Macapá 262 anos: missa, encontro das bandeiras e cortejo do Banzeiro Brilho de Fogo marcam manhã de festa na cidade

O batuque das caixas de Marabaixo animou a manhã em Macapá. A cidade já amanheceu em festa nesta terça-feira, 4 de fevereiro. As comemorações iniciaram cedo com a salva de canhões na Fortaleza de São José e seguiram com a missa em ação de graças, encontro das bandeiras e cortejo do Banzeiro Brilho de Fogo da igreja de São José até a Praça Floriano Peixoto.

Durante a missa, o prefeito agradeceu, para o conhecimento de todos, o papel que Dom Pedro teve no Sínodo da Amazônia, a defesa do povo, cultura e tradições junto ao Papa Francisco. “Reafirmo aqui a nossa gratidão por sua obra, bispo Dom Pedro José Conti. Relembro de uma pesquisa feita, em 2013, que tinha um dado muito importante. Apenas 25% dos entrevistados diziam ter orgulho de Macapá́. Grande parte era indiferente. E a imensa maioria sentia vergonha de ser da nossa cidade. Hoje, essa realidade mudou, se inverteu. 78% das pessoas dizem ter orgulho de viver em Macapá́”, destacou.

“Óbvio que isso não significa que estamos, nós, o povo, satisfeitos com a velocidade do enfrentamento dos problemas da cidade. Todos sabem que há desemprego e desalento, que a violência preocupa todo mundo, e que ainda carecemos de alternativas sólidas para o desenvolvimento econômico de Macapá e do Amapá. Mas esse dado recente mostra que hoje o macapaense gosta de viver aqui, gosta das mudanças boas que a cidade passa, e mais, tem orgulho de morar em Macapá”, completou o prefeito.

Para a moradora de Macapá Raimunda Lino da Silva, 70 anos, a mensagem do prefeito foi especial pela fala e pela passagem do aniversário de Macapá. Ela contou que, desde criança, é tradição da família participar da santa missa em ação de graças a cidade. “É um momento muito especial, de renovação e esperança. Desde criança, é tradição da família e, mesmo minha mãe estando doente este ano, não poderia deixar de vim agradecer as bênçãos sobre essa cidade maravilhosa. Parabéns Macapá e parabéns ao prefeito que cuida com tanto carinho dessa cidade!”, desejou a moradora.

Logo após a missa, houve o tradicional encontro das bandeiras com os grupos Marabaixo da Juventude, Marabaixo Tia Sinhá, Marabaixo Movimento Cultural Ancestrais, Marabaixo Filhos do Criaú, cortejos artísticos com carroça da alegria e bonecos gigantes e o cortejo do Banzeiro do Brilho de Fogo. “Essa festa está muito linda. O pessoal do banzeiro organizado, a música boa e ritmada, dá muito orgulho de ver isso parando o centro de Macapá, porque é muito linda mesmo”, disse a vendedora Jaiane Silva. Após a chegada do cortejo, a festa seguiu com exposição de artes visuais do Capitão Açaí, feita pelo artista Ronaldo Rony, e muita música com Osmar Júnior, Amadeu Cavalcante, Zé Miguel e Negro de Nós.

“A gente se orgulha de viver em Macapá. Temos a nossa cultura. O nosso jeito. E temos também uma constante cobrança do que fazemos na gestão para que todos façam, pelo menos, a sua parte. O lema da prefeitura já diz que ‘cidade melhor é dever de todos’. E com o tempo a gente descobriu que quem cuida da cidade se orgulha dela. E quem se orgulha de Macapá́ também ajuda a cuidar”, destacou o prefeito Clécio Luís.

A festa foi acompanhada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre; pelo senador Lucas Barreto; pelo governador Waldez Góes e o vice Jaime Nunes; e deputados estaduais, vereadores, secretários, imprensa e muitos macapaenses que já tem a tradição de ir à festa. As comemorações do aniversário de Macapá seguem no dia 6 de fevereiro com o lançamento do 1° edital de produção audiovisual do Amapá, GEA e Ancine; e no dia 9 com o Torneio de Futlama.

