Poema de agora: BRASILEIRO –  Pat Andrade

BRASILEIRO

até ontem
eu estava empregado
era humilhante
mas tinha um trabalho

um salário de fome
mal dava pra comer
uma novela pra receber
todo mês um atraso
toda hora uma bronca
toda semana uma desculpa
vai acabar o contrato
não veio o repasse
são tempos de crise
eu que entenda
eu que aceite
se não quiser
há quem precise

humilhação todo dia
mas eu tinha um trabalho

tenho família
que mora comigo
mulher e três filhos
mais minha sogra
e um cachorrinho
fui demitido
por causa da pandemia

hoje padeço na fila do banco
sem trabalho sem perspectiva
continuo humilhado

agora sou só mais um dado
incluído nas estatísticas

Pat Andrade

Poesia de agora: MARTE? NÃO VOU! – Alcinéa Cavalcante – @alcinea

MARTE? NÃO VOU!

Não, meu bem.
Desta vez não vou contigo.
Marte não me seduz.
A água de lá não tem cheiro de mururé.

Em Marte, meu bem,não tem flores,
Logo não tem beija-flor.
Não tem mangueiras,
logo não tem aquela algazarra de periquitos
que inebria o poeta Fernando Canto.

Não tem praças, música, livros, papel e caneta.
Não tem poesia nem poetas.

Li no jornal que os habitantes de lá
tem voz metálica,corpo engraçado
e cara esquisita.
São todos verdes, todos idênticos, todos estranhos.

Você quer ficar verde de susto, meu bem?
Eu não.

(Alcinéa Cavalcante)

A Santa Inquisição do Fofão – Crônica de Elton Tavares (ilustrada por Ronaldo Rony)

Lembro-me bem, no início dos anos 90, do pânico em Macapá causado por um boato “satânico”. Espalhou-se que teria uma adaga ou punhal dentro do boneco do personagem Fofão, por conta de um suposto pacto demoníaco com o “Coisa Ruim”, feito pelo criador do personagem.

Iniciou-se uma caça, sem precedentes, aos brinquedos.

Uma espécie de “Santa Inquisição”.

De certa forma, parte da população embarcou na nova lenda “modinha” e os fofões foram trucidados por conta de um mero boato.

Meu irmão e eu vitimamos alguns fofões que pertenciam às nossas primas (prima sempre tinha Fofão, boneca da Xuxa ou Barbie). Na época, muitos diziam que ouviram do vizinho do “fulano”, que uma pessoa tinha sido assassinada por um dos então apavorantes bochechudos de brinquedo.

O Fofão tinha uma cara enrugada, era tosco, usava uma roupa parecida com a do Chucky (o Brinquedo Assassino), e dentro ainda tinha uma haste (punhal) de plástico, que era usado para manter o seu pescoço em pé.

Realmente os fatos estavam contra ele.

Houve até queima dos portadores do mal, em praça pública. Sim! Naquela praça que ficava em frente ao cemitério São José, que hoje abriga a Catedral, homônima ao espaço reservado aos que já passaram desta para melhor.

Na verdade, comprovou-se que o fato não passou de um golpe de marketing, pois muita gente comprou só para conferir e, em seguida, destruir o brinquedo. Coisas como o lance das músicas da Xuxa que, como se falou na mesma época, se tocadas ao contrário, continham mensagens do diabo.

Hilário!

Foi muito divertido, confesso. Ateei fogo em vários fofões, e foi muito melhor do que a época junina. A maioria dos moleques adorou e grande parte das meninas chorou a partida daquele tão querido brinquedo.

Concordo com o dramaturgo inglês, William Shakespeare, quando disse: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que explica a nossa vã filosofia”, mas não neste caso. Porém, o episódio do Fofão foi uma histeria generalizada entre a molecada e virou mais uma piada verídica da nossa linda juventude, uma espécie de Santa Inquisição dos brinquedos.

Elton Tavares

Livro “Ifap – 10 anos” será lançado em transmissão ao vivo

Servidores, alunos e ex-alunos assinam artigos que compõem a publicação sobre a história da instituição a partir das primeiras turmas abertas

Criado em 2008, o Instituto Federal do Amapá (Ifap) completou 10 anos de pleno funcionamento, ou seja, da abertura das primeiras turmas de alunos, em 2020. Esse período de avanço na educação pública e profissional do Amapá resultou na formação de milhares de profissionais de nível técnico e superior, produção de pesquisas e ações de extensão. Um espelho dessa história pode ser conferido no livro “Ifap – 10 anos de trajetória, desafios, progresso científico, tecnológico e educacional no Amapá”, que será lançado no dia 11 de agosto, durante uma transmissão ao vivo (live), a partir das 17 horas, pela página do Ifap no Facebook.

