Minha avó materna, Cacilda Neves Vale, fez a passagem

Cacilda Neves Vale,

Na madrugada de hoje (19), após um longo período de luta contra enfermidades causadas pela idade, Cacilda Neves Vale, minha avó materna, fez a passagem. Ela tinha 92 anos. Vovó teve, ao todo, 12 filhos, 26 netos e 14 bisnetos.

Sou razoavelmente bom em escrever textos de parabéns, mas não obituários. Difícil demais falar de mortes de entes queridos.

Mamãe e vovó

Uma palavra que define a vovó é honestidade. Ela foi uma mulher que venceu as adversidades de sua longa vida com altivez e coragem, sempre com o apoio de seus filhos. A mãe, avó e bisavó que ela foi sempre ajudou todos os seus filhos e netos, fosse com um conselho, alimentação, dinheiro, orações, entre outras missões que uma matriarca possui.

Faço minhas as palavras da minha mãe, filha dela: “Cacilda não precisou ter ciência, bastou que tivesse muita coragem e determinação para a nossa criação e educação. Com alma generosa, se empenhou em favor de sua família, sempre pronta para perdoar e reconciliar. Esforçando-se para não desanimar e consolar”. É exatamente isso, vovó Cacilda sempre foi uma senhora amável, batalhadora e bondosa.

Vovó comigo e meu irmão.

Sempre guerreira, vovó lutou muito pela vida. Nunca fui, como o meu irmão é, um neto agarrado com a vó , mas isso não significa que eu não a admirasse ou amasse. Tenho muitas memórias afetivas com a matriarca da minha família materna. O fato é que sentiremos saudades. Hoje é um dia triste. Até a próxima vez, Cacilda. Que a senhora siga na paz e pela luz.

Dedique-se a conhecer seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez” – Trecho do poema Filtro Solar, de autor desconhecido.

Elton Tavares

Que sorte me apaixonar por um amigo – Por Bruna Cereja (@cerejaverso)

Com a colega de trampo Bruna Cereja, em 2011.

Por Bruna Cereja

Virei namorada de um amigo de longa data. Daqueles de idas e vindas na amizade. A reciprocidade de gênios se transformou na sintonia de sentimentos a mais.

Nos conhecemos em 2011, quando trabalhamos no governo da época. Apesar de trabalharmos na mesma área, estávamos em ambientes diferentes e o que nos unia eram as mesas de amigos em comum.

Demorou muito pra gente “colidir”, com as palavras dele. Esses ensaios sobre o derriço iniciaram em 2014, quando recebi uma mensagem: “Vamos sair, bater um papo?”. Eu não estava de muitos amores nesse ano e o “enrolei”. Sempre fico pensando que foi a melhor coisa não ter aceitado aquele convite naquele dia, naquele ano. Algo maravilhoso nos reservava.

Com a Bruna em 2014.

Passou muito mais tempo. Eu namorei, ele namorou. Eu me desapontei, ele se decepcionou. Eu aproveitei, ele pintou e bordou. Nesse meio tempo, já éramos amigos de mesa de bar. Começamos a compartilhar histórias e conhecer o lado divertido e obscuro de cada um. Era aquela coisa: “melhor não mexer com quem tá quieto, não vamos estragar nossa amizade”.

Eu ouvia de amigos e inimigos de um tudo sobre ele. Recebia informações dos dois lados, mas nunca tive segundas intenções. Às vezes, grudava em happy hours sem fim e por muito, me distanciava e passeava por outras mesas. De repente, vivíamos saindo juntos sempre. E, também de repente, nem nos falávamos. Era difícil até mesmo para pessoas da nossa seara saber se estávamos “de bem” ou não.

2018

Não vou mentir que um interesse foi surgindo com o tempo. Em alguns momentos eu o desdenhava, o achava arrogante, mas depois a gente vai percebendo que é sobre autoconfiança. Nesses aprendizados, eu comecei a perceber outras virtudes, aquelas fora da caixinha de simples encontros entre amigos.

Então um dia eu resolvi me deixar levar. E enfim nos beijamos, em 2020. Fiquei muito empolgada, mas no dia seguinte tivemos uma briga homérica, que despertou gatilhos em nós dois. Nos distanciamos mais uma vez e dessa vez, com razão. Um pouco depois de presos em lockdown nos encontramos em uma grande turma que frequentava o mesmo lugar. Apliquei o golpe da carona e conversamos muito. Briguei e chorei porque ainda sentia uma dorzinha, uma pontada, um nó, de algo que eu queria muito e se esvaiu.

Em 2018 e 2019.

Mais uma vez ficamos sem nos falar por um longo período. Eu só sabia de algumas histórias e sentia pequenas doses de ciúmes, vez ou outra ou pequenas doses de ódio, quase sempre.

Foi então que eu fui trabalhar no mesmo lugar que ele. Eu ficava imaginando como seria o climão. “E se a gente brigar?”, “E se a gente nem se falar?”. Eu sempre penso o pior, sim!

Foi ali que eu conheci o lado do Elton que eu não tinha noção. Muito sério no trabalho, muito organizado, muito cuidadoso com as informações e educado e polido com os colegas. E isso, meus amigos, é o que me cativa. Foi ali que ele me ganhou, sem saber.

Colidimos em 2022 (risos).

Assim, eu comecei o investimento: todo convite para happy hour, lanche, jantar, almoço eu aceitava, mas ele ainda estava arredio. Até que há 30 dias atrás eu pensei: “hoje vai ser o último dia da minha tentativa em ficar com ele” e finalmente consegui. Ele se virou e disse: “há muito tempo quero ficar contigo e tenho notado que também queres, mas somos geniosos e pode não dar certo” e eu respondi: “vai dar certo, sim”. E deu.

