O Tratado Noturno em uma mesa de bar  – Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

Como todo ser noturno que ama habitar à meia luz da boêmia, andando pelos caminhos incertos das garrafas verdes e marrons, já me deparei analisando várias vezes este mundo que, a princípio, parece a alguns, fútil e vazio de perspectivas. Ora, se você pensa assim deve ser um daqueles sujeitos estranhamente sóbrios que nunca contou um segredo a um garçom considerado, aquele que te apresenta a conta quando o dia nasce e que sabe mais da tua vida que a tua própria mãe. Agora vou mentir um pouco dizendo que não te julgo, pois todos sempre o fazem, dizer que cada ser sabe da própria felicidade e que os caminhos são próprios de cada um, mas na verdade, que vida incompleta penso eu ser a sua. Concordo com o pensamento Bukowski quando diz que ser são é fácil, mas pra ser bêbado tem que ter talento.

O fato é que a mesa de bar é um divã, um confessionário onde embalado pelo álcool e os petiscos que entupirão nossas artérias e nos trarão um péssimo dia seguinte, despejamos uma parte significativa de nós. Uma porção que nunca daríamos em outro lugar. Talvez a boemia tenha que ser promovida a religião, pois eu nunca contei para um padre o que já disse desavergonhadamente em uma mesa de bar. E se Jesus multiplicou o vinho, eis aí o aval de que eu precisava.

Não, caro leitor, não quero que você se torne um alcoólatra que acabará em alguma sarjeta com a cara lambida por algum vira-lata marrom e amistoso. Mas é como nosso velho safado disse, você precisa ter talento para se meter com os seres noturnos e se você não possui tal traquejo, beba sua água com gás e faça caminhadas quando o sol te agredir menos a pele. Eu gosto da filosofia da mesa de bar, esse tratado em que todos se entendem mesmo quando o peso do álcool torna as coisas desconexas, onde um sujeito só julgará o outro se este tiver bebido menos, assim, certamente estará ele no lugar errado. São momentos de liberdade e de amores que duram a eternidade que os minutos te proporcionam, e isso é bom, pois também é bom esquecer ou simplesmente não lembrar de tudo.

Portanto, seja paciente com os bêbados, seja gentil com a noite, mesmo se você for um ser diurno. Somos feitos de filosofia, histórias e saudade. Nossos devaneios nunca incomodarão ninguém, pois eles se esvaem quando fechamos a conta e o dia. Por fim, siga o conselho do poeta francês Charles Baudelaire: “Para não ser escravos martirizados pelo tempo, embriagai-vos, embriagai-vos, sem cessar! Com vinho, poesia ou virtude, a vossa escolha.”

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além de prima/irmã amada deste editor.

Frases, contos e histórias do Cleomar (Segunda Edição de 2021)

Tenho dito aqui – desde fevereiro de 2018 – que meu amigo Cleomar Almeida é cômico no Facebook (e na vida). Ele, que é um competente engenheiro, é também a pavulagem, gentebonisse, presepada e boçalidade em pessoa, como poucos que conheço. Um maluco divertido, inteligente, gaiato, espirituoso e de bem com a vida. Dono de célebres frases como “ajeitando, todo mundo se dá bem” e do “ei!” mais conhecido dos botecos da cidade, além de inventor do “PRI” (Plano de Recuperação da Imagem), quando você tá queimado. Quem conhece, sabe.

Assim como as anteriores, segue a Segunda Edição de 2021, cheia de disparos virtuais do nosso pávulo e hilário amigo sobre situações vividas em tempos pelo ilustre amigo. Boa leitura (e risos):

Tacacá

Semana que vem vou fazer um tacacá aqui em casa, a senha, e tem que ser gritada bem alto, pra poder entrar é “Bolsonaroémeuszovo”. Gritou, entrou, um de cada vez pra evitar “aglomeramento”.

Grade de vinho

Tenho uns amigos que durante a pandemia, começaram a beber vinho, gostaram tanto que já estão bebendo vinho de grades.

CEA & Cobrança

Quero entender como alguém consegue passar 30 meses sem pagar a conta de energia e não ser importunado, aqui em casa atrasou um mês tu já acorda com o barulho da escada da CEA no poste, “track track”. É um cabôco trepado lá em cima e o outro com o papel em baixo te cobrando, fdc.

Dinheiro no bolso

Com dinheiro no bolso, até o jeito que eu ando é diferente, “amodo” que eu desfilo.

Pobre bolsominion é burro

O cara que tem grana e é Bolsominion não me incomoda, me incomoda é ver um lascado, que mal consegue se manter, que não consegue fazer nem as compras do mês, que tem carro mas não pode ir muito longe pq vive na reserva, que tá com a porra do aluguel atrasado e sabe que não tem como pagar e que a tempos perdeu qualquer perspectiva de melhorar de vida, defendendo esse governo. Ele briga pelo Bozo como se fosse rico, pensa que é classe média e vive como pobre. Parece que tá sem rumo, só esbraveja, vive um tomamento de cu diário e ainda não se tocou que não faz parte do negócio.

Ser besta

Se tem uma coisa em que eu sou bom, fera mesmo, praticamente imbatível, é em ser besta pra os outros.

