Reciprocidade é tudo, acreditem! – Crônica de Elton Tavares (Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Em qualquer campo social, profissional ou afetivo, a gente só dá o que recebe. Aprendi que em tudo na vida é preciso reciprocidade. Sim, parceria, mão dupla. Acho engraçado que pessoas que não fazem nada por você, mesmo que já tenham feito (mas fizestes muito também por elas), lhe cobrarem algo. Outro fato que espanta é o lance de não lhe convidarem para nada, mas quererem que você as chame para tudo.

E ainda rolam casos de nego que não paga uma menta e se faz de vítima quando te vê fazendo algo legal via redes sociais. Que porra é essa? É preciso parceria, reciprocidade, dar e ter retorno. No trabalho, por exemplo, preciso de ajuda para executar minhas atividades e pessoas competentes nas coisas que me falta competência.

No campo da amizade, família ou relacionamento amoroso, a troca é necessária. Aprendi isso a duras penas. Mas sempre tem aquele parente ou “amigo” que acha que só você deve procurá-lo ou telefonar. Não!

É um lance até idiota, mas corriqueiro. Hoje em dia nem planejo nada. Procuro quem me procura, saio com quem me liga (e como ligam, graças a Deus) e por aí vai. Essa troca é natural e não deveria incomodar e nem ser explicada. Mas de tanta cobrança, estou aqui falando sobre o obvio.

Sou verdadeiro. Trato todos que amo bem, muito bem. Comigo as cartas estão sempre na mesa, pois não gosto de correspondência cognitiva. Portanto, a quem interessar possa, fica a dica: é preciso reciprocidade, sempre!

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Pedro Aurélio Tavares gira a roda da vida. Feliz aniversário, tio!

Com o tio Pedro, um cara PHoda!

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Hoje, meu tio Pedro Aurélio, gira a roda da vida. Trata-se de, além do laço sanguíneo/parentesco direto, trata-se de um amigo.

Pedro Aurélio é um cara de gênio forte, super sincero, teimoso, entre outras qualidades e defeitos peculiares deste figura que hoje completa 71 anos. Sou igual a ele. Às vezes, fico muito puto com o tio e ele comigo. Mas graças a Deus, o “encaralhamento” passa e seguimos amigos. Vez ou outra, a gente discorda, de novo, mas é assim mesmo. Afinal, nos amamos.

Lúcia (esposa do tio), eu, Bruna e Pedro – Encontros felizes

Já contei e falo novamente: deixei de ser um moleque doido, nos tornamos amigos. Ele me ajudou algumas vezes. Sou grato por isso e o papo com o tio é sempre muito pai d’égua.

Pai de quatro filhos, avô de um lindo casal, marido da Lúcia, administrador de empresas, bacharel em Direito, maçom (foi venerável mestre), fazendeiro e conselheiro substituto do Tribunal de Contas do Estado (TCE/AP), Pedro Aurélio é um cara que admiro muito meu tio por ele ser quem é.

“…E a gente vai tomando que também sem a cachaça Ninguém segura esse rojão…

Se gostar de você, é um puta dum amigo. Um cara Phoda mesmo! Se não der valor em ti, é encrenca certa. Após sete décadas de existência, ele segue forte defensor de suas opiniões. Nem sempre certas, claro.

Há alguns anos, sofreu um acidente muito sério e quase embarca para outra jurisdição. Ainda bem que não fez a “subida tridimensional”, como diz nosso amigo Fernando Canto, e continua nesta jornada conosco.

Tio é um cara que me apoia, me aconselha, me defende e, se preciso, me esculhamba. Sou grato pela sua amizade. Pedro Aurélio é um cara que marca presença. Tem coragem e atitude. Ele é um homem inteligente, astuto, experiente, combativo, leal e honesto. É uma das pessoas que tenho orgulho de ter o mesmo sobrenome, o mesmo sangue, de ser do mesmo clã.

Pedro Aurélio entre eu e meu irmão, Emerson.

Pedrão, que nossos encontros sejam como sempre foram, com muito mais motivos para sorrirmos, cheios de histórias para contar e um copo pra brindar, porque nossa vida só tem sentindo se a amizade e amor estiverem em nós.

Tio, que tenhas sempre saúde, mais sucesso (se é que isso é possível), paz de espírito e paideguices que aqueçam teu coração. Que vivas mais umas décadas, pra gente seguir a brindar na jornada. Tenho sorte de ser teu sobrinho e mais ainda de te ter como amigo. Graças a Deus tua existência orbita a minha. Te amo. Feliz aniversário!

Elton Tavares

Eu me inventei – crônica de Elton Tavares (Do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”) – Republicado por conta do Dia do Jornalista

Ilustração de Ronaldo Rony

“Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir”, disse Winston Churchill. Quando criança e adolescente, alardeei qualidades que não tinha. Mas as minhas invenções passaram de ficcional para real. Sim, uma coisa espantosa sobre mim (sim, este texto é sobre este jornalista, portanto, se não quer saber, pare agora e vá fazer algo útil) é que inventei um personagem e virei ele.

Não me acho e nunca me achei superior a ninguém, muito menos especial. Mas não quis ser um tipinho anônimo e insignificante que era na infância. Por isso, me inventei. É tipo fazer figa ou morder o beiço pra caba não lhe ferrar, se você acreditar, acontece!

Cansado de piadinhas idiotas, inventei que perdi a virgindade aos 13 anos, mas aconteceu aos 14, em 1990. O motivo da mentira? Detestava ser o único moleque virgem da sétima série. Aí comecei a ter mesmo sucesso com as meninas. Hoje, acredito que a maioria mentiu naquela época.

Ilustração de Ronaldo Rony

Depois inventei que era bom de briga, até ter que brigar. Se tivesse me acovardado, ia ficar esquisito. Depois da terceira ou quarta surra que peguei, me tornei, de fato, bom de porrada. E depois disso ganhei muitas lutas de rua.

Mas o papo aqui é sobre o jornalista. Demorei muito pra ser um profissional mediano em algo. Fui vadio, office boy, auxiliar de escritório, auxiliar contábil, vendedor de seguros, porteiro de escola e, enfim, jornalista.

