A MAÇÃ E AS ESCOLHAS (crônica de Dia dos Pais de Fernando Canto)

Por Fernando Canto

A primeira vez que comi maçã devia ter uns doze anos. Até então só ouvira falar dela pelos relatos bíblicos ou através de revistas que a mim chegavam eventualmente na escola ou na Biblioteca Pública. Lembro como se fosse hoje minha mãe repartindo a fruta que meu pai trouxe da sorveteria onde trabalhava à noite, após dura jornada de trabalho como funcionário público. Não sei como, mas ela a cortava em sete pedaços, pois esse era o número de filhos que os dois tinham, todos ainda crianças. E ainda hoje cada um deles certamente guarda em sua memória o gosto e o cheiro da maçã como a lembrança do amor que nossos pais nutriam por nós enquanto viveram.

Simbolicamente a maçã representa o fruto da Árvore da Vida ou da Árvore do Conhecimento do bem do mal: conhecimento unificador que confere a imortalidade, ou conhecimento desagregador, que provoca a queda. Mas há inúmeras interpretações. Aquela, por exemplo, em que cortada em dois, no sentido perpendicular, se encontra um pentagrama desenhado e por isso representa o saber; e aquela que simboliza a eterna juventude.

Para Paul Diel (1966) ela significa os desejos terrestres. “A proibição de Jeová alertava o homem contra a predominância desses desejos, que o levavam rumo a uma vida materialista, por uma espécie de regressão, opostamente à vida espiritualizada, que é o sentido de uma evolução progressiva”. O autor diz ainda que “A advertência divina dá a conhecer ao homem essas duas direções e o faz optar entre a via dos desejos terrestres e a da espiritualidade. A maçã seria o símbolo desse conhecimento e a colocação de uma necessidade: a de escolher”.

Na verdade todos nós escolhemos. No dia-a-dia decidimos o que queremos e o que não queremos face às maçãs dos desejos e estímulos que a serpente mídia nos oferece desde que acordamos até a hora de dormir. Se não escolhermos alguém decide por nós, num processo repentino de acomodação que concordamos pelo cansaço.

Não caberia só isso na simbologia da maçã: ela está mesmo ligada á ambição, à desobediência, à astúcia do mal e à expulsão do paraíso, sem contar que a história de Adão e Eva serviu para estigmatizar na humanidade o mito da mulher curiosa e traidora.

Ser expulso do Éden significa percorrer caminhos tortuosos, o resultado da escolha de comer a fruta da Árvore da Vida ou do Conhecimento do bem e do mal. Significa também experimentar o outro lado da liberdade, aquela em que o sofrimento e o trabalho de se sustentar é o produto da dignidade humana, da obrigação de suar para merecer a comida e o sono. Quer dizer também que uma escolha dessas possibilita fazer a diferença entre os indivíduos, que vivem em sociedade, mas competem; se matam e sobrevivem. Fazem sua história e propõem novas escolhas, porém sempre lembrando suas origens, aquelas que formam identidades.

A imagem de um anjo munido de uma espada expulsando nossos avôs primordiais trajando folhas de parreira do Jardim do Éden, não só é o símbolo do abandono como a lembrança de que nós muitas vezes nos expulsamos interiormente quando achamos que erramos em nossas escolhas. É possível que essas escolhas, pelas quais optamos na vida, se deem em razão de múltiplas oportunidades que nos chegam e nos “oprimem”. Optar às vezes pelos “desejos terrestres” ao invés da espiritualidade me parece ser necessário, embora tenhamos que buscar na essência das coisas, algo de deidade, algo que transcenda e nos faça pensar e acreditar que somos mais que isso.

Fico a pensar que quando meu pai levou a fruta do pecado para conhecermos não foi só um ato de amor corroborado por minha mãe. Foi, talvez, uma metáfora da escolha que teríamos de fazer pela vida. Não apenas entre matéria e espírito, mas entre ser ou não ser, o que chamamos hoje de bons ou maus cidadãos. Obrigado, pai.

Quando vejo Tom Moore, eu me recuso a aceitar o fim do homem – Via @EspacoAberto

Rainha concede título de sir a Tom Moore, em 17 de julho de 2020 — Foto: Chris Jackson/Getty Pool/Via AP

Essa história de Tom Moore, o veterano militar de 100 anos, que se tornou um herói nacional no Reino Unido, ao arrecadar o equivalente a mais de R$ 232 milhões dando voltas de andador em seu jardim, é uma história que ainda me leva a continuar acreditando no ser humano.

E acho, sinceramente, que acreditar no ser humano como fonte de onde podem emanar gestos tão singelos, tão solidários, tão desapegados de ambição pessoal é algo que precisa ser registrado enfaticamente.

Por quê?

Porque Tom Moore fez o que fez para ajudar o serviço de saúde de seu país para salvar vidas, nesta época em que o mundo inteiro derrama lágrimas pelas milhares de mortes em decorrência da pandemia.

Capitão Tom Moore – 1940 – Foto: Wikipédia

Porque Tom Moore contrasta com um cenário em que vemos tantas pessoas, inclusive líderes políticos, agindo com crueldade, desumanidade, atrocidade e imbecilidade, tudo porque se aferraram a teses fanaticamente negacionistas que podem estar contribuindo para elevar a mortandade.

Quando me deparo com o exemplo de Tom Moore lembro-me do discurso que William Faulkner (1897-1962), o notável escritor norte-americano, fez ao receber o Prêmio Nobel de Literatura.