Azar nas filas

Caros amigos, quando me virem numa fila, qualquer que seja ela, banco, supermercado, padaria, fila pra pegar a hóstia na igreja… evitem entrar nela, procurem outra, mesmo que a minha fila tenha menos gente, evitem. Se a fila do lado tiver vinte pessoas e na minha só eu, evitem! A minha fila inevitavelmente vai parar, sofro do mal da fila parada, já vi acabar dinheiro do caixa eletrônico comigo na fila, já perdi show esperando na fila pra entrar. Confia em mim, entra na outra fila.

Amapacap

Preciso parar de fazer conta pensando no prêmio do Amapacap.

Custos

Pessoal aqui de casa pensa que eu sou o dono da CEA, a CEA pensa que eu sou filho do dono do Itaú, e o dono do Itaú sabe que não é meu pai.
Diacho de vida!

Calor

Aqui em Macapá, os humilhados serão assados.

Banho de Rio

Começou a dar errado quando vcs vieram com essa caboquice de vestir camisa manga comprida pra tomar banho de rio.

Liso no Feriado

Deveria ser proibido o cara ficar liso em pleno feriadão.

Pilotos

No fim das contas eu estava certo em gostar mais do Senna que do Piquet.

Vida de Gado (Bolsomínion)

Vida de Bolsominion é um negócio de doido, fdc!!

Cozimento

A pessoa que mora no Amapá e usa o chuveiro elétrico no 4, vai cantarolando pra o inferno, de boa. Povo aqui de casa não toma banho, faz um pré cozimento.

Malcriação & covid

Tá vendo o que dá a malcriação? Ontem tava fazendo cotoco para os outros, hoje tá com Covid. (Minha mulher, me contando que o Ministro da Saúde tá com Covid lá nos States).

Cantoria ruim

Ouvir a Julliete cantando é melhor do que ser surdo.

Padre manicão

Quanto ao Padre Festeiro, ele não saindo com a minha mulher tá tudo tranquilo, capaz até de eu ir junto.

Sem de vergonha

Coisa que eu não tenho e que definitivamente não me faz falta é vergonha na cara, credo!!

Coisas do Norte

Fala que é do norte, mas não sabe a diferença entre o camarão catado e o escolhido.

 

Roberto Carlos de Santana, meu louco favorito – Crônica de Fernando Canto (republicada por conta do Dia Mundial da Saúde Mental)

Crônica de Fernando Canto

Não sei bem em que jornal eu li sobre um maluco que morava numa praia do Rio de Janeiro, mas quem o deixou comigo foi meu amigo RT na volta de uma viagem à cidade maravilhosa. O texto o descrevia como um homem corpulento, negro e barbudo, que fumava maconha, mas que não incomodava ninguém. Cumprimentava a todos e fazia parte da paisagem urbana de Ipanema. Todo mundo o conhecia no bairro e o autor do artigo falava em uma espécie de reencontro com ele depois de muitos anos que passou fora do Brasil.

Em Macapá conheci algumas dessas pessoas alienadas, praticamente abandonadas por suas famílias. E foi exatamente na minha adolescência, quando era estudante do ginásio. Na saída das aulas os mais velhos instigavam os mais novos a fazerem chacotas com elas e apelidá-las quando passavam em frente ao colégio.

Nunca esqueci a “Onça”, que possivelmente não era louca, mas viciada na cachaça. Quando convidada fazia espetáculos sensuais, levantava a saia rodada e dançava Marabaixo, sem se desvencilhar da garrafa de “Pitú’ equilibrava na cabeça, rebolando, para o delírio da turma, que a aplaudia sem parar, rindo e gritando com aquelas vozes de fedelhos em mudança, quase bivocais.

Ainda posso ver o “Cientista” lá pelas bandas do Mercado Central trajando seu paletó azul claro e um calção sujo e descolorido. A barba rala, as feições indígenas e o olhar sereno. Vez por outra procurava alguma coisa embaixo de uma ficha de refrigerante ou em uma pequena poça d’água, como se tivesse perdido algo muito valioso. À vezes anotava (ou fazia que anotava) alguma coisa em um papel de embrulho, daí as pessoas acharem que eram importantes fórmulas de um cientista, vindas em um “insigth”, um estalo de ideia. Eu o vi também trajando o pijama de interno do Hospital Geral, de onde fugia de uma ala reservada aos doentes mentais.

Quase decrépito, mas imponente, calvo e meio gordinho era o famoso “Pororoca”. Para mim é inesquecível a cena que vi dele descendo a ladeira da Eliezer Levy, no bairro do Trem, no sol quente do meio dia, bem embaixinho da linha do equador, quando os raios do sol pareciam rachar os telhados das casas e estalar a piçarra. Lá vinha ele, rindo à toa, descalço, de cueca branca e um imenso couro de jiboia enrolado no peito. Um figuraço!

Creio que todos os frequentadores do bar Xodó chegaram a conhecer o “Rubilota”, um senhor de aparência forte, que andava invariavelmente sem camisa, que pedia um cigarro e ia embora. Mas de repente surtava e começava a gritar pornofonias das mais cabeludas possíveis. Quando ficava violento era preciso chamar a polícia, mas com um bom reforço, pois ele era durão.

