Verônica, a submersa (conto firmeza de Ronaldo Rodrigues, ilustrado por Ronaldo Rony)

Quando Verônica chegou em casa eu era uma criança a mais numa família de noventa e oito irmãos. Naquela cidade eram comuns famílias numerosas, que envelheciam muito cedo.

Verônica, quieta, tranquila, limitava-se a permanecer no fundo do tanque que lhe fora destinado. Comia pouco, apenas algumas algas que brotavam nas paredes do tanque. Parecia resignada, mas havia algo de resoluto em seus movimentos. Uma silenciosa determinação. Uma calma revolucionária, que tanto afligia quanto encantava. Sua diáfana presença a tornava forte, intacta.

Verônica gostava da minha companhia. Nos entendemos bem desde o primeiro olhar. E sem trocar palavras. A cumplicidade de nosso silêncio nos bastava. E nos fortalecia.

O silêncio selou um pacto entre nós. Eu arquitetei um plano para tirá-la daquela casa onde aprisionavam lindas mulheres em tanques frios e não davam a mínima atenção. Deixavam lá, no fundo do quintal, como prova de algo que eu não conseguia compreender.

Verônica era altiva e simulava distância de sua condição de prisioneira. Quando eu entrava para dormir, ficava imaginando Verônica entre as pedras do tanque. Linda. Enigmática. Verônica.

Finalmente, chegou o dia de realizar o plano. Acordei bem cedo, antes de todos. A casa era enorme e foi trabalhoso atravessá-la no escuro, desviando de tantas redes.

Eu estava fugindo de casa levando Verônica num aquário gigantesco, roubado no dia anterior. O aquário, preso a uma plataforma com rodinhas, era frágil, mas daria para chegar até o rio.

Rapidamente, Verônica foi remanejada do tanque para o aquário. Tudo aconteceu conforme o plano e chegamos ao rio antes que dia clareasse. Eu estava esgotado pelo esforço de empurrar aquele aquário imenso pelas trilhas tortuosas da floresta. Verônica me animava com seu olhar completo, inquebrantável.

E foi com o olhar que Verônica me fez compreender que nossa história de amor era impossível. Eu não poderia acompanhá-la, por não poder viver dentro d’água. Ela não poderia ficar comigo, por não poder viver fora d’água. Era uma barreira definitiva. Eu precisava compreender.

E compreendi. Verônica foi lançada ao rio e mergulhou bem fundo até desaparecer. Antes, acenou com os olhos, que transbordavam lágrimas iguais às minhas. A lembrança de seus olhos ficou comigo pelo caminho de volta para casa e por toda a minha vida.

Outras mulheres foram morar no velho tanque, ao longo dos anos. Belas e silenciosas como Verônica, que também precisavam de liberdade. Mas eu já estava velho demais para pensar em libertá-las. Como disse no começo desta história, envelhecia-se muito cedo naquela cidade.

Ronaldo Rodrigues

Dias de Antes – Texto Poético de Luiz Jorge Ferreira

Eu te conto como foram os anos anteriores a tua chegada no planeta Terra.

E o que eu fazia de pé lendo Voltaire debaixo do pé de manga que mamãe batizou de Ulisses por ser forte e aguentar a molecada lhe arrancando mangas e galhos… urinando no seu tronco e furando-o com pontiagudos pedaços de arame para esticar linha cortante e depois a umedecer de cerol.

O que eu fazia olhando ao longe a ventania suspendendo a cauda dos Cúrios saltitantes nas gaiolas, e a sombra do seu coração na translucidez do ultrassom sobre o ventre materno de sua mãe…em êxtase.