Ilustração de Ronaldo Rony

Não dá pra se inventar jogador de futebol ou músico (quem dera), mas jornalista, deu! Vou explicar. Basta ler, estudar, apurar um fato e ser ético, além de possuir discernimento crítico sobre temas diversos. Não, não é fácil. O tal de pensar fora da caixa. Pois bem, eu me inventei jornalista.

Claro que aprendi com muita gente, desde os professores da faculdade aos colegas de trampo. Errei muito, ainda erro e sempre errarei. Aliás, todos nós, sempre.

Creio que a vida, o cosmos, Deus ou seja lá qual o nome da força que rege tudo isso conspira a favor de quem trabalha e acredita em si mesmo. Por isso, resolvi ser esforçado e focado quando quero algo. Como disse um sábio que conheci: “Quem me escolheu fui eu mesmo!”.

Otimismo, sorte, coragem e batalho, muito batalho. De tantas experiências vividas, trampo pra caramba e lições tiradas, aprendi esse ofício. Nesse âmbito, tento ser correto, original, sincero e justo. Nem sempre consigo, mas, quando não ajo dessa maneira, é porque não deu.

Ilustração de Ronaldo Rony

No final das contas, me dei melhor que muitos dos sabichões da época do colégio, que me parecem infelizes em seus ofícios. Tomei gosto por estar sempre bem informado e escrever virou algo prazeroso. Dá até pra viver disso (risos).

A verdade é que, com o tempo, todo mundo saberá quem é você realmente. Me tornei o que decidi ser: às vezes, sou contista; noutras, cronista, contador de histórias e sempre jornalista. Eu inventei essa porra e muita gente acredita nisso. Até eu. É isso!

Elton Tavares

*Do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

**Republicado por conta do Dia do Jornalista.

1º de abril: hoje é o Dia da Mentira

Conforme a mitologia nórdica, o 1º de abril é o Dia consagrado ao deus Loki, dos truques e das brincadeiras, culto que teria posteriormente gerado o Dia da Mentira. Também li que o motivo é que: “Em 1564, depois da adoção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX de França determinou que o ano novo seria comemorado no dia 1 de janeiro. Alguns franceses resistiram à mudança e continuaram a seguir o calendário antigo, pelo qual o ano iniciaria em 1 de abril. Gozadores passaram então a ridicularizá-los, a enviar presentes esquisitos e convites para festas que não existiam. Essas brincadeiras ficaram conhecidas como plaisanteries”. Bom, dizem que é isso, mas pode ser mentira.

No Brasil, o primeiro de abril começou a ser difundido em Minas Gerais, onde circulou A Mentira, um periódico de vida efêmera, lançado em 1º de abril de 1828, com a notícia do falecimento de Dom Pedro, desmentida no dia seguinte. A Mentira saiu pela última vez em 14 de setembro de 1849, convocando todos os credores para um acerto de contas no dia 1º de abril do ano seguinte, dando como referência um local inexistente.

Todos mentimos, muito ou pouco, pois faz parte do convívio social. E não somente hoje, mas o ano todo, a vida toda. Existem mentiras e mentiras. Pode ser uma simples desculpa para não ir a uma festa ou faltar ao trabalho. O problema é quem mente o tempo todo e que possui uma máscara para cada situação. Conheço alguns assim. Outros acham que sou assim, uma mentira. Logo eu, um cara tão verdadeiro. Mentira?

Gente que mente para aparecer, para parecer mais competente ou mais inteligente. Nego que conta lorotas para se firmar dentro de um grupo ou puxar o saco de alguém que ele imagina que pode lhe beneficiar de alguma forma.

Apesar de trabalhar com comunicação institucional há 14 anos, o que muitos confundem com mentir e puxar-saco, não sou dado a essas práticas. Prefiro trampar com afinco, respeito e franqueza. Quem me conhece sabe: isso NÃO é mentira.

Sinto muito pelos mentirosos compulsivos, mais ainda pelos que mentem por grana, pois já perderam sua essência, respeito de colegas e suas almas. Gosto das brincadeiras e da ironia que envolvem o primeiro dia de abril, mas pensem em suas mentiras cotidianas. Elas fazem mal somente a você ou prejudicam muita gente?

Conheço várias pessoas que são uma grande mentira. Gente que tenta parecer algo que não é e que nunca será. Pessoinhas que vivem a vida dos outros, sempre contando causos que ouviram e tentam fazer com que acreditem que elas vivenciaram tais fatos.

Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir”, disse Winston Churchill.

Tô pensando em largar o jornalismo, assessoria de comunicação, edição de site, deletar o De Rocha, parar de beber, talvez ser mais “eclético”, ser “fitness” (talvez começar a correr) e ir pra essas festas “legais” que os amigos tanto insistem em me convidar. Talvez faça Arquitetura, Administração ou Direito, quem sabe. Chega de ser um jornalista boêmio e rocker. Cansei.

E você, já contou sua mentirinha de hoje? Enfim, um ótimo dia e um abril feliz pra todos nós. Se possível, com poucas e inofensivas mentiras.

Elton Tavares

Verdade seja dita – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Sim, eu não sou o dono da verdade, pois a pessoa que me vendeu a verdade, em suaves prestações, mentiu pra mim. A verdade, na verdade, pertence a todo mundo que quiser ostentar o título de dono da verdade. A verdade tá pouco se lixando pra quem ainda a leva a sério, pra quem ainda dá importância a esse conceito volátil e volúvel.

No fim da negociação, antes que a pessoa que me vendeu a verdade partisse para suas férias num paraíso fiscal qualquer (deve ter vendido a mesma verdade pra muita gente e enriqueceu), compreendi que as prestações, que eu achava tão suaves, de suaves nada tinham. Eram massacrantes. Fui eu, euzinho, que fiquei inebriado pela ideia de ser o detentor da verdade, e agora tenho que pagar por isso infinitamente. Fui eu que me iludi achando o preço razoável. Eu me machuquei de verdade com aquela miragem que se dizia verdade. Depois, apareceu outro sujeito querendo me vender uma verdade de segunda mão, arranhada, meia-boca, mas ainda ostentando fumaças de grandeza, restos de um esplendor do fim do século XIX, quando ainda tinha algum valor no mercado, nem precisava de tantos documentos para que fosse comprovada. Aí eu disse não! Eu não precisava de ninguém para ter a verdade, eu mesmo invento a minha verdade, que, para existir, basta apenas que eu acredite.

