Poema de agora: Reticências Flutuantes… – Luiz Jorge Ferreira

Reticências Flutuantes…

Anjos caducos de cabelos grisalhos e nariz aduncos…
bocejam… sentados sobre suas asas no banco da Praça.
A Oeste dos cachorros que magros…emagrecem…e envelhecem.
Algum deles viu Deus?

Eu me aproximo trazendo na mão um verso.
Por nada mais me interesso.
Os anjos não falam com palavras, falam por olhares…tenho que chegar mais perto.
Olho em seus olhos.
Doutro lado…doutro lado…doutro lado…
Esta o passado.
Como os cachorros…emagrece em silêncio.
Não há como trazê-lo de volta.

Os anjos não escutam quando falo versos.
Prestam atenção quando bato palmas.
Imaginam que o meu movimento das mãos,
e ensaio de um vôo sem asas.
Ou sou eu querendo expulsar minha alma.
Para aqui fora junto a eles…envelhecer também…
Quanto a ver Deus…
….nem cogitar !

Luiz Jorge Ferreira

*Do Livro ‘ O Chalé ‘.

Escritora Margareth Diniz, fala sobre o lançamento do livro “A ponte, memórias de lírios d’água”

Trata-se de um romance que conta a história de uma mulher que luta para criar os filhos depois que o marido desaparece sem deixar vestígios. Com as dificuldades de morar em uma parte alagada, ela constrói, com outras mulheres, fortes laços de afeto e solidariedade, necessários como estratégia de sobrevivência em um ambiente tão marcado pela pobreza e pela violência.

Compre o livro no site: https://www.editoraviseu.com.br/a-ponte-memo-rias-de-li-rios-d-a-gua-prod.html

Fonte: Café com Notícias.

Júlio Miragaia lança live poética “Semáforo Amazônia” – @julio_miragaia

No próximo sábado (10), às 19h, o jornalista e escritor Júlio Miragaia lançará a live poética “Semáforo Amazônia”. A transmissão será pelos perfis pessoais do autor no Facebook e YouTube.

A obra literária e audiovisual trará poemas como o que dá título ao espetáculo, abordando temas como a vida de crianças ribeirinhas, a instalação de hidrelétricas na Amazônia, a crise social na pandemia e o apagão vivido no estado do Amapá.

Participam da produção as atrizes e poetisas Hayam Chandra, Suane Brazão e Thayse Panda, o ator e músico Ivamar Santos, o músico Anthony Barbosa e o jornalista Nathan Zalouth.

Resultado do edital n⁰ 002/2021 – Promotor Mauro Guilherme, da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), a obra é contemplada pela Lei Aldir Blanc que estabelece uma série de medidas emergências para o setor cultural e criativo, fortemente impactado pela pandemia do novo coronavirus (Covid-19).

Sobre o autor

Júlio Ricardo Araújo, o Júlio Miragaia, tem 38 anos. Natural de Belém (PA), passou os últimos anos entre a terra natal e Macapá (AP), onde hoje mora.

É jornalista, pós-graduado em gestão e docência no ensino superior, acadêmico do curso de letras-português e autor dos livros “O estrangeiro de pedras e ventos” (2014, Multifoco-RJ) e “Cocadas ao sol” (2022).

Serviço:

Semáforo Amazônia (live poética)
Data: 10/12 (sábado)
Hora: 19h
Onde: Facebook (https://www.facebook.com/julio.miragaia?mibextid=ZbWKwL) e YouTube (https://youtube.com/channel/UCQXSfLFFQ7W8gFgf2G8o6GQ)

Assessoria de comunicação

Meus amigos de Liverpool – Crônica (memória fictícia) de Ronaldo Rodrigues – Republicada pelos 42 anos da morte de Lennon

Crônica (memória fictícia) de Ronaldo Rodrigues

Tudo começou em 1963, quando conheci o John. Ele era meio maluco, falava muito e estava sempre a fim de fazer alguma coisa: montar uma banda de rock, formar um grupo de apoio social ou reunir uma galera boa para invadir um pub e roubar toda a cerveja. Pois foi uma banda que nós resolvemos montar.

Ele apareceu uma vez com um cara que tocava muito, o Paul. Depois, o Paul trouxe outro cara que tocava demais, o George. Tínhamos então eu no vocal, John na guitarra base, George na guitarra solo e Paul no baixo. O Pete, que era nosso baterista, não ficou muito tempo e logo apareceu um tal de Ringo, que já desfrutava de um certo sucesso.

Fizemos umas pequenas turnês, já angariávamos algum prestígio e muita gente curtia nossas músicas. A maioria era de minha autoria, mas o John e o Paul brigavam tanto por serem as estrelas principais que abri mão da minha participação e deixei os dois assinando as músicas, mesmo que várias delas fossem minhas.

Gravar um disco ainda era um sonho muito distante, mas entrou em cena outro cara, o Brian, que surgiu atraído pelo sucesso que fazíamos no pequeno circuito em que transitávamos. Ele já tinha todos os macetes e sabia, como se diz hoje, o caminho das pedras. Antes que o Brian tomasse conta do grupo, eu resolvi sair. Era muita correria: compor, ensaiar, gravar, cumprir a exaustiva agenda de shows… Ufa! E, também, a minha timidez não combinava com o estrelato. A vida pacata que levei desde então foi o suficiente para mim.

Voltei para minha pequena cidade e segui minha carreira de ilustre desconhecido, bem mais quieta do que a vida de celebridade. Aquela banda se tornou mesmo um sucesso mundial e eu passei a colecionar recortes de jornais com shows e entrevistas daqueles amigos que eu havia deixado em Liverpool e que logo depois se mudaram para Londres. Jamais revelei a alguém minha ligação com a banda.