…porque ouvirá as cantigas de rodas que na escola do Grupo Gal. Azevedo Costa, cantávamos eu e outros, que hoje também são presentes, ou lembranças em fotografias, como diria Drummond dependuradas nas paredes…

Legal…contar coisa que nos são caras, para quem não as ‘rotula’ de saudades…

Não pense que os anos eram ácidos…e que dormíamos cedo, e entristecidos, pela escuridão das ruas e a quietez da vizinhança, não…éramos crianças e crianças sonham…e não há nada mais iluminado que os sonhos, com seus odores, suas cores, seus sem fins, sem fins…

Felizes…éramos o resultado do cansaço do dia inteiro a criar diversões que envolvia correr…pular…cantar…e sorrir…

…sorrir fazia parte do dia, e o tempo nos fazia olhar para trás, e nos ver ali nos chamando a nos próprios para voltar ao ontem, então esgotados nos deitávamos para dormir, e entrar nos sonhos onde começávamos tudo de novo.

Eu vou lhe contar como eram os dias antes de você ter nascido…

Como eu havia prometido…começarei…

…Sorrindo.

Luiz Jorge Ferreira

Mais vida, menos grana – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”)

Crônica hedonista de Elton Tavares

Certa noite , ao conversar com amigos e dizer que não guardo um vintém do que ganho com o meu suado trabalho, eles ficaram assombrados. Disseram que é loucura, que ‘issos’ e ‘aquilos’, especialmente sobre reservas econômicas para possíveis emergências. Eu disse que prefiro mais vida e menos grana.

Não, não é que eu não goste de dinheiro. Claro que gosto, mas tudo que ganho, no batalho e sempre honestamente, é repassado para custos operacionais e caseiros. O restante é gasto e muito bem gasto em vida. E não sobra nadica de nada para acumular.

Além da minha incorrigível falta de perspicácia financeira, nunca ganhei somas consideráveis com meus trampos, seja neste site, na assessoria de comunicação ou escritos (sim, vivo literalmente de palavras). Mas o que entrou no meu bolso, apesar de eu não conhecer essa tal de economia, jamais foi desperdiçado.

Eu bebo e não é pouco. Gosto de viagens e dos momentos em que fiz um monte de merdas legais com os meus brothers. Isso tudo custa caro. Em nem todo o dinheiro do mundo poderia comprar aqueles dias de volta. Ou seja, mais vida, menos grana.

Quando não usei minha grana pra curtir a vida com amigos, ajudei pessoas. E essa é a melhor forma de torrar os trocados. Como disparou outro gordo louco no passado: “não quero dinheiro, eu só quero amar”. Grande Tim!

Falando em citações (amo usar frases de ídolos), uma vez o Belchior disse: “e no escritório em que eu trabalho e fico rico, quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor“, na canção “Paralelas”. Boto fé nisso.

Algumas pessoas que conheci no passado, amigos e até familiares, após se estribarem, ficaram um tanto pavulagem demais e com suas vidas muito menos divertidas.

E isso me recorda o bom e velho Johnny Cash, que certa vez pontuou: “às vezes eu sou duas pessoas. Johnny é o legal. O dinheiro causa todos os problemas. Eles lutam”.

Ou os Paralamas do Sucesso, na canção “Busca a vida”: “…Ele ganhou dinheiro, ele assinou contratos, e comprou um terno e trocou o carro. E desaprendeu a caminhar no céu …e foi o princípio do fim!“.

Aos que desaprenderam o caminho, deixo a canção-poema : “Desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também. E que você diga a ele pelo menos uma vez quem é mesmo o dono de quem“.

No meu caso, sigo dando mais valor em viver do que em poupar para um futuro incerto. Menos grana, mais vida, meus amigos.

É isso!

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Igarapé do Lago: Prefeito Bala Rocha participa de lançamento de livro sobre a comunidade quilombola

Uma das comunidades quilombolas mais conhecidas e tradicionais do Amapá ganhou um livro à sua altura. Intitulado “Igarapé do Lago: História e Memória”, a obra é de autoria do professor e escritor José Maria Pereira e registra de modo cronológico e historiográfico inúmeros acontecimentos que antecederam a formação da comunidade, que hoje é um distrito do município de Santana.

O lançamento ocorreu no sábado, 24, no Centro de Cultura e Arte Bi Trindade. O prefeito Bala Rocha, acompanhado da vice-prefeita, Isabel Nogueira, e outras autoridades civis, prestigiaram a ocasião, na qual foi organizada uma programação para comemorar o momento. Batuque e samba-enredo fizeram parte do cronograma.