O conceito atual da verdade foi caindo tanto que agora cada um tem a sua, é dono da sua verdade, como se fosse um pet, e dane-se se essa verdade tem a ver com qualquer resquício de coerência. Pode ser contrária a qualquer lógica, mas, se o sujeito quer acreditar mesmo, é capaz de criar todo um contexto em que sua verdade se encaixe e ganhe ares oficiais.

Outro dia vi um leilão online em que várias verdades estavam expostas. Nestes tempos em que a eleições se aproximam, como um círculo de tubarões cercando o náufrago à deriva no oceano, milhares de verdades estão à venda. Pode-se até alugar uma verdade pra usar em alguns momentos. Uma verdade – quase – absoluta é ótima para algumas situações.

Encontrei uma verdade perdida na rua e levei pra casa. Estou alimentando essa verdade com muitas mentiras e adestrando na base do ódio. Quando estiver bem grande e robusta, vou soltar a minha verdade em cima de qualquer um que venha com uma verdade que se pretenda mais verdadeira que a minha. Quando estiver cansado e insatisfeito, vou passar a verdade adiante ou sacrificá-la. Já estou de olho em outra verdade, uma bem tecnológica, o lançamento mais recente do mercado. Vou comprar pela internet direto da China. Os fabricantes me garantiram que nessa verdade eu posso acreditar, mas é bom ter um estoque de verdades de menor calibre para usar no dia a dia.

Vejo autoridades corruptas reivindicando sua verdade. Vejo pastores vendendo sua verdade. Vejo grupos armados defendendo sua verdade. Vejo marqueteiros maquiando sua verdade. Vejo candidatos espalhando sua verdade. Até sou capaz de ver a verdade, sim, a própria, a legítima, a única. Ela está deitada, dormindo tranquila, ao lado da minha cama.

Meu céu – Crônica de Elton Tavares – Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Pois é. Escrevi uma crônica sobre como seria o meu “Inferno”. Hoje vou falar/escrever um pouco de como seria o meu céu. Não sei se baterei na porta do céu como Bob Dylan. Nem se vou achar o lugar igualzinho ao paraíso, como sugeriu o The Cure, mas estou atrás da “Stairway To Heaven” do Led Zeppelin. Só não vale ter “Tears In Heaven”, do Eric Clapton. Mas vamos lá:

Meu céu é em algum lugar além do arco-íris, bem lá no alto. Bom, lá, ao chegar ao meu recanto celestial, eu falaria logo com ELE, sim, Deus ou seja lá qual for o nome dele (God; Dieu; Gott; Adat; Godt; Alah; Dova; Dios; Toos; Shin; Hakk; Amon; Morgan Freeman ou simplesmente “papai do céu”) e minha hora já estaria marcada.

Ah, não seria qualquer deusinho caça-níqueis (ou dízimos) não. Seria o Deus de Spinoza, que como disse Einstein: “se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.

Após este importante papo com o manda chuva do paraíso (tá, quem manda chuva mesmo é o seu assessor, São Pedro, mas eu quis dizer mesmo é do chefão celestial), daria um rolé e encontraria todos os meus amores que já viraram saudade. Ah, como seria sensacional esse reencontro!

Bom, meu céu é todo refrigerado e chove. Chove muito, mas nunca inunda as vielas do paraíso e nem desabriga ninguém por lá. Ah, abaixo dele chove canivetes nos filhos da puta (que não são poucos) que encontrei durante a jornada pré-celestial. Óquei, pode soar meio lunático, mas é o meu céu, porra!

No meu céu não tem papo furado, como no capítulo 22, versículo 15, do livro de Apocalipse. Lá entrarão impuros sim ou seria uma baita hipocrisia EU estar neste céu. No meu céu não toca brega, pagode e sertanejo sem parar, afinal, isso é coisa do inferno. Ah, no meu céu não entra corrupto, pastor explorador, padre pedófilo ou escroques de toda ordem, esses tão lá no meu inferno e eu ainda teria o direito de cobri-los de porrada!

No meu céu as pessoas se respeitam, não tentam a todo o momento tirar vantagens do outro. No meu céu, serviços prestados são pagos na hora, chefes são justos e não rola fofoca. Lá não tem puxa-sacos, apadrinhados ou seres infetéticos desse naipe que a gente, infernalmente, convive na terra diariamente.

No meu céu tem churrasco, pizza, sanduba, entre outras comidas deliciosas e que nunca, nunca mesmo, nos engordam (pois é infernal o preconceito fitness). Lá também não sentimos ressaca. No meu céu tem show de rock o tempo todo, com todos os monstros sagrados que já embarcaram no rabo do foguete e a gente curte pela eternidade.

Lá no meu plano celestial não existe a patrulha do politicamente correto, nem gente falsa, invejosa, amarga, e, muito menos, incompetentes. Se tá no céu, se garante, pô!

Não imagino o céu como um grande gramado onde todo mundo usa branco, ou um local anuviado onde anjos tocam trombetas e harpas. Não, o céu, se é que ele existe (pois já que o inferno é aqui, o céu também é) trata-se de um local aprazível para cada visão ímpar de paraíso, de acordo com nossas percepções e escolhas. Bom, chega de ficar com a cabeça nas nuvens. Uma excelente semana para todos nós!

“Eu acho que há muitos céus, um céu para cada um. O meu céu não é igual ao seu. Porque céu é o lugar de reencontro com as coisas que a gente ama e o tempo nos roubou. No céu está guardado tudo aquilo que a memória amou…” – escritor Rubem Alves (que já foi para o céu).

Elton Tavares (que graças à Deus, tem uma sorte dos diabos).

*Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”.