Quem sempre aparecia pela Beira-Rio era o Zé, cearense e empresário de sucesso, mas que enlouqueceu, dizem, de paixão. Ele me conhecia, e sempre que me via nos bares ia me cumprimentar ou pedir um cigarro. Os garçons tentavam expulsá-lo do ambiente porque andava sujo e com o pijama do hospital, de onde fugia igual ao seu colega “Cientista”. Porém eu não deixava que o escorraçassem.

Havia um cara que eu conheci ainda sem problemas psiquiátricos. Ele tocava violão e cantava na Praça Veiga Cabral, ali na parada das kombis que faziam linha para Santana. Estudava, salvo engano, no Colégio Comercial do Amapá. Anos depois eu o encontrei pelo centro da cidade cantando sozinho pela rua as músicas seu ídolo: era o Roberto Carlos de Santana.

O pessoal da sacanagem do Xodó chegava a pagar R$1,00 para ele cantar o “Nego Gato” no ouvido de algum freguês desprevenido. O RC de Santana chegava por trás da vítima (normalmente um amigo que não sabia da onda da turma) e dava um berro que até o Rei da Jovem Guarda se espantaria. Cantava “Eu sou o nego gato de arrepiar…” em alto e bom som e em seguida saía correndo com medo da porrada até a intervenção dos gozadores que morriam de rir.

Esse era o meu maluco predileto. Não sei por onde ele anda, se morreu como a maioria dos aqui citados, se ainda recebe uma grana para cantar o “Nego Gato” ou se ainda canta acreditando que é o Roberto Carlos, lá em Santana. O interessante é que as pessoas sempre têm uma explicação para a causa da desgraça alheia. Dizem que todos eles tiveram desilusões amorosas, que foram vítimas de traições, e por isso surtaram, e assim viveram e assim alguns morreram. Mas com certeza viveram bem, imersos no seu mundo, sem se importarem com que os “normais” pensassem a seu respeito, sem se indignarem com os acontecimentos inescrupulosos dos políticos indignos, estes sim, os deficientes mentais que precisam ser recolhidos definitivamente da sociedade.

*Republicada por hoje ser o Dia Mundial da Saúde Mental.

Hoje é o Dia do Gordo – Meu texto/relato bem humorado sobre nós, os gordos

Hoje (10) é o Dia do Gordo. Li que o principal objetivo da data é a conscientização sobre a importância de se manter o respeito por aqueles que estão acima do peso, ou mesmo aquelas pessoas que apenas possuem uma estrutura corporal mais avantajada. Como sabemos, a obesidade pode ser prejudicial à saúde. Porém, não significa que a pessoa que apresenta uma constituição física maior tenha necessariamente alguma enfermidade. Afinal, existem pessoas magras que convivem com diversos problemas de saúde, e nem por isso são vistas com desprezo.

Portanto, o Dia do Gordo visa desconstruir preconceitos, alterar os padrões de beleza estereotipados e combater a gordofobia, que recai principalmente sobre as mulheres.

Sobre o adiposo estado, sou (não estou, estar é temporário) porrudo desde 1998, quando deixei de ser uma garrafa e virei um freezer de cerveja. Costumo dizer que engordei muito, mas fiquei mais esperto. Ainda bem que, para muitos, o feio bonito lhe parece.

Sem qualquer tipo de apologia à obesidade, admiro gordos bem resolvidos. Eu não sou assim, mas também não me esforço como deveria para melhorar minha forma física. Sigo feliz ignorando preconceitos e cobranças. Mas confesso, é duro não poder usar algumas roupas ou bater bola com os amigos (só lembro do Bussunda, humorista gordo que morreu ao jogar uma pelada com amigos, em 2006).

A maioria dos gordos são alvo de piadas ofensivas, o que enche o saco de qualquer um que não é um babaca. Minha autoestima só não é mais abalada pela forma de geladeira por conta da sorte que sempre tive, depois de arredondar, com as mulheres. Disso posso me gabar. Afinal, gordo tem que se garantir!

Ah, uma coisa é fato, gordo só faz gordice. Somos desajeitados, gulosos, calorentos, engraçados, entre outras coisas. Sei que é preciso maneirar, pois a saúde cobra caro. Quem dera diminuir de ultramegagordo para somente gordo, mas isso é um processo dolorido e exige sacrifícios. A não ser que você tenha coragem de encarar uma cirurgia bariátrica, mas mesmo assim existe sofrimento no pós operatório e adaptação à nova vida.

E os apelidos? Já fui chamado de rolha-de-poço, barriga de lama, corpo de pipo, corpo de coxinha, sargento Garcia, entre tantos outros. O que pegou mesmo foi “Godão”. E eu até gosto desse apelido.

Já tive um corpinho bonito, que enterrei embaixo de toneladas de comidas deliciosas, aliadas a zero prática esportiva. Eu adoro quando um gordão ganha de um figura metido a maromba e quando a gordinha gente fina é mais interessante que a rata de academia sem cérebro.

Enfim, feliz Dia do Gordo a todos os que sofrem com a tiração de barato, encaram com bom humor e muitas vezes conseguem ser mais fodas que muitos idiotas magros ou bombados. Viva nós!

Elton Tavares

*OBS: por conta da saúde, esse ano decidi me submeter a uma cirurgia bariátrica, pois passei da conta. Se não fosse para voltar a ser saudável, seguiria gordo de boas.

Sessão Datas Curiosas: Hoje é o Dia do Sexo!!!

