Joni Mitchell e o seu Blue

Estabelecemos muitas relações com a música. Músicas que nos fazem refletir, relaxar, animar, dançar e/ou lembrar. Esse post é sobre o álbum “Blue” da cantora canadense Joni Mitchell.

Hoje (16), acordei ao som de “A case of you”, do álbum “Blue” de Joni Mitchell. A música não estava tocando em lugar algum, mas tive nítida a impressão de tê-la escutado. Talvez essa impressão seja conseqüência de uma daquelas lembranças que aparecem sem mesmo entendermos a razão.

Mitchell é portadora de uma voz hipnotizadora, cujas melodias, de tão leves, assemelham à brisa. O gênero que a consagrou foi o folk, estilo ornamentado quase sempre no violão ou piano. “Blue”, de 1971, é o álbum que não só imortalizou o estilo como também a sua carreira.

O álbum é o quarto da discografia de Mitchell, que na época de seu lançamento já era consagrada com diversos prêmios, inclusive com o Grammy e uma participação no festival de Woodstock.

A história sobre a concepção do “Blue” diz que ele foi gravado em uma época em que a cantora estava sufocada pela fama, reduziu o número de shows e mudou-se para a Europa. O resultado dessa fase foi o lançamento desse álbum, que é considerado um clássico da música pop.

“Blue” traz como pano de fundo o fim de um relacionamento de Mitchell. Isso explica o fato de todas as letras trazerem um tom confessional, são canções que falam de solidão, perdas, mensagens de amor e reflexões sobre relacionamentos, mas longe de clichês ou debates cabeçudos sobre o tema.

No acústico MTV, a banda Legião Urbana regravou a canção que encerra o disco, The Last Time I Saw Richard. A versão não merece comentários, mas talvez seja por onde muitos conheçam a obra de Mitchell.

Entre as coisas legais do álbum, estão os violões de Stephen Stills (Crosby, Stills & Nash) e James Taylor, que sem dúvida oferecem um cenário intimista e melodicamente impecável às canções de Mitchell.

“Blue” é um album que merece ser ouvido. Readicionei a minha playlist e não devo cansar de ouvir.

É isso.

Lúcio Costa Leite



Exposição Arqueológica “A vida e a morte das coisas”

Texto de Mariana Cabral com adaptações de Lúcio Costa Leite.
Foto: Dayse França.
Nós vivemos circundados de coisas. Instrumentos, enfeites, vestimentas, brinquedos. Coisas para comer, para dormir, para curar. As coisas nos acompanham por toda a vida e também na morte. Elas nos diferenciam. A arqueologia estuda a forma como as pessoas lidavam com as coisas: como produziam, como usavam, como guardavam, como botavam fora. Através das coisas, a arqueologia estuda as pessoas. É uma maneira de contar histórias, de usar coisas para explicar o passado.

As pesquisas de arqueologia no Amapá mostram que as coisas foram feitas e usadas de muitas maneiras no passado. Diferentes grupos indígenas fizeram, usaram e deixaram coisas para trás. Coisas que nós encontramos de novo hoje. A exposição “A morte e Vida das coisas” mostra um pouco disso.

De cerâmica ou de pedra, domésticas ou funerárias. Coisas para usar, coisas para serem vistas, coisas que transformam coisas. Coisas inteiras, quebradas, restauradas. Coisas para a vida e coisas para a morte. Coisas que apontam para pessoas.

Esta exposição foi organizada por Daiane Pereira, João Saldanha, Lúcio Costa Leite e Mariana Cabral e está montada no hall de entrada do Núcleo de Arqueologia do IEPA, localizado a Rua Feliciano Coelho, 1509, funciona das 08:00 às 18:00 de segunda  a sexta. Vale a pena conferir!

Para informações sobre Arqueologia do Amapá é só acessar:

Os clicks de Fabrizio Mingarelli

                                                                                                       Por Lúcio Costa Leite
Como a prerrogativa básica deste blog é falar sobre a diversidade em amplas acepções, hoje (11) resolvi escrever sobre o trabalho de um fotógrafo que encontrei vasculhando uns feeds do Flick. 
Fabrizio Mingarelli é um fotógrafo de 21 anos, nascido nas proximidades da cidade de Roma (ITA), onde atualmente mora e estuda arquitetura.  

Suas primeiras fotografias foram tiradas aos 14 anos, época em que, segundo ele, as lentes e os objetos fotografados eram uma tentativa de auto-expressão, sentido de lugar. 