Depois que os rapazes conquistaram o mundo, a banda se dissolveu. Os fãs diziam que o fim foi cedo, que ainda havia muita música boa para vir à tona. A maioria dos fãs culpava a nova esposa do John pelo fim. Outros diziam que o Paul queria a liderança a qualquer custo e isso desgastou a relação. A minha opinião, que não foi pedida por ninguém, é que as coisas boas, para terem existência completa, precisam mesmo acabar. Começo, meio e fim: esta é a fórmula.

Meus amigos de Liverpool continuaram fazendo sucesso em suas carreiras solo, o tempo passou e o período em que fiz parte daquela banda ia ficando nos desvãos mais recônditos da memória. Até que, certa manhã, ao abrir o jornal, fui despertado do meu resto de sono pelo barulho ensurdecedor de vários tiros e a manchete que jamais esperei ler algum dia, a notícia crua, a frieza do assassino. As lembranças voltaram dolorosamente: os óculos redondos, o humor sardônico, as passeatas pela paz mundial. E aquela data ficou para sempre sangrando em mim: 8 de dezembro de 1980. Mas quem vai acreditar nisso?

*Republicada pelos 42 anos da morte de Lennon.

Em dias de chuva… – Crônica de Elton Tavares – Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Choveu muito ontem em Macapá. Acho que vai chover novamente. Hoje o sol está entocado, iluminando somente o suficiente. Amo dias chuvosos! Em dias de chuva dá vontade de ficar na cama até mais tarde. Ou o dia todo, né não? Claro que desde que não seja demais e alague ruas, pois a gente fica feliz com prejuízos e sofrimento alheio.

Dia bonito pra mim é dia chuvoso. Noite idem. Gosto por não suar e bebo cerveja sem problema, pois o frio me agrada profundamente. Em dias de chuva dou valor até no trânsito (deve ser por não dirigir).

Em dias de chuva, como hoje, lembro quando morávamos em pequena casa de madeira, cheia de goteiras. As poucas panelas eram espalhadas pela casa, para armazenar a água do pinga-pinga. É, no dia cinzento de hoje vejo como melhoramos de vida, pois temos que desligar o ar-condicionado e fazer o esforço para levantar da cama.

Ilustração de Ronaldo Rony

Quando era moleque, em dias de chuva, jogávamos futebol debaixo de temporal e dávamos muito valor naquela parada. Também lembro do meu velho e saudoso pai, que nos ensinava a ensaboar os vidros do carro para que não embaçassem. É, a chuva me traz mil memórias, a maioria muito boas.

Gosto do som da chuva, do barulho dos pingos no telhado. Os dias chuvosos me trazem uma paz imensa. A chuva anuncia: finalmente o inverno chegou.

Ah, não gosto de usar guarda-chuva, gosto do respingo, do frescor, de me molhar. Aliás, nunca gostei de “chove não molha” e sempre avisei: “pode tirar o cavalo da chuva”.

É isso!

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em 2020.

Lendas do Amapá: a maldição do Padre em Mazagão Velho – Por Edgar Rodrigues

Rio Mutuacá – Foto: antigo blog do Edgar Rodrigues

Por Edgar Rodrigues

Mazagão, no tempo em que era próspera vila e o rio Mutuacá era constantemente singrado por embarcações, sorria à tranqüilidade do desenvolvimento, sem fome e sem pobreza. Sua população vivia não só do comércio, mas também da produção de alimentos e criação de animais.

A pecuária estava se fortificando cada vez mais e toda produção era comprada por comerciantes que chegavam em barcos, deixando em troca tabaco, café e tudo o mais que fosse necessário.

Mazagão Velho: Foto: Gabriel Penha

Como vila muito rica, Mazagão não esqueceu a religiosidade. Sua igreja tencionava causar inveja à Portugal pela beleza e ornamentação. Para isso foi trazido aquele padre para ocupar o lugar do então pároco, que há mais de 20 anos havia falecido na vila. O padre profundo conhecedor da religiosidade portuguesa convenceu os mazaganenses que seus santos deveriam ser de barro, mas com cabelos naturais, utilizando-se as sobras do barbeiro. Ficou decidido ainda que os olhos dos santos, principalmente os do padroeiro São Tiago, seriam de diamantes, transmitindo assim toda a riquezas toda a prosperidade do lugar.

Ruínas de uma igreja construída no século XVIII – Foto: Hélida Penafort

Foi nesse espírito de grandeza que receberam o padre, um homem gordo das riquezas portuguesas, bonachão e muito falante, que para demonstrar simpatia chamou para sacristão um negro da própria vila. O negro, como é o dever de todo sacristão, ajudava nos afazeres diários, fosse acendendo uma vela, limpando o cálice bento ou servindo a hóstia sagrada aos frequentadores da igreja. Em pouco tempo o padre juntou uma boa fortuna, seguindo pelo rio Mutuacá até o Pará, e retornando dali com dezenas de brilhantes em forma de olhos. Mais alguns dias e se podia vislumbrar a beleza dos santos, principalmente quando a luz da lua refletia nas pedras derramando salpicos luminosos por toda a capela.

Na inauguração a festa foi grande. Durante toda a noite e arraial teve batuque, dança e muita bebida. Quando o dia vinha amanhecendo, o sacristão, curioso, foi olhar bem de perto os santos, e não resistindo ao fulgor da jóia em um dos olhos de São Tiago, quis tocá-la. Mal colocada, a jóia caiu, despedaçando-se. Descobriu-se então que não passava de vidro muito bem trabalhado.