Cássia Lima
Assessora de comunicação/PMM
Fotos: Gabriel Flores

Em comemoração ao aniversário de Macapá, GEA lança filmes produzidos no Amapá

Lugares e personalidades amapaenses como o Curiaú e o mestre Sacaca são inspiração para filmes produzidos no Amapá. O lançamento acontece nesta quarta-feira, 05, a partir das 18h, na sala Cine João XXIII, do Cine Imperator, em comemoração ao aniversário de Macapá. Ao todo são nove produções locais selecionadas pelo 1º edital de Produção Audiovisual do Amapá.

Para a produção dos curtas-metragens, filmes de curta duração, o Governo do Estado do Amapá, em parceria com a Ancine, por meio do Fundo Setorial Audiovisual, investiu R$ 3 milhões. Em um ano e meio de trabalho no segmento audiovisual, mais de 750 empregos, entre diretos e indiretos, foram gerados no Amapá.

Para o lançamento foram convidados autoridades e apoiadores do segmento.

“É um momento histórico para o segmento do audiovisual, um edital sonhado há mais de uma década e hoje é realidade”, afirmou a gerente do Núcleo de Produção Digital do Amapá, Ana Vidigal.

Na quinta-feira, 06, a exibição dos curtas ocorrerá no Teatro das Bacabeiras aberto ao público com entrada gratuita.

Ana Vidigal, gerente do Núcleo de Produção Digital (NPD) – Foto: Revista Digital Tajá

CONFIRA A SINOPSE DOS CURTAS:

1 – Para Sempre – Curta Metragem Ficção – Amora Filmes

Sinopse

Num lugar ermo e belo, Roberto começa a reformar um velho casebre onde ele pretende morar com Amanda, amor de sua vida. Os dois se conheceram quando o rapaz trabalhou como ajudante de pedreiro na casa dela. Por ela ser uma garota de família rica, Roberto entendeu que única forma de ficarem juntos era fugindo. O esforço da reforma, no entanto, é árduo, e as dificuldades o fazem se perguntar se todo aquele sonho não passa de uma grande loucura.

2 – Açaí – Curta Metragem – Grafitte Comunicação

Sinopse

Dionlenon, está acostumado com a vida que leva ao lado da mãe, com quem mora numa periferia de Macapá. Ele sai em busca de dois litros de açaí para almoçar, mas não conta com uma viagem tão distante assim do seu porto-seguro que é o seu mundo. Uma jornada de herói como todas as outras já contadas, mas a partir da realidade de uma periferia da região norte do Brasil. A predileção pelo açaí, mundialmente conhecido e o prato principal da mesa do amapaense, retratada de maneira cômica aqui nesta obra, é o grande motivador para tudo o que se segue na trama, destacando a enorme importância que o produto tem dentro da cultura local.

3- Utopia – Curta Metragem – produtora Rayanne de Almeida Penha

Sinopse

Utopia, o sonho de viver o eldorado e o sonho de viver o cinema. Registro documental da busca de uma filha por histórias vividas pelo pai garimpeiro já falecido. Histórias vividas em garimpos pelos interiores do Estado do Amapá e relatadas através de companheiros do oficio. Um documentário que soma o registro dessa procura, com arquivos sobre esse pai, fotos, vídeos e cartas que ele escrevia para família relatando a vivência e as dificuldades do garimpo. Em paralelo a busca o documentário procura humanizar esses homens que dedicam suas vidas a terra, mais do que um registro o filme vem mostrar um relato íntimo e poético sobre a vida desses garimpeiros.

4 – Passar uma chuva – Curta Metragem – Martins & Miranda Produtora

Sinopse

O documentário Passar uma Chuva é uma busca pela figura do violonista Raimundo Nonato Barros Leal, sua história e seu violão. Um filme que busca, um contato mais íntimo com o homem que inspirou gerações de violonistas amapaenses, falando sobre sua música, sua chegada ao Amapá dos anos 50 e sua trajetória ao longo de quase 60 anos no estado.

5 – Encantados do Cri-ú – Curta Metragem Documentário – JF PRODUÇÕES

Sinopse

O curta-metragem Encantados do Cri-ú traz narrativas da comunidade quilombola do Curiaú, comunidade localizada a 5 quilômetros do centro de Macapá. Narrativas de fenômenos sobrenaturais que estão na memória dos moradores da região.