Absurdo contra o patrimônio histórico cultural do Amapá: mais uma vez, sugerem a substituição da imagem de São José de Macapá – Por Elton Tavares

São José de Macapá, em cima da Pedra do Guindaste – Foto: Márcia do Carmo

Hoje é o Dia de São José, como já dito e redito aqui no site. Lembrei que, semana passada, ao escutar uma rádio local, o apresentador sugeriu ao Poder Público a substituição da imagem do padroeiro do Estado por uma novisca. O locutor falou na cara dura que a estátua “está velha e deteriorada”. Que, por isso, precisa ser trocada.

A falta de consciência de um comunicador com o patrimônio histórico cultural do nosso Estado seria triste se fosse obra de alguém sem estudo, mas o radialista, amapaense experiente na área, dar um papo desses é no mínimo burrice. Pois é revoltante e mostra a total falta de bom senso do cara.

São José de Macapá, em cima da Pedra do Guindaste – Foto: Manoel Raimundo Fonseca

Essa mesma merda foi sugerida em 2017, quando fizeram uma imagem porreta que hoje fica no Parque do Forte, mas ainda bem que desistiram da ideia. Como disse o amigo poeta Luiz Jorge Ferreira: “Daqui há pouco, aparece um herói com a ideia de construir uma Fortaleza de São José mais moderna” (risos).

A imagem de São José está de pé, em frente à cidade de Macapá e de costas para a capital amapaense ao lado do Trapiche Eliezer Levy, no Rio Amazonas, desde o final dos anos 60, quando foi esculpida e colocada no local. E, após um acidente, em 1973, quando uma embarcação colidiu com o Monumento Pedra do Guindaste, foi recolocada no pedestal de concreto que está até hoje. A estátua não é somente religiosa, já que o santo é padroeiro do Amapá, mas é parte da memória e história amapaense.

São José de Macapá, em cima da Pedra do Guindaste – Foto: Floriano Lima

Trata-se de uma obra de arte do escultor português Antônio Pereira da Costa e precisa sim, de restauro. Não de substituição, como sugeriu, de forma errônea, o comunicador.

As palavras do comunicador ecoaram como pedras lançadas contra a história e a sensibilidade do povo. O cara somente revelou sua ignorância atroz sobre a preservação do patrimônio histórico-cultural de um marco indelével da identidade de Macapá. Eu até tinha respeito pelo radialista, mas não depois dessa afronta à memória amapaense, prefiro manter a distância, pois em um bate-papo, lhe encheria de sebadas sobre o tema.

São José de Macapá, em cima da Pedra do Guindaste – Foto: Márcia do Carmo

A imagem de São José, com suas rachaduras, falta do nariz e demais desgastes do tempo, precisa de restauração e cuidado. Mas é fundamental preservarmos aquilo que nos conecta às nossas raízes. Sugerir sua substituição é, não apenas um ato de desrespeito, mas também uma negação da própria história que nos define como povo.

É urgente que TODOS compreendamos a importância de proteger e preservar nosso patrimônio cultural, pois ele é o fio condutor que nos liga ao passado e nos guia em direção ao futuro.

São José de Macapá, em cima da Pedra do Guindaste – Foto: Floriano Lima

Que as palavras levianas do personagem infeliz dessa crônica/crítica sirvam, não como um eco de insensatez, mas como um chamado à reflexão e à ação em prol da salvaguarda da identidade de um povo e sua concepção de ‘cultura’, primordial para a formação da sociedade.

Talvez precisemos sim de substituições, mas de alguns comunicadores, por estes estarem com suas visões de mundo, percepções do que é correto baseados em seus achismos, o que os faz disparar sandices sem nenhum conhecimento sobre os temas que abordam de forma pávula e asna.

São José de Macapá, em cima da Pedra do Guindaste – Foto: Manoel Raimundo Fonseca

Que São José, lá do alto da Pedra do Guindaste, continue a nos abençoar com sua presença silenciosa, lembrando-nos sempre da nossa responsabilidade para com a nossa história. Pois parte da construção histórica do amapaense seria descaracterizar uma parte daquilo que temos como memória, elemento agregador (fundamental!) da cultura.

Elton Tavares

Nunca fui… – Crônica de Elton Tavares (Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Crônica megalomaníaca de Elton Tavares

Nunca fui sonhador de só esperar algo acontecer. Sou de fazer acontecer. Não sou e nunca serei um anjo. Não procuro confusão, mas não corro dela, nunca!

Nunca fui de pedir autorização pra nada, nem pra família, nem para amigos. No máximo para chefes, mas só na vida profissional.

Nunca fui estudioso, mas me dei melhor que muitos “super safos” que conheci no colégio. Nunca fui prego, talvez um pouco besta na adolescência.

Nunca fui safado, cagueta ou traíra, mesmo que alguns se esforcem em me pintar com essas cores.

Nunca fui metido a merda, boçal ou elitista, só não gosto de música ruim, pessoas idiotas (sejam elas pobres ou ricas) e reuniões com falsa brodagem.

Nunca fui “pegador”, nem quis. É verdade que tive vários relacionamentos, mas cada um a seu tempo. Nunca fui puxa-saco ou efusivo, somente defendi os trampos por onde passei, com o devido respeito para com colegas e superiores.

Nunca fui exemplo. Também nunca quis ser. Nunca fui sonso, falso ou hipócrita, quem me conhece sabe.

Nunca fui calmo, tranquilo ou sereno. Só que também nunca fui covarde, injusto ou traiçoeiro.

Nunca fui só mais um. Sempre marquei presença e, muitas vezes, fiz a diferença. A verdade é que nunca fui convencional, daqueles que fazem sentido. E quer saber, gosto e me orgulho disso. E quem convive comigo sabe disso.

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Flip não dá outro (crônica) – Por Ruben Bemerguy – Contribuição de Fernando Canto

“TEXTINHO?

Recebi do amigo Ruben Bemerguy o texto abaixo que ele chama modestamente de “Textinho”. Vejam só a riqueza da sua escritura e o desenho de sua memória em relação a pessoas que viveram a velha e romântica Macapá. E o Flip? Quem, como eu, não provou desse refrigerante genuinamente amapaense na década de 1960 e início dos anos 70? Provem, então, desse sabor borbulhante do Ruben” – Fernando Canto.

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa” – Chico Buarque de Hollanda.

