Poema de agora: Confissões – Bernadeth Farias

Confissões

Sacudi a poeira
Tirei a pena do armário
Sentei em frente à lareira
Pronta para o confessionário
São muitas notas para escrever
São horas de lamúrias e desilusão
É o coração que teima em desobedecer a razão
Essa é a minha indecisão

Bernadeth Farias

Poema de agora: Às de Copas – Luiz Jorge Ferreira

Às de Copas

Quero dizer ao tempo
Obrigado
Pela paciência que tem comigo
Pela ruptura, hum dia do umbigo, pela reposição dos pêlos, e sinais.
Por estas rugas em todos o rosto.
Por colorir de branco meu cabelo, e dispersa- lo, entre anos ímpares, e pares, como quem atira pedras ao horizonte.
Quero dizer ao tempo, que não o conto nos dedos, nem nos grãos, de feijão de um quilo, que espalho sobre a mesa.
Nem me deito no chão, e noturnamente, miro no céu , as estrelas, não as vejo com nitidez, você…algumas escondeu.
A você…tempo… devo os amigos que consegui agrupar na memória, e aos outros que consegui colecionar nos retratos, e alguns que vi dobrar as esquinas, e sumir como o sal atirado no mar.

O tempo me embriaga sempre, me subtrai e nunca soma coisa alguma, a não ser uma não semelhança, com o que eu era.
O tempo, abstrato, desigual, diferente, da realidade, não envelhece,
me envelhece, nos fatos, nos atos, e apaga os meus planos, feito a anos, como coisa construída de areia e ventos.

Luiz Jorge Ferreira.

 

Se vivo, hoje João Espíndola Tavares, meu avô, faria 96 anos (para lembrar do “Juca”)

João Espíndola Tavares, meu avô, o nosso “Juca”.

Hoje, meu saudoso avô, João Espíndola Tavares, faria 96 anos. Nosso patriarca partiu para a outra vida em janeiro de 1996. Espíndola, como era conhecido em Macapá, onde foi delegado, diretor da Penitenciária Agrícola do Estado (hoje Iapen), entre tantos outros cargos públicos. Ele nasceu em 27 de janeiro de 1927, filho de Gracindo Nelson Espíndola e Raimunda Emiliana Espíndola, na Região do Alto Maracá, no Sítio Bom Jesus, uma região de difícil acesso, no município de Mazagão.

Vovô também foi prefeito de Mazagão, onde se casou com a minha amada avó, Perolina Penha Tavares. Lá nasceram o meu pai, José Penha Tavares e os meus tios, Maria Conceição Penha Tavares e Pedro Aurélio Penha Tavares. João era um visionário doméstico, pois resolveu vir morar na capital para que os filhos tivessem acesso à educação.

Em Mazagão, seu patrimônio era relativamente grande para um interiorano da década de 40. Entre os bens, estavam galpões para a armazenagem de Castanha do Pará, barco com motor de popa e motor de energia elétrica, que abastecia a vila de moradores da propriedade.

Já em Macapá, nasceram os filhos Maria do Socorro Penha Tavares e Paulo Roberto Penha Tavares. Com força de vontade e determinação, Espíndola também conseguiu sorver conhecimento e concluiu o segundo grau (hoje ensino médio) na Escola Gabriel Almeida Café.

Além do sucesso no campo profissional e pessoal, João Espíndola foi um estudioso da filosofia maçônica. Vovô atingiu o ponto alto da nobre ordem, o “Grau 33”. Ele foi muito respeitado pelos membros da augusta arte real. Vovô foi um dos amapaenses presos injustamente, durante o golpe militar de 1964. Mas provou sua inocência com altivez e retomou sua gloriosa vida.

