FELIZ EQUINÓCIO! – Crônica de Fernando Canto – @fernando__canto

Por Fernando Canto

Hoje é dia do Equinócio. Feliz equinócio das flores para todos vocês, amigos e familiares!

O Criador Incriado é tão perfeito que quando fez os planetas e astros lhes dotou de movimentos diversos, inclusive lhe dando equilíbrio, quando a Terra, por exemplo se afasta do sol para realizar os solstícios e, na sua volta, os equinócios. Assim, todos os continentes usufruem quase das mesmas luzes, ainda que tenham características ecológicas e biomas diferentes, como diferentes são os animais e povos que os habitam e deles podem tirar seu sustento.

Foto: Manoel Raimundo Fonseca

Então, o movimento que dá calor aos corpos vivos é eivado do equilíbrio que todos necessitamos para seguir na vida, dar valor à existência e agradecer a deidade sem ficar refém da ciência, pois é uma forma poética e filosófica de tentar entender nossa pequenez diante do universo. Se nem pensarmos nisso, ficaremos eternamente sem sombra. Estaremos sempre a-sombrados diante do caos que se instala ao largo do grande rio da Latitude Zero, semimortos, e com um punhal de luz nas nossas cabeças, quase cegos, suplicando por um eclipse amenizador na linha equinocial.

Foto: Márcia do Carmo

*Equinócio da Primavera ocorrerá exatamente às 16h31 desta quarta-feira (22). A luz do sol ultrapassará a linha imaginária do Equador, no Monumento do Marco Zero. O fenômeno poderá ser visualizado em Macapá, única capital brasileira cortada pela linha que divide a terra em dois hemisférios: Norte e Sul.

O Equinócio de Primavera e o meu amigo Fernando Canto – Crônica de Elton Tavares

Foto: Márcia do Carmo

Em Macapá aconteceu, nesta quarta-feira (22), o Equinócio de Primavera. O fenômeno ocorre duas vezes ao ano, em março batizado como Equinócio das Águas, por conta do aumento do nível das águas e em setembro. O solstício marca o início das estações e faz com que o dia e a noite durem igualmente 12 horas. O segundo equinócio de 2021 acontecerá às 16h31 de hoje. O momento marcará o início da Primavera, em que a terra se inclina fazendo com que a Linha do Equador fique mais próxima da direção do sol.

Em 2012, quando cobri o acontecimento, o Equinócio ocorreu exatamente às 11h49 do dia 22 de setembro daquele ano. A luz do sol ultrapassou a linha imaginária do Equador, por dentro do obelisco do Monumento do Marco Zero. O fenômeno é visualizado em Macapá, única capital brasileira cortada pela linha que divide a terra em dois hemisférios: Norte e Sul. É um belo espetáculo!

Além do calor, show de luzes solares e florescer da natureza, o Equinócio sempre me lembra do amigo Fernando Canto. O escritor, poeta, entre outras tantas coisas porretas, é apaixonado pelo fenômeno natural, como também morre por amores de muitas coisas da nossa Macapá. O amigo até escreveu um livro, em 2004, e o batizou de “EquinoCIO”.

Ilustração de Ronaldo Rony

Dono de frases como: “E cá estou: no mais profundo mar. Sem culpas. Mudando como o sol na manhã de um equinócio da primavera”; “Que o sol em seu esplendor, neste Equinócio de Primavera, nos dê energia para enfrentar o trabalho e iluminar nossos passos pela vida”, “Do outono ou da primavera. Depende de que lado do mundo você está. Escolha o meio” ou parte de um poema: “Ao meio-dia, assombro-me em segredo – Encolhidinho – no equinócio da alma”, Fernando Canto segue a descrever poeticamente o equinócio com mais luz que ele próprio.

Certa vez, pela rede social Facebook, Fernando disse-me: “brother, um bom dia de equinócio pra você. Muita energia e sinta-se A-sombrado (sem-sombra ao meio dia). Constate isso. Acho que da mesma forma como os paraenses saúdam seus conterrâneos dizendo “Bom Círio”, nós, do Amapá deveríamos dizer “Boa Luz para você” ou “Bom equinócio, minha nega”.

Aí pensei: esse cara é mesmo porreta, “fouuuu” (outra expressão dele, que não é “otáro”)!