Moisés Zagury

Flip não dá outro

Muito embora se possa pensar, e não sem alguma razão, que me decidi por uma literatura lúgubre, digo sempre que não. Também digo não ser essa uma expressão de meu luto. Não. Não escrevo sobre os mortos porque morreram simplesmente. O faço como quem ora, sempre ao nascer e ao pôr-do-sol, em uma sinagoga feita à mão, desenhada n’alma da mais imensa saudade. Escrevo também para que os meus mortos permaneçam vivos em mim. Morreria mais apressadamente sem a memória dos que amei tanto. É só por isso que escrevo. Porque os amei e ainda os amo.

E quando esses meus amores partem e com eles já não posso mais falar, passo, insistentemente, a dialogar comigo. É um diálogo franco e, de fato, inexistente. Sempre que tento assumir a função de meu próprio interlocutor, uma súbita impressão de escárnio de mim mesmo me faz parar, e aí calo. Toco a metade de meu dedo indicador direito, verticalmente fixo, na metade de meus lábios, como a pedir silêncio a minha insensatez. Taciturno, faço vir à memória de um tudo.

É por isso, e tanto mais, que ando sempre atrasado. Demoro a escrever e quando decido o faço tão pausadamente que chego a aprender de cor todo o texto. Por exemplo, se medido o amor que tinha por meu tio Moisés Zagury, há muito me obrigava a ter escrito. Mas minha inércia não é voluntária e, por isso, não a criminalizo. Não há relação entre o tempo da morte e o tempo de escrever. A relação é de amor e é eterna. A morte e a palavra, ao contrário de mim, não se atrasam. Além disso, em minha vida andam juntas, nem que seja só em minha vida. Isso já aprendi, porque as sinto frequentemente, desde criança, tanto a morte quanto a palavra.

E é desde criança que lembro do tio Moisés. Lá, estive muitas vezes no colo. Pensei que adulto isso não mais aconteceria, mas aconteceu até a última vez que o vi. No aeroporto, quieto em uma cadeira de rodas, ele ia. Tinha um olhar paciente, de contemplação, de reverência a Macapá e, sem que ele percebesse, eu em seu colo observava obcecadamente cada movimento dos olhos, queria traduzir e imortalizar aquele momento. Não consegui e até hoje tento imaginar o que o tio Moisés dizia pra cidade. Acho que tudo, menos adeus. Macapá e o tio eram inseparáveis. Essa era a terra dele e ele o homem dela. Isso é inegável. Por baixo das anáguas de Macapá ainda velejam o líquido de ambos: do tio e da cidade.

O tio conheceu a cidade cedo. Ele, moço. Ela, moça. Daí, foi um passo para ser o abre-alas dela. Tinha dom. Rascunhavam-se incessantemente um ao outro. Eu os vi várias vezes passeando, trocando carícias. Ela costumava cantar para ele, enquanto ele fabricava um xarope de guaraná. O Flip. Flip guaraná. Dentro de cada garrafa havia um arco-íris. A fórmula era segredo do tio e da cidade, e até hoje o é. Por isso, só o tio conseguia pôr arco-íris em uma garrafa de guaraná. Acho mesmo que o Flip era feito da seiva da cidade. Eu o Tomava gut gut.

O Flip não foi só o primeiro guaraná produzido aqui. Não foi também só a primeira indústria. O Flip, me conta a memória, foi o cenário auditivo mais preciso de minha lembrança. Era a propaganda que anunciava promoção de prêmios a quem encontrasse no guaraná, além do arco-íris, o desenho de um copo no interior da tampinha da garrafa. O copo, sinceramente, não era minha grande ambição. O sabor estava mesmo na propaganda que vinha pelas ondas das rádios Difusora e Educadora, se bem lembro. Era o som de um copo quebrando, esquadrinhado por uma indagação seguida da solução: “Quebrou?. Flip dá outro”. E dava mesmo.

Não sei se por ingenuidade da infância ou ignorância, o que aquele sorteio me fixou é que tudo era substituível. Se o copo quebra, Flip dá outro. Se a bola fura, Flip dá outra. Se a moda não pega, Flip dá outra. Se o tempo passa, Flip dá outro. Se o ar falta, Flip dá outro. Se o amor acaba, Flip dá outro.

Não me cabe agora eleger um culpado pela singeleza de minha compreensão da vida. Fico cá a suspeitar do arco-íris, e nem por isso me zango. Se me fosse permitido optar entre a idade madura e o arco-íris, escolheria o arco-íris sem piscar. Mas isso não é possível, agora eu sei. A bola fura, a moda pega, o tempo passa, o ar falta e o amor acaba. Tudo, é claro, por falta do Flip.

É um desconforto viver sem Flip. Todas as vezes que a vida me recusa, eu lembro do Flip. Mesmo assim, não digo nada a ninguém. Chamo num canto os arco-íris que conservo desde tanto, faço mimos, beijo os olhos, o rosto, e sossego. Vem sempre uma chuva fina. Eu me molho e a guardo. Guardo muitas chuvas. Quando se guarda bem guardadinha, a chuva não dói. Só dói é saber que Flip não dá outro. Poxa, quanta saudade do meu tio.

Ruben Bemerguy

Jornalista e escritora/poeta Alcinéa Cavalcante gira a roda da vida. Feliz aniversário, querida amiga! – @alcinea

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Neste décimo nono dia de fevereiro, a jornalista, professora e escritora/poeta, Alcinéa Cavalcante, gira a roda da vida e lhe rendo homenagens.

Alcinéa Cavalcante é brilhante em tudo que se propõe a fazer. Jornalista, escritora premiada, uma das maiores poetas amapaenses, ativa militante cultural, respeitada blogueira, fotógrafa, numismática, apreciadora da Lua, experiente e perspicaz repórter, imortal da Academia Amapaense de Letras (AAL), amante de carnaval e integrante da Escola de Samba Maracatu da Favela (apaixonada por sua verde & rosa), degustadora de Chandon, mestre em produzir lindos origamis, entre outras muitas coisas porretas que a Néa é.

Mas ela desempenha ainda melhor os papéis de esposa do gentil e gente boa Soeiro, mãe do meu querido amigo Márcio Spot, avó amorosa da Alice, irmã da Alcilene, Alcione, Zoth, entre outros que não conheço, além de amada amiga deste editor.