O prefeito Bala descreveu o trabalho do professor como “uma obra rica para as próximas gerações”.

“O livro é uma grande fonte de informações sobre um lugar maravilhoso que é o Igarapé do Lago, e certamente será de grande utilidade para as futuras gerações”, destacou.

Para o escritor, também natural daquela região quilombola, a satisfação de lançar uma obra desse tipo mostra sua contribuição para aqueles que desejam conhecer mais a fundo uma das comunidades mais antigas do Amapá.

“Deixo minha participação junto ao meu povo com esse trabalho. Ganha o meu Igarapé do Lago, ganha o Amapá e, principalmente, nossa história”, disse o autor.

O evento de lançamento integra a mesma ocasião em que a Escola de Samba santanense Império do Povo também estará homenageando a comunidade do Igarapé do Lago, sendo esta o tema do samba-enredo a ser apresentado no Carnaval 2024.

A obra

Com mais de 110 páginas, “Igarapé do Lago: História e Memória” é de autoria do amapaense José Maria Pereira e resulta de um longo trabalho de mais de três décadas de pesquisas orais e documentais.

O livro apresenta registros cronológicos do desenvolvimento econômico, social e religioso da comunidade, incluindo a implantação do sistema educacional e a chegada do fornecimento de energia elétrica 24 horas na região.

Emanoel Jordânio
Assessoria de Comunicação/Sancult

Poema de agora: RESTOS – Ori Fonseca

 


RESTOS

Mendigo compaixão de porta em porta;
Esmoleiro de amor, estendo a mão
Com meu chapéu vazio, clamando pão
Pra uma fome que não pode ser morta.

Hoje, cada resto de amor me importa,
O pão dormido do carinho é são,
Cada sobra de afeto é a refeição
Que me mantém vivo e me reconforta.

O amor que ninguém quer eu não recuso,
Reviro latas e reciclo dores,
E reaproveito todos os sabores.

Paixões apodrecidas as reúso..
Os carinhos de que ninguém fez uso
Eu tiro das lixeiras dos amores.

Ori Fonseca

Poema de agora: o primeiro encontro – Pat Andrade

o primeiro encontro

eu me lembro
quando o amor começou
foi pela primavera
numa noite clara

ela desceu na rodoviária
com pouca bagagem
coberta de poeira
cheia de poesia e vida

ele veio sobre rodas
tinha um cheiro bom
e o sorriso mais lindo
que ela já tinha visto

se encontraram na rua
e o encanto do momento
ficou tatuado na memória

eles ainda olham juntos
para o mesmo céu
procurando aquela lua

Pat Andrade

Os 70 anos da Academia Amapaense de Letras e minha gratidão pelo reconhecimento – Por Elton Tavares

Foto: Flávio Cavalcante

A Academia Amapaense de Letras (AAL) completou 70 anos na quarta-feira (21). As comemorações iniciaram na última segunda-feira (19). Os três dias de celebrações ocorreram no auditório do Senac/AP, em Macapá. Durante a programação de ontem, várias personalidades foram homenageadas, entre elas, eu e fiquei feliz demais por ter recebido o troféu Destaque Cultural 2023, das mãos do presidente da AAL, meu querido amigo Fernando Canto. Fui agraciado por conta de meu trabalho literário (dois livros publicados) e divulgação da cultura há mais de 13 anos, neste site.

Fotos: Flávio Cavalcante e Bruna Cereja

A noite não foi somente de festa e reconhecimento, mas um grande encontro de gente querida, de pessoas fantásticas. Entre os outros homenageados, estavam pessoas muito queridas deste editor, como o senador Randolfe Rodrigues, representado pelo professor Charles Chelala (também querido), o professor Yurgel Caldas, escritora Lulih Rojanski, os poetas Marven Junius Franklin e Bruno Muniz, a escritora Quilombola Esmeraldina dos Santos e a poetisa Patrícia Andrade. Todos colegas de letras, amantes da cultura e amigos meus.