Esse pessoal inventa cada coisa, inclusive dias comemorativos, se é que se pode chamá-los assim. E este site possui uma sessão “datas curiosas”. Bom, hoje (6) é o Dia do Sexo. A origem da data, comemorada desde 2008, se deu por meio de uma campanha de marketing da empresa de preservativos Olla.

De acordo com a peça publicitária, “faltava um dia em homenagem a aquilo que deu origem a tudo”. Ah, como o dia 6 de setembro lembra uma posição sexual das mais conhecidas, os engenhosos publicitários aproveitaram o 6/9=69 (risos).

Para o sexo não existe dia ou hora certa. Claro que cada um de nós possui suas próprias preferências sobre horários e circunstâncias. Vale lembrar que todas as formas de amar e de amor merecem respeito sempre.

De qualquer modo, uma data oficial ou não, simplesmente falar não é o melhor jeito de honrar e celebrar. Bom mesmo é praticar o que todo mundo gosta. Portanto, mandem ver, seja com parceiro fixo ou do jeito que lhe faz feliz.

Se você não tem como aproveitar o dia (ou a noite) dessa inusitada e prazerosa data, estás fudido (a) mesmo.

Portanto, mandem ver e gozem a segunda-feira, literalmente!

Elton Tavares

*Só uma coisinha, essa sessão de Datas Curiosas deste site incomoda alguns, que chegaram a reclamar de tais registros. Ainda bem que todo dia é dia de alguma profissão, atividade ou brincadeira. Desse jeito, dá pra elogiar os familiares e amigos, além de postar coisas bem humoradas. Acreditem, tem gente que não gosta. Mas são somente os amarguinhos que encontramos pela vida.

Ele voltou, o cronista voltou novamente – Crônica de retorno do Ronaldo Rodrigues (tomara)

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Já faz algum tempo que não venho por aqui. O dono da casa já deve ter esquecido ou desistido de mim. Ele nem cobrou mais a minha visita, nunca mais me fez lembrar que minha presença reforça os alicerces desta casa. Ou será que só eu pensei isso, num momento de falta de modéstia?

Em todo caso, escrevi este bilhete me desculpando pela longa ausência. Vou deixar aqui no pátio e sair devagarinho. Vai que ele está zangado com minha falta de notícias. Ou se ajustou à ausência e cancelou o contrato, ainda que o nosso contrato seja não verbal, mais baseado em afeto do que em cobrança, disciplina, prazo etc.

Espero que me desculpe e, nem se importando com o vasto tempo corrido, ele coloque este singelo bilhete no mural digital que tem na internet.

A minha ausência já foi explicada (entressafra de ideias, muito trampo rolando, falta de tempo etc.), mas nem ele nem eu ficamos satisfeitos com essas pausas prolongadas. Quem escreve sempre encontra, inventa, descola um tempo de escrever algo fora das exigências profissionais de quem vive de criar textos.

Pois bem, Elton. Aí está o meu bilhete junto com um abraço e um P. S.: vou manter a periodicidade. Desta vez é pra valer (rsrsrsrs).

Obrigado por continuar acreditando e me dando este espaço. Valeu! E abre logo essa cerva!

Reunindo artistas amapaense e muito humor, live celebra os 30 anos da dupla Os Cabuçus

A dupla Os Cabuçus surgiu em 1991 e conquistou o público do Amapá com a irreverência de seus personagens, dois ribeirinhos nascidos na região Norte, com o jeito de falar do caboclo da Amazônia.

Juntos, os “Cabuçus” protagonizavam um programa de rádio transmitido diariamente de 17h às 19h, além de peças teatrais e o programa de televisão “Os Cabuçus na TV”. Para comemorar essas três décadas de humor dedicado ao povo nortista, no dia 31 de agosto, às 20h, uma live no Youtube vai reunir oito artistas amapaenses que tiveram grande participação na carreira musical dos humoristas.

Além de canções autorais da dupla de humoristas, Finéias Nelluty, Enrico Di Micelli, Suellem Braga, Zé Miguel, Osmar Junior, Ramon Frazelli, Amadeu Cavalcante e Nivito Guedes também farão interpretações ao longo da transmissão, que promete ter 3 horas de duração.

Nós precisamos comemorar a história que Os Cabuçus têm com o nosso povo ribeirinho, o povo da Amazônia. Vamos fazer uma grande festa, reunir amigos e levar para os fãs e a quem nunca viu um show nosso um pouco de diversão e alegria nesses tempos difíceis que passamos”, contou Nilson Borges, que dá vida ao personagem Vardico.

Toda estrutura planejada para a transmissão ao vivo é inédita no Amapá. Gravada em estúdio, com gruas, imagem HD, som digital e transmissão simultânea em tv e rádios em vários municípios do Amapá e Pará – cobrindo Marapanim, Castanhal, Vigia, São Caetano de Odivelas, São João da Ponta e Terra Alta.

Para acompanhar toda a transmissão, se inscreve no canal no Youtube da dupla em www.youtube.com/c/OsCabuçus.

A dupla

Com início da vida artística no rádio, a dupla esteve no ar em emissoras do Pará e Amapá, gravaram quatro CDs autorais, iniciaram um programa de TV em 2008 e, no ano seguinte, estrearam no teatro. Os Cabuçus lançaram também revistas em quadrinhos com histórias roteirizadas pela dupla. A publicação foi a primeira revista em quadrinhos de humor regional da Amazônia.