6 – Sacaca – A Lenda – Curta Metragem Documentário – Kelly Pereira Santana

Sinopse

O File sacaca – A Lenda é baseado em fatos reais, Raimundo dos Santos Souza (Sacaca), homem que se tornou respeitado, através do domínio e manipulação de plantas e ervas da Amazônia. Neto de escravos, estudou até o terceiro ano primário, e dedicou sua vida a curar os males físicos e psicológicos dos habitantes da cidade de Macapá. Seus conhecimentos o fizeram ser reconhecido e virar uma referência para pesquisadores de todo o mundo. Acusado injustamente por tráfico de drogas, o homem é preso e provoca indignação da população.

7 – Solitude – Curta Metragem Animação – Castanha Filmes e Inventários Culturais

Sinopse

Na Amazônia, Sol, de 25 anos, se recupera do término de mais um relacionamento abusivo, enquanto sua Sombra foge para o deserto do Atacama por não aguentar ver seu sofrimento. Quando Sol, enfim, começa a retomar seus espaços e sonhos próprios, sua Sombra busca independência. Ambas travam jornadas em busca de amor próprio e autoconfiança para redescobrir em solitude o caminho de volta uma para a outra.

8 – A Montanha Dourada – Telefilme Documentário – Castanha Filmes e Inventários Culturais

Sinopse

O garimpo do Lourenço, no norte do Amapá, segue atraindo pessoas movidas pelo sonho do ouro, apesar do extremo desgaste de corpos e de almas que a atividade proporciona. Entramos neste mundo pelo relato coral de jovens e antigos garimpeiros, que compartilham a ideia de que “o ouro nunca acaba”, e dão suas vidas em busca dele, cavando, jatando e moendo as pedras da montanha que guarda uma das maiores jazidas de ouro da região. A montanha está cada vez mais ferida, mas segue brilhando, ajudando a reproduzir uma história que já é contada há mais de um século e que continua sendo vivida.

9 – Super Panc Me – Telefilme – Produzido pela Castanha Filmes e Inventários Culturais

Sinopse

Uma jovem vlogueira entregadora de açaí­ e apaixonada por carne aceita realizar um documentário de guerrilha no qual precisa passar 21 dias se alimentando apenas de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC). Ela enfrenta os desafios da mudança brusca de hábito alimentar e da realização audiovisual, enquanto persegue um excêntrico e fugidio especialista na área, enfrenta os resultados de atitudes inconsequentes e descobre os fascínios do reino vegetal.

Serviço:

Data: 05/02/2020

Horário: 18h

Local: Cine Imperator do Vila Nova, na Av. Pres. Vargas, Centro.

Assessoria de comunicação do Governo do Amapá

Capitão Açaí no aniversário de 262 de Macapá

No aniversário de Macapá, uma vasta programação cultural acontece em diferentes pontos da cidade. Na Praça Floriano Peixoto, nesta terça-feira, 4, quem visitou o local pôde apreciar a exposição Capitão Açaí, do cartunista Ronaldo Rony.

Há 30 anos, o cartunista Ronaldo Rony retrata aspectos que envolvem o dia a dia da sociedade macapaense vivido pelo personagem Capitão Açaí. “É o meu personagem de quadrinho muito ligado a cidade. O Capitão Açaí tem a ver com esse nosso hábito de tomar açaí. Ele é um personagem meio atrapalhado, mas que, no final, resolve as coisas”, explicou.

Em comemoração aos 262 anos de Macapá, o Capitão Açaí tem uma edição especial. Envolvido em uma missão no estilo habitual do personagem, no final, ele também celebra o aniversário da capital amapaense. “Nessa exposição estou colocando algumas coisas diretamente ligadas ao aniversário da cidade e outros cartoons mais soltos, mostrando o conjunto que é o Capitão Açaí”, comentou Ronaldo Rony.

O trabalho é feito em revistas no estilo fanzine, sendo desenhados diretamente pelo cartunista, sem o uso de computador. Ronaldo destacou o espaço da programação concedido para artistas de diferentes segmentos. “Viram no meu trabalho um potencial em homenagear a cidade. Tem vários tipos de manifestações para reverenciar esse momento de afirmação de uma cidade rica em cultura, e é importante quando são valorizados”, concluiu.

Sávio Almeida
Assessor de comunicação/PMM
Foto: Gabriel Flores

Apoiamos a chapa 2 para o Conselho Regional de Serviço Social do Amapá

A chapa 2 para o CRESS Amapá trás como marca a arvore símbolo da Amazônia: a Samaúma.

