O sol brilha forte no horizonte No fim do Brasil… E clarei nossa condição Nossa miscigenação Nossos totens foram derrubados Os restos de fé Nossos brilhos em outras coroas De marajás longe daqui Meus olhos negros índios se perdem Encontram os limites do seu coração Seus olhos verdes só me desprezam Mas sinto os olhares de outras nações Por quê? Porque somos apenas planícies no fim do Brasil… Mas clipeus ardentes observam Cruzam nosso céu azul Nossa terra rica ainda fica Na Ilha de Abril Que nos vendam como de costume Nos arranquem o Brasil CADÊ A TRIBO A taba A tanga A tamba-tajá Olhos nos campos Kourou Currutelas do Pará Suriname me me manda muamba Que eu te mando manga São José, São Jorge Vêem tanta coisa atravessar Até minha namorada Maria Huana Com toda milonga Me disse adeus, Por quê?
Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel Uma mulher, uma beleza que me aconteceu Esfregando sua pele de ouro marrom do seu corpo contra o meu Me falou que o mal é bom e o bem cruel Enquanto os pelos dessa deusa tremem ao vento ateu Ela me conta, sem certeza, tudo que viveu Que gostava de política em mil novecentos e sessenta e seis E hoje dança no Frenetic Dancing Days Ela me conta que era atriz e trabalhou no “Hair” Com alguns homens foi feliz, com outros foi mulher Que tem muito ódio no coração, que tem dado muito amor E espalhado muito prazer e muita dor Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar Porque ela vai ser o que quis, inventando um lugar Onde a gente e a natureza feliz vivam sempre em comunhão E a tigresa possa mais do que um leão As garras da felina me marcaram o coração Mas as besteiras de menina que ela disse não E eu corri para o violão, num lamento, e a manhã nasceu azul Como é bom poder tocar um instrumento
Macapá é rica em diversidade cultural, onde se mesclam as heranças afrodescendentes, cabocla, indígenas e dos imigrantes em uma identidade única. Só a musicalidade fruto disso tudo já é uma lindeza (quem acompanha este site, sabe que divulgo quase todos os nossos artistas). Imaginem se os empresários do ramo de entretenimento trouxessem artistas e bandas realmente porretas para este lugar no meio do mundo. Acontece sim, mas é raro.
Comecei esse texto/desabafo por conta de hoje rolar na cidade o show do “Moleque, o Ferinha” (ainda bem, não aguento mais aquele comercial na TV), mais um meia boca promovido pelo “Bar da Praia”, assim como os da “Comunidade do Texas”, duas entre muitas produtoras de eventos especializadas em jogar merda sonora (canções feitas somente para o cidadão sem qualquer tipo de acesso à cultura, daqueles que o mercado fabrica e empurra goela abaixo do povo) na capital amapaense e ainda cobrar por isso. Deveríamos ter muito mais acesso a shows de qualidade nestes eventos privados. Afinal, é pago. Então bora pagar por algo que preste.
Enquanto na capital vizinha, Belém do Pará, recebe artistas renomados da música brasileira, Macapá segue presa a um ciclo de repetição, onde os mesmos artistas de sertanejo, aparelhagens, sofrência, entre outros gêneros palhoças, ocupam os palcos locais e que nos deixam aquele gosto amargo de oportunidades perdidas. Sim, já que Titãs, Ira (em 2023), e agora em setembro de 2024, Caetano e Maria Bethânia, podem se apresentar no Estado do outro lado do rio e pra cá não vem nada.
A cultura de massa, impulsionada pelos interesses comerciais e pela busca desenfreada pelo lucro fácil, dá nisso. Os empresários, ávidos por garantir retornos financeiros rápidos, optam por trazer atrações de apelo imediato, mesmo que isso signifique sacrificar a oportunidade de enriquecer a cena musical local com apresentações de mais relevância cultural.
Mas o que digo/escrevo aqui é como bem lembrou a advogada (minha prima/irmã), Lorena Queiroz, quando em uma conversa hoje mesmo, usou a citação da ministra da Cultura, Margareth Menezes: “a cultura é uma ferramenta de emancipação do pobre“. Sim, usem bons artistas, os que fazem pensar e para abrir mentes e iluminá-las como faróis na tempestade.
Em contrapartida, na mesma conversa, a Lorena lembrou algo também escroto:
“Essa questão em Macapá é muito complexa. Ao mesmo tempo que as produtoras não acreditam no povo, digo na hora de trazer uma atração como Caetano e Maria Bethânia, quando tem um show de graça, como o do Zeca Baleiro, na virada de ano, a maioria da população preferiu ir para o de aparelhagem. Lamentável, pois talvez a cultura esteja empobrecendo. Talvez a boa música esteja fora de moda e a gente não aceita. Talvez o nosso problema seja velhice“, destacou Lorena Queiroz. Eu ri. Pode ser.