Haverá a participação da reitora Marialva Almeida, do pró-reitor de Extensão, Pesquisa, Pós-graduação e Inovação, Romaro Antonio Silva, e da organizadora da obra, Flávia Karolina Lima, com mediação de Welber Carlos, membro do Conselho Editorial da Editora do Ifap (Edifap), além da exibição de vídeos dos ex alunos Larissa Mascarenhas Coelho, Marlon Dias de Souza, Natália Eduarda da Silva e Rodolfo Carmo de Souza Leite, que são coautores de alguns dos artigos que compõem a publicação.

Editado pela Edifap, o livro “Ifap – 10 anos de trajetória, desafios, progresso científico, tecnológico e educacional no Amapá” foi produzido a partir da Chamada Pública nº 11/2020 Edifap/Proeppi/Ifap, para selecionar os artigos, que passaram por um processo de avaliação feito por pareceristas externos. Feito em e-book, está disponibilizado gratuitamente no portal institucional. O livro em formato físico está em processo de impressão por empresa contratada pelo Ifap.

“Este livro se instaura para ficar ao publicizar histórias, pesquisas e produtos que fazem parte da educação profissional no Amapá. É dentro desta essência que as histórias contadas retratam desde a construção do conhecimento no dia a dia da sala de aula até as descobertas que o ensino, a pesquisa e a extensão têm feito. E fazer isso de forma cada vez mais inclusiva, garantindo assim o acesso, a permanência e o sucesso a todos os que adentram”, afirma a reitora Marialva Almeida.

A obra conta com 24 autores, entre eles servidores, estudantes, ex-estudantes, que concretizaram o objetivo do livro, que foi o de registrar algumas ações desenvolvidas no âmbito do ensino, pesquisa e extensão, no período de 2010 a 2020, período de 10 anos de atividade de ensino do Instituto Federal do Amapá. “Essa história passa a ser apresentada através de relatos de servidores, alunos e ex-alunos. Uma obra construída por várias mãos. Aos nossos leitores eu desejo uma imensa leitura, para que a gente tenha sempre esse marco temporal muito bem registrado”, salienta o pró-reitor Romaro Antonio Silva.

Capítulos

O livro começa com o capítulo “O uso de metodologias ativas no ensino de língua inglesa no Ifap: a construção de museu cultural”, de autoria da professora Aldina Tatiana Silva Pereira e dos alunos Marlon Dias de Souza e Iveline Silva dos Santos. Este artigo mostra a investigação sobre a eficácia da utilização de metodologias ativas em aulas de língua inglesa para aquisição da língua-alvo, na primeira turma do curso técnico integrado em Agropecuária no Campus Agrícola Porto Grande.

No segundo capítulo, o professor Ronne Franklim Carvalho Dias relata experiências de ensino baseadas em produções artísticas de alunos e fundamentadas por uma cultura visual local amapaense no contexto da educação profissional, no artigo “Ensino de arte e processos de ressignificação na educação profissional”.

Em “Cinemath: conceitos matemáticos relacionados a sétima arte”¸ a professora Adriana Lucena Sales e os ex-alunos Jenny Fernanda Maciel Quaresma e Thiago Victor Ferreira de Oliveira apresentam os conceitos matemáticos relacionados ao cinema por meio do projeto Cinemath, apresentado em 2017 na IV Feira Amapaense de Matemática (Feamat).

O quarto capítulo, “Concepções dos professores de matemática do Instituto Federal do Amapá – Ifap: a elaboração de sequências didáticas como subsídios metodológicos no processo de aprendizagem matemática na educação básica”, escrito pela ex-aluna Larissa Mascarenhas Coelho e pelo professor Romaro Antonio Silva, marca a história da Licenciatura em Matemática por ser o primeiro Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) defendido no curso. A pesquisa teve como objetivo resgatar as concepções de professores da disciplina de matemática, que lecionam na educação básica, quanto a relevância da utilização/elaboração de sequências didáticas na educação matemática, além de suas reflexões acerca do tema proposto.