Uma curiosidade sobre o velho João era que, diversas pessoas o procuravam em sua residência, no centro de Macapá, em busca de conselhos. Eram ricos, pobres, brancos, negros, de diferentes posicionamentos políticos e religiosos. Às vezes, ele nem falava nada, só escutava o desabafo daqueles homens, que já saiam do muro das lamentações (apelido dado a uma área ao lado da casa, pelos seus filhos), de alma aliviada.

Reportagem bacana de 1997, por Bellarmino Paraense de Barros, sobre o meu avô – Acervo familiar.

Pouco antes de seu falecimento, Espíndola vivia um bom momento da vida, havia criado os filhos com sucesso, tinha uma bela casa, uma família unida e era respeitado no Estado. Em uma ocasião, em um festejo em sua residência, João agradeceu sua mulher por todos os anos de dedicação, disse-lhe, em frente familiares e amigos, que o grande homem que ele se tornou devia tudo a ela. Ao envelhecer, o pátrio poder deixou de existir, tornou-se um grande amigo de seus filhos.

No dia 7 de janeiro de 1996, por volta das 18h30 de um domingo, vovô faleceu, aos 69 anos de idade, durante uma colisão automobilística, na zona Sul de Macapá. Ele dizia que gostaria de morrer “pulando” e assim aconteceu.

Cerca de 500 pessoas foram ao seu funeral, dentre elas, secretários de Governo, políticos, empresários e cidadãos comuns, pois apesar de frequentar a alta roda da sociedade amapaense, Espíndola não tinha comportamento elitista, era amigo de peões e doutores, tratando-os da mesma maneira.

Sempre foi sincero, fascinante, carinhoso, especial, atencioso, cauteloso, cordial, caloroso, honesto, qualificado e contemporizador. Em nota, a Maçonaria divulgou: “Durante sua estada entre nós, sempre foi ativo colaborador e possuidor de um elevado amor fraterno”.

A história deste homem, que foi uma das figuras mais populares do município de Mazagão e da cidade de Macapá, é de uma magnitude e nobreza, que até parece uma obra de ficção. Ele não foi perfeito, mas, com toda certeza, foi um grande exemplo de pai, cidadão e ser humano. 

Em resumo, meu avô foi um grande cara. Com a ajuda fundamental da vó Peró, formou uma família íntegra da qual tenho a honra de pertencer. Sou tão fascinado pela trajetória dele, que o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de jornalismo foi sobre sua história.

Tenho orgulho de ser o mais velho dos seus nove netos. Até a próxima vez, vovô!

Elton Tavares

*Texto atualizado e republicado por motivos de saudades. 

Poema de agora: Talvez seja Macondo – Júlio Miragaia – @julio_miragaia

Talvez seja Macondo

Talvez seja Macondo
Quando a chuva
Vence o dia
Nos últimos ramos de abril

Talvez sejam fortalezas
As borboletas
Que se dissolvem
Nas asas do céu

Talvez esses incêndios
Estejam há séculos
Perdidos e roucos
Na fila do SUS

Talvez seja o equinócio
Aquecendo o cio da cidade,
Separando o amor da ressaca
Separando a fome da dor

Talvez o ano tenha pernas
Mais afobadas que o sol
E talvez não tenhamos roupas
Para todos os dias do mês

Talvez seja Macondo
O ombro deslocado
Dançando desgraçadamente
Nas noites de maio

E talvez a chuva
Vença o dia
Nos últimos ramos de abril
Por dois incêndios

Inacabados,
Dois peixes embriagados
De Gabos e Benedettis
Que talvez sejas tu e talvez seja eu

E talvez tu e eu nos sejamos
Perdidos, entre pretéritos
Intransitáveis, nas praias
Dos dias assim…

O quarto clareou timidamente, enquanto o ar condicionado soprava um vento frio nos pés, a única parte descoberta pelo edredom. Levantou nadando contra o rio de preguiça nos ossos, na pele e nos pelos, tropeçando em meias, pornografia, latas de cerveja e canções de Mercedes Sosa.