Rainha concede título de sir a Tom Moore, em 17 de julho de 2020 — Foto: Chris Jackson/Getty Pool/Via AP

Recuso-me a aceitar o fim do homem”, disse Faulkner. “Acredito que o homem não irá simplesmente resistir: irá triunfar. Ele é imortal, não por ser a única das criaturas com uma voz inexaurível, mas porque tem alma, um espírito capaz de compaixão, sacrifício e resistência”.

Está aí.

Esse é Tom Moore.

Viva ele!

Viva o ser humano.

Fonte: Espaço Aberto

Hoje é o “Mandela Day” – Viva Nelson Mandela! (Se vivo, o herói da liberdade faria 102 anos neste sábado)

18 de julho é o Dia Internacional de Nelson Mandela, conhecido como “Mandela Day” e adotado pelas Nações Unidas em 2009. A data foi escolhida por ser a mesma do nascimento do herói da liberdade, falecido em 2013. Ele faria 102 anos hoje.

Ex-presidente da África do Sul, dono de um Prêmio Nobel da Paz e um dos homens mais respeitados do planeta, Nelson Mandela morreu aos 95 anos em Pretória, na África do Sul. Ele foi vítima de um câncer ao qual lutava contra desde 2001.

Ele foi o maior símbolo de combate ao regime de segregação racial conhecido como Apartheid, que foi oficializado em 1948 na África do Sul e negava aos negros (maioria da população), mestiços e asiáticos (uma expressiva colônia de imigrantes) direitos políticos, sociais e econômicos. A luta contra a discriminação no país o levou há ficar 27 anos preso, acusado de traição, sabotagem e conspiração contra o governo, em 1963.

Condenado à prisão perpétua, Mandela foi libertado em 11 de fevereiro de 1990, aos 72 anos. Durante sua saída, o líder foi ovacionado por uma multidão que o aguardava do lado de fora do presídio.

Mandela defendeu o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais.

Frases:

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”

“Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos.”

“Aprendi que a coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas o que conquista esse medo.”

Viva Nelson Mandela!

Elton Tavares

Para saber mais sobre a história deste fantástico homem do bem, assistam o documentário “O Milagre Mandela”:

NOTA PÚBLICA – EMPÓRIO DO ÍNDIO

A Direção do Empório do Índio, vem a público esclarecer que devidos aos fatos que circulam nas redes sociais, resolveu reforçar as medidas de prevenção ao combate do COVID-19.

Buscando o bem estar de seus clientes e amigos, o Empório do Índio resolveu se adequar às medidas sanitárias impostas pelo poder público, portanto, informamos que SERÁ OBRIGATÓRIO O USO DE MÁSCARA pelos clientes no estabelecimento e NÃO SERÁ PERMITIDO em hipótese alguma o agrupamento de mais que 4 PESSOAS POR MESA.

Pedimos a colaboração dos nossos frequentadores para que esse protocolo seja respeitado, para isso disponibilizamos 2 (duas) mesas agrupadas com 4 (quatro) cadeiras para clientes em grupo de 4 pessoas, e para clientes em dupla, ficará uma cadeira em cada ponta da mesa, não sendo permitido ficar ao lado do seu amigo. Informamos ainda que os clientes não poderão remanejar as cadeiras do seu devido lugar e vamos manter o distanciamento de 1,5 metros de cada mesa e cadeira.

Desde já informamos que os clientes que não respeitarem as medidas impostas pelo protocolo do estabelecimento, terá o atendimento suspenso até sua devida regularização.

Ajude-nos a respeitar as medidas sanitárias e seja consciente, pois as medidas adotadas é para o bem de todos.

Também disponibilizamos álcool 70% para os clientes e todos os nossos colaboradores estão prontos para lhe atender.

Lembramos que a cerveja está na temperatura ideal para sua sede e o tira gosto continua com o sabor típico do Empório do índio.

Chegue cedo, pois nosso horário de funcionamento é até às 22h, com cadeiras limitas e número de pessoas limitados.

Agradecemos a compreensão.
EMPÓRIO DO ÍNDIO

Eu apoio o rock amapaense: movimento de bandas e artistas autorais promove Live no dia Mundial do Rock n’ Roll – Por Daniel Alves – @danalvesjor

Por Daniel Alves, especial para o site Blog De Rocha

No Dia Mundial do Rock, data celebrada nesta segunda-feira (13), um grupo de bandas e artistas do rock amapaense fará uma Live no Facebook, com música e bate-papo sobre o movimento autoral no Estado. A transmissão “O autoral é quem pariu o rock” vai rolar na fanpage da banda Dezoito21 (https://web.facebook.com/dezoito21/), às 22h, com a participação de Brenda Zeni, Otto Ramos, Jean Ferreira, Geison Castro (Dezoito21), Ruan Patrick (Stereovitrola) e Augusto Máximo (VM Rock).

A iniciativa tem o propósito de valorizar e fortalecer o trabalho dessa galera, promovendo pelas mídias sociais esse estilo musical amado por milhões de pessoas e, que, no Amapá, conta com cantores e músicos de alto nível. O movimento sonoro iniciou há um mês e meio e, nesse período, já promoveu diversas programações com o objetivo de ampliar o material produzido pelos grupos de rock amapaenses.

