O escritor Ariano Suassuna escreveu uma vez: “No Sertão do Nordeste a morte tem nome, chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser fácil, não. Ela vai suar!“. Pois é. Assim como com o autor da frase, a “Caetana” suou, e muito, para levar Perolina Penha Tavares, minha mais que maravilhosa avó. Mas hoje, as portas do jardim de Deus se abriram para receber a nonagenária mais linda do mundo, que fez a passagem neste décimo quinto dia de março.
A Páscoa da Peró nos deixa tristes, muito tristes, mas sabemos que ela seguirá na luz que sempre emanou aqui, com sua existência inesquecível e a bondosa força do amor que tanto construiu e regou em nós.
Peró, apelido carinhoso pelo qual nós a tratávamos, foi e é a nossa “Pérola”, como meu saudoso avô, seu marido, João Espíndola, a chamava. Vovó viveu 94 anos. Com toda a certeza, além de longevidade, foi uma mulher muito feliz. Casou, teve cinco filhos. Dividiu amor e multiplicou em nós, somou forças na construção de uma família unida e feliz.
Dia desses, brincando com uma amiga, após a vovó dar entrada no hospital, eu disse: “quando o velho dos outros morre, a gente sempre diz: tava velho, viveu muito”. Mas quando é o nosso, a parada é diferente. Pois é. Posso viver muito, mas nunca vou me acostumar com a partida de alguém que amo. Quando chega o momento, sempre concordo com o escritor Mario Quintana: “a morte chega pontualmente na hora incerta”.
No filme “Amor Além da Vida”, Albert Lewis (personagem interpretado pelo ator Cuba Gooding Jr.) disse: “O inferno verdadeiro é a vida que deu errado”. Vovó é o avesso e disso temos orgulho, pois a dela deu muito certo! Perolina Penha é exemplo de pessoa bem sucedida, mulher extraordinária, uma pessoa sensacional, sábia, ponderada, discreta e bem humorada. Sempre teve muita força em toda sua delicada forma de existir.
Vovó foi acometida pela Covid-19, essa doença que nos leva os afetos e parte nossos corações há mais de um ano. Para nossa família e todos que a amavam e admiravam, é momento de uma breve despedida, pois vovó fez a passagem. Seguimos aqui, certos do amor que recebemos e que sempre honramos.
A Peró é a personificação do amor familiar. Essa lição deixou em nós, aprendemos muito bem. A gente vai sentir uma falta danada dessa elegante e educada senhora cheirosa. Mas depois que parar de doer, vão ficar as inúmeras lembranças felizes e saudade gostosa de nossa matriarca.
Li em algum lugar que “Recordar’’, vem do latim Re-cordis, que significa ‘passar pelo coração’. E todas as passagens da minha vida passam pela tua, Vó. Amei a Peró por toda a minha vida e fui correspondido. Agradeço a Deus a honra de ser o mais velho entre seus nove netos e três bisnetos. Em resumo, já disse, sou razoavelmente bom em escrever textos de parabéns, mas as despedidas são difíceis. Sobretudo, de pessoas que são partes da gente.
Nossa Pérola virou uma rosa no jardim de Deus, e como disse Cartola: “ Que Deus e a natureza, as aves nos seus ninhos, as flores pela estrada perfumem todos os caminhos. E eu ficarei por aqui. Por você, rezarei”.
À Peró, dedico este texto, minha profunda gratidão e amor. Um beijo em ti, vovó. Estejas tu nas estrelas ou em qualquer lugar, além do meu coração. Agradeço à Deus por ter a tua vida ligada à minha, que honra! Amo-te, pra sempre. Até a próxima vez!
Elton Tavares