Seu tronco prodigioso (e até habitável) é sustentado por raízes em forma de alas que se espalham horizontalmente parecendo braços que se alongam pela terra e que tocadas, repercute um som alto, possível de ser escutado a longas distâncias. Por isso, ela é chamada de “comunicadora” pelos povos da floresta. Solidária, suas raízes retiram a água das profundezas da várzea amazônica não apenas para abastecer a si mesma, mas também pra repartir com outras espécies.

Apesar de seu papel central na biodiversidade que envolve milenarmente os povos da floresta e das águas, a samaúma vem sendo ameaçada de extinção, assim como os direitos sociais da classe trabalhadora até então consolidados na Carta Magna brutalmente reformada, aumentando o contraste entre a riqueza natural e a população empobrecida que não dispõe de acesso a direitos fundamentais como educação, saúde, moradia, segurança pessoal, acesso à informação e sustentabilidade de seu modo de vida.

Como a Samaúma, ainda É PRECISO RESISTIR à imposição de “Projetos de Desenvolvimento para a Amazônia” que não cumpriram e não cumprirão a promessa do eldorado para a classe trabalhadora da nossa região.

Como a função de comunicação de suas raízes, É PRECISO SABER-FAZER ecoar os princípios do nosso Projeto Ético-politico e sua opção histórica vinculada ao processo de construção de uma ordem societária sem exploração, dominação de classe, etnia e gênero.

Como sua função solidária, É PRECISO ARTICULAR com o movimento de outras categorias profissionais que partilham dos mesmos princípios contidos em nosso Código de Ética e com a luta geral dos/as trabalhadores/as.

É da foz do grande rio Amazonas e do centro da linha do Equador que ecoamos nossa voz para pedir aos Assistentes Sociais o apoio e o voto na CHAPA 2 PARA O CRESS AMAPÁ e na CHAPA 1 PARA O CFESS.

#ResistirÉpreciso
#NossosDiretosSoaLutaFazValer
#MelhorIrAluta
#ComRaçaEclasse
#EmDefesadoServicoSocial

Texto : Ale Dias

Música de agora: Pedra do Rio – Osmar Júnior (Macapá 262 anos)

Pedra do Rio – Osmar Júnior

Pedra do rio
Encatará meu povo
Por isso é que o tempo exterminou
A fé que a água levou

Pedra do rio
Em água branda e lamentos
E o meu povo mudou
O tempo se passou

Ao raiar o dia
Tinha romaria
Arraiá que festa
Era noite e dia

Ao raiar o dia
Tinha romaria
Arraiá que festa
Era noite e dia (aa)

Outra pedra surgiu
Frente aquele horizonte
Mas ninguém tem mais fé
Na nova nova pedra do rio

Ao raiar o dia
Tinha romaria
Arraiá que festa
Era noite e dia

Ao raiar o dia
Tinha romaria
Arraiá que festa
Era noite e dia (aa)

Meu São José da beira-mar
Protegei meu Macapá
São José da beira-mar
Protegei meu Macapá

Meu São José da beira-mar
Protegei meu Macapá
São José da beira-mar
Protegei meu Macapá

Nos dê a fé
Nos dê a fé
Oh uh

Poema de agora: O Roubo do Velho Forte – Obdias Araújo (Macapá 262 anos)

Foto: Manoel Raimundo Fonseca

O Roubo do Velho Forte

Tu sabias
que a Fortaleza
foi toda construída
no Curiaú?
Diz que o Sacaca
o Paulino e o Julião Ramos
vieram em cima da Fortaleza
varejando até chegar na beira do Igarapé Bacaba
onde amarraram a bichona na Pedra do Guindaste
e foram tomar uma lá
no boteco do sêo Neco.
Diz que o o Alcy escreveu uma crônica
E o Pedro Afonso da Silveira Júnior leu
Oito horas da noite
no Grande Jornal Falado E-2.
Diz que, né?
Diz que o mestre Zacarias
vinha em cima do farol
tocando um flautim feito
com as aparas da porta de ébano…
E que Dona Odália vinha fazendo
flores de raiz de Aturiá
sentada no maior de todos os canhões
brincando com a Iranilde
que acabara de nascer.