Toda semana trabalhamos no canal do Youtube de uma banda, mas também utilizamos Facebook e Instagram para dar visibilidade às nossas campanhas. Nas redes sociais da Dezoito21 falamos de algum grupo de rock autoral, no estilo de entrevista, para relatar a história da banda ou dos artistas. Aproveitamos e também pedimos para o pessoal que está assistindo se inscrever nos canais, compartilhar e apoiar o movimento”, explicou Geison Castro, vocalista e baixista da Dezoito21.

Outra ferramenta utilizada é o WhatsApp, onde os membros disparam informações sobre as bandas, para que o público que curte o som conheça um pouco mais do trabalho. O grupo está aberto para outros artistas e bandas de rock autoral e, atualmente, conta com o apoio de Adriano Reis, Alexandre Avelar, Brenda Zeni, Dezoito21, Guerra em Paz, Otto Ramos, Rafael Vasconcelos, Stereovitrola, Vini, VM Rock, Zé Ninguém, Michel Lawrence e Sr. Caos.

No Amapá tem muita banda de qualidade, que desenvolve um trabalho profissional com a gravação de discos autorais físicos e nas plataformas virtuais. É importantíssimo valorizar o som revolucionário dos gritos e ruídos vindos do Norte. Desta forma, para ampliar a campanha, o movimento também criou um selo para compartilhar nas redes sociais: Eu apoio o rock amapaense. A proposta é que mais pessoas venham somar, compartilhando com os amigos o que é produzido em terras tucujus.

Lista de canais do AP Rock YT UP:

1. VM Rock

2. Dezoito21

3. Guerra em Paz

4. Marcel Valkant

5. Ravel Amanajás 

6. Brenda Zeni

7. Stereovitrola

8. Vini Gonçalves

Texto: Daniel Alves – Jornalista e colaborador do De Rocha
Edição: Elton Tavares

Melhor idade é a minha! – Crônica de Lulih Rojanski

 

Crônica de Lulih Rojanski

Sonhei que encomendavam uma missa católica para os meus 50 anos, no intuito de me fazer esquecer a ideia de realizar no quintal de minha casa a maior cachaçada de que já se teve notícia. E o padre iniciava a missa assim: “Caríssimos irmãos, estamos aqui reunidos para celebrar a ressurreição de Jesus Cristo e os 50 anos de Lulih Rojanski.” Faço aniversário perto da Páscoa, mas confesso que, no sonho, por esta eu não esperava. Muito menos acordada. E havia um momento em que eu me pronunciava para os fiéis, dizendo a seguinte pérola: “Ter 50 anos é o equivalente a ter 15 anos… 15 anos é a melhor idade da juventude, o princípio de tudo. 50 é a melhor idade da maturidade, outro princípio…” Depois disso, eu tinha uma crise de soluços e a missa terminava, do nada. Coisa de sonho.

Quando acordei, a primeira coisa que fiz foi agradecer a Jesus Cristo por já ter 54. Missa dos 50, só em pesadelo! Mas fiquei pensando no que disse no púlpito, e em dado momento comecei a encontrar certa lógica na filosofia da melhor idade. Minha amiga Elaine vive dizendo: “Melhor idade é o cacete!” Concordo com ela, em parte. Nem 50 nem depois deles é a melhor idade. Nem os 20 ou 30. Nem idade alguma! Acredito que a maturidade tem realmente algo de muito especial, mas a melhor idade é qualquer uma. Aquela em que você se sente realizado e bem-sucedido, seja lá o que bem-sucedido lhe signifique.

Para mim, por exemplo, que sou bastante dada a buscas de harmonia e paz interior, que enfeito a casa com mandalas e mensageiros do vento, que uso japamala e entoo mantras, ser bem-sucedido é passar o fim de semana deitada no gramado, olhando a luz entrar pelas copas das árvores, subitamente esquecida da existência dos calendários. É ter um sono feliz depois de 15 minutos de meditação. É não sofrer por não ter, compreendendo que ter não passa de ilusão. E por aí vai.

Elaine não quer saber de minha opinião sobre o “bem-sucedido”. Já a ouviu uma vez e me mandou me lascar várias vezes. Para ela, Ganesh é só um elefantinho afeminado, meditação é para quem não pode comprar aparelhos eletrônicos, e cantar mantras é coisa de maluco beleza que viaja de Kombi. Ignoro Elaine. Quando quero espantá-la de minha casa, acendo um incenso de pau santo.

A melhor idade chega a qualquer momento para quem ousa transformar a vida para se sentir feliz. Tem gente, por exemplo, que morre aos 100 anos sem nunca alcançá-la. Coincidência ou não, a minha é agora. Mas pretendo esticá-la até os 117.

PERTO DA COBAL, O ABREU – Crônica de Fernando Canto

Pensei que seria o antigo Bar do Abreu, na esquina da extinta Cobal (parece muito), mas o jornalista João Lázaro elucidou que na verdade essa foto é do Bar Caboclo. Deixei aqui somente para ilustrar. Foto: SelesNafes.Com

Crônica de Fernando Canto

– “Perto da Cobal”. Era a indicação, código, informação, referência. Assim a gente se comunicava naquela época, no início dos anos 80, para se encontrar e bater um bom papo nos finais de tarde do gostoso bairro do Laguinho, atrás da sede dos escoteiros. O bar do Abreu ficava na esquina da Odilardo Silva com a Ernestino Borges.