Também tenho dois livros publicados. São as obras “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias” (de 2020) e “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo” (2021). Eles foram os primeiros de muitos que virão, se Deus permitir. E ainda divulgo a cultura amapaense em todas as vertentes, pois toda divulgação cultural ainda é pouca.

Todos que escrevem crônicas, poesias, contos ou contam histórias e estórias são produtores de universos e mundos imaginários, bem como guardiões da memória, tradições, resgate da memória e fortalecimento da identidade cultural da sociedade amapaense. Sempre imparáveis e com insPiração.

Em nome dos escritores Fernando Canto e Alcinéa Cavalcante, dois imortais que tenho a honra de ser amigo, agradeço demais a AAL pelas sete décadas do Silogeu e que venham mais 70

Aos que estiveram lá na solenidade comigo, minha namorada Bruna Cereja (meu amor) e as queridas amigas Ana Girlene, Dulcivânia Freitas, a advogada Sônia Canto, o promotor de Justiça Flávio Cavalcante (que também é poeta e fotógrafo) e o jornalista Silvio Neto, entre tantas pessoas porretas que revi ontem, muito obrigado pela presença.

Ah, depois da solenidade, fomos bebemorar e molhar a palavra no Banca Pub e ainda encontrei os casais de amigos Beto e Mirian, Tássio e Hanna. Foi porreta! Levarei a noite de ontem no coração e memória para sempre. Gratidão pelo reconhecimento. É isso!

Elton Tavares – Jornalista e escritor.

Discurso de Fernando Canto, presidente da Academia Amapaense de Letras, durante os 70 anos da AAL

Confrades e Confreiras, Senhoras e senhores, boa noite.

Esta é uma data histórica para nós da Academia Amapaense de Letras e para a sociedade Amapaense.

Quando falamos em data pensamos sempre em comemoração de algo ou feito bom, ou ainda sobre o marco de uma tragédia que ficou na memória da sociedade. Mas esta palavra vem do latim, do verbo dare e tem o significado de dado, algo que é dado. Por isso mesmo os escritores, os literatos doam a seus contemporâneos e a seus pósteros o que produziram e o que pensaram transcritos num papel ou algo semelhante. Esta seria então uma das funções do escriba, do narrador consciente dos acontecimentos significantes, já que todos possuem uma história para contar ao longo de sua vida, sendo protagonistas ou não.

Hoje, meus ilustres amigos, comemoramos a fundação da nossa Academia. É um acontecimento importante porque também lembramos do nascimento de um dos maiores escritores brasileiros, e não por acaso fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, o carioca Joaquim Maria Machado de Assis, que certamente todos aqui já leram alguns dos seus textos.

O aniversário de 70 anos da AAL nos lembra a coragem daqueles que ousaram penetrar nesse mundo tão difícil, não pela busca do reconhecimento, mas pela responsabilidade com seu próprio, eu-lírico que por muitas vezes ficou latente e de repente explodiu pela vontade de dizer ao mundo que interpretou o desconhecido, que criou e matou personagens na sua ficção, ainda que todos os temas, fantásticos ou não, já estivessem rondando sua mente criativa devido ao convívio social do autor pelas leituras e sentidos abertos para o mundo.

Há quem ache que escrever é um mistério, que poetizar é um tipo de magia que torna o escritor um ser diferenciado.

Talvez sim, talvez não, pois cada um demonstra sua própria verdade no que cria ou faz. Essa é a sua responsabilidade.

Meus queridos amigos, antes de toda a seriedade o escritor é uma criança que ousa brincar com palavras. É o intérprete dos que não enxergaram o que ele viu, pois sonha, imagina, transcende e constrói aspectos da vida real e se anuncia na escritura como um anjo e sua espada de fogo ou, como um demônio à procura de almas desgarradas.