O artigo da professora Édna Socorro Dias Coelho, “Aula de campo como estratégia de ensino-aprendizagem: no ensino da contabilidade rural”, está no quinto capítulo e propõe destacar a importância da aula de campo no ensino da contabilidade rural. A experiência de ensino foi desenvolvida com alunos do curso técnico em Agronegócio, do Campus Agrícola Porto Grande, na modalidade PROEJA (Educação de Jovens e Adultos).

Os professores Cleber Macedo de Oliveira e Ana Maria Guimarães Bernardo e os ex-alunos Janivan Fernandes Suassuna e Flaviana Gonçalves da Silva, no artigo intitulado “Extensionismo e pandemia: uma experiência virtual no Instituto Federal do Amapá”, apresentam os resultados do projeto de extensão “Agro em Debate” desenvolvido no Campus Agrícola Porto Grande, durante a pandemia da Covid 2019. Esse projeto teve como finalidade debater temas relevantes da área de agronomia, além de estimular o vínculo entre a instituição e a comunidade acadêmica para além do ensino.

Em “Empreendedorismo de base sustentável na Amazônia: agregando valor ao óleo de andiroba em comunidade ribeirinha do Amapá”, sétimo capítulo, a professora Adriana Lucena de Sales e os alunos Rodolfo Carmo de Souza Leite, Samyla Vieira Dias verificam a viabilidade socioeconômica da produção de cosméticos a base de produtos florestais não madeireiros (sabonete de andiroba) por comunidade ribeirinha que já possui a prática da extração de óleo de andiroba.

No oitavo capítulo, “IFMaker Fronteira Norte: um relato de experiência na Amazônia amapaense”, os servidores Leandro Gomes de Oliveira, Lidiane de Vilhena Amanajás Miranda, Mayara Priscila Reis da Costa e Marcos Almeida da Costa relatam a experiência do processo de aprovação para implantação de um Laboratório IFMaker no campus avançado Oiapoque, financiado pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (Setec/MEC).

O livro encerra com a contribuição dos pedagogos Anilda Carmen da Silva Jardim, Cristiane da Costa Lobato e Pedro Clei Sanches Macedo, com o artigo intitulado “A atuação do Técnico em Assuntos Educacionais no âmbito da assistência estudantil do Instituto Federal do Amapá”, em que os autores apontam os resultados da investigação sobre o papel do técnico em Assuntos Educacionais no contexto dos Institutos Federais, destacando sua atuação na assistência estudantil para a implementação de projetos e programas voltados para o atendimento de estudantes em processo de formação acadêmica e profissional.

Serviço:

Suely Leitão, jornalista da Reitoria
Diretoria de Comunicação – Dicom
Instituto Federal do Amapá (Ifap)
E-mail: [email protected]

Poesia de agora: Distraída – Jaci Rocha

Distraída

Longe das ordinariedades
De um cotidiano pálido
Distante dos homens de palavra
Que falam e andam
costas envergadas por pesadas pastas

distraída de relatórios e notas explicativas
que delimitam fácil demais o sentido da vida
Afastada demais das Societés e suas comunhões
– O par a par da confraria de múltiplas convenções –

A poeta olha o céu.

Bebe água quando sente sede
Abraça p´ra doar calor
Molha os olhos quando sente dor
Ri, conversa com crianças
E gosta de ser e se vestir de amor…

Distante das esfinges de pedra
Que observam a vida sem deslumbre
Quase com desdém
desentendida de quem passa sem surpresa
Por canteiros e esquinas

Alheia às ilusões de poder
Que abrilham-se em mentes pequenas
e às vidas que antes do riso pedem identificação
num tipo de quid pro co
que ordinariza a emoção

– A Poeta olha o céu.

Gosta da vida e aprecia ser viva
Da luz das flores e das coisas coloridas
Aprecia o som da brisa e o sopro do vento
Segue distraída, entre sonhos, luz
fé e movimento.

Jaci Rocha

Olimpíada despertando o que há na memória de uma quase atleta de voleibol – Crônica porreta de Gilvana Santos

A então jogadora de vôlei Gilvana Santos, de camiseta branca, do lado esquerdo da foto – Imagem: arquivo familiar.