Zé Ronaldo Abreu e Liete Silva

Creio que o Zé Ronaldo nem imaginava a importância que tinha o bar, naquele momento gerenciado só por ele, terminada a sociedade Rodrigo & Ronaldo na antiga lanchonete e açougue RR. Rodrigo foi para o Pacoval e Ronaldo ficou no Laguinho ajudado pelo seu dentuço irmão, um adolescente muito legal chamado Marquinhos.

Foto: Blog Direto da Redação

Pode-se dizer que o bar tinha um “chama”, que atraía boêmios, artistas e intelectuais, políticos e malandros, como qualquer bom bar. Era uma espécie de casa da mãe, útero, boate, palco e tribuna. Algo meio surrealista: enquanto o Hélio lançava o seu livro os fregueses das redondezas compravam cupim ou alcatra entre um pronunciamento emocionado do Pedro Silveira e um riso tímido do Alcy. E assim escutavam o Grupo Pilão e os toques mágicos das violas do Nonato e do Sebastião.

Bêbados contumazes, como dizem os jornalistas, costumavam encher o saco dos fregueses contumazes e comportados, acostumados a beberem após as 11 horas de sábado. Vinham do Jussarão, dum tal bar de chorinho do Noé (quando ele ainda era boêmio), duma tal Dama de Macapá e de outros bares com nome de Quebra-Mar ou coisa que valesse. E falavam, e exigiam bebidas, e vomitavam e dormiam. Só a paciência do Ronaldo era a mesma de Jó. Um guardanapo de pano atravessado no ombro, um sorriso e o gesto de limpar a mesa amainavam as tentativas de exasperação de fregueses chatos, e principalmente daqueles que adoravam se exibir falando inglês mas espalhavam perdigoto.

O bar era sério como qualquer bar sério. Porém só veio a ter o nome atual quando um velhinho simpático e meio atrapalhado, pai do Ronaldo e do Marquinhos ficou por trás do balcão, dando descanso aos dois. Era o seu Abreu, que logo se tornou amigo de todos. Dos homens e das mulheres, dos bêbados e dos inconformados, dos santos e dos capetas. Um homem que muitas vezes era importunado às quatro horas da manhã por alcoólatras para a primeira dose do dia, mas que fazia da sua profissão de dono de bar um sacerdócio, como dizem os assistentes sociais e os políticos agnósticos.

Caricatura do artista plástico Wagner Ribeiro

E como todos sabem o bar do Abreu era um bar itinerante, como diziam os advogados e os vagabundos líricos. Já rodou meio mundo macapaense, fazendo histórias e presenciando casos de amor e de morte, juntando paixões e separando olhares, refazendo vidas e acompanhando vitórias e derrotas de times e de jogadores. Viu amores entre militares e garçonetes, entre pintores e enfermeiras, observou transeuntes eventualmente entrando no bar para matar sua sede ou engolir uma moela guisada, antiga especialidade da casa.

Foto: Renato Ribeiro

Depois de mudar de lugar o bar tinha nas paredes televisores enormes; quadros impressionantemente horríveis, como diria o esteta, e uns fregueses que achavam bonito tudo o que o Bolachinha imitava nas madrugadas em que se refugiava para não imitar a si próprio.

Antigo Bar do Abreu, na Avenida Fab – Foto: blog O Canto da Amazônia

Este era o bar do Abreu que conheci desde sua inauguração em 1981. Um bar feito com categoria e estilo que proporcionava união, contradição e o ato de beliscar a lua, montado no sonho dos fregueses, ouvindo “a música das moedas deslizando nas máquinas caça-níqueis do Eduardo”, como poderia dizer o Max Darlindo cantando um samba bem alegre. Um local onde o freguês tinha o rei na barriga e o imperador na boca, onde quem bebia sem brindar ficava três anos sem transar, onde quem brindava sem beber ficava três anos também sem. Onde um “murmúrio ofegante” do celular do Bira Burro era escutado a 100 metros de distância. “Ali há uma ilusão para continuar jogando”, dizia o Tavares ao observar o prefeito atravessando a rua para “tomar uma” no bar.

Bar do Abreu em festa, de volta a Avenida FAB – 2015

O rodízio citadino do bar do Abreu infelizmente cansou, ficou sem fôlego na pandemia e fechou suas portas. Mas bar é um fênix. Certamente um dia volta com outro estilo. E o velho balcão de inúmeras conversas e grandes alegrias estará lá como imã atraindo os velhos fregueses.

Foto: Tica Lemos

– “Égua”! Eu exclamo agora ao lembrar que o “perto da Cobal” confunde e troca o espaço pelo tempo em quase 40 anos que o mundo rodou dentro e fora de mim, para que pusesse referência nos passos que dei pela vida e nas construções que a lida diária, as reflexões e os bons amigos me proporcionaram realizar.

Comunicação regional e o direito à informação e à cultura – Por @danalvesjor

Por Daniel Alves

Para haver uma boa comunicação é necessária reciprocidade entre os agentes envolvidos. O falante e o ouvinte devem estar atentos e familiarizados com as mensagens, com o risco da formação de ruídos prejudiciais a interlocução. Entretanto, a informação, no mesmo caminho do entendimento, encontra-se afetada quando olhamos na perspectiva da cultura regional.

O mundo cresceu e com ele as estruturas sociais se globalizaram, estabelecendo homogeneidades das práticas culturais, econômicas, dos padrões de produção e consumo. O local tornou-se também global. A evolução tecnológica elevou a comunicação a outros patamares, quebrando barreiras territoriais da informação.