Suas fotos são baseadas em coisas cotidianas (camas desarrumadas, quartos vazios, paredes brancas, prédios, ruas, etc.) e pessoas de todos os tipos.


  Umas das características que mais agradam no trabalho de Mingarelli é congregação de um estilo que oscila entre o documental e o nostálgico.  

Ainda não existem publicações sobre e com suas fotografias, mas sua página no fFick dá uma boa idéia das sacadas do cara.

É só acessar: http://www.fabriziomingarelli.com/ ou http://www.flickr.com/photos/daftshambles/


 

                                                            

Terror à moda clássica!

Recentemente, em um arquivo de cinema na Nova Zelândia, foi encontrado parte de um filme de Alfred Hitchcock, trata-se de partes de uma película muda intitulada de ‘The White Shadow”, um dos seus primeiros trabalhos.
Essa película foi dirigida por Graham Cutts, mas contou com trabalhos  de Hitchcok  como assistente de direção, escritor, editor , colaboração no desenho de produção. Na época ele tinha apenas 24 anos.


O filme está incompleto, o que foi encontrado foram apenas três rolos de um total de seis, e acredita-se que não haja nenhuma outra cópia desse trabalho. Mesmo sem todos os rolos do filme, o achado oferece uma oportunidade inigualável de estudo e apreciação das primeiras idéias visuais e narrativas de Hitchcock.Os rolos de filmes estão em um centro de pós-produção na cidade Neozelandesa de Wellington onde serão feitas outras cópias, inclusive coloridas.

 “The white shadow” pertencia a um empresário e colecionado neozelandês Jack Murtagh. O filme é um drama de 1923 onde a atríz Betty Compson encarna as irmãs gêmeas Nancy e Georgina Brent, caracterizadas por suas personalidades opostas, uma angelical e outra diabólica. Algumas fotos do filme já estão circulando na rede.  Sem dúvida é um filme que quero ver.

Lúcio Costa Leite

SOBRE NOVELAS E SUAS IMPLICAÇÕES

No sábado fui à locadora e me deparei com uma cena no mínimo interessante,  a atendente compenetrada no que parecia ser um capítulo decisivo da novela das oito. Não que isso seja pessoalmente estimulante, mas chama a atenção, pelo menos para uma análise antropológica da situação.
O enredo da trama era basicamente o mesmo de outros folhetins: mistérios previsíveis,, diálogos mal escritos e interpretados, narrativa precária e vilã maniqueísta. Nada mais surreal se pensarmos no jargão de diretores e produtores quando dizem que novelas são um tipo de arte que imita a vida.
Não me sinto representando, assim como a maioria das pessoas que conheço. Por isso, me prestei a uma análise, onde notei que entre o meio-dia e a meia-noite, a metade do horário de pico televisivo, nada menos que seis horas são exclusivamente dispensados ás novelas (falo da Rede Globo): Vale a pena ver de novo, Video-Show (programa que mesmo não sendo novela, é exclusivamente sobre elas) novelas das seis, sete e oito e mais recentemente a das onze.
Outro dia li uma reportagem em que um empresário de comunicação dizia: “Ora, nós apenas exibimos o que o povo quer ver; quem não estiver satisfeito que mude de canal”. Nada mais confortável – e tão confortável quanto falso. Primeiro, porque não existem pesquisas que sustentem que o povo queira ver uma novela atrás da outra. Segundo, porque ao sugerirem mudar o canal, o fazem sabendo que estão sendo despeitados, a julgar pelo baixo nível da concorrência e porque seu lucro é diretamente proporcional à audiência. Além disso, caso seu argumento fosse sincero, o que dizer sobre a quantidade de lobbys contra a implementação do modelo de TV Digital e sua pretensa amplitude de canais?
Ainda sobre o argumento “mostramos o que o povo quer ver”, estariam chamando o povo de imbecil, ou será que os mesmos chavões e clichês de toda novela estão além da imbecilidade? Não ingresso o grupo daqueles que defendem a novela brasileira como “excelente produto” ou ainda “que de tão bem feita que é, é exportada para outros países”. Pra mim, um excelente produto deve ter conteúdo. Deve ter algo além de belas imagens, uma edição perfeita e atores encantadores. Esse não é o caso!
Para mim, um dos gratos e institucionais papéis da TV deveria ser formação do cidadão, papel, aliás, que a Constituição do país impõe às concessões da TV aberta, mas cuja estrutura das TV´s que estão mais atrelada aos índices de audiência, pouco ou em nada se preocupam. Tal situação favorece não só a perpetuação da mediocridade como um empobrecimento sobre as mais diversificadas temáticas.