Pádua, que interpretava o Lurdico, morreu em 17 de Julho de 2014, vítima de um infarto na casa onde morava com a família, em Macapá.

Um novo membro chegou e ainda em 2014, o irmão de Pádua, Natanael Borges, deu vida ao Cidico, um caricato caboclo amazônida inocente e bobalhão. Assim, a dupla deu continuidade a vida artísticas com shows, peças teatrais e em 2019 iniciou um novo programa de TV, resgatando quadros icônicos dos humoristas, tudo isso sem nunca abandonar o rádio, carro-chefe dos personagens.

Assessoria de comunicação

A Santa Inquisição do Fofão – Crônica de Elton Tavares (ilustrada por Ronaldo Rony)

Lembro-me bem, no início dos anos 90, do pânico em Macapá causado por um boato “satânico”. Espalhou-se que teria uma adaga ou punhal dentro do boneco do personagem Fofão, por conta de um suposto pacto demoníaco com o “Coisa Ruim”, feito pelo criador do personagem.

Iniciou-se uma caça, sem precedentes, aos brinquedos.

Uma espécie de “Santa Inquisição”.

De certa forma, parte da população embarcou na nova lenda “modinha” e os fofões foram trucidados por conta de um mero boato.

Meu irmão e eu vitimamos alguns fofões que pertenciam às nossas primas (prima sempre tinha Fofão, boneca da Xuxa ou Barbie). Na época, muitos diziam que ouviram do vizinho do “fulano”, que uma pessoa tinha sido assassinada por um dos então apavorantes bochechudos de brinquedo.

O Fofão tinha uma cara enrugada, era tosco, usava uma roupa parecida com a do Chucky (o Brinquedo Assassino), e dentro ainda tinha uma haste (punhal) de plástico, que era usado para manter o seu pescoço em pé.

Realmente os fatos estavam contra ele.

Houve até queima dos portadores do mal, em praça pública. Sim! Naquela praça que ficava em frente ao cemitério São José, que hoje abriga a Catedral, homônima ao espaço reservado aos que já passaram desta para melhor.

Na verdade, comprovou-se que o fato não passou de um golpe de marketing, pois muita gente comprou só para conferir e, em seguida, destruir o brinquedo. Coisas como o lance das músicas da Xuxa que, como se falou na mesma época, se tocadas ao contrário, continham mensagens do diabo.

Hilário!

Foi muito divertido, confesso. Ateei fogo em vários fofões, e foi muito melhor do que a época junina. A maioria dos moleques adorou e grande parte das meninas chorou a partida daquele tão querido brinquedo.

Concordo com o dramaturgo inglês, William Shakespeare, quando disse: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que explica a nossa vã filosofia”, mas não neste caso. Porém, o episódio do Fofão foi uma histeria generalizada entre a molecada e virou mais uma piada verídica da nossa linda juventude, uma espécie de Santa Inquisição dos brinquedos.

Elton Tavares

Meu inferno – Crônica infernal, mas bem humorada, de Elton Tavares – Ilustrada por Ronaldo Rony

Acho que se existir inferno, coisa que duvido muito, cada alma pecadora tem um desses locais de pagamento de dívidas de acordo com suas ojerizas. Nada como no clássico da literatura “A Divina Comédia”, o inferno do escritor italiano Dante Alighieri, que escreveu sobre os nove andares até a casa do “Coisa Ruim”.

Quem nunca imaginou como seria o Inferno? Como seríamos castigados por nossos pecados? Volto a dizer, pra mim o inferno é aqui mesmo. Mas vou pontuar algumas coisas que teriam no meu, se ele está mesmo a minha espera.

Bom, meu inferno deve ser quente. Não tô falando das labaredas eternas com o Coisa Ruim me açoitando pela eternidade. Não. Esse é o inferno mitológico e ampliado da imaginação religiosa. Falo de calor mesmo, tipo Macapá de agosto a dezembro, com quase 40° de temperatura (a sensação térmica sempre ultrapassa isso no couro da gente) e sem ar-condicionado.

Neste inferno, todo mundo é fitness, come coisas saudáveis e é politicamente correto. Meu inferno tem gente falsa, invejosa, amarga, que destila veneno por trás de sorrisos. Ah, meu inferno tem incompetentes, puxa-sacos, gente de costa quente que conta do padrinho que o indicou. E pior, neste inferno sou obrigado a conviver com elas diariamente.

No meu inferno tem gente que atrasa, que me deixa esperando por horas. Ah, lá tem caloteiros e enrolões, daqueles que demoram a pagar serviço prestado por várias razões inventadas.

Neste inferno moldado a mim tem parente pedinchão, “amigo” aproveitador, filas e mais filas para tudo. Tem também muita etiqueta e formalidades hipócritas. E também todo tipo de “ajuda” com segundas intenções. De “boas intenções” o inferno tá cheio.

Neste lugar horrendo só vivo para trabalhar, estou sempre sem dinheiro, sem sexo, sem internet e sem cerveja. Nó máximo Kaiser, aquela cerva infernal de ruim. No meu inferno toca brega, pagode e sertanejo sem parar.