Com todos esses avanços informacionais, fica difícil conceber as velhas dificuldades para uma comunicação voltada ao regional. Na verdade, é possível perceber que atualmente conhecemos o mundo pelas ondas digitais, no entanto, somos ignorantes na percepção da nossa realidade local. Mas por que isso acontece?

Regionalidade em Segundo Plano

Notamos que os meios de comunicação como o rádio e a televisão, tradicionais elementos de difusão em massa, ainda são os principais obstáculos para o acesso aos conteúdos inerentes de grupos sociais com menor representação na sociedade. É perceptível a dificuldade desses agentes de se comunicar sobre seus fundamentos, mas é ainda pior na esfera global, onde poucos conseguem difundir suas realidades.

Já em atividade mais recente, foi com o surgimento da internet e, principalmente, das redes sociais, que alguns grupos começaram a mostrar-se, mas o que não garantiu a eles o conhecimento expandido dentro do próprio ambiente regional, já que no meio de tantas informações esses conteúdos acabam ficando sempre em segundo plano. Dessa forma, a liberdade de expressão e informação, como previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, continua limitada.

Os conflitos de interesse e falta de representação

Esse impasse, encontra motivações no modelo de distribuição de mídias no Brasil, concentradas nas mãos de pequenos grupos econômicos que não atendem o direito à comunicação e à cultura em sua plenitude. A legislação brasileira define os meios de radiodifusão como concessões públicas, pela natureza fundamental à cidadania, ainda assim, não vemos a diversidade brasileira representada nas grades de programação.

Na região norte do Brasil, temos uma tentativa encampada pelas redes nacionais de televisão em produzir conteúdos locais, a partir das emissoras afiliadas. Seria o mais próximo que chegamos de uma comunicação regionalizada, pois dentro desse grupo são produzidos conteúdos direcionados a região. Infelizmente, somente parte da programação atende a questão noticiosa dos Estados, sem amplitude para o desenvolvimento das culturas e histórias das relações sociais locais.

O Monopólio do Rádio

No rádio, veículo de comunicação com vocação natural para a regionalização, ingressei estudo em 2017 sobre as rádios comunitários do Amapá. Naquela época, segundo dados do Ministério das Comunicações, o Estado tinha o registro de 19 entidades autorizadas a exercer o serviço de radiodifusão comunitária nos 16 municípios.

Na programação desses meios havia um predomínio de programas religiosos e musicais, sendo que os de caráter informativo apareciam em poucos casos. Esses instrumentos se mantinham nas mãos de igrejas e grupos políticos, mesmo a lei 9.612/98, que regula o setor, determinando um cunho educativo, artístico, cultural e informativo da região atendida.

Nesse caso, nos pontos onde a comunidade deveria participar no processo de produção do conteúdo, notamos a presença dos interesses individuais dominantes. Esses veículos, que deveriam cumprir um papel fundamental de difusão das existências locais, quase não promovem mudanças onde estão inseridos. No mundo atual, o direito à comunicação é fator primordial para a cidadania, pois garante a todo indivíduo a oportunidade de opinar sobre os contextos sociais.

Globalizar vs Regionalizar

Nesses tempos, é muito difícil o regional resistir ao global, mas ainda observamos alguns casos. Em 1967, o brasileiro Luiz Beltrão propôs a teoria da folk comunicação, que define os elementos folclóricos como o caminho para grupos populares desenvolverem sua comunicação, chegando de alguma forma aos veículos de massa.

A teoria surgiu da impossibilidade do acesso aos instrumentos comunicacionais massificados e de uso exclusivo das elites, assim, fortalecem-se os laços interpessoais dos grupos vulneráveis socialmente. Desta forma, o autor defende outro complexo de procedimentos para o intercâmbio de mensagens dessas classes, mais próximo de suas vivências.

Daí partiria um caminho para a comunicação e o conhecimento das classes que não detêm espaços ampliados na grande mídia para expressarem-se. Os instrumentos da cultura popular serviriam para a intermediação da informação produzida de fora para dentro e vice-versa. Esses meios são aqueles artesanais, elementos que muitas vezes já são considerados primitivos, sem uso por aqueles que controlam os instrumentos de informação pública.

Ao mesmo tempo que a comunicação se ampliou, muito do regional se perdeu. O uso dos elementos locais vem servindo mais para a publicidade e o mercado, que buscam a aproximação com suas audiências. É urgente a necessidade de expandir a cultura e a informação produzida nos bairros, pontes e locais de acesso popular. Talvez, desta forma, conseguiremos manter as identidades coletivas, além de propor um olhar para dentro das realidades que nos cercam.

*Daniel Cordeiro Alves é jornalista por formação, assessor de comunicação e especialista em Estudos Culturais e Políticas Públicas pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).

IMPORTAR – Por Vladimir Belmino

A palavra importar é da classe gramatical verbo do tipo regular, etimologicamente vem do Latim (importare: ‘trazer para dentro, importar’). Como verbo, pode ter vários significados, variáveis de acordo com sua flexão e com seu emprego, seja como verbo intransitivo, seja como verbo pronominal, seja como verbo transitivo direto e, finalmente, como verbo transitivo indireto.

Para efeito deste rápido trabalho, nos interessa o verbo pronominal, o que traduz ‘dar importância a’; ‘fazer caso de’, podendo ser utilizado como nas frases: “não se importa com nada” e “ele se importa com ela”.