Tomou um banho frio com sabonete Phebo, para exorcizar o álcool que exalava do corpo. Preparou o café e bebeu sem açúcar, ouvindo um programa evangélico no rádio. Em nada pensava e olhava para o nada como se o nada nada fosse. Apenas existia, de cueca, sentado na única cadeira da cozinha.

Arrumou-se uma vez mais como um robô, vestindo-se, colocando o notebook na mochila, o celular no bolso e esquecendo religiosamente o boleto da conta de luz.

Ao abrir a porta para a rua, ouviu um som crescente como um assobio rasgar o barulho do trânsito e uma luz intensa e ardente a tomar conta de tudo, até tudo se calar e desaparecer.

Júlio Miragaia

Chuva e literatura em Macondo e no Amapá – Crônica porreta de Júlio Miragaia – @julio_miragaia

Atmosfera poética do “inverno amazônico” é território da imaginação, da nostalgia e do inexplicável

Crônica de Júlio Miragaia

Volto a falar sobre “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez. Agora, o motivo é o início das chuvas nas bandas de cá do norte do Brasil. Nossa “estação das águas” embeleza as cidades amapaenses e suas respectivas paisagens, trazendo nostalgia, preguiça, imersões em si e outras tantas sensações numa época de festas que é o final do ano.

A chuva em Macondo, cidade fictícia da obra de García Márquez, é marca de belíssimas descrições de épocas inteiras ou cenas como a das aparições do velho José Arcádio Buendía, no quintal da família. O trecho a seguir é um dos meus favoritos:

“Choveu durante quatro anos, onze meses e dois dias. Houve épocas de chuvisco em que todo mundo pôs a sua roupa de domingo e compôs uma cara de convalescente para festejar a estiagem, mas logo se acostumaram a interpretar as pausas como anúncios de recrudescimento. O céu desmoronou-se em tempestades de estrupício e o Norte mandava furacões que destelhavam as casas, derrubavam as paredes e arrancavam pela raiz os últimos talos das plantações.(…) A atmosfera estava tão úmida que os peixes poderiam entrar pelas portas e sair pelas janelas, navegando no ar dos aposentos. (…) Foi preciso abrir canais para escorrer a água da casa e desimpedi-la de sapos e caracóis, para que pudesse secar o chão, tirar os tijolos dos pés das camas e andar outra vez de sapatos.”

Obra “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez. Chuva é elemento presente em cenas que transbordam emoção. Fotos: Júlio Miragaia

Em tempestades ou chuviscos, esse fenômeno da natureza conversa perfeitamente com as cenas de uma obra literária como a de Gabo. É fonte de inspiração para escritores e artistas e também fonte para a ativação da memória do homem.

Atravessei o Rio Matapi em direção às comunidades de Mazagão a trabalho justamente no primeiro dia em que tivemos uma chuva considerável na manhã e na tarde de quarta-feira. Fui junto com colegas de serviço até as comunidades do Carvão e do Piquiazal. Ao longo do caminho, pela estrada de asfalto e pelos ramais, a cena ganhava uniformidade como um filtro de imagem de uma máquina fotográfica de celular.

A chuva nesse dia me trouxe a memória de manhãs de quase duas décadas atrás na contemplação da orla de Macapá, mais especificamente nas adjacências do Trapiche Eliezer Levy. O Rio Amazonas a transbordar enquanto uma forte ventania empurrava com seus músculos de ar a chuva para toda a praça, fazendo quem ali estava se esconder debaixo de qualquer teto.