Crônica de Gilvana Santos

As Olimpíadas de Tóquio chegaram ao final neste domingo (8), e para nós brasileiros a participação do país podia ter sido fechada com chave de ouro, mas não foi possível. A nossa última chance de ganhar a medalha mais cobiçada tinha que ser em um esporte que caiu no gosto popular, o voleibol. Não deu ouro para a seleção feminina de vôlei, ficou na prata, mas valeu para reavivar nas memórias as minhas incursões e tentativas vãs de me tornar uma atleta de vôlei.

O gosto pela modalidade começou na minha adolescência, nos anos 80, por influência dos meus irmãos Clemerson e Girlane, jogavam vólei. Eu sonhava em ser da Seleção Amapaense de Vôlei para disputar os Jogos Escolares Brasileiros (JEBs).

À época, pensar em viajar para outro Estado era quase impossível, devido às dificuldades financeiras. Meu pai Marçal Batista trabalhava no INCRA e minha mãe Maria Juracy era costureira, para ajudar no sustento dos cinco filhos, porque a grana nunca sobrava, pelo contrário. Nossa vida só melhorou depois que mamãe passou no concurso público da Justiça Federal, de onde é aposentada.

Então, passei a enxergar no vôlei um meio de conhecer outras cidades, com pessoas e culturas diferentes. A prática era incentivada nas aulas de educação física do extinto Território Federal do Amapá.  Clemerson e Girlane estudavam no CA, enquanto que eu e Girlei estudávamos no GM, onde por sorte, tinha uma das melhores treinadoras de vôlei do Amapá, a professora Marli Gibson. Com ela aprendi as técnicas do esporte, o difícil era colocar em prática (risos), mas ainda consegui participar de alguns jogos (foto).

A então dançaria Gilvana Santos, de preto, no centro da foto – Imagem: arquivo familiar.

Nesse período, também houve um grande impulso com a inauguração das quadras de voleibol e basquete na Praça do Barão, no Centro. Era perto de casa, no Laguinho, e todo final de tarde eu ia com minhas irmãs Girlane e Girlei, sempre acompanhadas do Clemerson para tentar uma vaga em um dos times formados para as disputas que se formavam naquele espaço. Meu irmão era da elite, junto com o Bianor, Alcinão e Negrão, só pra citar os que eram mais próximos da família. Era uma festa, juntava os melhores jogadores de todos os bairros. Na “grade” iam formando os times para disputar com os vencedores, e eu, claro, nunca era escolhida porque não tinha domínio da bola (ô coisa difícil essa tal recepção do saque).

Gente, já deu para perceber que eu fui uma péssima jogadora de vôlei, mas tentei, tentei muito. Entrei na escolinha da Marli, que treinava seu time no Ginásio Avertino Ramos. Os treinos eram um sobe e desce interminável das arquibancadas e muita repetição, mas apesar de ser uma levantadora mediana, eu era péssima na recepção, daí não tinha jogo. E o saque? Meu Deus, o meu saque era horrível, dando soquinho embaixo da bola kkkkkkkkkkkk Era tão ruim que a Marli, que também era professora e organizadora das apresentações de dança, na qual eu era beeemmmm melhor, chegou ao ponto de pedir, quase implorando, que eu permanecesse somente no grupo de dança.

Mesmo com esse desempenho sofrível, eu insisti, e ainda consegui ganhar uma medalha, foi no Torneio de Calouros do Cesep – atual Unama, em Belém-PA. Eu organizei o time das alunas do Curso de Economia e também era a capitã. Fizemos a final contra as meninas de Arquitetura, um monte de patricinha, e nós éramos meras mortais, que com humildade levamos o torneio. Claro que para ganhar eu tive que me colocar na reserva e fiquei só administrando de fora do campo.  Não tenho fotos, mas tenho uma testemunha de Macapá, a querida Jacira Gomes, uma das atacantes que fez a diferença nessa conquista.

É meus amigos, vida de atleta não é fácil, ainda mais quando não se tem o talento para a coisa. Então, que esse artigo ajude na reflexão que a Olimpíada de Tóquio deixa, não julgue aqueles que não tiveram êxito, pois só de chegar na disputa já é uma grande conquista. Parabéns aos nossos representantes, e especialmente parabéns às meninas do vôlei, que mesmo desacreditadas, subiram no pódio e ganharam a medalha de prata. Eu? Bem, vou continuar me aventurando, sempre que possível, a bater uma bolinha.