Ainda como verbo, como todo e qualquer verbo, ele é ação em sua essência. Ou seja, o palavra-verbo importar implica um movimento; sendo da classe verbo às palavras que fazem a vida existir, a exemplo do famoso texto bíblico de João 1:1-4 “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem ele. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens”.

E esse pensamento é muito poderoso, uma chave de conhecimento, independente de sua contextualização religiosa. Em verdade, a mensagem que vem do texto bíblico transpassa a religiosidade ao se perceber que não é dado a ninguém, nem mesmo ao Deus, realizar sem ação, sem verbo.

Então, na frase “ele se importa com ela”, o que nos conta o verbo ‘importar’ na utilização pronominal? A qual movimento nos agita? A qual ação nos inspira? Ele nos diz que temos que nos importar com o outro, mas como se dá essa ação de se importar com o outro? É a compaixão, seria compreender o que o próximo está passando ou o colocar-se no lugar do outro? Refletindo sobre outro trabalho apresentado na sessão da Loja Zohar, de autoria de nosso irmão José Lobo Neto, cheguei a outra conclusão.

Se importar com o outro é o movimento de trazer o outro para dentro de si; como se fosse um ato de importar produto do estrangeiro para dentro de nosso pais. É mais que sentir compaixão, muito mais do que se colocar no lugar do outro, sentir na pele o que ele passa. Isso é só o começo do ‘se importar com o outro’.

No momento em que se realiza a dificuldade alheia, percebendo-a, foi dado o primeiro passo no complexo ato de ‘se importar’ com o outro, na sequencia vem a ação propriamente dita de tirar o outro de onde se encontra – ajudar a sair da dificuldade ou do sofrimento – trazendo-o para seu mundo onde esta vicissitude não existe, ou onde pode ser mais branda pelo compartilhamento da solidariedade.

Solidariedade é um ato de bondade com o próximo ou um sentimento, uma união de simpatias, interesses ou propósitos entre os membros de um grupo. Ao pé da letra, significa cooperação mútua entre duas ou mais pessoas, interdependência entre seres e coisas ou identidade de sentimentos, de ideias, de doutrinas. Alguém quer falar de sua etimologia? Pois ela não é verbo, mas rende bons pensamentos também.

Por fim, para que repouse em nossa mente algo de útil sobre o verbo e sobre agir, que demonstre a beleza de seu movimento e a pequenez de nossa mente, socorro-me e espalho o pensamento inquietantemente belo de Manoel de Barros, no poema VII de “Uma didática da invenção” (in Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011), deixando a quem deseje, criar a poesia IMPORTAR:

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.

Confrade Vladimir Belmino de Almeida, cadeira nº 31 Moacyr Arbex Dinamarco, em 12.02.2017.

ERA UMA VEZ – Crônica de Evandro Luiz

Foto: Maurício Paiva.

Crônica de Evandro Luiz

A cidade era tão pequena e distante dos grandes centros que passava despercebida do resto do país. A população, na maioria agricultores, estava profundamente enraizada com a terra. “daqui só saio para o cemitério’’ dizia Joaquim da Paixão, negro de um metro e oitenta, exímio batedor da caixa de marabaixo, forte como um búfalo, rápido que nem cobra sorrateira e liso que nem giju.

Veleiro no Rio Amazonas – Foto: Manoel Raimundo Fonseca

Com toda essa performance, ganhou fama e prestigio, mas também adversários. as marcas no corpo revelavam uma vida agitada. ainda assim, repetia sempre: “daqui não saio nunca, só morto”. O rio em frente da cidade parecia ser um obstáculo intransponível para quem tinha o desejo de sair do isolamento, tamanho a sua magnitude.

Foto: blog Amapá, minha terra amada.

Além do medo de ter que viajar em barcos que pareciam ser grandes gaiolas, por um período de três dias para se chegar a cidade mais próxima. Viajar de avião era impossível para quem vivia da agricultura de sub existência. então só lhes restavam viver com intensidade o que lhes foram destinados.

Folia Religiosa de São Sebastião, em Mazagão Novo, no Amapá (Foto: Iran Lima/Associação Amapaense de Folclore)

Líderes da comunidade cumpriam religiosamente o calendário dos santos preferidos e de datas importantes. Tradicionalmente se reuniam e faziam a festa do senhor em frente à igreja. Com a chegada de padres italianos os ânimos ficaram acirrados.

Foto: Márcia do Carmo

Os padres não queriam aqueles rituais envolvendo o senhor em frente do templo. Eles espalharam que os festeiros seriam amaldiçoados caso não mudassem a festa da santíssima trindade para outro lugar.

Foto: Chico Terra

Houve resistência foi aí então que a igreja usou do seu quinhão celestial contra os simples mortais. em reunião secreta entre os padres e governo, foi decidido que o centro da cidade seria urbanizada. assim os moradores que viviam em terras, fruto da herança de seus antepassados, estavam entre a desobediência e a cruz. Ainda assim, alguns tentaram ficar. Mas o medo de serem amaldiçoados e banidos do cristianismo falou mais forte.

Foto: Maurício Paiva.

Para enfraquecer o movimento veio o segundo golpe: as lideranças foram divididas e distribuas para lugares diferentes e longe do centro. contudo, o balé das senhoras com roupas coloridas persistiam. e mesmo com as dificuldades, a força e a vontade dos festeiros em preservar os costumes dos antepassados eram fortes. mMs com a fragmentação do movimento, reacende um sentimento incubado nas lideranças. O da disputa pela hegemonia do calendário profano da festa do senhor.