Adoro falar com ele sobre livros, sobre músicas, sobre planos e muita merda. A gente passa horas rindo das besteiras que contamos e a gente conta porque sabe que o outro vai rir de doer a barriga.

Um mês felizão.

Apesar de sermos um amor de “adultos”, parecemos dois adolescentes no início da vida amorosa, como se estivéssemos começando uma relação pela primeira vez, com todas aquelas vontades de um “pra sempre”, mas não inconsequentes, pq já temos uma carcaça cheia de cuidados depois de muitas águas fervidas. Agora, de quente mesmo, só o amor tórrido que segue.

Meu comentário: a gente ainda se surpreende com tudo isso relatado acima. E tá muito firme mesmo. Sorte nossa, a evolução dessa amizade para um relacionamento tão porreta. Foi o fim do “Feitiço de Áquila”. Sigamos felizes, Bruna! É isso (Elton Tavares).

A falta que vai fazer o grande Jô Soares – Crônica de Marcelo Guido

Jô Soares morreu na madrugada desta sexta-feira (5) aos 84 anos. (Crédito: Reprodução/Divulgação)

Crônica de Marcelo Guido

Sim, sabemos que gênios existem, são de carne e osso, padecem com o tempo e saem de cena.

Não seria diferente com José Eugênio Soares, o popular “Jô”. José foi na última sexta feira, dia 05. Torcedor do Fluminense, devoto de Santa Rita de Cássia e antes de tudo um verdadeiro estandarte da cultura brasileira e por que não mundial.

Humorista, já não se tem adjetivos de grandeza para mencioná-lo quando o assunto é humor, seus inesquecíveis personagens estão gravados na memória do povo brasileiro desde os tempos da Família Trapo, onde ao lado de Ronald Golias e de grande elenco arrancava risos aos montes como Gordon.

Em “Viva o Gordo”, teve com certeza todo seu reconhecimento, seus personagens em esquetes de humor são marcas registradas até hoje, declaro aqui minha paixão pelo “Capitão Gay”, que com seu fiel escudeiro “Carlos Suely”, combatia o crime nas noites, o “Jornal do Gordo”, que era feito para pessoas mais ou menos surdas, como a tia Cotinha.

Como cantor lembro de sua participação no especial infantil “Plunct, Plact Zuun”, cantando o “Planeta Doce”, realmente uma das muitas memórias que tenho da infância.

“Escritor sensacional, “O Xangô de Baker Street”, onde conseguiu trazer ao Rio de Janeiro o grande Sherlock Holmes e fez com que uma singular “ Pomba Gira”, baixasse em Watson, em “O Homem que Matou Getúlio Vargas”, intrometeu  Borginha nos maiores acontecimentos do mundo. Colocou em duvidas a imortalidade dos imortais em “Assassinato na Academia Brasileira de Letras” e  matou sem dó e piedade senhoras gordinhas em “As esganadas”, o gênero policial era seu forte, e me acompanhou da minha adolescência a vida adulta. Com orgulho digo que li todos.

Como apresentador, foi um craque. Trouxe e popularizou no Brasil o formato gringo “Talk Show”, era  um Jay Leno Tupiniquim, primeiro no SBT ou TVS, com o “Jô Soares 11 e meia”, que tinha como marca nunca começar no horário.

Sua extrema habilidade transformava as entrevistas em verdadeiros bate papos, que deixavam o telespectador por dentro de vários tipos de assunto, da politica a arte, da musica a ciência.

Lembro de assistir a Legião Urbana, Ratos de Porão, assim como o Brizola, Ayrton Senna dentre muitos outros. No “Programa do Jô”, na sua volta a Globo, o formato continuou o mesmo, mas as apresentações mudaram colocando o sexteto , antes quinteto, como personagens assim como o garçom Alex.

As apresentações do e-mail do programa, ou a paixão do chileno Alex por Pinochet foram marcantes.

Sua emoção ao ir trabalhar de luto pelo único filho, ou a generosidade que dava a artistas para se apresentar, como esquecer da primeira aparição de Fábio Porchat, como camisa da seleção de Portugal, ou o monólogo “Mundo Moderno” recitado por Chico Anysio.

Jô se foi sem alarde, estava fora da TV a um tempo, talvez o compromisso de provar algo não existisse mais ou o cansaço natural já não faziam ter o gosto pelo trabalho na telinha, nunca saberemos.

Se foi sem se despedir, sem o beijo do gordo, sem lágrimas nem choro nem vela, nos deixou um último ensinamento: “Viver não é tão importante, o importante é a comédia”.

Termino este texto parafraseando Marcelo Falcão, que sem duvida alguma resumiu quem era Jô em uma das muitas entrevistas do  O’Rappa, “Jô, você é Foda!”.

Jô Soares – Foto: Rede Globo

Este ser que transformou a TV Brasileira, foi cremado em uma cerimônia simples, na manhã do último sábado (6)

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia.

O sapatinho da Alzira e as mulheres pretas – Por Marco Antônio P. Costa (tamo junto, @AlziraNogueira6)

Por Marco Antônio P. Costa

Nessa última sexta-feira (1), aconteceu o lançamento da pré-candidatura da Alzira Nogueira para deputada estadual. Eu não consegui acompanhar muito a plenária, porque fiquei ajudando desde cedo na parte estrutural e logística, mas num breve momento cheguei e quem estava fazendo uma saudação era a Alexsara Maciel. Ela contava, emocionada, que um dia encontrou-se com Alzira em tal ou qual lugar e a nossa assistente social estava com um sapatinho novo, lindo, e que, minutos depois, ela já apareceu com pés descalços.