Há décadas, com sua escrita ímpar, Alcinéa faz arte e comunicação de forma sublime. No compasso suave das palavras tecidas com esmero, sua poesia se entrelaça com a história do Amapá. E seu jornalismo franco, contundente e responsável revelam verdades e colorem os dias neste nosso lugar no mundo.

Néa herdou o talento de seu pai, o lendário Tio Alcy Araújo (um cara que eu queria ter conhecido). Literalmente o toque dela, por onde vai, faz a diferença no mundo. Com seus mágicos origamis, espalhava poesia pela cidade na época do seu Poesia na Boca da Noite. Com ela, a palavra vira poema ou notícia, informação coesa e responsável, pautada pela sua marca pessoal, a credibilidade. Dia a dia vira retrato de uma paisagem antiga, que a gente não quer esquecer.

Seus passos são marcados pelas veredas da cultura e do jornalismo. E ecoam como cânticos de resistência, pois Alcinéa pavimentou o caminho para muitos passarem, como eu.

Adoro quando vou até ela e a gente fica batendo papo no escritório de sua casa, uma mistura de biblioteca e sala de estar aconchegante. Ou quando vamos ao barzinho que fica quase em frente à sua residência, tomar um chopp e molhar a palavra. Quando passo tempos sem ir, ela me ameaça e fala que irei para seu caderninho de ex-amigos. Logo dou um jeito de dar as caras, colocar a conversa em dia e rir bastante em sua companhia.

Ah, Néa sempre nos atualiza, nos ensina e diverte. Para mim, Alcinéa é conselheira, incentivadora, confidente e protetora (sim, ela protege e é extremamente fiel aos seus).

Já escrevi muitos textos sobre a Alcinéa Cavalcante e sempre repito: Néa é um misto de doçura e acidez. Quando jornalista, suas colocações inteligentes, com pontos de vista diferenciados, o leve humor ácido e a abordagem refinada sobre qualquer tema, fascina leitores. Quando poeta, desperta as melhores sensações em quem lê ou escuta seus lindos poemas, pura ternura.

Em resumo, se é que dá pra resumi-la em um texto de felicitações: Nea é uma pessoa sensacional. Uma mulher do bem, mas que combate o mal com força (e ela é forte pra caramba, pensem numa caneta pesada). Não à toa, nós, seus amigos, a amamos. E é impossível ser diferente.

Alcinéa, querida. Parabéns não somente pelo seu dia, mas por ser essa pessoa lindeza que és. Sou grato pelo apoio mútuo e pela amizade que construímos. É uma honra pra mim ser querido por alguém como você . Que teu novo ciclo seja repleto de luz, saúde, harmonia e paz. Que tua vida seja longa. Que sigas alegrando nossas vidas com teus poemas, sacadas, ironia fina e amor. Sou feliz pela tua existência orbitar a minha. Agradeço sempre pelo apoio contínuo e aprendizado. Que sigas, por pelo menos mais uns 100 fevereiros, com essa alegria, energia e força contagiantes.

Parabéns pelo seu dia, Néa. E feliz aniversário, querida amiga!

Elton Tavares (mas tenho certeza que falo também em nome da publicitária Bruna Cereja, minha namorada e também amiga da Néa).

Cerimonialista, jornalista e pastora, Tanha Silva gira a roda da vida. Feliz aniversário, queridona! – @tanhasilva

Com Tanha Silva.

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Neste décimo oitavo dia de fevereiro, a Tanha Silva gira a roda da vida e lhe rendo homenagens, pois trata-se de uma pessoa especial, bondosa e muito porreta.

Ela foi minha chefa, quando gerente de comunicação do Ministério Público do Amapá (MP-AP), instituição que trabalhei na equipe da Ascom. Aliás, Tanha me substituiu nessa função (onde atuei por três anos), em janeiro de 2020 e foi uma líder melhor que eu daquele grupo de profissionais.

Certa vez, ela mesma disse, no natalício de outra amiga: “O dia do nosso aniversário é uma senha entre a terra e os céus, uma data em que estamos mais propícios a receber bênçãos”. Concordo, pois adoro aniversários e tento sempre parabenizar os meus afetos, como a própria dona da frase.

Tanha também é jornalista, mestre de cerimônias, especialista em assessoria de eventos, pastora na Igreja Portas Abertas e empresária no ramo de Cerimonial. Aliás, não conheço melhor cerimonialista que ela.

Tanha Silva, querida amiga, em 2023

Trata-se de uma mulher inteligente, educada, elegante e, sobretudo, do bem. E, ainda, um exemplo de como é ser um (a) cristão(a), de fato. Ah, Tanha é muito dedicada à sua família. É bonito ver o tratamento e ouvir como ela fala amorosamente dos seus afetos.

Antes de trampar com ela, eu a conhecia de vista e de fama, pois sua reputação de gente fina e competente a precede. Tanha Silva me substituiu na gerência da Ascom MP-AP e a vida ficou melhor em todos os sentidos. Ela não somente melhorou o desempenho da equipe, como manteve o grupo unido. Sua fé sempre nos contagiou e seremos sempre gratos pelo produtivo período de convivência.

De acordo com o Tratado sobre Gratidão de São Tomás de Aquino, existem três níveis de gratidão: superficial, intermediário e profundo. O primeiro é o reconhecimento. O segundo do agradecimento, de dar graças a alguém por aquilo que esse alguém fez por nós. E, o terceiro, e mais poderoso, é o do vínculo, é o nível do sentirmos vinculados e comprometidos com essas pessoas.

Agradeço à Tanha no terceiro nível, por tudo que fez por mim em nosso período de intensa convivência. Graças a ela, não pedi demissão na época. Graças a ela, que trouxe paz para o ambiente de trabalho, tudo deu certo, durante os anos de pandemia. Quem sabe toda a história, só elogia essa profissional e sua capacidade de contemporizar.

Com a Tanha, em 2024

Em resumo, Tanha Silva é um ser de luz. Uma mulher admirável e totalmente do bem. Ela sempre foi muito profissional, justa e uma lindeza de pessoa de se conviver. A gente não anda junto fora do trampo, mas gosto demais dela e boto fé que é recíproco.

