
– E aí?
– Aí que o que tava com meu pai sussurrou no ouvido dele: Não fala pro lá da frente que eu peguei os 700.
Rapá, é ladrão roubando ladrão.
Fim dos tempos mesmo!

Sono e fome

Tenho a certeza de que sono e fome são dois grandes amigos que se juntam pra me sacanear. O sono diz para a fome, vou sair de perto e você pula com os dois pés no peito dele. O golpe é tão certeiro, que já caio dentro da geladeira.

Xinga, Alicate!

“Carrinho é igual camisinha furada: não adianta se arrepender, tampouco pedir desculpa.Tem como não se emocionar? Tem?” – Frase e foto: Alvarélio Kurossu.

Herdei o gosto pelo futebol do meu saudoso pai, José Penha Tavares, goleiro amador dos clubes São José e Ypiranga, dos times do Banco da Amazônia (BASA) e Companhia de eletricidade do Amapá (CEA). Nos anos 80 e 90, ainda magro, fiz de tudo para me tornar um bom jogador, mas nunca consegui. Eu era ruim, ruim mesmo, daqueles que levava “caneta”, “chagão” (ou drible da vaga), elástico, perdia gols na cara e, por causa de todas estas ações que citei, era um dos últimos ou o último a ser escolhido para um dos times (ou completá-lo). Para piorar a situação, eu ainda batia. Na verdade, batia MUITO! Era um jogador (zagueiro) desleal.

Por falar em jogar duro, aprecio o futebol pegado e, é claro, o futebol arte. Vão dizer que ver o zagueiro do seu time dar um tranco no atacante adversário não é legal? Claro que é! Recebi este texto de um amigo, há cerca de oito anos, retrata o que é um zagueiro, na essência, aí vai:

Hugo De Léon

Xinga, Alicate.

Voltei a refletir sobre a arte de ser zagueiro. O requisito básico, pode ter certeza, é ser feio. Observe os grandes zagueiros. Eram todos feios, muito feios. Atílio Genaro Ancheta talvez seja uma exceção, mas o que dizer de Hugo De Léon? De León é o símbolo máximos dos defensores. Barbudo, desengonçado, grosso e violento. Isso que é zagueiro. Não sabe nem ler o De Léon, até hoje.

Sabe quem também jogou muito na zaga? O Alicate. Não manja o Alicate, né? Pois eu vou dizer quem foi Alicate. Alicate foi o maior jogador que já passou pelos campos de várzea do Brasil. Carioca, foi injustiçado e nunca aceito nos times fluminenses. Um jogador que certamente seria ídolo no Rio Grande do Sul, Região onde, no seu campeonato estadual, do pescoço para baixo tudo é canela. Jogo de homem é o futebol de lá, de homem.

Alicate tinha as pernas tortas, por isso à alcunha. Sempre preferiu o Rivarolla, achava o Gamarra muito metrosexual. Alicate não sorria. Nunca. Tinha um chute forte tratado como arma mortífera do nosso time. Quando a coisa estava feia, Alicate se mandava para o ataque. Ficava de costas para o gol como se fosse fazer o pivô, mas não tocava a bola. Apenas virava o corpo e soltava uma chicotada. “Ziiiiiiiiiu” fazia a esfera, colocando adversário, goleiro, juiz, tudo pra dentro do gol.

Alicate era zagueiro.

Num sábado qualquer, após nova vitória sobre o Uirapuru, realizávamos nosso tradicional ritual de comemoração no boteco da Beti. Tudo parecia normal até o relógio acusar a meia noite. Surge no respeitoso estabelecimento uma jovem. Mas não engane-se, não é uma jovem qualquer. É um jovem, baixa e de seios grandes. E você sabe como são as jovens baixas e de seio grandes: nefastas.

O que mais surpreendeu foi à atitude da jovem, baixa e de seios grandes. Os olhos dela miravam Alicate. Ela o desejava loucamente. Volta e meia ela olhava, sorria, olhava de novo, bebia e, no final, sempre sorria. Alicate viu. Eu vi. Aquela era a noite do zagueiro.

Lembrando que Alicate, pé frio em relacionamentos, nunca se deu bem com as mulheres. Normalmente era o Buricá, nosso meia esquerda, que tinha as melhores chances. Em campo nos colocava na cara do gol, fora dele matinha um excelente aproveitamento dentro da área. Alicate, não. Tanto que tal situação criou expectativa no time, pois viviamos uma novidade.

O zagueiro, no melhor estilo zagueiro, não quis perder a chance. Pensou como um matador. Um centroavante. Foi em direção à moça sem tropeçar e distribuindo cotoveladas em quem estivesse no seu caminho. Não houve tempo para cantadas, drinks ou coisas do tipo. Pegou-a pelo braço e disse:

– “Hoje tu és minha”.

Poucos minutos depois os dois já caminhavam, de mãos dadas, até a saída. A atmosfera do ambiente acusava o início de uma longa noite. No bar, festejávamos a vitória do time e brindávamos pela felicidade de Alicate. No carro, o zagueiro via que a festa estava apenas começando. No quarto de um motel vagabundo de BR, ela se fez.