– Alzira, cadê teus sapatos?
– Eu acabei de dar para uma moça que estava precisando, teria respondido Alzira.

A Alexsara foi minha professora na Unifap quase 20 anos atrás. Mulher preta e de esquerda, marxista e combativa e, mesmo assim, nunca a tinha visto declarar apoio político de forma tão entusiasta para alguém como ela o fez nesta sexta. Fiquei feliz, e de certa forma emocionado com a história que ela contou. Mas, sobretudo, tive naqueles minutos ali um pequeno insight. É que eu percebi – só um pouquinho, um filigrama! – como é espetacular esse encontro. Foi com a Alexsara que eu aprendi, da pior forma, como pode o racismo estrutural ser tão canalha. Ela que é daquela geração de amapaenses que foi para a UFPA, estudou, foi do movimento negro, esforçou-se e se estabeleceu como professora em nossa universidade e, mesmo assim, recebia a alcunha maldosa de “complexsara”. É sinistro, é cruel e provavelmente também devo ter sido dos que falaram ou sorriram do termo. É violência política, de gênero e de raça. É pelo o que passam, também, mulheres pretas.

Eu vejo que no Amapá ainda não se expressou com toda força, eleitoralmente, aquele fenômeno similar ao que levou Marielle e outras mulheres como Renata e Dani, à votações muito grandes e representativas. Me parece que há essa demanda represada e pela força, em número e energia militante que a plenária expressou, a Alzira vai canalizar esse fenômeno. Que bom!

Que bom que o que antes era complexo, hoje é luta, encontro, potência, grito, revolta, amor e esperança!

Por fim, “pés-descalços” é um termo antigo cunhado pela UDN, pela direita brasileira, para tentar desqualificar o povo mais simples e trabalhador que ousa participar da política. Pois se não é irônico e maravilhoso que, nesta eleição, para deputada estadual, eu vou votar em uma legítima pés-descalços! Ontem senzala, hoje favela! Obrigado, pela oportunidade de ter um voto bom desses, Alzira, e obrigado Alexsara, pelas lições nas aulas lá atrás e na posição política do presente!

Vamos juntos!

*Por Marco Antônio P. Costa é cientista social, jornalista e militante político há mais de 20 anos.

Eu? Uma grande emocionada! – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Tem uns dias que ando melancólica, mas acredito ser por não dar a pausa do anticoncepcional e não deixar meus hormônios agirem naturalmente. O acúmulo de repente tá fazendo isso. Ou a ausência. O normal seria eles me deixarem louca, mal humorada, mas aí eu os reprimo, eles se organizam e o ataque é feroz!

Só sei que tenho escutado músicas que me tocam a alma e me permitido chorar de soluçar. Assistido filmes que me emocionam. O choro é livre, literalmente. Livre e leve. E me leva a refletir que pela primeira vez na vida (adulta!) estou vazia de dor de amor, porém não menos emocionada. Assumidamente emocionada.

Ao contrário do que muita gente me imagina, sou sensível demais. Tudo me afeta. Sinto compaixão, empatia, vontade de cuidar e agir e por muitas vezes e quando posso o faço, sem alardes, e sigo. Meu desafio diário é justamente esse: domar esse turbilhão de afeto que me move e deixar todos ao meu redor imaginarem que sou a personificação da plenitude, a calma e elegância que tanto dissemino.

Mas a realidade dentro é outra: sou uma mulher apaixonada, visceral, intensa e cheia de afeto. Meus amigos sabem disso, pois conhecem o vulcão que em mim habita. Eu fervo. Minhas explosões são dentro. Respiro fundo e tenho altos papos comigo mesma avaliando os cenários, comportamentos e definindo o próximo passo. Nem sempre funciona. Tem vezes que não me escuto e mergulho na emoção. E me entrego, afogo, me deixo levar e vivo cada minuto inteira para quando chegar o fim, ter valido a pena nadar em lava.

E sim. Por pior que aparentemente algumas experiências tenham sido, sou grata a cada uma delas por ter-me lapidado e melhorado, afinal de contas sou o resultado de todos os meus erros e acertos. Erros que me fizeram feliz por um tempo, acertos que me despedaçaram em determinados momentos, mas segui e sigo, hoje, um dia de cada vez, em paz. Uma paz quase palpável.

Porém, mesmo em paz, esse sentimento ferve, borbulha, respinga quente vez ou outra e me lembra que tá ali e não vê a hora de transbordar. E ele vai transbordar na hora certa e sem tirar essa paz conquistada com tanta luta, amarrando muitas pontas soltas. Restam ainda poucas por amarrar, mas de uma em uma vou vencendo os dias e quando menos esperar, realizo meu sonho de lembrar do amor que terei toda vez que ouvir Coração Selvagem, e vou chorar de soluçar do mesmo jeito que hoje quando acordei. E vai continuar sendo lindo. Calma, elegante e emocionada.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

Em defesa de “Mama Guga” e de vários outros escritos daqui – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Surpreso com a notícia que as obras “Mama Guga” e “O centauro e as Amazonas” teriam sido retirados de prateleiras de uma certa livraria da cidade, com a alegação que eram, pasmem, “não recomendável para leitura de jovens”. Em primeiro lugar eu ri, depois pensei com meus botões:

“Nossa nossos jovens amapaenses tão ricos culturalmente, com extensa e ampla programação cultural voltada para seu deleite e conhecimento, para que os mesmos se tornem cidadãos exemplares e continuem a espalhar conhecimento por gerações e assim mostrar a todos o nosso riquíssimo conhecimento intelectual”, nem preciso dizer que contem sarcasmo.