Diz que o Amazonas Tapajós vinha
cantando ladrões de Marabaixo
-ele, o Edvar Mota e o Psiu.
E o João Lázaro transmitia tudo para a Difusora.
Diz que até o R. Peixe pintou um mural
-aquele que ficou no pátio da casa do Isnard
lá no Humilde Bairro de Santa Inês
de onde foi roubado pelo Galego e trocado
por duas garrafas de Canta Galo
e uma de Flip Guaraná, lá na Casa Santa Brígida…
Hoje Macapá amanheceu bem
mais triste que de costume.
Roubaram a Fortaleza!
Levaram o velho forte! De madrugada
Dois ou três bêbados remanescentes
viram passar aquela enorme coisa boiando
rumo norte, parecendo uma usina
de pelotização.

Andam comentando lá
pelo Banco da Amizade
que foi o Pitoca
a Souza
o Quipilino o Pombo
o Zee e o Amaparino…
E que o Olivar
do Criôlo Branco
e o Cirão
estão metidos nessa história.
Eu, hem!

Obdias Araújo

Macapá 262 anos: Cidade Lançante (crônica de Fernando Canto)

Foto: Juvenal Canto

Por Fernando Canto

Esta baía é uma grande gamela de líquidas contorções, ondas que bailam sob a música do vento.

Esta baía não guarda mais o sangue inglês do comandante Roger Frey que pereceu sob a espada implacável do capitão Ayres Chichorro a 14 de julho de 1632, um dia claro, aliás, de verão amazônico, quando o sol derretia naus e o piche dos tombadilhos. Nem o sol, nem o vento, nem o oceano lá adiante cogitavam que naquela mesma data, dali a 157 anos o povo francês tomaria a Bastilha.

Foto: Max Renê

Na margem esquerda deste rio imensurável uma floresta úmida abrigava uns seres esquisitos, cabeludos e cheios de penas coloridas que os portugueses conheciam por Tucuju, Tikuju, Tecoju ou Tecoyen. Segundo ensina a mestra Dominique esse era um povo de origem Aruaque, ocupante da Costa Sul do Amapá que se tornou aliado dos holandeses, dos franceses e dos irlandeses. Por isso foi atacado impiedosamente por uma expedição do desbravador Pedro Teixeira no ano da graça de 1624. Sua história, no contexto da nossa, dá conta que após a façanha do capitão português esse povo procurou abrigo no Cabo do Norte, mas foi reduzido pelos jesuítas a uma missão no baixo Araguari e pelos capuchinhos no baixo Jari. É provável que um pequeno grupo tenha sobrevivido ao sul do município de Mazagão até o início do século XIX. Desse pequenino grupo restaram apenas as cinzas do tempo e um soluço quase imperceptível que morre a cada segundo na agonia de todos os silêncios.

Foto: Floriano Lima

Esta baía guarda estranhos segredos: uns são contados em língua morta, quando o hálito da madrugada sopra depois que a lua assim determina. Esses são de difícil entendimento. Os outros pairam nos escaninhos dos tabocais ou na boca das pirararas. Dificilmente serão contados.

O estuário deste rio dadivoso acelera a corrente de 2,5 quilômetros por hora para jogar no oceano cerca de 220 mil metros cúbicos de água por segundo. O inacreditável é que apenas o desaguar de 24 horas daria para abastecer de água potável uma cidade superpovoada como São Paulo por quase 30 anos. Números são números, diria o matemático. Nessa foz está a redenção de nossa terra, diz o sonhador sem perder sua utopia. Do barro e dos detritos aluviais se faz a vida. E ela está ali dentro das águas à espera da sustentação das mãos trabalhadoras.

Foto: Floriano Lima

Esta baía não se faz só de águas e barcos deslizando ao sabor das ondas. Ela abriga uma pequena joia nascida sobre a várzea dos aturiás, velada há dois séculos por uma fortaleza plantada em cima de falésias.

Macapá, velho pomar das macabas, carrega dentro de si a similitude de um éden tropical das narrativas dos antigos viajantes, até por ser banhada por tantos líquidos e cheiros advindos diariamente pela chuva refrescante e pela espuma das lançantes marés.

Macaba, Maca-paba:gordura, óleo, seiva do fruto da palmeira, vida e princípio desta terra, posto que a sombra traz a ternura e contrasta com o benefício da luz que se espraia por glebas de esperança.

Antiga terra da maleita e da febre terçã. Terra do “já teve” já não és. Mas alguns homens ainda jogam em teu traçado xadrez e, silenciosos, manipulam segredos e conspiram contra ti, a degradar-te e degredando teus verdadeiros sonhos e tua vocação para o abrigar da vida que se espera. Mesmo assim a felicidade bem insiste em se hospedar em ti.