*Gilvana Santos é jornalista, assessora de comunicação e querida amiga medalhista de ouro nas olimpíadas dos corações de seus amigos como eu. (Elton Tavares). 

Pai não parta – Carta de recebida pelo Luiz Jorge Ferreira…De seu filho Luiz Henrique Quando do lançamento do Livro Signo do Sol

Escritor Luiz Jorge e sua filha – Arquivo de família.

Pai não parta

Pai não parta. Se for, para onde ficará seus ideais?
Qual filho irá ser o que mais te lembrará.
Qual irá ver velhos amigos de seu pai falarem, você se parece tanto com ele.
Que chega abalar a mente e o coração do velho Senhor.

As memorias e os sentimentos sempre estarão guardados.
Mas o choque será tão forte que nem filhos nem mulheres, iriam se adaptar.
Um mundo sem um bom Medico, Filosofo e um ótimo pai.
Logico que a diferença estará em meu sangue e nos dos irmãos.

Para se adaptar é melhor dizer para os netos, que o avó foi repousar em seu sofá e lá permanecerá.
Falando em sofá, aquele será o Meu sofá daqui uns anos, meu filhos iram deitar e pensar…
O vô deitava aqui, será que ele achava confortável ?
Eu irei dizer, não importa o lugar em que você se deita, mas se você está se sentido bem, o lugar se torna um paraíso.

Não sou bom para escrever, como queria ser pai.
Mas aos anos vou aprendendo.
Falando em aprender nada melhor que ser Medico & Poeta.
Ser o filho que deixou seu pai orgulhoso e de que seguiu o Negocio da família.

Trabalhando e com uma foto de lado com a imagem de meu pai.
Lembrando seus ensinamento e conselhos, que por não ter um pai presente.
Mesmo longe do filho, fazia o máximo para estar presente.
Pegando uma longa estrada, na chuva e no sol. Para passar 2 horas com o seu filho caçula.

Para outras pessoas isso é cansativo, mas para o Luiz Jorge é a felicidade.
Ver seu filho crescendo e passando ele, com seu 1,60 de altura.
E um grande coração. Contando piadas e historias de antigamente.
Que o filho lembra todas elas, mesmo sendo varias e repetidas.

Daria um enorme livro sua vida, seus conselhos, ensinamentos.
Mas não são todos que precisão saber quem é você ou o que você fez, ou foi reconhecido.
Quem precisa saber são seus filhos, que por não se verem muito, uma coisa os ligam.
Seu pai, que quando partir irá dizer, não se afastem, família é tudo, já que só tive uma mãe.

Escritor Luiz Jorge e seu filho – Arquivo de família.

De valor para suas mães, por que ela não é eterna, cuide dela até o final.
E não conte para seus filhos, pois se você já ficou triste com a perda, seus filhos vão ficar triste também.
E a tristeza deles será a pior coisa do mundo, você não aguenta a sua imagine aguentar a deles ?
Siga em frente, tudo está normal, ninguém vê sua dor, ninguém imagina.

Quem diria que um pequeno homem, guardaria tanta coisa dentro de si. Não poderia ser apagada simplesmente.
Mas toda noite irei olhar para o céu e dizer, Obrigado pai por existir e me criar, me tornar melhor.
Dar uma vida melhor para minha mãe, que não tinha nada, só tinha você.
Que por acaso lhe deu um filho, amor, carinho e logico, uma vida boa para ambos.

Tudo em torno de você fica mais feliz, você faz as pessoas feliz, mesmo do seu jeito engraçado e palhaço.
As vezes bravo por telefone, mas diz não estar.
Ligando para a escola perguntando se o Filho está indo ou faltando.
Lhe dando dinheiro quando vai embora, lhe dizendo para usar com sabedoria.

Como a vida é engraçada, aqui estou eu escrevendo sobre sua vida.
Não sou bom em terminar as coisas, não termino nunca bem.
Mas eu acredito que não há outro modo, não existe outro te terminar.
Então ai está. Eu lhe amo pai. Você será eterno e sempre será lembrado por todos e por mim, não mude jamais.

*Carta recebida pelo Luiz Jorge Ferreira…De seu filho Luiz Henrique no lançamento do Livro Signo do Sol – Editora Rumo Editorial…2014….Osasco…São Paulo.