Trapiche é cenário de crônica de Luli Rojanski em “Lugar da Chuva”. Foto: Floriano Lima

Para este colunista e apreciador da literatura amapaense é impossível também não ligar essa recordação com uma crônica de Luli Rojanski no livro “Lugar da chuva”. Em “Sob o céu, no trapiche”, a autora nos leva até um passeio entre o intimismo e a contemplação da orla da cidade numa tarde qualquer de abril. A solidão do rio, o rumor das águas e a presença de um enigmático poeta a escrever são parte dos elementos que conduzem o leitor para fortes emoções no pequeno e belo texto. A escritora faz ainda conjecturas sobre o que escreve o jovem poeta:

“Para o poeta ali adiante, essa é a singular função do trapiche: ancorar almas, sobretudo as que sofrem, aportar sonhos, sobretudo os de amor.”

Encerro por aqui esta crônica sem grandes reflexões a fazer. Confessando minha admiração por essa época em que nossa região amazônica é banhada por algo além das águas. Por uma atmosfera poética inexplicável e comovente. Por motivos guardados a sete chaves pela natureza, somos invadidos por nostalgias amorosas, afetivas e de outras estirpes, que constroem paisagens internas de longas chuvas empurradas por ventos de passado, presente e futuro.

Mazagão Velho, a cidade que atravessou o oceano, completa 253 anos – Crônica/resgate de Elton Tavares

Mazagão Velho – Foto: Gabriel Penha. Ruínas de uma igreja construída no século XVIII – Foto: Hélida Penafort Mazagão Velho, no frame de vídeo (documentário em produção) cedido pelo amigo Aladim Júnior Antigo cemitério de Mazagão Velho, no frame de vídeo (documentário em produção) cedido pelo amigo Aladim Júnior Prefeitura de Mazagão – Foto: Elton Tavares

Crônica/resgate de Elton Tavares

Mazagão Velho completa 253 anos de fundação hoje (23). A minha família paterna veio do Mazagão, não do Velho, mas do “Novo” (que não tem nada de novo). Bom, vou falar um pouco da cidade e depois da relação do local com o meu povo.

O município de Mazagão tem uma história peculiar, rica em detalhes sobre o Amapá. Mazagão foi fundada porque o comerciante Francisco de Mello pretendia continuar com o comércio clandestino de escravos, mas pressionado pelo governador Ataíde Teive, resolveu cooperar, fornecendo índios para os serviços de construção da Fortaleza de São José, na capital do Amapá, Macapá.

 

Em retribuição, foi anistiado e agraciado com o título de capitão e diretor do povoado de Santana; mas, por conta de uma epidemia de febre, que acometeu os silvícolas, foi transferido para a foz do Rio Manacapuru, e, pelo mesmo motivo em 1769, para a foz do Rio Mutuacá.

Em 10 de março de 1769, D. José I, Rei de Portugal (POR), desativou a cidadela de Mazagão, na então colônia do Marrocos (MAR); eram 340 famílias sitiadas pelos mouros. Elas foram transferidas para Belém (PA). Para alojar estes colonos, o governador mandou construir um povoado às margens do Rio Mutuacá. Em 7 de julho de 1770, começaram a ser transferidas 136 famílias para a Nova Mazagão, hoje cidade de Mazagão Velho, como já se denominava o lugar, pois desde o dia 23 de janeiro de 1770, havia sido elevado à categoria de Vila.

Acervo familiar.

Na verdade, meu saudoso avô paterno, João Espíndola Tavares, nasceu na região do alto Maracá, no Sítio Bom Jesus – localidade de difícil acesso. Para chegar ao local, as embarcações precisavam passar por muitas cachoeiras do município de Mazagão. E minha santa vó, Perolina Tavares, bisneta do senador do Grão Pará, Manoel Valente Flexa (que foi manda-chuva em Mazagão, no tempo em que lamparina dava choque), também nasceu naquelas bandas. Ah, meu vô foi prefeito do Mazagão (preso pelo golpe de 1964, a então “revolução”).

Lá eles namoraram, casaram e constituíram família. Meu pai, Zé Penha e meus tios Maria e Pedro, nasceram no Mazagão. Os filhos mais novos do casal, Socorro e Paulo, nasceram em Macapá, onde minha família paterna é uma das pioneiras. Meu avô partiu em 1996 e meu pai depois dele, em 1998. Mas a família Tavares preserva a dignidade, o respeito e a amizade – fundamentais para a vida – aprendidos no Mazagão e trazidos para a capital amapaense.