Foto: Juvenal Canto

Embora batizada com nome de santo – especialíssimo no panteão católico – teus habitantes não ficam isentos dos perigos: pés se torcem ou se fraturam todos os dias nos buracos das ruas outrora bem cuidadas.

Agora eu fico aqui me perguntando: por que quando te fundaram ergueram um pelourinho? – “Símbolo das franquias municipais”, dirão os doutos e sisudos professores. Ora, quantos homens não castigaram seus escravos até à morte após a partida do governador Francisco, porque estes aproveitaram para fugir durante a solenidade.

Um tralhoto viu e contou ao Mucuim que diz-que o Ouvidor-Geral e Corregedor Paschoal de Abranches Madeira Fernando tomou um porre de excelente vinho do Porto ofertado a ele nesse dia pelo plenipotenciário capitão-general Mendonça Furtado, que daqui zarpou para o rio Negro para demarcar as fronteiras do reino, a mando de Pombal. Foi um dia de festa aquele 04 de fevereiro de 1758, porque nasceu naquele instante a vila de São José de Macapá.

Foto: Manoel Raimundo Fonseca

E ela cresceu e se fez linda e amada, pois os caruanas das águas vez por outra rondam em espirais por aí, passeando em livros abertos, nos teclados dos computadores, pelas portas e pelos filtros dos aparelhos de ar condicionado, nos protegendo das agruras naturais e das decisões de homens isentos do compromisso de te amar.

Parabéns, Macapá!

* Texto escrito em 2001.

HOJE: Diogo Nogueira fará show no aniversário de 262 anos de Macapá

Cantor Diogo Nogueira – Foto: Marcos Hermes

A Prefeitura de Macapá preparou uma grande programação gratuita para comemorar os 262 anos da capital do meio do mundo, com shows em vários pontos do município no período de 31 de janeiro a 9 de fevereiro. Destaque para o show do cantor carioca Diogo Nogueira, que se apresentará na Praça Floriano Peixoto, hoje (4), a partir das 21h30, exatamente na data de aniversário da cidade.

Filho do saudoso sambista João Nogueira, Diogo sobe ao palco para apresentar canções de sua carreira como “Espelho”, “Fé em Deus” e “Deixa eu te Amar”. O cantor já lançou 9 DVDs, com mais de um milhão de cópias vendidas, sendo indicado a vários prêmios no Brasil e no exterior.

Antes da apresentação do cantor, outros artistas subirão ao palco como Meio-Dia da Imperatriz e Mauro Cotta. Antes, pela manhã, o público terá a oportunidade de ouvir o melhor da Música Popular Amapaense. Se apresentarão na Praça Floriano Peixoto Osmar Júnior, Amadeu Cavalcante e Negro de Nós, além de grupos de Marabaixo e exposição de artes.

Kelly Pantoja
Assessora de comunicação/Fumcult
Contato: 98410-1330

Macapá 262 anos: teatro e dança invadem palco das artes cênicas

Nem a chuva que caiu na cidade na tarde deste domingo, 2, afastou o público que foi prestigiar as apresentações de dança, teatro, música e palhaços no palco das artes cênicas da Praça Floriano Peixoto. As atrações artísticas e culturais fizeram parte da programação dos 262 anos da capital do Amapá, coordenada pela Fundação Municipal de Cultura (Fumcult).

Silvano Santos, professor de dança de salão, foi um dos artistas que arrancou aplausos do público. “Primeiramente, quero parabenizar a Prefeitura de Macapá e a Fundação Municipal de Cultura. Por essa programação maravilhosa, são 262 anos de tradição da nossa querida cidade. É importante a gente mostrar a nossa cultura, a música, dança, teatro, artesanato… E ver o público presente é muito gratificante. A comunidade precisa mesmo participar de eventos como este, onde temos a oportunidade de mostrar nossa arte. Mais uma vez, parabéns Macapá”, finalizou o professor de dança de salão, Silvano Santos.

A pedagoga Léia Oliveira trouxe o neto de Serra do Navio para prestigiar o espetáculo ao ar livre. “Eu vim com meu neto prestigiar o evento em comemoração aos 262 anos da cidade de Macapá. Ele está se divertindo muito com as apresentações e eu achei tudo muito bem organizado. A prefeitura está de parabéns”, elogiou a pedagoga, Léia Oliveira.