Querida ex-chefa e amiga, que teu novo ciclo seja ainda mais paid’égua, produtivo, próspero e que tenhas sempre saúde e sucesso junto dos teus amores. Que tua vida seja longa; que sigas com essa sabedoria e fé que lhe é peculiar; que tudo que caiba no teu querer se concretize. Todo o amor dessa vida pra ti. Que essa data se repita por pelo menos mais uns 100 fevereiros.

Tanha, você sempre está no meu coração. Parabéns pelo teu dia e feliz aniversário!

Elton Tavares

É Carnaval, é a doce ilusão, é promessa de vida no meu coração – (Crônica de Elton Tavares sobre a maior festa cultural brasileira)

Essa semana começa mais um Carnaval, a maior festa popular do Brasil. Amo a quadra carnavalesca, particularmente os festejos de rua. A “festa da carne” é paixão e amor, só entende quem sente. Para aqueles que acham tudo uma grande besteira, azar o de vocês, pois não sabem curtir a maior festa cultural brasileira.

Macapá já teve bons carnavais de clube. Na época, os foliões compravam temporadas (as mesas eram “bancas”) carnavalescas, bons tempos. Cresci no meio de gente alegre: meus pais, tios e os amigos deles. Todos “pulavam” nos bailes carnavalescos mais disputados da cidade. Eram realizados no Trem Desportivo Clube ou no extinto Círculo Militar (esse mais elitizado). Ainda adolescente participei de muitas dessas festas memoráveis.

Eu, Rei Momo

Esse ano, desfilarei mais uma vez pela minha amada Piratas da Batucada, como faço desde 1990. O lance é curtir o Carnaval, a emoção e a alegria que ele proporciona. Afinal, “todo mundo bebe, mas ninguém dorme no ponto”. Mentira, muitos passam sim, mas a gente gosta assim mesmo.

Não tenho ziriguidum, não toco surdo de repique, tamborim ou bumbo, tudo pra não atravessar o samba. Também não sou pierrô e nem palhaço, mas já fui Rei Momo e serei sempre pirata da batucada.

Eu, no Piratas da Batucada, em 2015 (como faço desde 1990) – Foto: Abinoan Santiago

Sim, sempre fui um folião fervoroso, pois não nasci em fevereiro, mas o Carnaval tá no meu coração. E nem me venham com o lance de ser “pão e circo”, pois isso é argumento furado de quem não entende que essa é a maior festa popular do Brasil. Cheio de memória, arte, homenagens, é muito mais que uma disputa de agremiações em uma grande passeata festiva. Ou “um bando de bêbados nas ruas”, como dizem os desavisados (ou burros mesmo).

O Carnaval é inspiração, vibração, talento, organização, imaginação, arte, luz, cores, alegria, magia e amor. Fala de nossos costumes, história e tradições. Um contagiante evento de luz, cor e muita alegria. Sem falar na importância que possui para a economia, pois faz o dinheiro circular e beneficia toda a cadeia produtiva, comércio formal e informal.

No ensaio aberto do Piratas da Batucada, com a Bruna Cereja, minha namorada – Fevereiro de 2024

Tô louco desfilar na minha amada escola de samba Piratas da Batucada e andar todo o percurso d’A Banda, a louca marcha alegre. Sim, também estarei no Piratão e naquela multidão de máscaras coloridas. Vamos botar pra quebrar nas ruas de Macapá. Como diz a velha marchinha do remador: “Se a canoa não virar, olê, olê, olá, eu chego lá”.

Enfim, o Carnaval é festa que contempla as tradições e a história afro-cultural brasileira e nos dá a falsa sensação de liberdade, música, suor e alegria. Como diz o samba: “É Carnaval, é a doce ilusão, é promessa de vida no meu coração”. O que resta é esperar a cor que virá depois do cinza. E ela virá (se Deus quiser). Afinal, a festa da carne é isso: ludicidade, beleza e esperança. Tenham todos um ótimo Carnaval!

Elton Tavares – jornalista, escritor e folião. 

Prazer, sou Bernadeth!

Bernadeth Farias

Será que consigo resumir quase 50 anos em duas laudas? Vamos lá!

Cheguei ao mundo em um dia de muita chuva: era uma sexta-feira do dia 31 de janeiro de 1975. Amo quando a Mamãe me conta a história do dia do meu nascimento. Papai saiu de casa ainda na madrugada debaixo de uma chuva intensa (em Santana) para ir em busca de um táxi que a levasse para maternidade, em Macapá (já nasci trazendo esse BO para eles, kkkkkkkkkk).

Sou a 8ª de uma família de 10 filhos (Manoel, Mário, José, João, Benedito, Jacira, Jacirema, Jacirene, Benedita e Bernadeth), e a caçula das 5 mulheres. Recebi o nome de Bernadeth (uma escolha do Papai Benedito) em homenagem à Santa Francesa Bernadette Soubirous (talvez isso explique meu interesse desde pequena por estudar a língua francesa, rsrsrsrs).

Nasci com uma enfermidade na pele que a única forma de aliviar as feridas era tomar benzetacil todos os meses. Imagine uma criança recebendo aquela agulhada. Até hoje tenho trauma dessa injeção.

Mas, como eu não era uma criança boba nem nada, eu me alimentei até os 6 anos do mais poderoso alimento do mundo: o leite materno. E aí passei a ter o que chamam de “saúde de ferro”.

Mamãe conta que aos seis anos, quando ia me deixar na Escolhinha, eu puxava o peito dela pra fora pra mamar antes de eu entrar na sala.

Dos 6 aos 14 anos nunca adoeci, não gripava, nada de febres, dores. Aliás, eu era uma moleca “atentada”. Jogava bola na rua, pulava amarelinha, brincava de elástico, tomava banho na chuva, pira esconde, quebrei a cabeça dos meninos na escola, era encrenqueira (nada de levar desaforo pra casa). Mas, também era muito estudiosa (Papai não aceitava que a gente tirasse menos de 10 nas provas), extremamente religiosa (fui catequista) e trabalhadora (gostava de cozinhar, limpar casa e a Mamãe lavava e passava roupa pra fora e eu ia com a trouxa na cabeça deixar a roupa na casa das clientes da Mamãe. Tinha tanto equilíbrio que nem segurava a trouxa na cabeça). Hoje pra eu me manter no salto, tem horas que dá uma desequilibrada (kkkkkkkk)

Aos 15 anos, arrumei meu primeiro emprego como aprendiz. Daí não parei mais. Aos 18 anos saí de casa para morar, pasmem, sozinha.