Ilustração de Ronaldo Rony

Ainda bem que temos muita beleza natural e fenômenos como o equinócio, que acontecem duas vezes ao ano. E ainda melhor que temos pessoas como Fernando Canto, que vivem a cultura e a magia do Amapá e que acontecem o ano todo. Hoje, o espetacular fenômeno rolou às 10h31 (horário de Brasília). Portanto, boa luz pra você!

Elton Tavares

*Crônica do meu livro “Crônicas De Rocha – Sobre bênçãos e canalhices diárias”, que  foi lançado em 2020.

O CÍRCULO – Crônica de Fernando Canto – @fernando__canto

Foto: Floriano Lima.

Crônica de Fernando Canto

Um jovem amigo apresentou-me à sua namorada como se eu fosse o expoente de alguma coisa. Antes, porém, que a conversa continuasse fiz um trocadilho que soou a mim mesmo como uma reflexão para a vida. Disse-lhe então que agora eu era um “ex-poente”, que buscava a alvorada, o nascente, a direção do sol que muitas vezes ignorei, não lhe dando o verdadeiro valor.

Todos nós, quando paramos para pensar melhor, cremos ser verdade que determinado evento pessoal tem o significado do encerramento de um ciclo. E um ciclo não é apenas um período onde ocorrem fatos importantes ou uma série de fenômenos que se sucedem em ordem, como as estações. Um ciclo também é um círculo, ressalvadas as diferentes origens das palavras. Como tal ele tem um simbolismo amplo, algo maior do que aquilo que pensamos ao começarmos a tomar novas atitudes.

O círculo, segundo Champeaux e Sterckx, é um ponto estendido; participa da perfeição do ponto. Os dois possuem propriedades simbólicas comuns: perfeição, homogeneidade, ausência de distinção ou de divisão. O círculo é considerado em sua totalidade indivisa. O movimento circular é perfeito, imutável, sem começo nem fim, e nem variações, o que o habilita a simbolizar o tempo.

Mas há muitas formas de interpretar o círculo: o próprio céu torna-se símbolo, o símbolo do mundo espiritual, invisível e transcendente. Simboliza o céu cósmico nas suas relações com a terra. Para os autores acima citados “o círculo pode simbolizar a divindade considerada não apenas em sua imutabilidade, mas também em sua bondade difundida como origem, substância e consumação de todas as coisas; a tradição cristã dirá: como alfa e ômega”.

Desde a Antiguidade ele tem servido para mostrar a totalidade, a perfeição, englobando o tempo para melhor poder medi-lo. Na Babilônia ele foi dividido em 360º e decomposto em seis segmentos de 60º. Seu nome – shar – designava o universo, o cosmo. Mais tarde dele foi retirada a noção do tempo infinito, cíclico, universal, que foi transmitida através da serpente que morde a própria cauda.

A essa conotação, a serpente Uróboro simboliza um ciclo de evolução encerrado nela mesma. Traz concomitantemente idéias de movimento, de continuidade, de autofecundação e, de eterno retorno.

Mas a serpente não é o círculo, aquele que transcende. Ela, ao morder a própria cauda está condenada a girar sobre si mesma, como a roda. Jamais poderá escapar do seu ciclo para se elevar a um nível superior. Agora, na ânsia de mudar, de começar um novo ciclo, de ir em busca do sol que nasce, me deparo com paradoxos porque as coisas estão escondidas nos raios celestes e no círculo do céu. E coisas não permanecem as mesmas. Como nós elas não são duradouras e estão sempre se tornando outras coisas, outras entidades. Bem disse Heráclito: não podemos entrar duas vezes no mesmo rio.

E como é grande a correnteza dessas águas. Ela guia e move meu caminho ao mar. Mas apesar de tudo esta viagem reflexiva me obriga a perambular pelo albedo da terra em direção ao oriente. Recuso-me ao crepúsculo: sinto-me mudança, conflito e renovação. A cada sete anos revigoro-me na ablução pelo fogo e regenero-me em chips astrais. Sou carbono, gases, água e sonho que não evanesce.

Foto: Márcia do Carmo.

Sim, recuso-me ao crepúsculo, recuso-me ao poente. Rebelo-me contra meus genes e insurjo-me à natureza, pois busco o círculo onde está centrada a árvore da vida. E cá estou: no mais profundo mar. Sem culpas. Mudando como o sol na manhã de um equinócio da primavera.