Um escritor é o que restaura a memória da humanidade, pois sempre é fundador de sentimentos que se esvaziaram no espaço e se deturparam no tempo. Ele executa e organiza pela escrita o caos deixado pelo passado e a antevisão do futuro tão recorrente nele. O escritor também processa em seu íntimo a predisposição visionária dos acontecimentos e não tenta ser simplesmente fiel a si mesmo. Reitero aqui o que disse, pois ele é um aglutinador de recordações da sociedade, antes de ser um solitário construtor de textos com sentidos organizados ou um deus criador de vidas e da morte em seus escaninhos mentais.

Devo lembrar então que o escritor se vale do lembrado e do esquecido, elementos esses que compõem uma experiencia, que é ao mesmo tempo individual e coletiva, e que a memória das pessoas é uma fonte inesgotável de informações, pois está plena de significados e sempre povoada de nomes e significações, posto que cada olhar sobre algo sempre revela coisas e remete a contextos diferentes e até emocionais. Daí dizer que ele se torna um etnólogo e escavador das coisas do mundo

Nesse bojo entram as organizações acadêmicas, as que procuram reunir psicologicamente as tendências individuais e coletivas de um povo com sua criatividade e seu sentido universal que honram e dignificam a raça humana pela cultura e pela arte. Assim, todos nós temos nossas preocupações sociológicas devido a sua correlação com a literatura, ainda que busquemos condicionamentos estéticos ou outros caminhos que não sejam o dessa correlação. Muito do que o escritor escreve está ancorado nela, nessa correlação, com todas as alegrias e mazelas que inevitavelmente envolve nossos olhos e provoca a iracúndia aos governantes. Por isso o literato carrega um tipo de poder que irradia, penetra e incomoda seus contentores e êmulos. E ao longo de sua permanência no planeta e até mesmo depois suas narrativas continuam por vezes incomodando e servindo de referência para tantas situações.

Mas hoje é dia de festa. É dia de comemorações. Uma comemoração tem sua própria liturgia e a nossa nem bem começou.

Eu poderia iniciar pelos agradecimentos a todos que nos ajudaram para a realização deste congraçamento, sejam pessoas ou instituições. Porém, deixei por último, pois serão sempre os primeiros que queremos e teremos como parceiros daqui para a frente.

Agradecemos ao Governo do Estado do Amapá, por meio da sua Secretaria de Cultura, à Assembleia Legislativa, ao SENAC e a Casa Francesa pelo apoio cultural imprescindível para a realização deste evento.

Todo esse processo é uma tecitura artesanal que queremos solidificar pelo pensamento e pela escrita, afinal há muito a desvendar, há muito a encantar pela escrita e muito a amar pelo brilho do olho do leitor, aquele ser ávido pelo conhecimento e por conteúdos que a magia da literatura traz para todos, de todas as idades.

MUITO OBRIGADO!

Texto: Fernando Canto
Presidente da Academia Amapaense de Letras
Macapá, 21 de junho de 2023.

*Fotos: Flávio Cavalcante. 

Poema de agora: Ode a Raul e Nostradamus – Luiz Jorge Ferreira

 


Ode a Raul e Nostradamus

…As traças estão desaparecendo, e com elas os traços…os trecos…os troços …
…As nuvens brancas de algodão só se veem nas sutis pinceladas dos pintores clássicos dependuradas nas paredes carcomidas dos Museus.
Somem também as cutículas engolidas em seu desespero pelos famintos…
…enrolados em seus cobertores puídos de odor apodrecido, e cor putefrata…


Somem os acentos, os hifens, as reticências, os tremas, as apustemas, as aparências, o solitário bolor…se plastifica…
…se perde o amor entre cílios longos, unhas postiças e Cartões de Contato.
Some o olfato sob falsos narizes…
Multiplicam-se atrizes, extirpam varizes, e enxertam pernas e glúteos…
Não é só o Raul que está Maluco…
Maluco estamos todos nós…


…as virgens desaparecem atrás dos muros dos motéis, detrás das telas dos celulares pornográficos o gozo se faz a jato, e se cheira toda a felicidade, que o dólar possa comprar , as
fábricas de sonhos cabem no bolso, e o pequeno açoite da palmada foi criminalizado, extingue-se o alho, o colorau, a chicória e se elege os temperos Chineses…Japoneses…e Jupiterianos.
…se falece de coisas estranhas como


‘Onomatopeia Fulminante’ e se congela o corpo a temperaturas, sempre mais frias que um dia congelarão a alma.
A face de Cristo se desvenda vinda de nenhum retrato…
As máquinas dormem conosco ou ficam ao lado nos vigiando …
Um dia seremos pais de Gêmeos…metade carne, metade chip, metade reator.
Tomar a benção de Quem !
De Quem… ???