O padre foi preso e condenado à morte pelos moradores irados. Quando estava na eminência de balançar no cadafalso, o sacerdote limpou suas sandálias no chão e amaldiçoou o povoado, profetizando que em alguns anos o rio Mutuacá ficaria tão seco que seria possível uma galinha atravessar andando por seu leito.

Morto o padre desonesto, o rio também começou a morrer. Seu leito foi se estreitando de tal maneira que até mesmo as pequenas embarcações tinham dificuldades em navegar. Em pouco tempo morreu também o comércio local e muitos mudaram-se em busca de melhores condições de vida, formando a vila de Mazagão Novo.

Rio Mutuacá – Foto: Hélida Penafort

O rio? Continua secando e hoje não é mais que um córrego facilmente atravessado por animais de pequeno porte.

*Edgar Rodrigues é jornalista, escritor e estudioso da história do Amapá.

Embrulhando o Outono – Conto de Luiz Jorge Ferreira

Ele há muitos anos não bebe água…
Ocupado em recolher as datas, as que são ocupadas por episódios trágicos.
Arranca dos Calendários da parede as folhas numeradas com dia do mês e dia da semana.
E as coloca dentro de um saco de plástico bege que chama de Existência.
Sua mulher doutro lado da sala, onde nós últimos anos eles transformaram em sala, quarto, cozinha e área de na banho,.. O observa em silêncio…sua ocupação, aparar as bordas desniveladas da papelada que ele ensaca para lhes dar um primoroso acabamento…


Ele não bebe água…embora a vasilha que ela encheu da bica que a chuva enche e deixa escorrer abundante, estivesse chegando ao meio só ela havia consumido o líquido.
Ele, da água não beberá.
Estava magro e ressecado, como uma mala velha de couro, e sua calça e camisa pareciam tão secas como ele próprio.
Estava recolhendo o que ele próprio chamava de existência…


Os discos, as fichas telefônicas, as gaiolas onde pulavam os curios, o tapete espesso onde procriaram três gerações de gatos siameses, e estampilhas de imagens de toureiros, damas tocando castanholas, e espadachins portentosos.
Um monte de sacos amontoados no caminho do antigo corredor que ia rumo ao quintal desaparecerá…o barulho da televisão, agora mas um chiado continuo, que fala audível, se fazia presente…
E vários pacotes de vela, para serem acessas em sequência, pois a tempo se fora a luz elétrica, não que não tivesse, foram se as lâmpadas, vieram as velas.


A casa era triste…as dobras da rua defronte pareciam querer fugir dali…mas ele não bebia água…
As árvores plantadas no quintal decorando de folhas o chão não eram de madeira, eram agora de papel machê, porque também não bebiam água…
Ele catando passos, falas, espirros, algazarras, sorrisos, e desenhos feitos a mão, em determinado momento, cuja a única testemunha eram os ponteiros do relógio, que ele usará para prender um cadaço de sapato na parede para dependurar coisa esquecidas…


Um caos…a própria vida começou a evitar aquela casa.
A noite passava ao largo.
A chuva deixou de vir…
Um silêncio triste, sentou debaixo das árvores, e ficou calado.
Tudo era um traçado de ensacar coisas deles, e de tudo o todo.
Ela doutro lado da então agora uma coisa qualquer chamada antes de sala, se transformou, em água.
E ele cabisbaixo entrando no derradeiro saco, não bebeu.

Luiz Jorge Ferreira.
Osasco…26.11.2022
São Paulo…Brasil.

Como hoje é sexta, sempre lembro do velho Liverpool Rock Bar, o melhor pior bar da mundo- Crônica de Elton Tavares

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Hoje é sexta-feira e toda sexta lembro do velho Liverpool Rock Bar, que foi um dos celeiros do rock amapaense. Fundado no final 2004, pelo seu saudoso “Seu Nelson” (falecido há alguns dias ) e sua filha Vânia, o bar, mesmo sem estrutura, fez sucesso entre os amapaenses que gostam de rock and roll.

O Liver foi, até o final de 2009, o refúgio do underground amapaense. Um bar simples, entretanto, frequentado pelas pessoas mais descoladas da cidade. Na categoria “rocker”, foi o bar de rock mais duradouro da história de Macapá.

O Liverpool tinha mesas de bilhar adoradas por 90% dos frequentadores, bandas legais e tínhamos a certeza que íamos encontrar os amigos por lá. No Liver iam músicos, skatistas, jornalistas, boêmios, malucos, caretas, homossexuais e heterossexuais. Era um local democrático, muito longe de uma “vibe” ou “point”. Alguns, mais exigentes, apelidaram o local de “Liverpalha”, mas viviam por lá.

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Hoje temos locais melhores para curtir som, muito mais estruturados, refrigerados e tals, mas todos nós lembraremos do charme sujo que o Liver possuía. A gente quebrava tudo por lá (às vezes, literalmente). Saudades daquela bodega! Saudades do melhor pior bar do mundo!

“O Rock é energia, o desejo ardente, as exultações inexplicáveis, um senso ocasional de invencibilidade, a esperança que queima como ácido” – Nick Horby – Romancista inglês.