Fernando Canto

Poesia de agora: Cenário – Lara Utzig (@cantigadeninar)

Cenário

quero a Companhia das Letras
quero letras sem companhia

quero ausência de hierarquia
quero legitimação

quero blog
quero livro

quero virtual
quero físico

quero o marginal
deixando de ser periférico

quero zine
se tornando cânone

quero fanfic
na FLIP

quero sarau
quero bienal

quero autonomia
quero edital

quero independência
quero prêmio

quero o underground
ocupando o mainstream

quero slam
mobilizando multidões

quero um infinito leque
de batalhas de rap

quero escritora
ditando regras à editora

quero troca
quero mercado

quero saída
para essa aporia

utopia
sem degrau
múltiplos passos
em patamar igual
nos diversos espaços
do horizonte plural
que é a literatura

Lara Utzig

Prefácio do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias” – Por Fernando Canto (ontem completou um ano do lançamento da obra)

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Ontem (18), completou um ano do lançamento do meu primeiro livro. Republico o prefácio abaixo, assinado pelo meu amigo Fernando Canto. Pois relembrar é rememorar.

Foto: Flávio Cavalcante.

Prefácio do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Por Fernando Canto

Após a súbita subida dimensional do nosso inesquecível amigo Tãgaha Soares, o Elton Tavares me elegeu para escrever o prefácio do seu primeiro livro de crônicas e contos. Haja responsa.

Já se passaram dois anos, e eu aqui tentando alinhavar umas palavras que coubessem no seu texto carregado de frases insólitas, no conjunto do seu fazer insistente em dar forma e existência a uma produção intelectual que traz a lume no seu famoso site “De Rocha”.

Tagaha Luz, o primeiro incentivador para o livro, que morreu em 2016, no traço de Ronaldo Rony, que ilustrou o livro.

Ao leitor inabitual fica a advertência: você vai encontrar palavras inexistentes, mas deverá compreender o intuito, pois o autor é chegado a um neologismo onde realmente nenhuma palavra cabe, e a gírias atuais, modernas, que pessoas da geração dele se comunicam com libações ao redor de uma cerveja do polo sul. Fica também a informação de que palavras como: ”infetéticos”, “migué”, “tals”, “óquei”, “brodagem”, “caralístico” “paideguice”, “sequelado” e “rabugem” trazem sempre uma boa dosagem de ironia e lirismo, porque, como ele mesmo diz: “Nunca fui convencional”. E sempre que pode reafirma recorrentemente: “É isso!”

Elton Tavares e Fernando Canto, no traço de Ronaldo Rony, que ilustrou o livro.

Nestas crônicas Elton Tavares se exime de toda a responsabilidade textual que venha possibilitar relação com a sua trampagem (O cara é jornalista, brother!). Disso ele se esquiva e mergulha fundo com independência e caráter. E navega por trilhas que abre diuturnamente como o seu peso e coragem, até encontrar outros rumos temáticos. São saborosas observações do cotidiano expressas de forma, diria novamente, inusitadas, dinâmicas e expostas ao sol do equador com seus cabelos-letras-acentos ao vento do Amazonas. Se elas têm sabor, têm cheiro & pele, têm espuma & malte. Têm, sobretudo, a ausência do conservantismo prosaico e das platitudes tão comuns dos que escrevem suas observações cotidianas sem o compromisso com a escritura, ao invés de tê-la como um deleite da vida humana. Por isso elas são irretocáveis no conteúdo e irreverentes, também no endereçamento aos hipócritas.

Fernando Canto e Elton Tavares – Foto: Sharlot Sandin

Creio que as crônicas aqui escritas – muitas delas circunscritas ao Amapá – carregam gestos excruciantes que nos levam a refletir sobre a noção de espaço, pois às vezes temos a intenção de ser espaço. E, por carregarmos muitos vazios dentro de nós, antes e depois do almoço, a intenção é o próprio espaço que esperamos preencher com algo de bom que ficou da nossa vida por um tempo. As crônicas tavarianas me dão esta louca impressão de saciedade, mas depois a fome de ler volta com os cascos, que só pode ser saciada na companhia de uma cerveja bem gelada.

*Quem quiser comprar o livro, ainda tenho poucos exemplares. É só ligar ou mandar mensagem (96-99147-4038).