Luiz Jorge Ferreira

AAL 70 anos – Confira a programação de terça e quarta-feira

20/6 – Terça-feira
local: auditório do Senac

18h – Cerimonial
Hino Nacional e Hino do Amapá
Atração artística: Companhia de Dança Grahan
Fala do presidente Fernando Canto (abertura dos trabalhos)

19h
Palestra “Jambu e a Academia Amapaense de Letras”
Palestrante: escritor e jornalista Ray Cunha

19h45
Palestra: Memorialismo: É assim que eu conto
Palestrante: escritor e médico Leão Zagury

20h30
Lançamento dos livros Jambu, de Ray Cunha; e Amor à Vida, de Wilson Carvalho

21h – Praça de alimentação do Senac
Coquetel
Atração musical: Adenor Monteiro

21/6 – quarta-feira
Sessão Solene, com inicio às 18h.
Haverá declamação de poesia com Luiz Alberto Guedes; leitura da carta de Janary Nunes escrita por ocasião da fundação da AAL (a carta será lida por Rudá Nunes, filho de Janary); exibição de vídeo sobre o ex-presidente Nilson Montoril, falecido recentemente; entrega de certificados, troféus e medalhas; sessão de autógrafos dos escritores Ricardo Pontes, João Barbosa, Ivan Carlo (Gian Danton) e Tiago Quingosta; Corte do Bolo e parabéns; e encerramento com show do Grupo Pilão.

Fonte: Blog da Alcinéa

AAL 70 anos – Presidente Fernando Canto anuncia três prêmios literários

A programação em comemoração aos 70 anos da Academia Amapaense de Letras (AAL) prossegue amanhã, terça-feira, às 19h no auditório do Senac, com palestras, lançamento de livros, exposição de artes visuais e de livros, apresentação da Companhia de Dança Grahan e show musical com Adenor Monteiro.

A programação foi aberta na manhã desta segunda-feira com um café da manhã oferecido aos jornalistas, escritores, professores, artistas e demais amantes das letras.

Na ocasião, o presidente da AAL, Fernando Canto, fez um breve histórico da Academia e anunciou que brevemente serão lançados editais para os prêmios literários Alcy Araújo, Arthur Nery Marinho e Álvaro da Cunha. Os três (já falecidos) fazem parte da primeira geração de poetas do Amapá. Os prêmios marcam o centenário de nascimento desses três grandes escritores.

(Fotos: Flávio Cavalcante)
Fonte: Blog da Alcinéa

Os 79 anos de Chico Buarque: aniversário do gênio e maior poeta da música brasileira (meus parabéns!) #ChicoBuarque79

Foto/arte encontrada no site Glamurama

Sou fã de muitos músicos e compositores, brasileiros e gringos. Mas o maior é Chico Buarque, principal ícone da Música Popular Brasileira (MPB). O cara é cantor, compositor, escritor e dramaturgo. Hoje, o grande expoente da musicalidade nacional completa 79 anos de vida. E que vida!

Francisco Buarque de Hollanda nasceu no Rio de Janeiro em 19 de junho de 1944. Filho do historiador Sérgio Buarque de Holanda, iniciou sua carreira na década de 1960, destacando-se em 1966, quando venceu, com a canção ‘A Banda’, o Festival de Música Popular Brasileira.

Foto: Jairo Goldflus

Em 1969, no auge dos “anos de chumbo” da Ditadura Militar no Brasil, se exilou na Itália (ITA) e tornou-se, ao voltar para o Brasil, um dos artistas mais ativos na crítica política e na luta pela democratização do Brasil. Na carreira literária, foi ganhador do Prêmio Jabuti, pelo livro ‘Budapeste’, lançado em 2004, além de ser torcedor confesso do Fluminense Football Clube (ninguém é perfeito).