Elton Tavares

IV Simpósio de Línguas da Universidade do Estado do Amapá

O IV Simpósio de Línguas da UEAP – SILIN ocorre nos dias 23, 24 e 25 de novembro de 2022, na Universidade do Estado do Amapá – UEAP. Nesta quarta edição, o evento terá como tema principal “Diálogos possíveis entre o ensino de línguas e a pesquisa”, perpassando por questões relacionadas às metodologias de ensino de línguas e literaturas na educação básica, documentos oficiais que norteiam o ensino de línguas (Parâmetros Curriculares Nacionais, Base Nacional Comum Curricular e Referencial Curricular Amapaense), práticas de ensino inovadoras durante e pós-pandemia, pesquisas sociolinguística em/sobre línguas, princípios e formação em línguas maternas e estrangeiras.

Poeta Pat Andrade – Foto: arquivo pessoal da artista.

Assim, buscaremos promover espaços de debate para entender como os professores e alunos conseguiram se adaptar às novas demandas do mundo moderno (algumas já disponíveis e outras impostas) para ensinar e aprender línguas, buscando atingir seus propósitos.

A abertura oficial do evento ocorre às 17h, no auditório da UEAP. Após a palestra de abertura, a poeta Pat Andrade fará o lançamento de seu mais recente livro artesanal, Entre a flor e a navalha e apresentará a performance poética de mesmo nome.

Assessoria de comunicação

A BARCA ARTÍSTICA NAS ILHAS QUE BAILAM

A V Residência Artística Tecno Barca aconteceu no Arquipélago do Bailique nos primeiros quinze dias de novembro.

São dez anos do mesmo percurso. Doze horas de viagem na expectativa de conectar-se com uma comunidade muitas vezes esquecida. O quebrar da maré nessas longas horas, só aumenta a vontade de construir relações e levar um novo olhar com diversas possibilidades para o Arquipélago do Bailique. E em mais uma edição, foi o que fez a Tecno Barca nesses primeiros quinze dias de novembro, levando a residência artística para as comunidades daquele lugar.

A Tecno Barca, projeto idealizado por Wellington Dias, em parceria com a Associação Gira Mundo, nasceu em 2011, mas a sua primeira edição aconteceu em 2012. A vontade de fazer a Tecno acontecer veio do desejo de se reconectar com as raízes maternas da família bailiquense de sua mãe, quando o idealizador foi conhecer o arquipélago. Wellington também queria romper a imagem sobre o Bailique e enxergar esse local de outra perspectiva. ” Eu queria romper com o preconceito que existia, queria fortalecer conexões com as pessoas de lá. O retorno foi através de uma ação efetiva, assim surgiu a Tecno Barca” ele comenta.

A vontade do artista fundador do projeto, hoje é realidade. E atravessa o maior rio do mundo com artistas, arteiros, ativistas que se encontram para discutir com uma população – que vive às margens desse rio e as mazelas sobre o rio – particularidades e necessidades de viver e ser amazônidas.

TRAVESSIA

No dia 1º de novembro, corpos itinerantes, rostos diferentes, São Paulo, Ceará, Rio, Minas, Pará e Amapá encontram-se em Macapá para o primeiro desafio da residência: conectar olhares, fazeres e saberes diversos para fazer acontecer arte em território amazônico.

Na barca de madeira, sobre o Rio Amazonas, uma primeira impressão do que virá se anuncia com o dançar do barco e dos corpos ao sabor da maresia rumo à Vila Progresso, no arquipélago do Bailique, os artistas, convidados ou residentes, experimentam uma expectativa curiosa do que a mistura de culturas pode fazer dessa vez em terras bailiquenses.

Após longas horas de viagens e a expectativa do que se encontraria, a Tecno Barca inicia o seu trabalho conhecendo as comunidades e entendendo a profundidade da urgência de enxergar as camadas que fazem o Bailique.

Rafael Silva, 25, escritor nordestino e artista residente desta edição, percorreu 66 horas de viagem até o local que jamais imaginaria conhecer e se impactou com o senso comunitário do distrito das palafitas que por vezes é esquecida no meio de tantos descasos governamentais. “Um senso de comunidade, um bem viver coletivo que a urbanização, a modernidade e o capitalismo tentam destruir e corromper, lá vemos resistir e sobreviver” responde o artista após ser perguntado sobre o que mais causa impacto num lugar com tanto potencial, mas tanta precariedade.

A barca de artistas percorre as comunidades do arquipélago ouvindo sonhos, histórias e súplicas que se repetem em um ecoar de vozes que pedem um olhar carinhoso para o lugar em que vivem. Napoleão Guedes, 27, artista, performer santanense, que já participou de outras edições do projeto, observa ao voltar aquelas terras a continuidade da violência no distrito suspenso. “A permanência da violência que veio antes de mim e continua acontecendo aqui, isso me causa impacto” conclui.

A partir das conversas entre artistas e comunidade, a Tecno Barca com a proposta de perceber a Amazônia, convida a população a participar dos trabalhos que ali foram desenvolvidos, e com as trocas de conhecimentos surgem fotografias, oficinas, escritas, performances que envolvem a comunidade ribeirinha na descoberta dos artistas que moram sobre as pontes.

VIVER EM COMUNIDADE

Os arteiros, ao chegar no arquipélago, experienciaram o viver daquela comunidade, como é estar nesse lugar de bem-viver, onde se tem tão pouco e consegue ser tão hospitaleiro com quem chega. E assim, constroem juntos novas histórias que compõem a barca de madeira..

O Bailique, a ilha esquecida pelos gestores do Amapá, que dança com a maré e vive em função das águas do Amazonas, conta para os artistas como é viver com os pés sobre esse rio e toma a atenção de quem vem de terras distantes e com perspectivas diferentes. A artista residente sudestina, Anali Dupré, 33, ficou encantada com a cultura forte que as mulheres bailiquenses tem com o futebol e como ele é um dos poucos espaços de lazer de quem vive por lá.