Meu inferno – Crônica infernal, mas bem humorada, de Elton Tavares – Ilustrada por Ronaldo Rony

Acho que se existir inferno, coisa que duvido muito, cada alma pecadora tem um desses locais de pagamento de dívidas de acordo com suas ojerizas. Nada como no clássico da literatura “A Divina Comédia”, o inferno do escritor italiano Dante Alighieri, que escreveu sobre os nove andares até a casa do “Coisa Ruim”.

Quem nunca imaginou como seria o Inferno? Como seríamos castigados por nossos pecados? Volto a dizer, pra mim o inferno é aqui mesmo. Mas vou pontuar algumas coisas que teriam no meu, se ele está mesmo a minha espera.

Bom, meu inferno deve ser quente. Não tô falando das labaredas eternas com o Coisa Ruim me açoitando pela eternidade. Não. Esse é o inferno mitológico e ampliado da imaginação religiosa. Falo de calor mesmo, tipo Macapá de agosto a dezembro, com quase 40° de temperatura (a sensação térmica sempre ultrapassa isso no couro da gente) e sem ar-condicionado.

Neste inferno, todo mundo é fitness, come coisas saudáveis e é politicamente correto. Meu inferno tem gente falsa, invejosa, amarga, que destila veneno por trás de sorrisos. Ah, meu inferno tem incompetentes, puxa-sacos, gente de costa quente que conta do padrinho que o indicou. E pior, neste inferno sou obrigado a conviver com elas diariamente.

No meu inferno tem gente que atrasa, que me deixa esperando por horas. Ah, lá tem caloteiros e enrolões, daqueles que demoram a pagar serviço prestado por várias razões inventadas.

Neste inferno moldado a mim tem parente pedinchão, “amigo” aproveitador, filas e mais filas para tudo. Tem também muita etiqueta e formalidades hipócritas. E também todo tipo de “ajuda” com segundas intenções. De “boas intenções” o inferno tá cheio.

Neste lugar horrendo só vivo para trabalhar, estou sempre sem dinheiro, sem sexo, sem internet e sem cerveja. Nó máximo Kaiser, aquela cerva infernal de ruim. No meu inferno toca brega, pagode e sertanejo sem parar.

Eu sei, leitor, que devo agora estar lhe aborrecendo. Mas perdoe-me, esta alma é chata e sentimental. Às vezes vivemos infernos mesmo no cotidiano, pois vira e mexe essas coisas aí rolam. Por isso dizem que o inferno é aqui. Ou como explicou o filósofo francês Jean-Paul Sartre, na obra “O Ser e o nada”: o inferno são os outros. É por aí mesmo.

Ainda bem que tenho uma sorte dos diabos e Deus é meu brother, pois consegue me livrar dos perigos destes possíveis infernos cotidianos e nunca fará com que tudo isso descrito acima ocorra por toda a eternidade. No máximo, de vez em quando, para que eu pague meus pecadinhos neste plano (risos).

Esse devaneio deve ser por conta do “inferno astral”, vivido sempre próximo de meu aniversário. Mas volto a dizer, este seria mais ou menos o MEU inferno. Como seria o seu?

Elton Tavares

*Do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Poesia de agora: Poetas – Marven Junius Franklin

Imagem: Logan Zillmer

Poetas

avalio que os poetas
são despojadas criaturas aladas
que habitam mundos isomorfos
e vez ou outra
Declinam a dois palmos do chão
[ao modo terrestre]

emanam em busca de suas Pasárgadas estilhaçadas
só assim são notados
e geralmente correndo atrás
de estrelas cadentes
[repousando exaustos]
no sopé
de singelas
auroras boreais

assim mano Benny
somos na verdade viajantes atemporais
nos iludindo com fantasmagóricos
moinhos de vento
que surgem [aleatórios] por trás de
suntuosos castelos de brisa

Marven Junius Franklin

Poesia de agora: Velhos & Novos – Jaci Rocha

Velhos & Novos

( ” por amor às causas perdidas”)

É demodé escrever à mão
Ouvir uma canção do Ney
Está ultrapassado, e, do outro lado
Ninguém acredita em papai Noel…

Dizem que daqui a 1000 anos
Ninguém saberá dizer ” te amo”
Não haverá camada de ozônio
E seremos alienígenas de nós…

Não existirá papel marché
Coisas que existem apenas para deleite
Como riso, teatro, sorvete
Ou bichos sentimentais,