Eu sei, leitor, que devo agora estar lhe aborrecendo. Mas perdoe-me, esta alma é chata e sentimental. Às vezes vivemos infernos mesmo no cotidiano, pois vira e mexe essas coisas aí rolam. Por isso dizem que o inferno é aqui. Ou como explicou o filósofo francês Jean-Paul Sartre, na obra “O Ser e o nada”: o inferno são os outros. É por aí mesmo.

Ainda bem que tenho uma sorte dos diabos e Deus é meu brother, pois consegue me livrar dos perigos destes possíveis infernos cotidianos e nunca fará com que tudo isso descrito acima ocorra por toda a eternidade. No máximo, de vez em quando, para que eu pague meus pecadinhos neste plano (risos).

Esse devaneio deve ser por conta do “inferno astral”, vivido sempre próximo de meu aniversário. Mas volto a dizer, este seria mais ou menos o MEU inferno. Como seria o seu?

Elton Tavares

*Do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Pequena crônica raivosa – (Ronaldo Rodrigues)

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Gostaria agora de escrever uma crônica raivosa. Lá vai:

E nos metem pelas gargantas e neurônios adentro essa enxurrada de novidades que ainda serão velharias nos futuros museus dos futuros milênios.

Celebridades opacas, que jamais se aproximarão de mínima originalidade, cansam nossa já triste beleza e enchem o saco do nosso feed (ui, ui, ui, eu também uso esse tipo de palavreado…).

E haja influencer mostrando como é maravilhosa a sua medíocre vida, como seus amigos são desinteressantes, como são fúteis suas mais sérias preocupações, como suas mansões causam bocejo e cansaço. E correm para conferir a fatura dos likes.

A quintessência do universo virtual, famosos dos guetos culturais mais estreitos do mundo exibem seus sorrisos de acrílico, dirigidos aos seus fãs/tietes, hoje conhecidos pela inquietante denominação de “seguidores”.

Close no olhar blasé dos pets de famosos ex-bbb sei lá do quê embalados em seus modelitos de seda, adquiridos no último rolê em Paris, suspirando de tédio e arrogância.

Diante de termos como “cringe”, bate uma saudade dos termos “brega”, “cafona”, até o não nosso “demodê”, e vem a certeza de que, num passado nem tão remoto, éramos muito mais chiques. E já sabíamos disso.

Ufa! Desabafei! Já tô de boa!

Conheci um cara chamado Hollyland – Crônica de Mayara La-Rocque

Eu e Holly – Bar da Euda – 2014

Adoro retratar figuras, aliás, já postei este texto aqui três vezes. O escrito é da minha amiga Mayara La-Rocque. Ela descreve, com perfeição, um velho brother nosso, o Hollyland. O Holly, como o chamo, é um maluco da velha guarda. Não vou negar, já fiquei puto com ele em algumas ocasiões (risos), mas é o tipo de pessoa que você não consegue ficar bolado por muito tempo. Existem algumas curiosidades sobre o sacana, ninguém sabe ao certo o seu nome ou idade e ele não conta. Claro, adoramos aquele cara. Aí está o texto:

Conheci um cara chamado Hollyland.

Crônica de Mayara La-Rocque

Nos conhecemos andando pelas ruas e estradas, pelos caminhos de pedras e terra. Nos debatemos no vazio das horas, em conversas infindas, cerveja e pôr-do-sol. Ele era um cara de muito papo. Tinha a prosa na ponta da língua. Tagarelava à toa, tagarelava com o tempo.

Hollyland era uma figura que nunca se preocupava com suas vestimentas; ora usava calças jeans e camisas de botão, ora bermudas e camiseta; as vezes, as peças eram todas de uma cor só, ou então, de várias cores ao mesmo tempo. Era um cara descombinado. Mas, desajeitosamente, tinha seu próprio jeito de andar; um andar que titubeava pelos bares das esquinas. Usava a barba por assim fazer e dizia que esse era o charme para o seu sorriso – assim barbudo, seus dentes realçavam mais e seu riso delineava todo o seu rosto.

Apesar de não se importar muito com a aparência, curiosamente, se preocupava com seus sapatos. Estes sim, lhe diriam seu caminho, e até quando continuar andando. Falava pra mim, que seu caminho era um vastidão de terra e por isso seus sapatos deveriam estar destituídos de buracos, para que não possibilitasse a poeira de entrar. Deveriam estar flacidamente confortáveis para que, no trajeto, não machucasse seus pés por entre as pedras.

Hollyland dizia que no início de seu riso, também haveria esse mesmo deserto, no qual se plantariam flores e se emanariam extensões de florestas verdes, verdes, imensamente verdes… Nessas florestas sempre haveria sombras para o seu descanso. Seus pés sempre foram o sustento de tudo. Os sapatos, o sustento de seu sustento. E o sorriso, a essência desse sustento – a essência da manutenção da vida.

Ele seguia quase sempre debaixo do sol, suando a testa, procurando algo pra fazer, ou simplesmente um barato para curtir. Gostava de um bom papo e quando falava era quase sem pausa, e emitia de quando em quando, um gaguejado. Mas, mesmo assim, parece que nunca perdia a fala. Até que um dia, o vi falar, vagarosamente, sobre o amor. Sua voz pesava tanto quanto os intervalos entre as palavras, e sua boca fechada, deixava um silêncio denso, torto, grosso, espesso… sim, Hollyland também falava de amor. Fazia metáforas. Sentia o amor como uma doença encravada no peito. Não se podia arrancar, não se podia arrancar… nem os remédios podiam curar.