Mama Guga” é uma obra genial de autoria do grande Fernando Canto, digo grande por que uma figura dessas circulando por aqui é realmente um privilegio, Canto é um ser que inspira e transpira conhecimento, seja como excepcional sociólogo ou como artista que consegue transitar como poucos pela musica, literatura e pintura. O cara é realmente um exemplo que sem mais firulas não posso deixar de dizer que se estivesse no sul ou sudeste deste imenso país já teria seu reconhecimento. Sem exageros o cara pode ser comparado ao João Ubaldo e o imenso Darcy , os dois Ribeiros.

Fernando Canto, o maior escritor vivo do Amapá.

Na já citada obra, na qual eu me refiro neste texto o autor consegue com destreza impar reunir vários textos e contos com temática amazônica e que nada de pornográfico ou chulo que assustaria os nossos mais puros e incautos leitores jovens.

Quando soube do ocorrido, me lembrei dos saudosos “Catecismos” do Zéfiro ou as “Piadas do Costinha”, porra. Até pensei essa alegação sim foi a mais pura sacanagem.

O grande cabedal de obras do autor falam por si só, “O Balsamo”, “Quando o Pau Quebrar”, “Equino Cio” , “Os Tempos Insanos” e “Adoradores do Sol”, cito esses que já li e posso falar, uma leitura franca, que envolve o leitor por ser fácil e prazerosa para quem se aventura em escritos.

Gostaria de saber as graduações literárias de quem do alto de sua expertise ou salto alto conseguiu proferir tal desculpa esfarrapada para que os livros fossem devolvidos, será que apenas J.K. Rowling e George R.R. Martin estão autorizados a chegar nas cabeceiras e mentes dos nossos jovens .

No mais espero mais espaços para que a produção local possa ser apreciada, onde autores como o próprio Fernando Canto assim como o Júlio Miraguaia, Mary Paz e o Elton Tavares dentre os muitos outros possam ser apreciados e respeitados. Onde o conhecimento local chegue a os jovens e a cultura local seja repassada.

Espero que a programação cultural voltada para o publico jovem seja mais que a praça, boate e show do Gustavo Lima e que pessoas mais conceituadas se entreguem ao mercado literário local para que afirmações descabidas, preconceituosas e por que não burras sejam parte do passado.

Em tempo a internet já esta ai para desvirtuar os nossos jovens não joguem a culpa nos livros.

Como diria Paulo Freire “ A leitura é um ato de amor”.

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia. Ainda não leu “O centauro e as Amazonas”.

Giovanni : “ O Messias da Vila” – Crônica de Marcelo Guido

Quando os deuses da bola revolvem conceder talento eles geralmente não brincam sem serviço. Talvez estivessem cansados de ver o comum tomando conta do meio campo, ou queriam apenas ver alguém brincar com bola nos campos, como se estivesse no sonho e assim, magistralmente concederam o dom para Giovanni Silva de Oliveira, um dentre muitos Silvas no futebol.

Revelado pela gloriosa Tuna Luso, passou por Remo, Paysandu, São Carlense, Barcelona – ESP, Olympiacos – GRE , dentre outros, mas eternizou-se em três passagens pelo Santos.

Na Vila Belmiro fez sua morada. Inteligente conquistou a torcida com passes precisos e gols, muitos gols.

A facilidade com que deixava os companheiros na cara do gol era algo extraordinário, que deixava boquiaberto os felizardos que o viram vestir o branco da baixada santista.

Elegante, conseguia abrir o peito e matar a bola com uma envergadura ímpar de 1,90 metros. Levou o despretensioso time do Santos de 1995 à final do campeonato nacional ao lado de Robert, Jamely e Marcelo Passos. O título acabou faltando, coisas do futebol.

Inesquecível na semi- final daquele ano contra o Fluminense de Renato e Joel Santana, só não fez chover, aliás fez. Uma chuva de gols, uma atuação de gala que lhe fez render a bola de ouro, e o prêmio de melhor jogador do campeonato.

Partiu para conquistar o velho mundo, foi ídolo da torcida Catalã. No Barcelona fez dupla com Rivaldo, meio campo que fazia tremer os adversários. Em seis anos de clube, seis canecos levantados. Chega na Grécia, e a terra de Zeus conhece um semideus da bola, o penta campeonato nacional atuando cinco anos em solo helenístico.

O meio campo era uma salão de baile, onde os craques disputavam a dama “bola” para lhe ser concedida uma dança, e o Messias estava sempre de terno. A pelota sua amiga corria em seu lugar. Ela tinha que correr.

Os críticos de seu futebol o diziam ser “lento”, mas a inteligência e a sapiência em saber os caminhos do campo o faziam diferenciado. Defendia a tese sagrada que o futebol não podia ser comum, não pode ser feijão com arroz, futebol e ousado tem ser tentado mesmo que se perca o lance.

Chegava na hora certa, decisivo, enganava adversários que não acreditavam que ganharia o lance, era craque que além de dar o espetáculo sabia fazer gol, e foram muitos.

Pelo Santos, 3 passagens, 3 faixas no peito. Os Paulistas de 2006 e 2010 e a Copa do Brasil de 2010 e a idolatria eterna de uma torcida que não via sua 10 vestida tão bem desde Pelé.