A partir do diálogo com essas mulheres, a artista e educadora fez seu trabalho com o desejo de fazê-las enxergar a força que carregam em uma comunidade patriarcal que, por vezes, naturaliza a violência com filhas, mães e avós que sustentam as pontes daquele lugar. “As mulheres do Bailique resistem dentro de uma realidade que é muito desigual para elas, que é muito violenta e ainda assim, encontram um espaço para se reconectar entre si e recuperar uma pulsão de vida muito forte. E trocar com elas me fez recuperar essa pulsão em mim”, observou a artista.

A partir do olhar cuidadoso com quem pede para ser lembrado e reconhecido, Anali fez fotografias das jogadoras bailiquenses para que elas entendessem a potência que tem dentro e fora do campo de futebol e, na barca, estava exposto como um santuário lindo de admirar a garra das mulheres daquele lugar, que ao adentrar se viam e reconheciam uma nas outras o papel que elas têm na comunidade.

Entrar no íntimo dos moradores das palafitas foi o que fez a Tecno Barca acontecer com trabalhos feitos para o povo daquele lugar, seja para se enxergar como grandes jogadoras, para entender que aquelas pontes são passarelas para as crianças que ali moram, para cantar alto sobre o que vivem ou até mesmo para se descobrirem como grandes contadores de histórias, para gritar mundo a fora que o Bailique existe e que lá tem muito para aprender e compartilhar.

Ao abrir os corações para estranhos com o desejo de modificar a visão daquela realidade; as crianças, jovens e adultos ribeirinhos sorriem ao ver a barca chegar com a construção que foi feita a partir dos laços estabelecidos entre artistas e moradores. Lara Cristina, 25, bailiquense, moradora da comunidade de Carneiro, e estudante diz que o trabalho que a Tecno Barca faz é muito importante por ser um lugar de inclusão. “Ajuda abrir a nossa mente sobre o local onde a gente vive e sobre a grandeza da nossa natureza”, diz a jovem.

O lugar onde as terras caem, onde não há energia elétrica e o silêncio da noite é rompido por barulhos de geradores, onde a saúde é escassa, onde a água por vezes é salubre e as mazelas são inúmeras, também é lugar de reconhecimento pela educação. Os moradores do arquipélago reconhecem que esse é o caminho para mudar a realidade de quem vive por lá. Sereia Caranguejo, 27, artiste convidade desta edição, pontua o zelo pelas escolas. “A educação dentro do Bailique é muito bem recebida, há um respeito muito grande pelos professores”, Sereia afirma que os caminhos traçados pela Associação Gira Mundo, abrem discussões para esses espaços, que as campanhas feitas naquelas terras plantam e colhem frutos vindouros.

Os educadores há quem se deve respeito, enxergam nos artistas a esperança de semear bons frutos naquela região e acreditam em um futuro promissor para as crianças baliquenses. O professor da comunidade do Livramento, Merlim Marques, 47, disse que o projeto conduzido pela associação vai enriquecer a vida dessa população. “Muitos deles nem tem noção do quanto isso vai agregar culturalmente conhecimentos para o lugar em que eles vivem”, comenta emocionado o professor.

Essa troca de conhecimento com a comunidade foi muito bem recebida pelo idealizador do projeto, que sorri ao lembrar do fortalecimento de laços com a comunidade escolar. “Em todos os lugares que levamos a exposição, tivemos a comunidade escolar muito presente e isso fortalece o trabalho desses profissionais, dá um novo fôlego”. comenta Wellington.

A maré que leva educação em forma de arte, também traz consigo leveza e brincadeiras que fazem os olhinhos ficarem pequenos e se perderem nos retratos de quem fica feliz descobrindo as múltiplas artes que moram dentro de si. O barco da felicidade atraca nas pontes e se transforma em lindas memórias nos dias ensolarados no distrito das terras que caem. A menina da pele retinta, Paula Miranda, 18, que conheceu o projeto em 2013, conversa com essa jornalista em formação sobre a felicidade que é ver a barca chegar em Franco Grande. “A Tecno Barca é diversão pra uma criança, porque elas ficam muito tempo sem nada aqui, a nossa comunidade é esquecida, as pessoas passam direto e não param, mas quando vocês chegam, já é uma animação, sabe?” desabafa com os olhos marejados a jovem moradora.

Os rios que nos levaram a esse encontro, nos contou e encantou com as vivências partilhadas em alto rio, que nos cerca e contam histórias que não se esvaem no tempo. O barco, repleto de arteiros, empurra águas barrentas e abre caminhos. Esses caminhos encontram os gritos que pedem escuta; a escuta que chega com a barca; a barca que o rio trouxe e navega as águas do Amazonas levando esperança em tom de arte, fortalecendo o viver em comunidade. O rio que envolve os artistas bailiquenses e dos outros lugares, não é apenas um rio. É laço.

O CINEMA NAVEGANTE

Nas noites estreladas, sentados sobre a ponte, artistas e moradores reuniam-se todas as noites para assistir filmes onde a comunidade pudesse se reconhecer. O cinema fluvial chegou no Bailique para iluminar o breu que se instala com a ida da luz solar. Filmes como Utopia, Memórias da Terra, Um Escola no Marajó, Essa Terra é Meu Quilombo, Açaí e outros foram exibidos para os bailiquenses que sempre mostravam-se muito contentes com a iniciativa do Cine Catraia.