E a partir daí iniciava a vida adulta: trabalho, faculdade, boletos, amores, desilusões, conquistas, alegrias, e por aí vai.

Até os 30 anos foram muitas adversidades e realizações: o sonho de ser mãe veio (o nascimento do meu amado filho JOAB), a compra da casa própria (financiada em 20 anos, claro kkkkk), a compra do carro próprio (um celta 2 portas, rsrsrs), e a dedicação e o amor ao trabalho que sempre sonhei.

Mas, nessa idade a gente ainda busca mais né? Então, pedi demissão da televisão (por onde trabalhei por 16 anos) para ir em busca de novos desafios. E os desafios vieram, as novas conquistas chegaram. E, com a maturidade, veio o encontro com o que chamo de AMOR desta e de todas as outras vidas: meu anjo JOB. (E com ele espero em Deus envelhecer)

Já até a chegada dos 40 anos foram muitos sonhos alcançados, mas as conquistas vieram também com renúncias pessoais. Então, as 24 horas do dia eram “insuficientes” para tantas responsabilidades, compromissos e demandas. E, mesmo com sinais do corpo e da mente, não parei.

E quando digo não parar é não parar mesmo: ritmo frenético no trabalho, tentando conciliar casa, responsabilidades de mãe, mulher e filha, atividade física, viagens, estudos.

Mas, a vida é cheia de surpresas. Quase chegando aos 50 anos, a vida me disse: ei, dê uma parada, respire, seu corpo e sua mente estão te cobrando. E é assim que chego a este novo ciclo: tomando a decisão de respirar, me priorizar, mantendo a serenidade no trabalho e na vida pessoal. Minha família e meus amigos sabem o que estou falando.

Por isso, neste dia toda minha gratidão a quem segurou e segura minha mão nesta jornada (impossível listar aqui, porque graças a Deus sou rica de amor e de amigos).

A Deus toda honra e glória por me guiar e me proteger nessa caminhada de quase 5 décadas de vida! Só tenho gratidão e amor no meu coração.

Ano que vem eu “cinquentarei!”

Bernadeth Farias
31 de janeiro de 2024

Museu da Imagem e o Sonho Coletivo – Por Fernando Canto

Imagem encontrada na página do Facebook do MIS-AP (antiga)

Por Fernando Canto

Há muito ouço falar da implantação de um Museu da Imagem e do Som no Amapá. Ideia que todos têm, mas que ninguém se habilita a iniciar. Se já houve nunca chegou a ser organizado de forma que se pudesse ter um acervo significativo, o que é quase improvável. Soube que há alguns anos um atuante deputado propôs um projeto, que foi aprovado pelos seus pares, tendo, porém, estancado na burocracia da administração estadual. Também fui informado de uma tentativa do governo municipal em criar e organizar um MIS em Macapá no início dos anos 90. Na época investiram na formação de um acervo da história da cidade desde que ela foi promovida à capital do antigo Território Federal, em 1944. Começaram por entrevistar antigos habitantes e velhos pioneiros que deram sua contribuição para o desenvolvimento local. Uma equipe de funcionários e cinegrafistas esteve em Belém para completar o processo de informações, colhido através da memória dos velhos servidores públicos. Ali contataram pessoas importantes para a vida do Território e da cidade, como a professora Aracy Mont’Alverne, o professor Theodolino Flexa de Miranda, Belarmino Paraense de Barros e muitos outros. A equipe fez um trabalho exaustivo de entrevistas em vídeos que certamente se constituiria um precioso documento memorial a ser bem aproveitado em exibições museológicas para estudantes e pesquisadores interessados em nossa história recente.

Infelizmente, como a falta de compromisso com o nosso passado é uma realidade desprezível, esse acervo precioso desapareceu. Ninguém sabe onde ele está. A mesma coisa acontece com fotografias, imagens de santos, documentos oficiais, películas, filmes em super-8, negativos fotográficos, discos, livros, revistas e fitas gravadas de depoimentos políticos, registros da cultura popular, discursos históricos de personalidades administrativas, etc.

O Museu da Fortaleza de São José, que já abrigou um acervo preciosíssimo da nossa história foi dilapidado por colecionadores ambiciosos. De lá levaram até os selos e as moedas da República do Cunani, que são relíquias de valor considerável no mercado internacional. Em 1950, a Comissão de Tombamento da Fortaleza, presidida pelo engenheiro Douglas Lobato Lopes, informou que nela existiam 50 canhões de ferro fundido, mas em 1972 havia apenas 20. Hoje não sei quantos restam, se por acaso restarem alguns originais, só para citar como exemplo.

Em 2003 a Prefeitura adquiriu o acervo fotográfico do historiador Coaracy Barbosa, que tem mais de 600 estampas antigas e o Governo do Estado fez o mesmo com o acervo familiar do governador Janary Nunes, que se encontram respectivamente na Coordenadoria Municipal de Cultura e na Biblioteca Pública Eucy Lacerda. Isso representa ponto positivo e responsabilidade com a memória amapaense.

A Prefeitura de Macapá, preocupada com isso, já abriu caminho para a implantação de um MIS municipal, que deverá ser executado durante as comemorações dos 250 anos de fundação de Macapá. Diante disso será necessário adquirir mais acervos particulares e institucionais, pesquisar materiais que devem estar em outros estados e talvez em países distantes, numa saga contínua para que o Museu Municipal da Imagem e do Som não seja apenas um local em que se conservam “artigos do passado”. O museu, na sua conceituação lógica e moderna, deverá ser uma fonte de imaginação e criatividade que nos permitirá sonhar e interagir com o futuro; que nos permitirá conectar no tempo, descortinar idéias e valorizar a cultura humana. Um museu dessa natureza traz a vontade do sonho coletivo.