A praça também cedeu espaço para a Feira Colaborativa Mulheres que Fazem, com exposição e comercialização de produtos confeccionados por artesãos locais como tiaras, turbantes, laços, chapéus, pulseiras e muito mais. “A Praça Floriano Peixoto foi palco do lúdico, da magia dos palhaços, da dança, do teatro e de toda a encantaria das artes. A festa continua nesta segunda com muito rap, rock e blues na Floriano, também a partir de 17h”, informou a diretora-presidente da Fumcult, Marina Backman.

Confira a programação:

Segunda (03/02)

Véspera de Aniversário da Cidade – Praça Floriano Peixoto:

17h30 – Vini Gonçalves;

18h – Mc Zion Ops;

18h30 – Mc Super Shock;

19h – Banda Indigentes;

19h30 – Banda Índigo;

20h – Banda Nova Ordem;

20h30 – Banda Vennecy;

21h – Trio Canícula Blues;

17h às 20h – Dekko Matos – exposição de artes visuais.

Terça-feira (04/02)

6h – Salva de canhões – Fortaleza de São José de Macapá;

7h30 – Missa em ação de graças – igreja matriz de São José / Encontro das bandeiras;

8h30 – Marabaixo da Juventude;

8h30 – Marabaixo Tia Sinhá;

8h30 – Marabaixo Movimento Cultural Ancestrais;

8h30 – Marabaixo Filhos do Criaú;

9h – Cortejos artísticos – Carroça da alegria e bonecos gigantes;

9h – Cortejo do Banzeiro do Brilho-de-fogo;

10h – Capitão Açaí – exposição de artes visuais (Ronaldo Rony);

10h30 – Osmar Júnior;

11h30 – Amadeu Cavalcante;

12h30 – Zé Miguel;

13h30 – Negro de Nós;

18h30 – Meio Dia da Imperatriz;

19h30 – Mauro Cotta;

21h30 – Diogo Nogueira (atração nacional).

Almoço no Mercado Central de Macapá:

13h30 – Bebeto Nandes;

14h30 – Anthony Barbosa;

15h30 – Duo Amazofonia;

14h30 – Rosa Amaral;

17h30 – Intervenção poética com Hayam Chandra;

18h – Mayara Braga;

12h às 18h – Miguel Arcanjo – exposição de artes visuais.

Quinta-feira (06/02)

18h – Lançamento dos filmes do 1° Edital de produção audiovisual FSA do Amapá – GEA e Ancine – Cine Imperator do Shopping Vila Nova.

Domingo (09/02)

9h às 15h – Torneio de Futlama – Complexo do Jandiá.

Kelly Pantoja
Assessora de comunicação/Fumcult
Contato: 98410-1330

Música de agora: 4 de fevereiro – Enrico Di Miceli e Joãozinho Gomes

4 de fevereiro – Enrico Di Miceli e Joãozinho Gomes

No teu aniversário quis te dar um presente, mas faltou numerário. Fiquei descontente.

Quis te dar um rosário feito de tua semente e um confessionário pra ouvires tua gente.

No teu aniversário eu chorei pra diacho, sobre o teu calendário cujo a foto é um riacho.

Que com o choro diário de olhos tão lassos, vazou do calendário escorreu mar abaixo.

Pus os pés no teu chão e pisei mundo inteiro, eu e meu violão, é!

Pra que dinheiro. Com a tua proteção, José Marceneiro, chama-se essa canção 4 de fevereiro.

No teu aniversário eu baixei o meu facho, quase que solitário, meio que cabisbaixo, mas teu rio solidário me disse “ô macho, pra quê numerário, dê-lhe um Marabaixo”.

Poema de agora: MACAPÁ, MINHA CIDADE – Pat Andrade

Macapá – AP – Foto: Elton Tavares

MACAPÁ, MINHA CIDADE

Minha cidade comemora
mais um ano de existência.
Digo minha, porque dela
me apodero, todos os dias,
em dura jornada;
todas as noites,
em longas caminhadas.
Macapá me cobre
com seu céu inconstante,
me descobre em versos e rimas;
me abriga em seus bares,
em suas ruas, em seus becos,
em suas praças, em seu rio…
Macapá me expõe, me resgata,
me ampara, me liberta…
E aqui permaneço,
retribuindo com meu amor,
minha esperança
e minha alma de poeta.