Elton Tavares

A tacacazeira de olhos ternos e largo sorriso – Por @alcinea

Dona Mangabeira era uma negra de olhar límpido, sorriso largo e dentes tão brancos como os guardanapos de algodão que ela mesma fazia para cobrir as panelas.

Foi uma das primeiras tacacazeiras da cidade. Era do bairro da Favela. Sua banca (naquele tempo não tinha os carrinhos de hoje) era montada na esquina da rua Leopoldo Machado com avenida Almirante Barroso. De longe se sentia o cheiro do tucupi. Esse cheiro dava água na boca atraindo tanta gente para sua banca. O camarão era vermelhinho e o jambu treme-treme.

Aos domingos, a movimentação era bem maior. Era parada obrigatória de quem passava por ali para ir ao estádio Glicério Marques assistir aos clássicos da época.

A todos – autoridade ou peão – Mangabeira atendia com alegria, contava histórias, fazia o tacacá do jeitinho que o freguês pedia.

– Mais goma ou tucupi? Quantas colheres de pimenta? Quer mais jambu?

E o freguês ia dizendo como queria.

De muitos ela sabia o gosto e já nem perguntava.

Contava que meu pai, o poeta e jornalista Alcy Araújo, era o único que tomava tacacá sem goma.

Mangabeira tinha um carinho especial pelas crianças. Para elas servia o tacacá em cuia menor e nada de pimenta.

Às vezes um moleque mais ousado pedia que ela colocasse um pinguinho. E ela, cheia de doçura, respondia: “Meu filho, criança não come pimenta”. E o moleque não insistia. O convencimento, tenho certeza, não era pelas palavras, mas pela doçura com que ela falava.

Além de tacacazeira, Mangabeira era excelente lavadeira. Daquelas que botava a roupa “pra quarar” e engomava usando ferro a carvão. Era também benzedeira, tirava quebranto de criança, fazia banho de cheiro pra curar gripe, catapora e sarampo e chás e garrafadas pra todos os tipos de males.

Mangabeira era uma imagem forte na paisagem do meu bairro e é uma das belas recordações da minha infância.

Alcinéa Cavalcante

A casca e a cultura política – Crônica de Fernando Canto – @fernando__canto (publicação em homenagem ao centenário de Paulo Freire)

É verdade que demora um pouco, mas devagar a gente vai tirando a casca que fica com a prática da profissão. Uma camada fina e imperceptível se enrosca em muitas facetas construídas e solidificadas no dia-a-dia, em função das conclusões que chegamos num esforço profundo: o de tentar ser justo sobre nossas observações.

E a máxima socrática intervém somando-se à presença quase real dos dizeres encontrados no templo de Delfos da Grécia antiga: “eu sei que nada sei”. Mas paralelamente a isso cada qual vai se fartando de conhecimento, se faltando de erros na busca de novas reflexões que a profissão exige até mesmo para a compreensão da realidade de cada um, do que possui ao seu redor.


Ao professor cabe o pragmatismo da educação e uma trajetória profissional na produção acadêmica, na qual eles têm por missão desempenhar papel sócio-político e cultural como contribuição necessária à ordem do ensino, que é formar, ou quem sabe reformar cabeças de novos cidadãos.

A maioria dos profissionais crê que despojar-se do medo da atualização ou de velhos conceitos ideológicos são necessários, e se constituem uma forma de encarar a profissão sem a arrogância do sabe-tudo e, melhor, sem o estigma do radical militante. Reciclar-se também é importante, porque faz parte do negócio. E o negócio é mesmo a negação do ócio. Aliás, é bom que se pense que uma profissão bem exercida e bem conduzida é um caminho para o sucesso material ou financeiro.


Ninguém dá tudo de graça. É preciso merecer e estar bem preparado, porque em cada ramo de atuação todos mergulham, querendo ou não, nas amarras da cultura política, essa rede impressionante que prende e libera nossas ações sociais. Mateucci e Pasquino a definiram como “o conjunto de atitudes, normas e crenças mais ou menos partilhadas pelos membros de uma determinada unidade social”. Ela é composta, portanto, de um conjunto de subculturas presentes nas nossas atitudes, normas e valores, ou seja, no comportamento de indivíduos nas ações coletivas. Diria ainda, neste caso, nas ações dos profissionais que detém os conhecimentos a respeito de si próprios e de seus contextos, de seus símbolos e linguagens utilizadas. Essas culturas formarão novas culturas políticas.