O cinema navegante foi idealizado por Rayane Penha, Wellington Dias e Renato Vallone no ano de 2014. Atualmente a jornalista e cineasta Rayane produz o Cine Catraia, o projeto nasce das águas que banham os solos amapaenses. É um cinema itinerante que percorre o maior rio do mundo para conectar raízes desse solo amazônico, através de filmes que contam histórias de quem vive às margens desse rio. “Os filmes dialogam temáticas que estão sendo vivenciadas dentro do território e que tem conexões, porque priorizamos muito a regionalidade”, comenta Rayane Penha, 26, sobre o trabalho do cinema itinerante.

Nesta edição da Tecno Barca, o Cine Catraia também embarcou para as ilhas que bailam, Kssiddy Weslley, 28, professor, produtor cultural e cineclubista, ficou responsável por transformar as noites da garotada que chamavam seus pais para prestigiar o grande evento que se formou. O cineclubista diz que a iniciativa foi muito satisfatória “Foi muito bom, principalmente porque eles não têm acesso ao cinema, e quando esse cinema chega, são com produções do nosso Estado, que eles não conhecem, mas passam a admirar as produções locais”, o produtor comenta feliz, o relembrar que o projeto faz a ponte entre a cultura local e os moradores bailiquenses.

O cinema montado na agência da prefeitura, sempre chamava atenção das crianças que passavam por lá. João Souza, 10, estudante, que já conhecia a Tecno Barca porque participou de filme produzido pelo projeto em 2019, comenta que fica muito feliz com o cineminha na Vila Progresso “é muito bacana para as crianças se divertirem esse dias, porque a gente não tinha nada para fazer”, comenta o menino.

A ESCOLA QUE RESISTE

A Associação Gira Mundo também foi até as terras que bailam, para firmar compromissos com a educação, que é tão importante naquele lugar. A Escola Bosque, que deve ser vista como o maior patrimônio histórico por ser esteio para os moradores do arquipélago, foi atingida pelo fenômeno das terras caídas – provocado pela erosão – que comprometeu a sua estrutura.

Preocupados com a educação dos bailiquenses, a associação Gira Mundo, em conjunto com Marina Beckman e Rayane Penha, idealizaram a campanha “Bosque Firme no Bailique” com o objetivo de ajudar a reconstruir um lugar de orgulho para os moradores da ilha. Para que o projeto tenha êxito em ver comunidades felizes novamente com uma escola firme, a associação elaborou uma carta compromisso que foi assinada pelo governador eleito, que se comprometeu a reestruturar a escola que é símbolo da educação do Bailique.

A idealizadora da campanha, Marina Beckman, 36, produtora cultural e educadora, lembra do compromisso com a educação. “Construir essa campanha foi firmar uma bandeira de luta em prol da educação e da população do Arquipélago do Bailique”. afirma Marina e complementa “Construir essa campanha é fazer trilhar esse rio, é a imensidão da água em forma de luta e de força para ouvir cada pessoa que por essa escola passou. E a campanha “bosque firme” veio para isso”, finaliza.

Todos que falam sobre a escola, conversam com essa jornalista em formação com brilhos nos olhos. Nas palavras soltas, percebe-se o orgulho e a devoção pela instituição que formou muitos filhos deste distrito. Estudantes, professores e colaboradores esperam e confiam em um futuro grandioso para o colégio.

A professora de filosofia, Gabriela Almeida, desabafa para mim, seus sonhos para a escola, ao ser perguntada como imagina a instituição em cinco anos. “Eu imagino uma escola firme, de pé, que tenha estrutura para receber todos os estudantes, porque eles merecem uma educação de qualidade” fala com esperança a professora.

O QUE RESTA DEPOIS DA BARCA?

Quando a exposição acaba e os artistas começam o desmontar de suas obras, o sentimento de gratidão invade quem residiu naquelas terras por quinze dias. As crianças das comunidades balançam as mãos agitadas como quem diz “espero vocês logo”. E os integrantes da barca retribuem o carinho com o olhar marejado.

Durante toda a exposição fiz a mesma pergunta para cada integrante deste projeto: O que você leva dessa experiência com você? O que te mudou? Apesar das diversas respostas, todos saem da residência com vontade de voltar para continuar projetos intensivos naquele lugar de tanta gente que merece atenção e cuidado. Sebastião Alberto, 29, artista residente, multi artista, falou sobre como sai dessa resiliência “Eu colhi e vou levar muita água, eu deixei muito de mim lá mas também trouxe muito de lá e agora crio possibilidades para retornar. Mas neste momento levo o sorriso e a força daquelas pessoas”, comenta.

Viver o Bailique é avassalador, com o intuito de ir ensinar, quem passa por lá, aprende. A vida é uma troca. Sereia Caranguejo leva dessa experiência olhares e afetos que atravessaram seu ser “Levo comigo a felicidade de ter tocado tantas crianças que para mim são o futuro do planeta, porque elas realmente são”.

O que resta depois da barca, é ter a certeza de que toda vez que a barca passar, novas memórias serão construídas. Como disse o escritor residente Rafael Silva, o Bailique é um universo que nos ensina silenciar para aprender. E partir disso, como pontuou Napoleão Guedes, nos dá a possibilidade de viver um outro modo de vida depois que se passa por lá, sempre pensando em um bom-viver.