Eu, com vó e vô. Gratidão! – Mazagão (AP) – 1978

Quando criança, fui ao Mazagão, mas não tenho essas lembranças na cachola dessa época. Retornei ao município em 2009, quando meu avô foi homenageado na Loja Maçônica da cidade, por ter sido um de seus fundadores. Depois, em 2010, a trabalho, para cobrir a Inauguração da Ponte sobre o rio Vila Nova, na divisa da cidade com a vizinha Santana. Depois, em 2012, para a cobertura do aniversário de fundação da antiga vila (há exatos 13 anos) e ano passado, quando nos despedimos de nossa matriarca, a vó Peró, ao jogarmos suas cinzas no  Rio Mutuacá.

É, minha família paterna veio do Mazagão (na década de 50). De lá trouxe uma nobreza que admiro e muito me orgulho. Não sei explicar a sensação de ir lá, mas a senti todas as vezes. Parece um lugar em que já estive há muito, muito tempo. Quem sabe noutra passagem por aqui. Do que tenho certeza, é que tais raízes nos deram muita cultura, histórias legais e respeito às tradições. Meus parabéns, Mazagão!

*Este texto, atualizado para hoje, é parte da monografia que escrevi para o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Comunicação. E também é um entre os 60 escritos do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em 2021.

Ainda sobre Mazagão Velho, assistam os o trailer do documentário “Mazagão – PORTA DO MAR” e a reportagem do programa “Repórter da Amazônia | Mazagão”:

O amor só é bom se doer. Será? – Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

Ontem a noite estava arrumando umas coisas em casa. Abri uma cerveja e deixei o Deezer tocar no aleatório. Ao fim de uma gaveta arrumada, tocou a música “Nem morta”, canção de Sulivan e Massadas, cantada por nossa amada Alcione. Nossa marrom embalou muitos cotovelos que se arrastaram no asfalto ao som de sua bela voz. Entre um gole e outro, comecei a prestar atenção à letra e me deparo com um insight que ainda não havia atentado dentro do tema que a música apresenta. Vamos lá;

Eu só fico em teus braços
Porque não tenho forças
Pra tentar ir a luta
Eu só sigo os teus passos
Pois não sei te deixar
E esse ideia me assusta
Eu só faço o que mandas
Pelo amor que é cego
Que me castra e domina
Eu só digo o que dizes
Foi assim que aprendi
A ser tua menina
Pra você falo tudo
No fim de cada noite
Te exponho o meu dia
Mas que tola ironia
Pois você fica mudo
Nesse mundo só teu
Cheio de fantasias
Eu só deito contigo
Porque quando me abraças
Nada disso me importa
Coração abre a porta
Sempre que eu me pergunto
Quando vou te deixar
Me respondo
Nem morta!

Pensei; puta que pariu! Mas que porra de relacionamento abusivo é esse, Alcione? Dois tapas na cara seguido de um ‘’ para de ser doida’! Percebi na música que, a mulher em questão sofre de uma dependência e apego emocional fodido. Não tem forças para sair de uma relação que ela sabe ser nociva à ela. ‘’ Eu só faço o que mandas, pelo amor que é cego, que me castra e domina. Eu só digo o que dizes, foi assim que aprendi’’. Trata-se de alguém que perdeu, inclusive, a identidade para caber no mundo do outro, se encaixar na expectativa alheia. Então comecei a pensar na raiz de tudo isso. Essa pobre alma nunca parou para pensar; mas pera aí, o que me faz gostar dessa pessoa? O que essa pessoa faz para que eu a ame a ponto de estar em uma situação que me castra e domina? Será o famoso amor de pica? Quantos de nós estamos ou estivemos na mesma situação por sermos a vida inteira ensinados que amor é sofrimento?