Foto: Maurício Paiva.

A festa da criação da cidade é realizada com toda estrutura governamental e participam do evento os grupos folclóricos em uma tentativa de agradar a todos. Porém, a disputa ficava mais evidente era na corrida de cavalo que os ânimos ficavam acirrados e justamente onde João da Paixão se destacava. Ganhando praticamente todas as provas. Um fazendeiro de São Paulo ficou tão admirado, que não pensou duas vezes: vou levar esse vaqueiro.

A notícia se espalhou rápido. No embarque para são paulo, João tremia que nem vara verde. Pela primeira vez ia entrar em um avião o que estava totalmente fora de seu controle, foram seis horas de muita agonia.

Dois meses depois da sua chegada veio o primeiro rodeio. João da Paixão nunca tinha visto tanta gente reunida. a prova consistia em derrubar um boi em pleno movimento. Prova fácil para o vaqueiro do norte que conquistava cada vez mais admiradores. Na realidade, João se preparava para o grande final que reunia os melhores peões do país. No dia da competição, o vaqueiro do norte entrou na arena sob gritos da multidão.

Foto: Maurício Paiva.

Para trás ficava em definitivo o batedor da caixa de marabaixo.

O último voo do Pavão – Crônica porreta de Fernando Canto sobre a história do homem do marabaixo (que partiu há exatos 11 anos)

Mestre Pavão – Foto: Chico Terra

Na segunda-feira, 11 de maio de 2009, o mestre Pavão bateu suas belas asas para nunca mais.

O homem do marabaixo partiu para encontrar-se com seus ancestrais, os mesmos que lhe ensinaram a tocar tão bem a caixa, o tambor que anunciava bons augúrios nas tardes do Laguinho. Com ele Pavão comunicava a seus pares, os agentes populares do sagrado, que a festa do Divino e da Santíssima Trindade já tinha início. E todo um ritual deveria ser obedecido, desde o Domingo da Aleluia, passando pelos preparativos da seleção dos mastros nas matas do Curiaú, até a sua derrubada e escolha dos próximos festeiros no Domingo do Senhor. Com ele se foi um arcabouço cultural de grande valia para a memória do nosso patrimônio imaterial.

Foi-se também a sabedoria dos que fazem acontecer as manifestações mais legítimas do povo. E restou apenas o espanto dos que ficaram. Doente, não mais participava ativamente dos eventos do marabaixo como nos velhos tempos, mas sempre dava um jeito de ir em sua cadeira de rodas aos mais importantes, para ouvir o rufar das caixas e ver as saias da negras velhas rodarem sob o ritmo intenso oriundo de além-mar.

Pavão levava muito a sério o que fazia no marabaixo. Até brigava por ele. Seu amor pelo folclore certamente foi herdado do avô Julião Ramos, o grande líder negro, que na época da implantação do Território Federal do Amapá disseminou o ritmo e a dança para todo o Brasil. No domingo, véspera da sua morte, sua filha Ana perguntou-lhe se ia ao marabaixo do Dia das Mães na casa da Naíra – uma das festeiras desse ano no bairro do Laguinho. Ele disse que não ia porque estava indisposto, mas mandou todo o pessoal de sua casa para lá, pedindo que não deixassem a ”cultura morrer”. Mal sabiam todos de sua casa que a cultura do marabaixo, nele impregnada, estava morrendo um pouquinho com ele.

Justo que consideramos a memória como o deciframento do que somos à luz do que não somos mais, a morte é o abismo que tudo leva e engole inclusive o segredo da identidade, aquilo que nos pertence social e culturalmente. Posto isto, quantas conversas não foram abruptamente cortadas numa gravação para um trabalho de conclusão de curso dessas tantas faculdades da capital? Assim sendo, o que restou de seus depoimentos, desse depósito memorial tão importante para que se analise o marabaixo? Ora, sabe lá quantos pesquisadores egoístas guardam suas fitas encarunchadas e vídeos empoeirados que nunca vão se abrir para ninguém?

Mestre Pavão a todos respondia com a maior paciência, paciência esta que aprendeu a ter com a doença intratável que lhe fez perder uma perna. Mestre Pavão dava a todos o seu conhecimento vívido e vivido intensamente em setenta e dois anos de repetição ritualística que a sua memória avivava e exprimia no vai-e-vem dos olhos.

Aqui peço licença poética ao escritor moçambicano Mia Couto que escreveu o “Último Voo do Flamingo”, para parafraseá-lo, dizendo que o nosso pavão alçou seu último voo na tarde amena de maio. Um voo curto,é certo, porque pavões não voam quase nada, mas são aves do paraíso por excelência. Sua luxuriante plumagem em profusão de dourados, verdes e azuis à luz do sol reflete uma miríade de cores, onde o vermelho e o branco parecem estar presentes como se preparando para um desfile da Universidade de Samba Boêmios do Laguinho, a escola do coração do mestre. Convém lembrar aqui que o simbolismo do pavão carrega as qualidades de incorruptibilidade, imortalidade, beleza e glória, que por sua vez se baseia em outro aspecto além destes: a ave é predadora natural da serpente, e em certas partes do mundo, mesmo seu aspecto maravilhoso é creditado ao fato da ave transmutar espontaneamente os venenos que absorve do réptil. Este simbolismo de triunfo sobre a morte e capacidade de regeneração, liga ainda o animal ao elemento.