O mestre Paulo Freire afirmou que quando falamos em uma nova cultura política estamos supondo que haja uma velha, o que nos obriga a refletir como se constitui o novo. Para ele toda novidade nasce do corpo de uma ex-novidade que começou a envelhecer. Como elas não surgem por decreto, há uma ligação entre as coisas que vão ficando velhas com as coisas que vão nascendo. Ele destaca que “uma das preocupações daqueles que pretendem transformar a sociedade é exatamente lutar pela novidade, e uma das formas de se engajar nessa luta é buscar diferentes formas de ajuizar a prática política”. (Freire, Paulo. A Constituição de Uma Nova Cultura Política; S. Paulo, Pólis, 1995). E dentre essas exigências cita a coerência entre o discurso e prática, a tolerância e a humildade na vida de todos.

Sem isso, acredito como Freire, que não há formação, ética profissional, educação, e consequentemente construção da cidadania.

 

*Publicação em homenagem ao centenário de Paulo Freire, o “Patrono da Educação Brasileira”, que atuou principalmente na educação de adultos em áreas proletárias de Pernambuco. 

Poesia de agora: Afinal – Lara Utzig (@cantigadeninar)

Afinal

eu vou te amar pra sempre
podes contar comigo sempre
sempre estarei ao teu lado
quero ficar contigo pra sempre
a ternura do eterno:
tensão contratual
[contraste moderno]
quanto tempo dura o pra sempre?
pra sempre é muito tempo.
o tempo do pra sempre
talvez não seja o tempo dos homens.
então por que cargas d’água
sempre juramos pra sempre?
quiçá estejamos sempre
equivocados:
o pra sempre dura
enquanto se sente.

Lara Utzig

Poesia de agora: Sobre o pêndulo que caiu no poço – Lara Utzig (@cantigadeninar)

Sobre o pêndulo que caiu no poço.

Todas as suas razões eu já sei de cor.
De estrela, enfim, tornei-me pó
quando o corvo solenemente crocitou
o trágico destino que não vingou.
And at my chamber door,
assim como Poe escutou,
o anúncio inevitável soou:
Nevermore.

A distância
é uma criança
que cresce, às vezes, em menos de um mês.
Um gesto incontido, algo que você nem fez.
Quando se vê, já é muito tarde,
e a despedida se dá sem qualquer alarde.

Um gato preto cruzou o caminho
mas não o responsabilizo por esse azar.
E agora, persisto, andarilho sozinho
já sem esperanças de recomeçar.
Plantei, num jardim, ilusões com carinho
e de uma semente de amor
brotou uma flor…
Do(f)lorida:
Murchou em 5 dias.

Qual foi meu erro?
Um passo para a liberdade:
Conceito tão vago, um ritual, um enterro?
O nunca dura uma eternidade.

(O poema faz referência a três obras de Edgar Allan Poe: os contos “The Black Cat” e “The Pit and the Pendulum” e o poema “The Raven”).

Lara Utzig

Juvenal Salgado .Canto, maçom decano, lança livro “A Ferra na Marreca”, nesta sexta (17), na Biblioteca Pública Elcy Lacerda

A Academia Amapaense Maçônica de Letras (AAML) promoverá, nesta sexta-feira (17), a partir 19h, na Biblioteca Pública Elcy Lacerda, o lançamento do livro a “A Ferra na Marreca”, de autoria do decano da Loja Maçônica Duque de Caxias, Juvenal Salgado Canto.

Sobre o livro “A Ferra na Marreca”

Na obra que será lançada, o autor convida para uma viagem rumo ao desconhecido, com personagens marcantes, cheios de peculiaridades. “A Ferra na Marreca” é uma obra que mistura fatos e ficção, entre narrativas e descrições, com belas estórias e possibilita conhecer um pouco mais sobre a chegada do autor ao Amapá, tudo narrado sem cortes e com uma linguagem ínsita do próprio Juvenal.

Sobre o autor

Juvenal Salgado Canto nasceu no município de Juruti (PA), em 22 de abril de 1930. No final dos anos 40, migrou para Macapá, capital do então Território Federal do Amapá, criado recentemente e que, na época, oferecia oportunidade para trabalhadores vindos de todos os rincões brasileiros. Começou a trabalhar como funcionário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e depois por conta própria, tornando-se um dos primeiros chauffeures (motoristas de táxi) da cidade.