Para esta jornalista em formação, o que restou depois da barca foi a vontade de conhecer mais histórias dos moradores daquele lugar e se dedicar em escrever memórias para que jamais esqueçam que o Bailique existe, bem ali, há 12 horas, de Macapá. E que nunca é tarde para olhar com carinho, escutar com atenção os sonhos que entraram na barca. A jovem jornalista que escreve essa reportagem, conta o que viveu com brilho nos olhos e contagiou o seu pai, que deu de presente para ela, para os artistas e para toda associação o poema que termina esta matéria:

Ôh minha querida Bailique
Arquipélago do Amapá
São 12 horas de muitas maresias
Para poder chegar lá
Nesta estrada de águas barrentas
Que fazem o barco balançar
Com o farol da lua que orienta
O caminho pro lugar
Conhecer as comunidades
É o desafio de quem vai lá
Para garantir oportunidade
Com o seu dom de ensinar
Pra ensinar são tantas as formas
Do conhecimento repassar
Seja na arte, na dança e escritura
Seja no amor de educar
E é com essa missão
Que a barca vem sempre pra cá
São 10 anos de dedicação
E de transformar a vida de lá
Venho aqui agradecer ao Raul Zito
E Anali Dupré que foram lá
Fany Magalhães e Rafa Silva
Égua foi show lhes encontrar
Com Rodrigo Abreu e Sebastião
O projeto também pode contar
Com quatro artistas de expressão
Que não mediram esforços pra chegar lá
Débora, Napoleão,Sereia e Mapi
Fizeram ressignificar
A vida daquela gente
De terras caídas do Amapá
Mas não podemos esquecer
De também homenagear
A todos que fazem este projeto
Com o brilho no olhar

Hilton Silva.

Texto: Matéria Brunna Silva.
Fotos: Guto Costa e Dayane Oliveira.
Assessoria de comunicação

Servidor da Universidade é eleito presidente da Academia Amapaense de Letras

O sociólogo, escritor e servidor da Universidade Federal do Amapá (Unifap), Fernando Canto, foi aclamado presidente da Academia Amapaense de Letras (AAL) no último dia 16 de novembro. O professor Paulo Guerra compõe a vice-presidência ao lado de Canto. Ambos são remanescentes do segundo grupo de membros empossados em 1988 (há 34 anos). A cerimônia de posse será no dia 1 de dezembro de 2022. Fernando Canto ocupa a cadeira de número 4 que tem como patrono o ex-deputado Coaracy Nunes.

Como escritor, o imortal da ALL publicou 16 livros de diversos gêneros literários. Também é autor e compositor com mais de 100 músicas gravadas por cantores e compositores locais e regionais. Fernando foi vencedor de inúmeros prêmios literários, de cunho local e regional, com o primeiro lugar no I Concurso de Contos das Universidades do Norte, em 1992, com o conto O Bálsamo. Atualmente desenvolve suas atividades profissionais na Pró-reitoria de Extensão e Ações Comunitárias (Proeac/Unifap).

“Enquanto presidente da ALL, pretendo promover várias atividades literárias entre os acadêmicos e a comunidade leitora do Amapá para que a mesma valorize o trabalho dos acadêmicos”, afirmou o presidente. Seu vice-presidente, professor Paulo Guerra, foi Reitor da Unifap, deputado federal por duas legislaturas, secretário de Educação, suplente de senador e publicou vários livros.

Fernando Carto

Natural de Óbidos-PA e radicado no Amapá desde ainda muito criança. É sociólogo e começou na área cultural como músico e compositor aos 16 anos com participações em festivais de músicas. Hoje é doutor em Sociologia, mestre em desenvolvimento Regional, além de outras três especializações acadêmicas. Casado, 68 anos, técnico da Unifap, tendo exercido diversos cargos, entre os quais o de diretor da Rádio, TV e Editora da Unifap, que montou e gerenciou por 6 anos.

Ascom Unifap

Continuo em frente e com a força de sempre! – Crônica de Elton Tavares – *Do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Ilustração Ronaldo Rony

Eu continuo trabalhando muito, pois adoro minha profissão. Continuo sincero, contudo áspero. Eu continuo diferenciando puxa-sacos de profissionais, apesar de muitos não terem tal discernimento. Eu continuo honesto, apesar das propostas indecorosas. Continuo pobre, contudo sem telhado de vidro ou rabo de palha. Como sempre, não acompanho a moda convencional, mas fico ligado na underground.

Vivo a celebrar minha existência com a família e os amigos. Permaneço bebendo mais que o permitido, mas nunca fui ou sou um bêbado enjoado. Sigo boêmio inveterado, só que muito menos que antigamente. Continuo apaixonado pela boa música, mas extremista com alguns gêneros musicais. Sigo com meu amor pelo Rock and Roll, MPB e Samba. Continuo apaixonado pelo Carnaval, mas só na época mesmo.

Eu continuo exigente, mas sempre à procura da facilidade. Continuo antipático para alguns e paid’égua para a maioria. Continuo assumindo meus erros e brigando pelos meus direitos, custe o que custar. Continuo sem intenção de agradar a todos, mas acertando mais que errando. Ainda sou Flamengo, mas não brigo mais quando o time perde, até dou risada da encheção de saco dos adversários.

Eu continuo tirando barato de erros grotescos, mas aguento as consequências quando falho. Continuo escrevendo, mas com a consciência de nem sempre agradar. Continuo a me irritar com a necessidade de tanta gente de aparecer ou ser admirada, mas não sou totalmente desprovido dessa soberba.

Continuo convivendo com figurões e anônimos, sem deslumbre ou desdém, pois é assim que deve ser. Ainda faço mais amigos que inimigos, apesar dessa segunda lista aumentar consideravelmente a cada ano. Permaneço gordo, feio e arrogante, entretanto, respeitoso, justo, bom de papo e sortudo. Sigo “Eu Futebol Clube”, sem falso altruísmo e sempre aviso: se resolver encarar, é bom se garantir.