Solto, tendo o gol como objetivo, ereto, com a cabeça erguida sabedor dos caminhos, aproveitava tal abençoada técnica e tamanho para destituir sem culpa adversários. E vestindo seus pavilhões, como um messias sabia levar seus times a o caminho das vitórias.

Felizes foram aqueles que foram Testemunhas de Giovanni, que jogou em um tempo que bom jogador e futebol brasileiro eram pleonasmos.

*Marcelo Guido é Jornalista. Pai do Bento Guido e da Lanna Guido. Maridão da Bia.

O Fernando de todos nós – Crônica porreta de Carlos Bezerra (*) sobre Fernando Canto

Fernando Canto, com o título de Cidadão Amapaense – Foto: Sônia Canto

Por Carlos Bezerra (**)

Sou um homem de sorte, para a tristeza dos meus inimigos, que eu os tenho e muitos., pois não aceito compactuar com a lassidão moral que devasto o mundo no geral e o Brasil no particular, recusei-me a morrer há uns anos atrás, de modo que continuo vivo, lépido e lampeiro.

Graças a isso tive o privilégio de participar do lançamento do livro “O Bálsamo e Outros Contos Insanos”, do escritor amapaense (o Pará das nossas origens que me perdoe) Fernando Canto.

Fernando Canto – Caricatura do artista plástico e ilustrador J. Márcio. Colorida pelo designer Adauto Brito.

Foi uma noite de gala para a nossa incipiente, mas nem por isso, menos viçosa Cultura. Presentes, amigos de todos os naipes. Escritores, compositores, poetas e cantadores, alguns já de renome, outros nem tanto, mas todos, ímpares nos seus campos de atuação. Uma noite de alegria, de confraternização, de fé e de esperança nos destinos da nossa tão maltratada terra. Noite de música. O Grupo Pilão, impecável como sempre, nos remete para a beleza e a angústia das nossas florestas ancestrais. A presença de Manoel Sobral, Zaide, Obdias, Jamil, Luiz Guedes, Hélio Pennafort, Bomfim Salgado, Isnard Lima, Graça Vianna, Manoel Bispo, Vitória, Hernani Guedes, Zé Miguel, entre tantos outros, nos dá ideia dos que compareceram para levar o abraço, o carinho e o incentivo ao nosso escritor do qual o Brasil ainda ouvirá falar. É possível que esteja possuído do puxa-saquismo mais deslavado mas, um dos meus credos é o de que os meus amigos não têm defeitos. Quanto aos inimigos, se não os tiverem, eu arranjo um.

Fernando Canto é uma das mais belas páginas do livro extraordinário chamado Amapá. O Amapá das ruas poeirentas, do motor de luz na praça da igreja, do Trapiche Eliezer Levy, da Doca, do Merengue, da Piscina Territorial, da nossa juventude perdida que não voltará jamais, nem ela nem as ruas seguras e casas idem, pela ausência de maldade dos macapaenses de então. Fernando torna mais verdadeira a afirmação do nosso poeta maior, Álvaro da Cunha, quase esquecido mas nem por isso menor: “A lua minguante do Amapá, brilha mais do que a lua cheia de qualquer outro lugar”.

Jornalista Carlos Bezerra – Foto: Tribuna Amapaense.

O Brasil e o mundo tiveram muitos Fernando: o Noronha, o Católico, O Lopes, o Dias, o de Magalhães, o de Melo e atualmente o Cardoso. Nós, amapaenses, tivemos mais sorte. O nosso Fernando é Bálsamo, é literalmente Canto.

(*) Crônica publicada no jornal Diário do Amapá. Macapá, sexta-feira e sábado, 18 e 19 de agosto de 1995.
(**) Jornalista e cronista amapaense, in memoriam.

Contador e advogado Paulo Tavares gira a roda da vida. Feliz aniversário, tio! – @paulorptavares

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Quem gira a roda da vida neste vigésimo sexto dia de maio é o meu tio, Paulo Tavares. Dou muito valor nesse cara, pois além de irmão caçula do meu saudoso pai, é um cara Phoda e um amigo querido da vida toda. E por isso, lhe rendo homenagens.

Filho mais novo da Peró e Juca, Paulo Roberto Penha Tavares é um profissional de sucesso em todas as áreas que ele atua ou atuou. Inteligentão, centrado, organizado e safo. O cara possui uma carreira profissional multifacetada. Sim, o tio possui curso superior em Administração, Contabilidade e Direito, além de uma porrada de pós-graduações e especializações. É um empresário reconhecido dentro e fora do Amapá.

Eu e tio Paulo, na antiga casa dos pais dele, meus avós – Primeira metade dos anos 80.

Ele também desempenha com maestria os papéis de pai da Paula, Jamila e Ana e marido da Dacivone. Além disso, é maratonista e já correu provas aqui no meio do mundo e pelo mundo afora. E, ainda, é um estudioso da doutrina espírita e praticante do espiritismo. Tio Paulo é um vencedor em todos os aspectos e admiro sua paciência e empenho em tudo que se propõe.

Já disse em outro texto sobre o Paulo: quando eu era moleque, uma das coisas legais das férias é que tio Paulo, então universitário em Belém (PA), vinha passar o mês de julho ou janeiro em Macapá. O cara sempre foi divertido, brincava comigo e com o meu irmão. Como sempre gostamos (ele e eu) de boa música, outra boa lembrança, é dele gravar o vinil do A-HA (banda de rock australiana dos anos 80) em um fita cassete TDK 90 minutos, dos dois lados, pra gente escutar, “charlando” na brasília amarela da tia Maria. Bons tempos. Também já falei que eu e Paulo discordamos sobre muita coisa. Mas o amo e sei que é recíproco.