Em resumo, não que não tragam esses shows merdas, mas de vez em quando, tragam um bom. Público tem, afinal, todos pagam. É melhor do que ficarmos reféns somente das tais produtoras e seus shows escrotos. E olhem que nem vou falar do populismo. Isso pra ser gentil.
É uma dissonância gritante entre o que é oferecido e o que realmente se anseia, por boa parte da população. Pois é, meu caro leitor, aqui em Macapá, parece que estamos presos em um loop interminável de “shows ferinhas”, com um mar de melodias superficiais, letras simplórias e batidas previsíveis. Como se o refinamento e a profundidade musical fossem conceitos estranhos a essa terra, feita pelos cantadores e tocadores de fora. Sim, pois os daqui se garantem demais.
O problema reside na falta de equilíbrio e na ausência de variedade. É como se estivéssemos condenados a repetir incessantemente as mesmas apresentações ridículas.
Não é uma questão de elitismo, mas sim de acesso à cultura, à música que nos desafia, que nos faz refletir, que nos emociona. Como um dos maiores divulgadores da arte local, em todas as vertentes, sobretudo a música, posso reclamar sim. E mais, não tenho preconceito musical e sim conceito.
Eu sou o vento que lança a areia do Saara Sobre os automóveis de Roma Eu sou a sereia que dança A destemida Iara Água e folha da Amazônia Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra Você não me pega Você nem chega a me ver Meu som te cega, careta, quem é você? Que não sentiu o suingue de Henri Salvador Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô E que não riu com a risada de Andy Warhol Que não, que não e nem disse que não
Eu sou um preto norte-americano forte Com um brinco de ouro na orelha Eu sou a flor da primeira música A mais velha A mais nova espada e seu corte Sou o cheiro dos livros desesperados Sou Gitá Gogóia Seu olho me olha mas não me pode alcançar Não tenho escolha, careta, vou descartar Quem não rezou a novena de Dona Canô Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor Quem não amou a elegância sutil de Bobô Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo
A franja na encosta cor de laranja, capim rosa chá O mel desses olhos luz, mel de cor ímpar O ouro ainda não bem verde da serra, a prata do trem A lua e a estrela, anel de turquesa
Os átomos todos dançam, madruga, reluz neblina Crianças cor de romã entram no vagão O oliva da nuvem chumbo ficando pra trás da manhã E a seda azul do papel que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa que vão passando ao nos ver passar Os dois lados da janela E aquela num tom de azul quase inexistente, azul que não há Azul que é pura memória de algum lugar
Teu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábios Ou pra ser exato, lábios cor de açaí E aqui, trem das cores, sábios projetos: Tocar na central E o céu de um azul celeste celestial
Onde queres revólver, sou coqueiro E onde queres dinheiro, sou paixão Onde queres descanso, sou desejo E onde sou só desejo, queres não E onde não queres nada, nada falta E onde voas bem alto, eu sou o chão E onde pisas o chão, minha alma salta E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco E onde queres romântico, burguês Onde queres Leblon, sou Pernambuco E onde queres eunuco, garanhão Onde queres o sim e o não, talvez E onde vês, eu não vislumbro razão Onde o queres o lobo, eu sou o irmão E onde queres cowboy, eu sou chinês
Ah! Bruta flor do querer Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato, eu sou o espírito E onde queres ternura, eu sou tesão Onde queres o livre, decassílabo E onde buscas o anjo, sou mulher Onde queres prazer, sou o que dói E onde queres tortura, mansidão Onde queres um lar, revolução E onde queres bandido, sou herói
Eu queria querer-te amar o amor Construir-nos dulcíssima prisão Encontrar a mais justa adequação Tudo métrica e rima e nunca dor Mas a vida é real e é de viés E vê só que cilada o amor me armou Eu te quero (e não queres) como sou Não te quero (e não queres) como és
Ah! Bruta flor do querer Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper-vídeo E onde queres romance, rock?n roll Onde queres a lua, eu sou o sol E onde a pura natura, o inseticídio Onde queres mistério, eu sou a luz E onde queres um canto, o mundo inteiro Onde queres quaresma, fevereiro E onde queres coqueiro, eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim Do que em mim é em mim tão desigual Faz-me querer-te bem, querer-te mal Bem a ti, mal ao quereres assim Infinitivamente pessoal E eu querendo querer-te sem ter fim E, querendo-te, aprender o total Do querer que há, e do que não há em mim
Não sei o que fazer Não sei o que fazer Eu saio por aí Sem ter aonde ir Não é sete de setembro Nem dia de finados Não é sexta-feira santa Nem um outro feriado
E antes que eu esqueça aonde estou Antes que eu esqueça aonde estou aonde estou com a cabeça?