Em 1950 casou-se com a professora Sol Elarrat Canto, com quem viria a ter quatro filhos homens e uma filha, adotiva. Fundou e foi o primeiro presidente da União dos Motoristas do Amapá, tendo lançado a pedra fundamental e construído a sede própria da categoria.

Com o decorrer do tempo tornou-se um empresário muito bem-sucedido nas áreas do comércio, comunicação, autoescola, olaria, criação de gado, serviços, etc.

Juvenal entrou na carreira política e foi vereador atuante na Câmara de Vereadores de Macapá por dez anos (uma legislatura de quatro anos e outra de seis, no período de mudança das datas de eleição, 1978-1988).

Pertence à Loja Maçônica Duque de Caxias Nº 01 – Macapá-AP, filiada à Grande Loja do Amapá, onde foi iniciado em 30 de julho de 1955, fez sua elevação em 11 de março de 1956 e foi exaltado como M.: M.: em 30 de junho de 1956.

Em 2014, foi eleito para a cadeira nº 33 da Academia Amapaense Maçônica de Letras, cujo patrono no Silogeu é Hermes da Fonseca.

Juvenal Canto publicou diversos artigos e crônicas em jornais de Macapá. Em 2019, lançou o livro “Do filete d’água ao mar – Viagens Memoriais e Imaginárias de um Ribeirinho Amazônico”, obra que conta suas memórias pessoais e familiares.

Hoje, continua na ativa como empresário e está sempre rodeado de amigos e parentes exercitando o seu talento como cantor e tocador de violão, em rodadas onde não faltam a alegria, uma boa cachaça e a famosa farofa de piracuí preparada por ele.

Serviço:

Lançamento do “A Ferra na Marreca”, de Juvenal Canto
Data: 17 de setembro de 2021 – Sexta-feira.
Horário: 19h
Local: Biblioteca Elcy Lacerda, que fica na Rua São José, 1800, centro de Macapá.
Entrada: franca.
Realização: Academia Amapaense Maçônica de Letras (AAML)

Elton Tavares, com informações de Pedro Velleda, Ulysses dos Santos e Fernando Canto.

Poema de agora: Observação – Valoroso Cão  (Em homenagem ao meu velho cão, outrora feroz e aguerrido) – Luiz Jorge Ferreira

Foto: Luiz Jorge Ferreira

Observação – Valoroso Cão

Por cima do peitoral da janela
Olha o tempo sentado na calçada defronte.
Fareja seu cheiro azedo de Ontem.
Sobe e desce várias vezes as escadas imóveis.
Olha as janelas…ouve sons vindo do nada, e escuta os Anjos passando para Viena entre Valsas suaves e agitados Carimbós…
Por fim vencido pelo sonho anterior do sono da primeira parte da noite…
Tomba derrotado então pela sonolência da segunda parte…em plena a madrugada de Osasco.

Fotografo…e mando para que se reproduza o empenho de um cão.
Cujo os latidos acompanham os anos que passam a galope pela frente da porta, na quietude da Rua Virgínia Marcucci Garcia …1998.

Luiz Jorge Ferreira  (em homenagem ao meu velho cão, outrora feroz e aguerrido)

 

*Osasco (SP) – SP – 15.09.2021

Poesia de agora: Entre o Humano e o Divino – Lara Utzig – (@cantigadeninar)

Entre o Humano e o Divino

Ciente da minha condição humana,
Não temo, pois não há razão para medo:
Desde muito cedo,
Aprendi a respeitar Deus.
E, sabendo que o amor é divino,
Nutro em mim sentimento infinito
Que, de dentro pra fora, cresce.
Meu peito se expande de leste a oeste
E, por amar com a fé de quem faz uma prece,
Sigo doando abraços que não se medem:
Assim, fico mais perto do céu.

Lara Utzig

Poesia de agora: Extra – @juliomiragaia

Extra

Quanto que cabe de fome
Nessa fria e exclusiva
Promoção de osso?

Quanto que cabe de osso
Na sopa de fome
Desse prato de exclusão?

Quanto que custa
A promoção no estômago
Nesse deserto de feijão?

Quanto que sobra
Nesse deserto de bolso
Do osso da gasolina?
Do osso da conta de luz?

Júlio Miragaia