Apesar de somente 46 anos vividos (quase 47), Chico Buarque faz parte da minha história. Graças ao bom gosto musical da minha família paterna, cresci ouvindo a obra do gênio da MPB e, para mim, ele é o verdadeiro Rei da Música Brasileira, muuuuito maior que o Roberto. Para mim, claro.

© Reprodução / Facebook / Chico Buarque (oficial)

Adoro Belchior, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Raul Seixas, Renato Russo e Cazuza. Também sou apaixonado pela obra de Bowie, Jagger, Curtis, Vox, Morrissey, entre outros gringos sensacionais, mas quem me conhece sabe: meu poeta soberano é Chico Buarque.

Quando o escuto, e faço isso quase todos os dias, sinto saudades do tempo em que ia todo sábado para casa da minha avó, tomar cervejas com meu falecido pai e meus tios. Nostálgico!

Chico Buarque musicou tudo que sentia, até pediu ao inventor da tristeza para ter a fineza de desinventar. Ele cantou a política, o carnaval, o amor e a boemia como poucos. E com a maestria do grande sambista. Ironizou os dramas e dramatizou o cotidiano. Pena que “aquela tal malandragem não existe mais”.

Completos idiotas o julgaram, com a pequenez peculiar nestes tempo do “Brasil do cidadão de bem”, o condenaram por sua opção política (imbecis esses liderados pelo presidente mais burro da história do Brasil. Isso pra dizer o mínimo, afinal, este é um texto de felicitações).

Mesmo que fosse um cidadão comum, seria babaquice. Em relação ao velho Chico, é blasfêmia. Ele é bom de escutar até nos dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.

Muitos livros foram escritos sobre Chico Buarque. Li alguns deles. Sua obra é tão importante para a música brasileira que é difícil contabilizar o quanto ele foi e é fundamental para a nossa história. Vem aí um filme sobre o compositor, que certamente assistirei. Enfim, toda homenagem ao cara é pouco diante da sua magnitude.

Chico Buarque (FOTO: Daryan Dornelles)

Que o mais nobre dos Buarques viva mais 79 anos, com essa magia que aquece nossos corações, aflora sentimentos bons, acorda o boêmio dentro de cada um de nós e alegra nossas vidas com a fantástica arte sonora.

Chico Buarque já me emocionou muitas vezes em mesas de bar, reuniões familiares e até em momentos de total solidão reflexiva. Ele é realmente PHoda! Ainda bem mesmo que, com mais de sete décadas, ele ainda nos brinda com sua genialidade. Ao velho Chico, minha total admiração, agradecimento e homenagens.

Usando máscara de proteção, Chico Buarque compareceu de máscara em protesto contra o presidente Jair Bolsonaro – Foto: Reprodução.

Saúde e longevidade ao malandro poeta, escritor, filósofo, palhaço, pirata, corisco, errante judeu, compositor, político, moleque, molambo, gênio e louco varrido.

Portanto, aos que ainda não manjam a obra deste gênio da música, vos digo: ‘buarquem-se’. Meus parabéns ao grande Chico Buarque!

Elton Tavares

Íntegra do discurso de Chico Buarque ao receber o Prêmio Camões – Sensacional!! (assista): 

Amou daquele vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido”Chico Buarque, in Construção.

AAL 70 anos – Leão Zagury faz palestra sobre memorialismo nesta terça

Já está em Macapá o médico e escritor Leâo Zagury. Ele veio participar das comemorações alusivas aos 70 anos da Academia Amapaense de Letras. Amanhã, terça-feira, ele fará palestra com o tema “Memorialismo. É assim que eu conto”, as 19h45 no auditório do Senac. Antes, as 19 horas, o escritor e jornalista Ray Cunha palestrará sobre o tema “Jambu e a Academia Amapaense de Letras”.