Trocando em miúdos, Paulo Tavares é um cara do bem, muito culto, trabalhador, honesto e que lutou muito pra chegar onde chegou, no topo. Trata-se de um cavalheiro. Um homem culto, com visão estratégica e sempre um plano B na manga. E, ainda, um apaixonado por seus afetos e fiel aos seus ideais.

Tio, tu sabes, te amo. Tenho sorte de tua existência orbitar a minha e de ter o mesmo sangue que você. Que tu tenhas sempre saúde pra trabalhar, viajar, amar os seus e que ainda partilhemos vários momentos lindos com nossa família. Todo o amor dessa vida pra ti. Meus parabéns pelo teu dia. Feliz aniversário!

Paulo (de branco), eu, tia Maria e tio Pedro. Família!

“Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar” – Machado de Assis.

Elton Tavares

Amor que nunca morre – Parte 1: Rejane – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Tenho amigos de uma vida toda. Pessoas que conheço desde sempre. Alguns falo todos os dias. Outros o contato é mais espaçado, mas eu me sinto uma privilegiada de ter os amigos que eu tenho.

Claro que a maioria das pessoas já virá com as dez pedras do cancelamento nas mãos afirmando que o que se tem são conhecidos, que amigos se contam nos dedos de uma só mão e todo aquele enredo conhecido de que “nem todo mundo que está ao seu lado é seu amigo”, etc.

Para diminuir a polêmica, vou agora falar de uma em especial que conheço desde os nove anos de idade, quando voltei pra Macapá e caí na turma dela no segundo semestre, terceira série da professora Gil na escola O Pequeno Polegar, minha médica favorita Rejane.

Rejane era uma das melhores alunas DA ESCOLA, sempre atenta e aplicada, com uma letra linda que até hoje não mudou, e com quem, eu, CDF como sempre fui, me identifiquei de pronto. Branca, dos cabelos bem negros, eu sempre soube que ela seria enorme e acertei em cheio em minhas previsões.

Sempre passávamos de ano antes do quarto bimestre. Junto com o Ricardo (sobre ele escreverei em breve, meu amigo irmão que amo tanto e me faz chorar cada vez que ouço a música Não Vou Sair do Nilson Chaves, pois está nos EUA há mais de duas décadas) e tantos outros queridos e queridas, aprontamos muito! Quebramos ovos na cabeça uns dos outros nos aniversários, apresentamos os melhores trabalhos de grupo, organizamos levantes para tirar professor que a gente não gostava da aula, esperávamos ansiosas a festa junina, nos apaixonamos na mesma época pelo mesmo garoto e ainda riamos disso, fizemos primeira comunhão juntas na igreja Jesus de Nazaré e temos tantas memórias afetivas juntas que tem gente que acha que a gente é irmã, como acontece com a Priscylla, sobre quem também escreverei.

Estudamos desde então até quando chegou a hora de optar, já no Colégio Objetivo, qual seria a nossa área no terceiro ano: eu, SEMPRE de humanas, ela, brilhantemente biológicas. Ela foi pra Belém estudar medicina, eu virei mãe da Laís aos 18 anos, formando mais tarde. Ficamos uns tempos sem contato, mas TODAS as vezes que nos encontrávamos, era como se ainda estudássemos juntas: afeto, respeito, admiração mútuas e MUITAS gargalhadas.

Rejane sempre me considerou alguém à frente de meu tempo, mesmo sendo CARETA, por ter sido criada pela minha mãe, Dona Dalva, mulher ativista, extremamente politizada, feminista e motoqueira. É, mamãe andava de moto quando eu era criança é isso não era muito normal na época para mulheres. Claro que só descobri que a Rejane era fã da mamãe depois de adulta, a gente batendo papo e tal. É engraçado como geralmente a gente nem pensa que o que pode ser normal pra gente é super admirado pelo outro. Eu, em contrapartida, acompanhava de longe as conquistas da Rejane, e comemorava todas (e não foram poucas!) vitórias dela.

A vida adulta nos pegou, com boletos, filhos, casamentos, separações, conquistas, fracassos, e de uma forma misteriosa, pois nossa convivência era pouca, sempre estivemos ligadas e nos apoiamos. Ela me entende e conhece e vice versa, sem julgamentos. Tenho um orgulho tão grande dessa mulher que se ela soubesse me daria o título de presidente do fã clube dela, pois ela consegue ser mãe, filha, irmã, amiga, médica e tudo o que ela precisar ser, de forma visceral, apaixonada, intensa e bem feita. Nisso somos BEM parecidas. Carregamos a bandeira da liberdade, intensidade e felicidade. Somos subversão e revolução, sem pudores, reservas ou medos. Expressamos uma à outra nossos medos, fraquezas, frustrações. E sempre nos reinventamos.

E por isso que sempre que falo com ela, eu digo que a amo e escuto que ela me ama, e isso me alimenta a alma, juntamente com tantos outros amores que carrego e tenho. Minha amiga Rejane salva vidas, é uma profissional invejável, com treinamento e capacidade que a fazem única e mesmo assim ela continua ela: simples, enorme e pura força e amor, como uma tempestade que arrasta e não se explica, apenas se admira e respeita. Essa foi outra forma de te dizer que te amo e o quanto você é importante em minha vida e história.