Neste sentido, um resultado  visível do impacto causado pela novela é a alienação – momentânea para alguns, permanente para outros – do público (vide proliferação dos realities). Além disso, vejo as novelas, de modo geral, como um convite à passividade –  já que basta esperar sentado que tudo se resolve no final –  e um estímulo ao individualismo – com o abandono completo dos valores coletivos e críticos.
Não por acaso, é nesse ritmo novelesco que segue o país: sem perspectiva, sem projeto de desenvolvimento e guiado por um ritmo de acomodação. Como em uma novela global, a maioria do povo quando insatisfeito, se contenta em xingar o vilão da trama como forma de aplacar o ódio e senta para aguardar o próximo capítulo decisivo.
 Para muitos desligar a televisão deve ser muito mais difícil que encarar a realidade!

Um livro e meia garrafa de cachaça

                                                                                        Por Lúcio Costa Leite

Tenho muitos de livros, já li muitos deles, outros, apenas figuram como floreio consumista de uma lista daquilo que gostaria de ler, mas que me falta tempo.  Nas minhas estantes residem  muitos cronistas, novelistas ou poetas, como é o caso de Artur de Azevedo, Hilda Hilst ,Nelson Rodrigues, Aluísio de Azevedo, Casimiro de Abreu, Lya Luft Machado de Assis , Moacyr Scliar, Monteiro Lobato, Oswald de Andrade, Elio Gaspari , Euclides da Cunha, Fernando Morais, Álvares de Azevedo, Carlos Drummond de Andrade, Castro Alves, Cecília Meireles, Hilda Hilst , João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira , Paulo Leminski , entre outros que me fogem a memória.
Fato é que recentemente arrumando uma estante, esbarrei com o inusitado “Diario de um Mago” de Paulo Coelho, presente recebido pela passagem de meu aniversário. O presenteador já foi riscado de futuras listas de comemorações. Ao presente, reservei um bom lugar no lixeiro da cozinha.

Essa situação me fez lembrar uma discussão que tive com um amigo anos atrás, o assunto principal foi a literatura de Paulo Coelho. Na oportunidade não faltaram farpas, acusações, evasivas, cinismo e agressões verbais.  A amizade foi mantida, mas os argumentos ainda hoje continuam divergentes.

Pensemos em Paulo Coelho e sua obra! Ele sempre foi sinônimo de polêmica entre leitores e da crítica. Em raras vezes há coincidências de opinião a respeito de seus livros, até mesmo porque uma análise objetiva e mais criteriosa das possíveis qualidades de sua obra é uma tarefa ingrata e encarada por poucos.
Alguns dos argumentos em defesa de seu obra se amparam nas traduções de seus livros em mais de 60 idiomas, sua receita de milhões e milhões de reais, a gravação do filme Verônica decide morrer, de sua eleição para Academia Brasileira de Letras – como se isso fosse um ponto de análise para primazia intelectual.
O que tenho analisado é que seus leitores, em sua grande maioria, consultam a obra de Paulo Coelho como um manual esotérico ou como referencial de frases feitas, subproduto que também faz sua fama. Inegavelmente, ele é um bom exemplo de que fazer um grande romance sem saber escrever é possível, afinal ele escreve mal feito poucos, mas é um gênio do marketing para conquistar a mente e os corações de tantas pessoas.
É heresia comparar a obra de Paulo Coelho a de Machado de Assis ou Dostoievski, como muitos fazem, mesmo porque sua obra e de um estilo banal, enraizada em experiências sacais, carecendo de significação, precárias no quesito conhecimento a ser adquirido. Na síntese, um convite à passividade e acomodação.
Muita se fala sobre suas histórias atravessarem às fronteiras, convocando diferentes pessoas a compartilhar as mesmas histórias, mas crendo que não seja ele o tradutor, talvez, as edições estrangeiras tenham algum tipo de coerência.
Acredito que a proliferação desse tipo de literatura esteja no fato da escola não formar leitores. A experiência literária escolar é, de maneira geral, tão pouco marcante ou inexistente (quando não caracterizada pelo desprazer), contribuindo para a proliferação de aberrações literárias como é o caso em questão. Melhor voltar para o outro meio litro de cachaça!