Bichos como eu e como tu
São coisas esquisitas
Que pedem guarida
À memórias escritas com a tinta da emoção …

E, de antemão
Desistiram de fazer parte
Do dia a dia que arde
No calendário seco
Da modernidade

Perdem tempo – e ganham vida
Com a luz estonteante das estrelas
Brincam de escrever poemas
E escrever na areia
Mensagens de amor…

Jaci Rocha

Poesia de agora: Sobre as bênçãos – Jaci Rocha

Sobre as bênçãos

Eu e Deus

O universo respira em paz,
O vento sopra as novidades
eu, o espaço, os sons do chão e do céu…

Eu e Deus

e o fuxicar das flores,
do jardim ao mundo afora
o farfalhar alegre das árvores
Dizem em alto e bom som

‘ isso vai passar…’

A natureza sabiamente
Não deixou de trabalhar
Para a beleza do todo
E isso é um afago, uma certeza

-e um consolo!-

é também uma grande responsabilidade
enquanto a vida trabalha e faz sua arte
Para o grande milagre
é preciso cooperar…

E isso é forte. É suave e diário
Feito a asa de uma borboleta!
O efeito do ‘eu’ sobre o ‘alheio’
tem a exatidão do nosso – redondo e cíclico- planeta

Eu e Deus
nos entendemos bem!

E ele fala, nas mais belas lições – feito Francisco
E assim, a vida é mais do que um risco:
é um rio, um abraço,
cachoeira de bênção que cai macia, sobre mim….

Jaci Rocha

Poesia de agora: Saudade – Luiz Jorge Ferreira

Saudade

Tu precisas te tratar desta saudade.
Tu precisas deixar de mergulhar os olhos neste monte de lágrimas.
Hoje é Domingo!
Tu precisas deixar de arrumar delicadamente quase todos os dias, a roupa do teu filho que já cresceu.
Tu precisas deixar de recordar beijos e abraços, entremeados de adeus.
Tu precisas olhar a chuva caindo como coisa feita para molhar os jardins, e não barulho, que adormeça a alma.

Hoje é Domingo.

Tu precisas cantar as Canções antigas, sem dançar com o tempo.
O tempo já fez seu caminho, e o que ficou nas fotos, foram sorrisos felizes, e cabelos em desalinho.

Tu precisas ficar de bem, com o hoje.
Tu precisas encontrar contigo, ali , saindo correndo da escola, ou na mesa tosca do bar de sempre, batucando com os dedos um antigo Samba…

Aqui em Outubro, o Domingo se espreguiça…
E boceja.
A vida não esta, corre sem dar tréguas.
Égua, mano, que lindo!
Tu precisas te tratar desta saudade.

Luiz Jorge Ferreira

 

*Do livro “Nunca mais sairei de mim, sem levar as asas”.

Poesia de agora: Depois da Travessia – Fernando Canto

Depois da Travessia

Aqui o estreito:
Como as ruas da tua mãe europeia,
Como o rastro da lendária cobra
A apaziguar-se lentamente
Ao sonho de tuas construções.

Ainda agora velhos aposentos aconchegam
As mãos que brindam

O cálice do vinho/ o púcaro/ a xícara
A chávena de louça, cristais e porcelanas
Tilintantes ao som de um novo tempo

Como a flor do bougainville nos jardins
Brotando sob a lua cheia.

Fernando Canto

Corra riscos e viva! – Crônica de Elton Tavares

Podem até me chamar de tolo, mas corro riscos. A prudência é necessária, mas em algumas situações da vida, se jogar é fundamental. Pior é se arrepender do que não fez, do que não tentou.

Não guarde os sonhos e os desejos na gaveta. Se envolva, encare, caia dentro, se exponha, corra o risco de viver algo intenso. Se fracassar, paciência. Melhor do que viver com medo de tentar ser feliz de verdade.

Sofrimentos, raiva, desilusões, e daí? Correr riscos faz parte da coisa toda chamada vida. O maior perigo é não arriscar nada e viver pela metade.

Tem gente que vive e tem gente que só existe. Quem não corre riscos vive. É melhor que ser um covarde acomodado. Não, verdade, não é nada. Às vezes, demora, mas a gente entende.

Como disse Vinícius de Moraes: “quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu”. Portanto, corra os riscos e viva!

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em 2020.