Mas seguia assim, descombinadamente dançando, fazendo motejos com os braços, mexendo para cima e para baixo, e com seus dedos indicadores que apontavam sua própria direção. Com a barba mal feita, malandrosamente rindo, carregava o motriz para que continuasse seguindo em frente. Tinha em mente que enquanto continuasse andando, continuaria sonhando com as flores, com as florestas verdes, verdes, sempre verdes. Sonhando com a sombra, enfim, para o seu descanso.

*Holly, há muitos anos, deixou de andar na contra-mão, como diria Raulzito, se tornou um cara religioso e casou. Ele tá feliz e eu feliz por ele. Abraços, Mayara e Hollyland. Saudades!!

O dia em que consertei a bagunça – Crônica porreta de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Muito bem! Posso dar por encerrado o trabalho e descansar eternamente. Afinal, eu mereço. Criar o mundo, com tudo o que tem nele, cada detalhe, foi uma tarefa muito difícil. Não fosse eu o Todo-Poderoso creio que jamais teria conseguido sem consumir pelo menos uns cinco séculos. Levei apenas seis dias e vou já inventar o sétimo dia, o do meu divino descanso. A natureza e todas as suas criaturas estão aí, prontas para dar início a uma história de perfeita sincronização entre tempo e espaço, o equilíbrio exato entre rios, florestas, animais, o ar mais puro que fui capaz de criar, a movimentação do universo, a sequência perfeita das estações do ano… Creio que nada mais falta no meu paraíso.

Mas espera um pouco. Que tal eu dar um toque final? Criar um ser que possa compreender, fiscalizar e preservar a minha obra, livrá-la de todo o mal que, apesar do meu cuidado em criar o mundo, possa ter me escapado. Isso mesmo! Bem pensado! Vou criar esse ser, também um animal, que seja superior em inteligência aos outros animais. Será um tipo de gerente deste mundo, que foi criado com tanto zelo e carinho. Vou chamar este ser de homem e, como sei que ele não se contentará em ser o único de sua espécie, criarei sua companheira, a mulher. Era só o que faltava, ainda bem que lembrei.

Criei os dois, vi que tudo estava bem e parti para meu justo descanso. Mas esse descanso não durou quase nada. Foi só o tempo de os dois seres mais inteligentes começarem a fazer das suas. Primeiro, comeram do fruto do qual tanto alertei para que mantivessem distância. Foi a primeira desobediência que cometeram e isso foi só o começo de uma sequência de erros que continua até hoje. Resultado: o paraíso que criei virou um inferno. O ar puro que existia está misturado a gases poluentes, as florestas estão queimando, os animais morrendo e os rios secando. Os seres que acreditei serem os mais inteligentes se revelaram mesquinhos, egoístas e os mais ignorantes, pois são os únicos que põem em risco sua própria existência e a do planeta inteiro.

Falha minha. Por que não deixei do jeito que estava? Por que tive a ideia, no último momento, de criar mais essa espécie? A que eu acreditei que iria conviver com as outras espécies na maior calma e com todo o respeito. Aí eu poderia ficar tranquilo no meu descanso. Mas isso não ficará assim, pois já tenho a solução!

Pronto! Voltei àquele sexto dia da criação e poderia, simplesmente, riscar esse item da minha lista, deletar a existência dos seres humanos. Mas não serei cruel, como muitos deles se mostraram no decorrer da história. Vou apagar sua faculdade de pensar e eles ficarão observando os outros animais, como muitos desses animais são mais emotivos, mais íntegros e muito mais racionais do que os seres humanos. Agora, eles serão estagiários, observadores das outras existências, para que possam, em algum momento, ganhar elevação, grandeza, bondade. Só assim haverá uma esperança de que a vida na terra tenha equilíbrio e que se faça a luz!

Agora, sim! Vou tranquilo para o meu descanso.

NO AVIÃO PARA BELÉM – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Estou a bordo do avião, indo para Belém. Nessa ocasião, sempre trago papel e caneta para anotar as impressões de viagem. Pois cá estão:

– O nome do comandante: Alexandre Braille. Claro que minha imaginação não perderia a chance de ver um piloto cego, tateando os controles.

– Sinto um sacolejar leve no avião. Turbulência, normal. Mas vejo que o avião ainda não decolou. Aí é preocupante.

– Zona de turbulência: uma aeromoça linda acaba de invadir meu espaço aéreo.

– As aeromoças, que hoje são chamadas de comissárias de bordo (perdeu a poesia), passam para lá e para cá, esbanjando aquela sensualidade indiferente à libido dos passageiros. Minha fantasia: me trancar no banheiro com uma dessas aeromoças e cair nas nuvens.

– Viajar de avião me faz descobrir superstições que ficam por muitos anos guardadas e só aparecem neste momento. Exemplo: descruzar as pernas quando o avião está decolando. Nesses momentos é preciso contar com todas as forças.

– Belém fica a pouco tempo de Macapá. Viagem curta. Não dá tempo nem de sentir medo.