Renomado escritor e uma das maiores autoridades em diabetes, Zagury – de tradicional família amapaense – nasceu em Belém, mas se criou em Macapá e nesta cidade viveu até mudar-se para o Rio de Janeiro para cursar faculdade, onde vive até hoje, mas sem perder os laços com Macapá.

É autor de vários livros, entre os quais “O menino e o macaco Caco”, “O jacaré que comeu a noite” e “É assim que eu conto”. Este último são crônicas e contos onde ele conta causos e histórias encantadoras da sua vida em Macapá. Nesse livro, de acordo com críticos literários, Leão Zagury “transforma, em um piscar de olhos, realidade em ficção e vice-versa. Suas memórias e as histórias que ouviu dão vida a deliciosos contos que encantam o leitor”

Zagury diz que gosta de ficção, principalmente se usada para falar da vida real. “É assim que eu conto histórias que narram um pouco da minha história. Histórias que mostram de quem e do que sinto saudade e um pouco do que passei na vida. Essas histórias me fazem rir e chorar”, diz ele.

Além de obras literárias, Leão Zagury é autor também de livros sobre diabetes, dos quais destaca-se “Diabetes sem medo”.

Mais sobre o autor

Leão Zagury é médico endocrinologista. Presidiu a Academia de Medicina do Rio de Janeiro e foi fundador e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Membro eleito da Academia de Medicina do Rio de Janeiro; Mestre em Ciências Médicas Endocrinologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Membro Honorário da Sociedade Argentina de Diabetes; Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Diabetes; Ex-vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia; Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes; Ex-presidente da Academia de Medicina do Rio de Janeiro; Chefe do Serviço de Diabetes do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione; Membro Honorário da Câmara Técnica de endocrinologia do Cremerj; Especializado em Endocrinologia e Metabologia; Especializado em Medicina Esportiva, Especializado em Nutrologia Especializado em Diabetes e Cidadão carioca e amapaense.

(Foto: Flávio Cavalcante)
Fonte: Blog da Alcinéa

AAL 70 anos – Wilson Carvalho lança o livro de poesias “Amor à vida”

Ocupante da cadeira número 18 da Academia Amapaense de Letras, Wilson Carvalho na próxima terça-feira, 20, durante as comemorações dos 70 anos da Academia, seu livro de poesias “Amor a Vida”.

Sobre a obra, o próprio autor conta:

“Eu nunca tive muito interesse em fazer poesia, e o que me atraia mesmo era escrever contos e crônicas.

Mas, aqui e ali, em meus momentos mais difíceis, conseguia me acalmar transformando em poesia aquilo que me afligia.

Assim, ao longo da minha vida, cheguei a um número razoável de poemas, e entendi que deveria publicá-los porque se tinham feito bem pra mim, poderiam fazer bem também para os outros.

Mas, para transformá-los em um livro, eu precisava de um liame, um nexo, para que não soassem como um rol desconexo. A conclusão foi rápida: o liame era o amor.

Penso que a maioria das turbulências da nossa vida é causada pelo amor. Ao mesmo tempo, é muito triste viver sem amor. A solução é encará-lo de forma leve, alegre e poética.

Por isso o meu propósito de juntar em um livro as minhas poesias relacionadas aos percalços da vida, encadeadas pelo papel que o amor exerce em nossa cotidiana existência.”

O lançamento será a partir das 18h no auditório do Senac

Sobre o autor

João Wilson Savino Carvalho nasceu em Belém do Pará, mas sempre morou em Macapá/AP. Graduado em Filosofia, Psicologia e Direito, cursou Especialização, Mestrado e Doutorado em Educação. É professor de Filosofia na Universidade Federal do Amapá, advogado e escritor. Foi várias vezes premiado com contos, crônicas, poesias e romances. Publicou coletâneas de contos, romances, artigos científicos e livros didáticos de Filosofia. Em 2014 proferiu comunicação na 12º Festa Internacional do Livro de Paraty/RJ, com o tema: “A literatura regional no ensino de Filosofia”. Ocupa a Cadeira nº 18 da Academia Amapaense de Letras.

(Ascom/AAL)