Tudo está fechado Tudo está fechado
Domingo é sempre assim E quem não está acostumado? É dia de descanso Nem precisava tanto É dia de descanso Programa Silvio Santos
E antes que eu confunda o domingo Antes que eu confunda o domingo
O domingo com a segunda
Domingo eu quero ver o domingo passar Domingo eu quero ver o domingo acabar Domingo eu quero ver o domingo passar Domingo eu quero ver o domingo acabar
Tudo está fechado Tudo está fechado Domingo é sempre assim E quem não está acostumado
É dia de descanso Nem precisava tanto É dia de descanso Programa Silvio santos Domingo eu quero ver o domingo passar Domingo eu quero ver o domingo passar Domingo eu quero ver o domingo passar Até o próximo, até o próximo, até o próximo domingo
E antes que eu confunda o domingo Antes que eu confunda o domingo
O domingo com a segunda
Domingo eu quero ver o domingo passar Domingo eu quero ver o domingo acabar Domingo eu quero ver o domingo passar Domingo eu quero ver o domingo acabar
Até o próximo Até o próximo Até o próximo domingo Até o próximo Até o próximo Até o próximo domingo
Vídeo da Casa de Shows Net Live – 29/11/2015 – Brasília (DF) – Eu tava lá!
Everyday Is Like Sunday (Todo Dia É Como Domingo) – Morrissey
Arrastando-se devagar sobre a areia molhada De volta ao banco Onde suas roupas foram roubadas Esta é a cidade costeira Que eles esqueceram de interditar Armagedon – venha, Armagedon! Venha, Armagedon! Venha! Todo dia é como domingo Todo dia é silencioso e cinza Esconder-se no calçadão Rabiscar num cartão-postal “Como eu adoraria não estar aqui” Na cidade litorânea …que esqueceram de bombardear Venha! Venha! Venha – bomba nuclear! Todo dia é como domingo Todo dia é silencioso e cinza Arrastando-se de volta sobre pedras e areia E uma poeira estranha pousa nas suas mãos (e no seu rosto) Todo dia é como domingo “Concorra e ganhe uma bandeja barata” Divida um pouco de chá engordurado comigo Todo dia é silencioso e cinza
Isso era alguém gritando Não fui eu, com certeza Eu levanto a minha cabeça dos travesseiros desconfortáveis Coloco os meus pés no chão Cortei meu pulso em um pensamento ruim E me dirijo à porta
Lá fora, na calçada A escuridão não faz ruído Posso sentir o suor em meus lábios Vazando para dentro da minha boca Estou me dirigindo às as colinas íngremes Eles não me dão escolha
E veja, enquanto nossas vidas se fazem Nós acreditamos que entre as mentiras e ódio O amor corre livre
Por falta de opção Eu corro driblando o vento Eu sonho fotos de casas em chamas Sem saber o que fazer Com a morte vem a manhã Nova e de repente
Será que foi pedir de mais Para dar uma força Eles perdoam qualquer coisa, menos grandeza Estes são dias sem escrúpulos Estou perto de gritar todos os seus nomes Enquanto o orgulho bate o meu rosto
Veja, enquanto nossas vidas se fazem Nós acreditamos que entre as mentiras e ódio O amor corre livre Através de dias sem escrúpulos
Eu alcanço os limites da cidade Eu tenho sangue nos meus cabelos As mãos deles tocam meu corpo Vindas de todos os lados Mas eu sei que eu consegui Enquanto eu corro para o ar
E veja, enquanto nossas vidas se fazem Nós acreditamos que entre as mentiras e ódio O amor corre livre Através de dias sem escrúpulos
The Sun Always Shines On Tv (O Sol Sempre Brilha na Tv) – A-Ha
Toque-me Como assim? Acredite em mim O sol sempre brilha na TV Me aperte Pertinho do seu coração Toque-me E dê todo seu amor para mim Para mim
Eu procurei dentro de mim mesmo E não encontrei nada lá Para acalmar a pressão Da minha mente sempre aflita Todas as minhas forças se foram Eu temo os olhares solitários e enlouquecidos Que o espelho está me enviando Estes dias
Toque-me Como assim? Acredite em mim O sol sempre brilha na TV Me aperte Pertinho do seu coração Toque-me E dê todo seu amor para mim Para mim
Por favor, não me peça para defender Das vergonhosas baixadas Do caminho em que estou sendo levado Melancolicamente pelo tempo (Toque-me) Eu procurei dentro de mim mesmo hoje (Dê todo o seu amor) Pensando que devia haver alguma maneira De manter meus problemas distantes
Toque-me Como assim? Acredite em mim O sol sempre brilha na TV Me aperte Pertinho do seu coração Toque-me E dê todo seu amor para mim Para mim
Me aperte Pertinho do seu coração Toque-me E dê todo seu amor para mim, para mim