Pois bem, vamos voltar lá na literatura, Romeu e Julieta de Shakespeare. O jovem casal que vinham de famílias rivais e se apaixonam. Os dois fodidos morrem em nome desse amor. Mas, lembre-se, leitor, há quanto tempo os dois se conheciam? Conseguiu pegar meu gancho? É justamente isso, a dificuldade, a impossibilidade do relacionamento que seduziu tanto os dois e que, seduz as pessoas todos os dias, pois o ser humano aprendeu e é ensinado o tempo todo que tudo tem que ser muito sofrido para ser gostoso. O prazer no sofrimento. Se você for analisar as tramas das novelas que crescemos assistindo, é a mesma coisa, mocinho e mocinha que tem sua trajetória amorosa cheia de percalços e lutam para no fim ficarem juntos.  será que se Romeu e Julieta passassem mais tempo juntos ou se, seus pais nem ligassem de com quem eles se agarram, esse amor seria tão arrebatador?

Talvez não passasse de um fim de semana que terminaria com um; ‘’ desculpa, tava doidão”. Nos meus atendimentos com tarot, percebi que as pessoas tem esse mesmo padrão, com algumas exceções, claro. Não estou dizendo que você deve recuar na primeira dificuldade, pois acredito que as diferenças devem sim serem trabalhadas em todos os tipos de relações, mas acredito também que os motivos para se amar alguém devem ser claros pra gente.

Ah, mas o amor é irracional, a gente apenas ama! Não é bem assim, meus caros! Na minha opinião, e você compra se quiser, o amor é algo que tem que te fazer bem, o resto é apego, necessidade. Mas, ouça, não culpo você por discordar de mim, afinal, como disse nossa poetinha; ‘’ o amor só é bom se doer’’. E ele dói sim, vai doer várias vezes, pois temos carmas, diferenças que se chocam com a convivência. Só não acho que precisa doer o tempo todo, essa porra tem que virar Darma em algum momento. Pois se não, nasce aí um relacionamento abusivo. O que me assusta em tudo isso é a romantização da cagada. Mas isso não é culpa sua ou minha, só nos foi ensinado a vida inteira e é difícil quebrar alguns padrões. Ah, mas também leve em conta que eu posso estar errada, ou não. Talvez eu seja uma baita de uma preguiçosa emocional ou só uma vadia tóxica mesmo, ou não.

Eu gosto de alguns sofredores, afinal, sem eles nunca teríamos boas músicas, boa literatura e bares cheios. Mas, acredite, não confunda a beleza do amor com a necessidade do sofrimento, essa só produz alguma sofrência sertaneja. Enfim, ame, se jogue. Faça o que quiser. Quem sou eu para me meter na sua vida.
       
*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora, contista e cronista. E, ainda, mãe de duas meninas lindas, prima/irmã amada deste editor.

Pat Andrade lança O peso das borboletas, seu novo livro de poemas

Em meio ao cotidiano conturbado da cidade, a escritora Pat Andrade abre uma lacuna para a leveza e a poesia, no evento de lançamento do seu mais novo livro de poemas: O peso da borboletas.

Segundo a própria autora, o livro é feito de memórias, lembranças e recordações e traz poemas que são um mergulho em sua história, em seus sentimentos. Nele, o leitor encontrará “versos tolos e elaborados; estrofes ácidas e irônicas; desilusões, medos, desejos e agonias”, diz Pat Andrade.

São 80 poemas reunidos e, embora seja uma obra com registro na Biblioteca Nacional e ficha catalográfica, a autora fez questão de manter o aspecto artesanal, incluindo elementos que remetem a essa característica marcante de seu trabalho.

A capa do livro é do Artur Andrigues – a quem o livro é dedicado. Artur é seu filho e um iniciante na arte do design gráfico; as ilustrações são da própria autora, que se arrisca mais uma vez nos traços.