Pat Andrade

Macapá 262 anos: o velho trapiche Eliezer Levy – Por (@alcinea)

Foto: arquivo do jornalista Edgar Rodrigues

Por Alcinéa Cavalcante

O velho Trapiche Eliezer Levy, de muitas histórias, causos e lendas.

Nele atracavam embarcações de bandeiras de vários países e os gringos aproveitavam para tomar um sorvete, servido em taça de inox pelo famoso garçom Inácio, no Macapá Hotel.

Era desse trapiche que saíam os navios com destino a Belém. No final das férias iam lotados de universitários que voltavam para as faculdades (não havia ensino superior no Amapá).

Foto: blog da Alcinéa

Nas tardes de domingo o velho trapiche era a passarela da juventude. Depois da sessão da tarde nos cines João XXIII e Macapá os jovens iam como em procissão passear ali. Era um passeio obrigatório.

À noite era comum ver na ponta do trapiche um pescador solitário. Um pescador de peixes, ou de estrelas, ou de poesia ou de raios da lua.

A foto é do tempo em que ainda existia a tão cantada em verso e prosa “Pedra do Guindaste” de muitas lendas. Uns diziam que meia noite a pedra transformava-se num navio de ouro maciço enfeitado com diamantes e esmeraldas. Outros contavam que era uma princesa encantada. E tinha gente que jurava ter visto “com esses olhos que a terra há de comer” a pedra se transformar em princesa quando o relógio marcava meia-noite em ponto.

Foto: blog da Alcinéa

Um dia colocaram a imagem de São José, padroeiro de Macapá, em cima da pedra. Pouco tempo depois um navio chocou-se com ela destruindo-a. No lugar foi construído um pedestal de concreto para São José, colocado de costas para a cidade, mas abençoando todos que aqui chegam pelo majestoso rio Amazonas.

A imagem do santo padroeiro é uma obra de arte do escultor português Antônio Pereira da Costa. Ele também esculpiu os bustos de Tiradentes (na Polícia Militar) e Coaracy Nunes (no aeroporto) e os leões do Fórum de Macapá (atual sede da OAB).

Arteamazon apoia exposição em homenagem aos 262 anos de Macapá, do artista plástico Miguel Arcanjo

O artista plástico Miguel Arcanjo realiza nesta terça-feira, 04 fevereiro de 2020, no Mercado Central de Macapá, exposição em homenagem aos 262 anos de Macapá. Serão dez quadros em betume sobre tela, um característica de Arcanjo, de tamanhos médios e grandes com temas que vai de regionais à religiosa. A exposição abre 12 horas e vai até as 22h.

Miguel Arcanjo é autodidata e teve seus primeiros contatos com a arte ainda na pré-adolescência, através do habito de desenhar trabalhos escolares. Iniciou na pintura em telas com tinta acrílica, há mais de vinte e cinco anos, utiliza o betume sobre tela, técnica pela qual o artista é reconhecido. Graduando em engenharia civil é fascinado por retratar de forma mais fiel possível, a Macapá antiga e as belezas da Amazônia.

A exposição tem a curadoria de Gilberto Almeida co-fundador de ARTEAMAZON.COM.

Para conhecer mais artes de Miguel Arcanjo acesse:
https://arteamazon.com/artista/12/miguel-arcanjo

Fonte: Arteamazon

Poema de agora: A cidade submersa – Pedro Stkls

A cidade submersa

quando a cidade quase submerge
agarra-se numa boia
um tronco de árvore sonâmbulo
que vagueia pelas águas
no mapa sublinho a palavra Macapá
que quer dizer:
senhora de óculos sentada de costas para o portão
com 262 primaveras floridas
em uma saia de marabaixo
a coisa mais bonita do mundo
aquilo que vem enfiado nos pés
uma ponta de madeira, uma dança
o meio do mundo
uma fortaleza nunca usada
lugar de muitas bacabas
boêmios, laguinho
por onde um trem nunca para
em nenhuma estação
há sempre de seguir viagem
é um trava língua pronunciar: buritizal
é inevitável sobretudo não dizer:
“cidade morena ou linha do equador”
desconfio que a palavra Macapá
não vem do tupi como dizem os historiadores
surpreendente seria se Macapá
tivesse sido extraída do barro escuro
que estranhamente se espreguiça
no rio amazonas.

Pedro Stkls