Que a gente consiga ficar velhinhas do jeito que já conversamos e gargalhamos tantas vezes: próximas e cúmplices.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

Dicas do Fernando Bedran para o Feriado

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Fernando Bedran

Dica para o feriado?
Desligue a TV.
Use o mínimo de celular e net.
Faça e coma o rango de sua preferência.
Curta sua família e amigos com muita alegria.
Escute boa música.
Seja você mesmo e reflita se não está viajando demais na barca “da Maria vai com as outras”, pense por você, decida por você.
Não recrute para sua cabeça mágoas, rancores, pessoas sórdidas, hipócritas e nefastas.
Saia um pouco da mesmice viciante do dia a dia e sorria muito, inclusive de você mesmo.
Abrace forte quem estiver por perto.
Reze ao DEUS de seu coração pelos menos favorecidos e os que estão em desencanto.
Aprenda algo e ensine algo.
Se beber ,beba uma por mim.
Se não, sorria mesmo assim.
Bom feriado em harmonia com o todo!

Fernando Bedran

“Anastácia Livre”: Linn da Quebrada e Big Brother Brasil

Por Fernanda Fonseca

“Se a gente não discute o amor e ele não sai desse terreno do ‘intocável’ (…) não percebemos porque alguns corpos são mais amados que outros (…) corpos gordos, negros, trans, de pessoas com deficiência, a gente nem pensa nessas pessoas quando pensamos em amor”. Essa fala foi dita em um dos reality shows mais assistidos da América Latina e por uma travesti preta.

Lina, ou mais conhecida pelo público como Linn da Quebrada, entrou na casa mais vigiada do Brasil há 6 semanas e nesse curto período dentro do reality já fez história. Sim o programa ainda tá longe de acabar, mas a presença de Lina é tão marcante que parece que ela já está há anos na minha televisão, conversando com os outros confinados como se estivesse falando comigo e com o Brasil inteiro.

Lina é a segunda pessoa trans a participar do programa. A primeira foi Ariadna, em 2011, que também foi a primeira eliminada da sua edição. Na época, Ariadna foi vítima de constante transfobia, principalmente por parte da mídia que a acusava de “esconder” sua transexualidade. Recentemente, Ariadna desabafou em sua conta do Twitter sobre se sentir acuada com os ataques e ofensas que sofreu nesse período: “Quando alguém falar: Ariadna foi eliminada porque escondeu que era trans… olha o que faziam comigo na época! Apenas uma das milhares de capas de jornais que eu era humilhada…”.

Onze anos depois, Linn da Quebrada entra no BBB22 estampando em sua blusa a figura emblemática de Anastácia, mulher negra escravizada cujo rosto preenche os livros de história até hoje. Mas o que chamou atenção foi que a Anastácia que ilustrava a camisa de Lina estava livre, sem a mordaça que simbolizou por anos o legado cruel da escravidão no Brasil. Coincidentemente, na mesma semana tive que ler um texto para uma aula de comunicação e gênero na faculdade e, novamente, lá estava ele: o rosto de Anastácia, mas dessa vez com o instrumento que a silenciou por anos de sua vida. O livro era Memórias da Plantação, da escritora Grada Kilomba, e entre os vários temas da obra, o capítulo inicial intitulado “A Máscara: Colonialismo, Memória, Trauma e Descolonização” traz esse instrumento – a máscara usada por Anastácia – como “o símbolo das políticas coloniais e de medidas brancas sádicas para silenciar a voz do sujeito negro durante a escravização”:

“Oficialmente, a máscara era usada pelos senhores brancos para evitar que africanas/os escravizadas/os comessem cana-de-açucar ou cacau enquanto trabalhavam nas plantações, mas sua principal função era implementar um senso de mudez e de medo, visto que a boca era um lugar de silenciamento e de tortura. Neste sentido, a máscara representa o colonialismo como um todo. Ela simboliza políticas sádicas de conquista e dominação e seus regimes brutais de silenciamento […].”

“O que poderia o sujeito negro dizer se ela ou ele não tivesse sua boca tapada?” e “O que o sujeito branco teria de ouvir?” são alguns dos questionamentos que guiam a análise da escritora nessa primeira parte do livro. Invocando a figura da máscara de Anastácia, Kilomba reflete sobre esse medo apreensivo de que se o sujeito escravizado falar, o colonizador terá que ouvir. Ou seja, seria forçado a encarar as verdades que o tirariam de sua posição confortável de ser o único permitido a criar uma narrativa.

Durante toda a minha leitura pensava em Lina e em sua presença avassaladora dentro do programa. Quando Grada discorre sobre a importância da fala que obriga os outros a encarar verdades desconfortáveis, essa ideia pode ser estendida para todos os grupos minoritários que sofreram e sofrem com o silenciamento até os dias de hoje. Quando Lina entra em um dos reality shows mais assistidos da América Latina e constantemente reafirma suas vivências enquanto travesti e negra, ela se coloca nesse lugar de sujeito que fala e que merece ser ouvida.

Agora, completado um mês do BBB22, Lina é uma das pessoas que mais se comunica dentro da casa. Desde depoimentos no ao vivo, explicando para todo o Brasil o uso correto dos seus pronomes, até conversas com amigas sobre amor e rejeição, Lina falou e continua falando. E entre erros e acertos, Linn da Quebrada se humaniza quando fala, e acaba humanizando todos a sua volta também.

E agora fica o questionamento: quem são as pessoas que nos acostumamos a ouvir quando o assunto é amor? E amizade? E autoestima?

Chega de monólogos com as mesmas perspectivas de quem, ao longo da história, sempre teve o privilégio de ser ouvido.

*Fernanda Fonseca é amapaense e acadêmica da Jornalismo na UnB.
Fonte: Site EscreviElas.

70 anos de uma mulher sensacional: Maria Penha Tavares gira a roda da vida. Feliz aniversário, tia amada!