– E lá vêm as instruções de como proceder em caso de acidente. Que acidente? Eu nem estava pensando em acidente! Socoooooooorro!

– Hora do lanche: peço Coca-Cola, mas, bem enfaticamente, peço que não se coloque gelo. A Coca-Cola sem gelo diminui o poder devastador do meu arroto. Meu arroto, em sua potência máxima, seria prejudicial à pressurização do avião.

– Viajar de avião, um objeto mais pesado que o ar. Vejo as caras dos passageiros simulando tranquilidade e penso na banalidade do absurdo, a simplicidade de correr o risco. Sei lá.

Consegui pousar em paz. A distância de Macapá a Belém parece diminuir cada vez mais. Estou em Santa Maria das Mangueiras. Marambaia me espera. Cuité, Buscapé, Mauro Vaz, Universidade, Praça da República, Theatro da Paz, estou aqui. Vamos à farra. Em breve, mando outro relato. Boas férias pra mim.

O dia em que esquentei a cerveja do Arnaldo Antunes na B*****ta – Por Jack Carvalho – @JackeCarvalho_

Por Jack Carvalho

2013 foi um ano incrível para todo macapaense fã de música. O Festival Quebramar, maior evento de música do norte do país totalmente free, trazia nada menos que Arnaldo Antunes, Emicida, Curumin e muitos outros artistas massa. E nesta edição, eu fiquei responsável por coordenar o funcionamento dos camarins.

Aos poucos, cada produtor foi mandando a lista de exigência que tínhamos que providenciar para atender aos pedidos dos artistas. Emicida, por exemplo, pediu chá verde. Outros pediram Red Bull. O Edgar Scandurra pediu whisky. E o Arnaldo pediu cerveja. Muitas packs de cerveja. O problema era adequar esses pedidos ao orçamento disponível para o camarim. Em alguns casos, eu mesma preparei em casa diversos itens das listas, como suco, bolo e o chá.

Público da primeira noite do Festival Quebramar – Foto: Cobertura Colaborativa

Assim consegui equilibrar os gastos e garantir todos os itens. Faltando 1 dia pro início do festival, peguei as listas e fui ao supermercado comprar o que não dava pra fazer, pra no dia seguinte já ter tudo pronto pra quando o festival começasse. Tudo certo na sexta e sábado. Todos os pedidos foram e atendidos e os artistas ficaram satisfeitos.

No domingo era o dia de tocar Curumin e Arnaldo Antunes. Cheguei cedo no palco no pé do muro da Fortaleza de São José e comecei a limpar e arrumar as mesas dos camarins. Coloquei todas as bebidas no gelo, arrumei as pedras pras doses de whisky, petiscos, entre outros detalhes. As primeiras bandas começaram a tocar logo cedo, umas 19h40. Em seguida começaram a chegar os integrantes da banda do Arnaldo. Recepcionei o grupo me apresentando como responsável pelo camarim e que caso precisassem de algo era só chamar. E chamaram!

Foto: blog Galera do Rock (http://glrdorock.blogspot.com/2013/12/resenha-festival-quebramar-2013.html)

Minutos depois que a banda se instalou na sala reservada pra eles, a produtora do Arnaldo Antunes perguntou: – Cadê as Heinekens naturais? Eu dei uma de João sem braço e disse que não tinha sido especificado. Ela puxou a lista do bolso e mostrou: – Olha aqui, são 6 long necks naturais. Ele não pode beber nada gelado antes e durante o show. Ou seja: FUDEU!

Foto: blog Galera do Rock (http://glrdorock.blogspot.com/2013/12/resenha-festival-quebramar-2013.html)

Minha primeira reação foi de sair e ir comprar nos bares da Beira Rio. Mas eu estava muito distante pra deixar tudo e ir comprar cerveja. O jeito foi tirar as 6 long necks da cuba e tentar “amornar” as cervejas. Olha o trampo da porra. Nisso, eu e mais duas pessoas que auxiliavam no camarim, cada uma pegou uma long e começou a esfregar na mão. Essa porra não vai esquentar.

Então tive a ideia de botar a cerveja entre as pernas. Isso mesmo: na B****ta pra ajudar a esquentar mais rápido. E aja esfregar a garrafa igual o Aladdin. E eu pensava: esse porra vai ter que tocar O Pulso. E aí dele que não faça um show bacana. Bicho, essa porra tá queimando feio aí embaixo. Foram longos minutos gelados aonde se costuma a ser bastante quente, diga-se de passagem. Ainda ligamos ventilador do carro no modo quente pra ajudar o processo. Da feita que a cerveja ia amornando, alguém levava no camarim e ele bebia.

Foto: blog Galera do Rock (http://glrdorock.blogspot.com/2013/12/resenha-festival-quebramar-2013.html)

Conseguimos esquentar as 6 heinekens antes dele entrar no palco. Confesso que algo ficou dormente por alguns minutos, mas depois que ele começou a tocar A Casa é Sua, o corpo esquentou e tudo voltou ao normal. E lá estava o Arnaldo Antunes tomando cerveja quente, no copo on the rock que meu pai tinha ganhado de brinde da Monte Casa e Construção um zilhão de anos atrás. E tudo pra dizer que: missão dada é missão cumprida!

*Jack Carvalho é jornalista e Mestre em Ciências da Comunicação.