Continuo insuportavelmente ranzinza, mas incrivelmente querido pelos meus familiares e verdadeiros amigos. Prossigo acreditando nas pessoas, apesar de elas me decepcionarem sistematicamente. Continuo amando, odiando, ignorando, provocando, aplaudindo e vaiando. E sempre fazendo o que precisa ser feito pra manutenção da minha felicidade e do bem das pessoas que amo, mesmo que seja algo egoísta. Resumindo, continuo correndo atrás e com cada vez mais motivos pra permanecer sorrindo.

Elton Tavares

*Do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Fernando Canto, meu amigo e herói literário, é o novo presidente da Academia Amapaense de Letras – @fernando__canto

Foto da reunião de ontem. Foto: AAL

Ontem (16), Fernando, que é compositor, cantor, músico, jornalista, sociólogo, professor doutor, poeta, contador de histórias, causos e estórias, contista e cronista brilhante, apreciador e incentivador de arte, sociólogo, imortal da Academia Amapaense de Letras (AAL), foi aclamado o novo presidente da AAL.

A escolha se deu em reunião dos acadêmicos, quando os imortais escolheram a nova diretoria da AAL e o seu presidente.

Trata-se de um dos Mestres da Cultura amapaense, pois possui contribuições incalculáveis para a Literatura e para a Música amapaense, da Amazônia e do Brasil. O branco mais preto do Laguinho, bairro que tanto ama, divulga, canta e representa. Além de servidor Doutor da Universidade Federal do Amapá, o cara é a memória das artes tucujus. Ele é um acervo vivo de nossa identidade cultural. E, para mim, o maior escritor vivo do Amapá.

Boemista, amante do carnaval, mocambo, membro fundador do Grupo Pilão e flamenguista, Canto é um escritor “imparável”. Aos 68 anos, ele possui 17 livros publicados (de crônicas, poesia e contos), além de composições autorais e outras com grandes nomes da música amapaense; ensaios teatrais, entre outras incontáveis contribuições para a cultura e resgate histórico do Amapá.

Mais sobre a Academia Amapaense de Letras

Fundada em 21 de junho de 1953, data escolhida por conta de ser o mesmo dia do aniversário do escritor Machado de Assis, a Academia Amapaense de Letras surgiu como uma entidade civil, sem fins lucrativos e com o objetivo de promover o desenvolvimento literário, cultural, científico e artístico do Amapá. Seu primeiro presidente foi o professor de português e literatura Benedito Alves Cardoso. A AAL possui 40 sócios titulares do colegiado (imortais).

A posse da Diretoria aconteceu no dia 5 de julho de 1953, no Cine Teatro Territorial (anexo ao Grupo Escolar Barão do Rio Branco), ocasião em que o Governador Janary Gentil Nunes fez um belo discurso. Por mais de 30 anos o Silogeu ficou desativado, sendo reinstalado em agosto de 1988. Já faleceram 33 dos seus membros.

Eu e Fernando Canto – Foto: Flávio Cavalcante.

Fernando Canto sucede o professor Nilson Montoril de Araújo no cargo, que fez um belo trabalho. Portanto, estou muito feliz pela escolha dos imortais da Literatura local. Sempre digo que o Fernando Canto é o meu herói literário. E o melhor, ele é também meu amigo, o que para mim, é uma honra.

A posse acontecerá no dia 1º de dezembro, ainda sem local e horário definido. Mas é certeza que irei lá abraçar meu amigo Canto, o Fernando mais genial que conheço. Parabéns, mestre. Tu és merecedor. Tenho certeza que será um excelente presidente deste colegiado de literatos!

Elton Tavares – Jornalista e escritor

Conto de Ray Cunha é selecionado para a coletânea Prêmio Off Flip 2022

O escritor amapaense Ray Cunha participa da coletânea de minicontos PRÊMIO OFF FLIP 2022 com NUA. Natural de Macapá/AP, autor de vários livros de poesias e romance, ele vive há muitos anos em Brasília, onde exerce as profissões de jornalista e terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa.

Segue-se a íntegra de NUA:

“Ela nasceu para o esplendor, no seu mundo azul. Desde que nasceu, acompanho seu embelezamento, seus banhos de sol, sua nudez cada vez mais esplendorosa, entregue à brisa, às borboletas, aos beija-flores. Namoro-a em todas as oportunidades. Consciente de que não vivem muito procuro apreciá-la em todos os momentos que posso. Ela não me dá importância, é claro, pois só se importam com o sol, mas deixa que cuide dela. Desconfio que saiba dos meus sentimentos, pois, quando a olho, torna-se ainda mais esplendorosa. Comecei a preparar-me para quando ela se for, e procuro me convencer de que elas ainda me proporcionarão um sem número de emoções. Mas esta é tão divina! Era apenas um tímido botão. Agora, madura, desnudou-se completamente. Sempre que a vejo é como se fosse a primeira vez no abismo do coração, e chego mesmo até a sentir o terremoto do primeiro beijo, dependendo do estado de espírito em que me encontro, por isso, ela nunca murchará na minha lembrança, pois os sentimentos verdadeiros não murcham nunca. Só eu sei o quanto as amo, como sou apaixonado por tudo o que é delas. Acredito, com fé, que elas são portais para a dimensão de Deus, misteriosamente inexpugnáveis na sua fragilidade, e eternas na sua fugacidade. Quando penso que essa rosa colombiana vermelha nasceu no meu jardim vibro de alegria, pois, ao namorá-la, sinto a luz pousar ao meu lado, para montá-la, como se monta o azul, tão azul que sangra.”

Fonte: Blog da Alcinéa.