Tenho a sorte de ter tido várias mães nestes 45 anos de existência. A Maria Lúcia, minha mais que maravilhosa genitora, de fato. A Peró, minha saudosa avó paterna e minha amada tia Maria Conceição Penha Tavares. Essa terceira, que gira a roda da vida neste vigésimo terceiro dia de fevereiro, chega aos 70 anos de vida com uma linda jornada e eu lhe rendo homenagens, pois ela é uma mulher incrível.

Sabem, amei a tia Maria a minha vida toda e fui correspondido. Ela foi, é e sempre será uma das grandes amigas que tenho na vida. Uma pessoa que sei que posso contar sempre e ela sabe que é recíproco.

Tia foi servidora pública, bancária e é aposentada. Sempre foi empenhada, muito séria, responsável e dedicada em tudo que se propôs a fazer. Uma pessoa que trabalhou muito na vida. Para si e para os seus. Sim, ela sempre ajudou a todos nós. Foram auxílios de todo tipos ao longo das décadas: financeiros, conselhos, apoio, qualquer coisa que estivesse ou esteja ao alcance da Penha, lá está ela, para salvar.

Tia Maria foi a filha mais dedicada de que tenho notícia, pois cuidou de sua mãe até o fim da linda caminhada da vovó. Sempre foi a irmã preferida do Zé Penha, meu pai (que também já virou saudades) e de seus irmãos (Pedro e Paulo).

Ela também foi a filha predileta de seus pais, e Peró e vô João (que também já seguiu para as estrelas). O que é muito justo. Ela sempre foi incrível. Perdi a conta de quantas vezes Maria Penha me socorreu.

Titia é íntegra, honesta, inteligente, batalhadora e decente. Maria sempre foi um dos faróis (assim como mamãe e vovó Peró) na tempestade que sou, sempre foi umas das luzes do meu caminho. Eu e tia raramente discutimos e ficamos chateados um com o outro, mas acontece, É que somos teimosos e geniosos, mas nos amamos demais. Já disse e repito: se um dia eu for pra minha sobrinha Maitê, a metade do tio que ela foi e é pra mim, a missão estará cumprida com sucesso.

Por tudo que é, um mix de mãe, madrinha, amiga, apoiadora, conselheira, parceira, entre outras tantas coisas maravilhosas que essa pessoa sensacional representa pra mim, deixo aqui registrado que sou muito feliz por sua existência orbitar a minha. Ela, mamãe, papai e vovó, forjaram os valores morais que carrego comigo. Quem me conhece sabe do que falo.

Maria, sou tão grato a ti que a palavra “gratidão” não define esse sentimento. É amor mesmo. Sempre foi e sempre será. Tia, que teu novo ciclo seja ainda mais porreta, iluminado, com paz e muita saúde pra você seguir na jornada. Graças a Deus tenho uma sorte dos diabos de você ser quem és e me amar como sou, um velho gordo e louco. Parabéns pelo teu dia. Te amo! Feliz aniversário!

Elton Tavares

Filme Feitiço do tempo – Por @giandanton (republicado por ser 2 de fevereiro)

Assisti, finalmente, Feitiço do tempo (roteiro de Danny Rubin e Harold Ramis, direção de Harold Ramis). Na verdade, o interesse maior foi na interessante narrativa em elipse, que era sempre citada por alunos quando eu falava de narrativas não-lineares.

Trata-se de um jornalista arrogante e egocêntrico, que, ao fazer uma matéria numa cidadezinha sobre uma marmota capaz de prever o fim do inverno, fica preso em um lapso temporal de um dia que sempre volta. Assim, os mesmos fatos vão se repetindo várias vezes e o protagonista passa várias vezes pelos mesmos fatos.

Já tinha visto outros exemplo, como um episódio de O Arquivo X. Eu mesmo já escrevi um texto nessa estrutura, num e-book dos Exploradores do Desconhecido. O interesante é que o mesmo dia não se repete 3 ou 4 vezes, mas centenas, talvez milhares de vezes, o que traz algumas oportunidades interessantes para o roteiro, como, por exemplo, repetir uma cena várias vezes (o receptor acaba sacando que cada repetição é um dia diferente).

Apesar da preocupação maior ser com a questão narrativa, foi impossível não reparar em algo que muitos textos espíritas falam: Feitiço do Tempo é uma ótima metáfora do processo reencarnatório, segundo a visão espírita.

A cada vez que o protagonista volta, é como se ele estivesse em outra encarnação e tivesse outra chance de consertar os erros do passado e evoluir espiritualmente.

Arrogante e egocêntrico, Phil usa a volta eterna inicialmente para questões duvidosas do ponto de vista ético, como, por exemplo, descobrir algo sobre uma mulher para depois seduzi-la, ou cometer crimes sabendo que sua ação não teria consequências (como, por exemplo, quando ele rouba dinheiro do carro forte).

Com o tempo, esse tipo de coisa perde a graça e ele passa a se suicidar. Faz isso dezenas de vezes, tentando escapar do dia que sempre retorna. Em vão. Sua vida só começa a fazer sentido quando ele melhora espiritualmente e começa a ajudar as pessoas à sua volta. A máxima de Chico Xavier (Não há salvação fora da caridade) fica bem exemplificada no filme.

Em suma, um ótimo filme: pelo estrutura do roteiro, pela mensagem, pelo humor e pela ótima atuação de Bill Murray.

Fonte: Ideias Jeca-Tatu

Meu comentário: esse filme é SENSACIONAL! Um clássico, muito bem resenhado pelo Ivan Carlo. Recomendo que assistam (Elton Tavares).