A obra é fruto de projeto contemplado pelo edital de chamada pública Circula Amapá, da Secult, através do convênio nº 887106/2019.

No lançamento, muita poesia, roda de conversa, música e exposições; Aog Rocha exibe “Asas” e Ronaldo Rony apresenta a exposição “Liberado para uso recreativo”.

Sobre a autora

Pat Andrade é poeta/artista plástica/produtora cultural. Em seu trabalho literário já produziu pelo menos 27 publicações artesanais, seis livros virtuais (publicados no período de isolamento da pandemia). Também tem participação em cinco coletâneas virtuais e em cinco livros físicos.

Em 2021 publicou seu primeiro livro impresso: O avesso do verso, através de edital da Lei Aldir Blanc.

Colaboradora do Site De Rocha! e membro do coletivo Urucum e do grupo Sarau do Recomeço, Pat se considera uma militante da Literatura: leva poesia para as ruas, praças e cafés; visita comunidades, escolas e universidades, participando de eventos literários e culturais, os mais diversos.

Sobre Aog Rocha

Fotógrafo profissional, biomédico, professor de Práticas Fotográficas, artista visual, com premiações nacionais na área de fotografia, com publicações (fotográficas) em livros e revistas nacionais; editor de imagens, leitor assíduo, amante de animais e da natureza.

Sobre Ronaldo Rony

Ronaldo Rodrigues é redator publicitário, poeta, cronista, contista, cartunista, ilustrador e artista plástico. Como cartunista, assinando Ronaldo Rony, participa de salões de humor nacionais e internacionais, tem três livros publicados e edita, com periodicidade esporádica, em formato de fanzine, a revista do Capitão Açaí, seu personagem de maior sucesso. Em mais de 35 anos de produção artística, participou de vários movimentos de fomento e difusão artística, envolvendo música, performances e artes visuais.

Serviço:

Data: 20/01/2023 (sexta-feira)
Hora: 18h
Local: Oca Produções (Av. Ivaldo Veras,822-Altos – Marco Zero – em frente à Cidade do Samba)
Informações: (91) 99968-3341 – Pat Andrade (whatsapp)
Entrada Franca

Assessoria de comunicação 

Poesia de agora: Explicação – Por @alcinea

 

Explicação

Vivo do ato de escrever
sobre tragédias
e espetáculos
sobre o candidato vitorioso
e o derrotado
sobre o deputado corrupto
e o governante que finge ser honesto
sobre a exportação da mandioca
e a importação da farinha
sobre a fome
e a riqueza
sobre o real
e o dólar.
Perdoa-me, Anjo,
não sobrou tempo
para escrever
um poema de amor.

Alcinéa Cavalcante

Poema de agora: Amar – Pat Andrade

Amar

amar, meu bem,
é se aventurar
viajar na infinitude
do universo
se perder e respirar
nas profundezas do mar

amar é desafiar
a Medusa
e não desviar o olhar
provar a maçã do Éden
morar dentro da baleia

amar é caçar mistérios
abrir a caixa de Pandora
encontrar Atlântidas
desbravar Eldorados

amar é se atirar
ao desconhecido
decifrar a Esfinge
e ser decifrado

Pat Andrade

Prêmio Sesc de Literatura abre inscrições para 20ª edição

Escritores podem inscrever suas obras gratuitamente nas categorias Conto e Romance

O Prêmio Sesc de Literatura, que chega à sua 20ª edição em 2023 como um dos mais importantes e consagrados no reconhecimento de escritores estreantes e abriu inscrições na última sexta-feira (06). Podem concorrer obras inéditas nas categorias Romance e Conto. Os interessados têm até 03 de fevereiro, às 18h, para concluir o processo de inscrição, que é gratuito e online. O regulamento completo está disponível em www.sesc.com.br/premiosesc.