Logo ao entrarem, a jovem, baixa e de seios grandes, tal como uma jovem, baixa e de seios grandes, atacou Alicate. Ele, meio assustado, não se fez de lateral direito (laterais direitos são péssimos com mulheres) e foi entrando no ritmo. Rapidamente já se via despido na cama com a nefasta jovem, baixa, de seios grandes e, agora, finalmente despidos.

Enquanto os dois já copulavam numa velocidade e intensidade frenética, Alicate foi absolutamente surpreendido. Num breve momento de insanidade sexual, inspirada pelo momentos e contrariando todas as leis do amor, da física, da robótica, da astronáutica, da matemática, da retórica e da gramática, a jovem, baixa e de seios grandes despidos disse:

– “Me xinga!”

E disse de novo. Silabicamente e em caixa alta:

– “ME XIN-GA!”

Alicate não sabia o que fazer. Não esperava aquela situação, não tinha ouvido falar de mulheres que gostavam de ser xingadas. Quem gostava de ser xingado? Como xingar alguém assim, do nada? Poxa, ele gostava dela. E não entendia dessas coisas. Era um cara tradicional, nem de preliminares ou camisinhas de hortelã curtia.

Quando a jovem, baixa e de seios grandes e despidos já perdia a paciência e gritava aos socos “me xinga, me xinga, me xinga”, Alicate, com a serenidade de um auxiliar técnico e inocência de um quarto árbitro, enfim, xingou:

“Sua gorda!”

A respiração diminuiu. O nheco-nheco da cama parou. Agora, os únicos gemidos eram do filme vagabundo que passava na TV. A jovem, baixa e de seios grandes e despidos levantou-se, vestiu-se e, antes de chamar um táxi, simplesmente disse:

– “Seu zagueiro”.

Eis o problema de Alicate. Ele era zagueiro. Nunca será um amante. Nunca será um, tipo, meia esquerda.

*Obs: eu era zagueiro ruim de bola, mas não com as mulheres (risos). 

Expressão que Identifica (Crônica de Fernando Canto)

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Crônica de Fernando Canto

A frase “Que coisa pai d’égua!” ouvida por algum visitante de outras paragens brasileiras pode ser compreendida imediatamente pelo sentido da empolgação que comunica. Sua pronúncia externando algo maravilhoso é compartilhada pelo receptor, que daquela hora em diante vai entender verdadeiramente um pouco mais desse regionalismo tão arraigado da área leste da Amazônia.

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Mas a expressão “pai d’égua”, isolada traz outras conotações e sentidos não tão agradáveis aos ouvidos sensíveis, posto que suscita o estado de espírito do emissor, dado um determinado evento. Embora seu vocabulário possa estar influenciado pelos instrumentos da cultura de massa, que lhe tange e lhe enfeita diuturnamente, é ele quem decide a forma de pronunciar a dita expressão. Isso pode ser uma forma de resistência à perniciosidade gramatical da globalização, que tenta tudo uniformizar, para melhor vender. Ali, no dizer “pai d’égua”, se verbaliza a linguagem da rua que deixou de ser palavrão para adentar até os lares mais conservadores. E nessa expressão também mora um foco de personalidade e de identidade amazônica que deve ser preservada até onde não der mais, sob pena de perder-se, a exemplo de tantas outras.

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Linguagem, como se sabe, é um bem cultural dos mais importantes. Sem ela não haveria comunicação, logo decodificação de símbolos e valores. E se ela movimenta a sociedade e seus atores, então suas expressões nascidas do povo têm mais é que serem ditas e preservadas, pois são patrimônios de todos.

Quando falo, ás vezes propositadamente, uma expressão ou palavra desusada logo vem a censura: “Égua, mas tu és velho, heim?!” Respondo: “velho nada, sou pesquisador, queria observar tua reação”. E a censura atual tem nome de moda, de substituição ou de imposição de palavras. Palavras oriundas das maravilhas da tecnologia que podemos reconhecer como importantes para o aumento do vocabulário e para o enriquecimento do idioma. Porém, ainda usamos essas expressões consideradas obsoletas, que sem dúvida nos identificam, tal como a velha “pai d’égua”, provavelmente originária do Nordeste, dita como referência irônica, “aquele pai d’égua”, equivalente à “cabra da peste” ou “cabra da moléstia”.

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Ser “pai d’égua” na região amazônica é ser bom, legal, bacana, gente fina, etc. Pronunciada a expressão pode detonar admiração, deboche, susto, indignação, raiva e outros significados. No entanto sua redução (“Égua!”) pode complicar um pouco mais na comunicação. Minha amiga paraense H. que o diga: mestranda em Viçosa, casa alugada, empregada mineira, comida diferente, outros hábitos. E o tempo passando. Um dia, um pouco estressada pela exigência dos trabalhos acadêmicos e percebendo que a coisa não ia bem, pois a empregada só vivia aborrecida, perguntou a ela: “Escuta ô Rosa, por que você me chama a toda hora de ‘boba’? ‘Faz isso não, boba… tem pão não, boba… Que história é essa? Me respeita que eu sou sua patroa. ’ E Rosa falou: “Uai, sô! É a senhora que fica me ofendendo, me tratando mal, me chamando de égua. Égua isso, égua aquilo. Não sou égua não. Eu quero é a minha conta”.

– Pai d’égua essa! Era só o que faltava, pensou H. naquela hora, para depois cair na gargalhada.

*Do livro Adoradores do Sol, de 2010.