Fogo, sim, do marabaixo quente, do “Caldeirão do Pavão” com seu caldo revitalizador do carnaval que tanto o mestre amava e por isso se enfeitava nos áureos tempos dos desfiles da FAB. Vai em paz, Pavão, tua plumagem tem cem olhos para vigiar o que deixaste entre nós.

(*) Publicado No livro “Adoradores do Sol”, de Fernando Canto. Scortecci, São paulo, 2010. Minha homenagem a um dos mais importantes divulgadores do Marabaixo.

**Fotos encontradas nos sites do Chico Terra; Rostan Martins; Memorial Amapá (Neca Machado); Tribuna Amapaense e Federação Folclórica do Amapá e jornalista Mariléia Maciel.

Moro apresenta duas provas que desmentem Bolsonaro, mentiroso compulsivo. Mas ainda deve ter mais 200 para mostrar na hora certa.

Sergio Moro exerceu por mais de 22 anos o cargo de juiz federal.

Em boa parte de sua carreira na magistratura, atuou como juiz criminal.

Esmerou-se, portanto, em saber como bandidos agem, inclusive os da Lava Jato.

Não seria agora que iria fazer acusações tão graves contra a maior autoridade da República sem dispor das provas necessárias para não incorrer, ele próprio, em crimes vários, como os de calúnia e denunciação caluniosa, entre outros.

É de uma ingenuidade atroz imaginar-se, como estão imaginando bolsonaristas ingênuos, mas ensandecidos, que Moro não teria provas das acusações graves, gravíssimas como as que fez a Bolsonaro na manhã desta sexta-feira, ao anunciar sua saída do cargo de ministro da Justiça.

Ontem (24), o Jornal Nacional exibiu duas provas enviadas por Sergio Moro.

Uma delas, para reforçar a acusação de que Bolsonaro se mostrava irresignado com investigações da PF sobre deputados bolsonaristas, ainda que Moro lhe explicasse que a Polícia Federal estava agindo por determinação doe ministro do STF Alexandre de Moraes.

A outra prova, para demonstrar que ele, Moro, rechaçou proposta indecorosa da deputado bolsonarista Carla Zambelli, de apoiar uma eventual indicação do então ministro para o Supremo, caso ele permanecesse no Ministério da Justiça e aceitasse a indicação do delegado Alexandre Ramagem para substituir Maurício Valeixo na direção geral da PF.

Essas duas provas, ainda que relevantes e contundentes, são apenas uma preliminar, são apenas um aperitivo do que Moro certamente deve ter, para exibir no momento oportuno e no foro adequado.

Mesmo assim, há bolsonaristas acreditando que Bolsonaro, um mentiroso compulsivo, não mente.

Mesmo assim, há bolsonaristas acreditando que Bolsonaro é uma espécie de vestal intocada da nova política, logo ele, que, sabem todos, é uma cria da velha, velhíssima política.

Mesmo assim, há bolsonaristas se recusando a aceitar o fato de que Bolsonaro, como presidente da República, não tem respeito nem pelo cargo que exerce e muito menos pelo Brasil, que ele desgoverna desde 1º de janeiro de 2019.

Fonte: Espaço Aberto

Hoje é o Dia Mundial do Livro

Hoje, 23 de abril, é o Dia Mundial do Livro. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no ano de 1995, em Paris (FRA), durante o XXVIII Congresso Geral. O objetivo é encorajar as pessoas – especialmente os jovens – a descobrirem os prazeres da leitura, disseminar a cultura e fazer com que o maior número de pessoas conheçam a contribuição dos autores de livros através dos séculos. Hoje também é celebrado o Dia dos Direitos de Autor.

Com o escritor, poeta e amigo Fernando Canto, quando o mesmo me presenteou com seu livro “Mama Guga”.

Origem do Dia Mundial do Livro

A Unesco escolheu a data do Dia Mundial do Livro, por ser o dia da morte de três grandes escritores da história: William Shakespeare, Miguel de Cervantes, e Inca Garcilaso de la Vega. Essa é também a data de nascimento ou morte de outros autores famosos, como Maurice Druon, Haldor K.Laxness, Vladimir Nabokov, Josep Pla e Manuel Mejía Vallejo.

Com a escritora, poeta e amiga Alcinéa Cavalcante, quando ela me presenteou com seu livro “Paisagem Antiga”.

Uma tradição catalã ligada aos livros já existia no dia 23 de abril, e parece ter influenciado a escolha da Unesco, pois tradicionalmente, no dia de São Jorge (23 de abril), é costume dar uma rosa para quem comprar um livro. Trocar flores por livros já se tornou costume em outros países também.

Presentes via correio que ganhei do escritor, poeta e amigo Luiz Jorge: seus livros “Thybum”, “Antena de Arame” e “Cão Vadio”

Quando perguntam qual a minha profissão, digo que sou jornalista, assessor de comunicação e editor de um site. Mas que, um dia, gostaria de ser escritor. Bom isso tá muito perto de se realizar (depois conto em outro texto).

Apesar de não ter lido nem metade do que deveria e gostaria, ainda acredito na velha máxima: “ler para ser”. Pois sei que é fundamental para fertilizar as ideias, principalmente na minha profissão. Que tal começar ou terminar um livro hoje?

Elton Tavares
Fonte: Calendar Brasil