Ao oferecer oportunidades aos novos escritores, o Prêmio Sesc de Literatura impulsiona a renovação no panorama literário brasileiro e enriquece a cultura nacional. Os vencedores têm suas obras publicadas e distribuídas pela editora Record. A parceria possibilita a inserção dos livros na cadeia produtiva do mercado editorial. O vencedor de cada categoria tem sua obra publicada e distribuída comercialmente pela editora, com uma tiragem inicial mínima de 2.500 exemplares

“Este ano é especial. Chegamos a vinte edições, um marco importante e que deve ser comemorado. Criamos o Prêmio em 2003 e de lá para cá se o projeto se consolidou como o principal do país para autores iniciantes. Esperamos ter novos recordes de inscritos em 2023 – no ano passado recebemos 1.632 trabalhos, sendo 844 em Conto e 788 em Romance”, comemora Janaina Cunha, Diretora de Programas Sociais do Departamento Nacional do Sesc.

O processo de curadoria e seleção das obras é criterioso e democrático. Os livros são inscritos pela internet, gratuitamente, de forma anônima. Isso impede que os avaliadores identifiquem os autores, garantindo a imparcialidade no processo de avaliação. Os romances e coletâneas de contos são avaliados por escritores renomados, que selecionam as obras pelo critério da qualidade literária.

A relevância do Prêmio Sesc de Literatura também pode ser medida por meio do sucesso dos seus vencedores. Além de serem convidados para outros importantes eventos internacionais, os autores são, com frequência, finalistas ou vencedores de outras premiações importantes. O escritor Rafael Gallo, revelado pelo Prêmio Sesc em 2012, foi o vencedor da última edição do Prêmio Literário José Saramago.

Vencedores 2022

Na edição de 2022, foram premiados o paraense Pedro Augusto Baía, com a coletânea de contos Corpos benzidos em metal pesado, e a gaúcha Taiane Santi Martins, com o romance Mikaia. A origem dos autores reafirma a característica do Prêmio de estímulo à diversidade e sua capacidade de projetar escritores das mais distintas regiões do país. Em 2023, os vencedores circularão por unidades do Sesc em todo o país e poderão dialogar com o público sobre os temas e o processo de criação de seus livros, que foram lançados em novembro de 2022 na programação do Sesc durante a Flip – Festa Literária de Paraty.

Nesses 20 anos de prêmio, diversos autores foram descobertos e se consolidaram na literatura nacional, graças ao incentivo da Instituição, entre eles Juliana Leite, Marcos Peres, Luisa Geisler, André de Leones, Franklin Carvalho, Sheyla Smanioto, Tobias Carvalho e Lucia Bettencourt.

Mais Informações:
CDN Comunicação
[email protected] 

Poema de agora: Sol com Sétima – Luiz Jorge Ferreira

Sol com Sétima

Amo os Beatles.
Falta John…Falta George.
Abro a capa do Lp.
A tosse sai em direção às Gaivotas.

Encontro com eles em uma rua de Londres.
Um beco em Carapicuíba…um Gueto negro em Macapá.
O silêncio entre nós foge com o meu estalar de dedos.
E escondo o olhar de meus olhos dentro de um bueiro.
Estão quase nus…azuis…restos de Blues.
Mastigam alguns Sustenidos e Bemóis.

Além do Sol o sorriso de Paul.
A seriedade com que Ringo empina pipas com as cordas das guitarras, achando que saudade é coisa de Americanos do Sul.
Escondo na areia os vocais, sobre as manhãs eu derramo Ketchup e Mel.

Nascem as rugas sobre barbas por fazer.
Devoro o tempo com enormes goles de Whisky, e Café.
Escuto o farfalhar dos anos, e o tropel das décadas.
Desfolho os cílios, enquanto os jeans desbotam.
E envelheço em meio aos Outonos que estão uns trapos.

Luiz Jorge Ferreira