Poema de agora: Busca fantástica – Patrícia Andrade

 

Busca fantástica

minha barca de Caronte
me embala, me carrega…
eu navego para o inferno.
quem responde?

meu submarino amarelo
me naufraga, me afunda…
eu me afogo por Netuno.
quem me salva?

e aquele gigante zepelim,
que parecia tão chinfrim,
me salva e me responde,
trazendo você pra mim.

Patrícia Andrade

Poema de agora: Gazeta – (@cantigadeninar)

Gazeta

os poetas alardeiam
o amor
EXTRA! EXTRA!
Imagem de art, space, and moono amor na manchete
inventa eternidades
põe contratempos em cheque.

“quem quer dá um jeito
quem não quer dá uma desculpa”.

os poetas pavoneiam
o amor
mega-sena da virada
o amor da reportagem
comercial de margarina
é miragem.

o amor não é nada disso que os poetas falam.

o poeta é editor
de um jornal sensacionalista
[barato

poetas fake news.

Lara Utzig

Poesia de agora: Poema do Aviso Final – Torquato Neto

Poema do Aviso Final

É preciso que haja alguma coisa
alimentando meu povo:
uma vontade
uma certeza
uma qualquer esperança
É preciso que alguma coisa atraia
a vida ou a morte:
ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
e abrirá caminho

É preciso que haja algum respeito
ao menos um esboço:
ou a dignidade humana
se firmará a machadadas.

Torquato Neto

*Contribuição de Fernando Canto. 

Poema de agora: CRISÂNTEMOS PETRIFICADOS – MARVEN JUNIUS FRANKLIN (Para Simon Wiesenthal)

Imagem: Wilhelm Brasse.

CRISÂNTEMOS PETRIFICADOS – MARVEN JUNIUS FRANKLIN (Para Simon Wiesenthal)

A sordidez traz, acondicionada em crisântemos petrificados, as sombrias e enfermiças recordações – abutres arriando belicosos e dilacerantes o pátio gélido do campo de Auschwitz-Birkenau.

(em suas insanas presenças, há dolentes episódios de temor e martírios, levadas a cabo por modos tenebrosos e ignóbeis. Vós afiançastes a agonia, gerando arranhaduras de medo em paredes de eficientes câmeras de gás).

Ó, abutres de Auschwitz-Birkenau! Fostes o mau e o escarnecimento, a alastrar-se em dias de nuvens cinza e tenebrosas sobre o campo de exterminação. Donos da razão que destroçaram corpos famélicos do povo cigano e judeu, expostos em covas rasas – em filmes para a eternidade.

Ó, abutres de Auschwitz-Birkenau! Seus berros petulantes embocam a alma da criatura troçada – brado insensível que tremula anos depois nas reminiscências dos sobreviventes. Alvitres coalhados de lamúrias e de avarias irreparáveis, trazidas no corpo , por marcas de repreensões e mortificações desumanas.

Demônios da morte! Seus corpos – negro-lustrosos – ainda me contemplam do telhado cinza, sobre a calma que impera no crepúsculo frio – instante que disferes o chute bélico na face da incrédula humanidade.

MARVEN JUNIUS FRANKLIN

Poema de agora: BAÍA DE MACAPÁ – José Edson

Veleiro no Rio Amazonas – Foto: Manoel Raimundo Fonseca

BAÍA DE MACAPÁ

O rio é uma imensa
boca
circundada de ilhas
barrancos
barcos de partida

O céu é uma imensa
porrada na cabeça

Tu adentras geografias
porfias de aventura

a vida velho
parece um ioiô

sempre arranja um jeito
de voltar ao ponto de partida

Retorno à amplitude
desta baía desde menino

O rio deixa a boca aberta
nesta lembrança sem navio

água louco do destino

José Edson

*José Edson dos Santos é poeta amapaense, que reside em Brasília (DF).

Poema de agora: MEU POETÍLICO PÁSSARO PIRADO JASMIM – José Edson (contribuição de Fernando Canto).

MEU POETÍLICO PÁSSARO PIRADO JASMIM

Indiferente e pálido
Olhou a clarabóia aberta
Sorrateiro penetrou
Como sombra de jibóia e poesia
Revelando o jeito forasteiro e rápido
De esconder suas mágoas

Nunca entrou numa de bater na porta
Prefere a emergência da madrugada
E a mania dialética de entrar
Sem pedir arenga

Enruste a mágoa pelo interfone
Por trás do verso perverso
Dizendo beber a mesma água de onça
Para saciar sua ânsia felina

Restou um gosto barroco e amargo na boca
Dor amor rancor dissabor
Passeio de rimas pobres pela persiana
De recuerdos

Nenhuma rima rica nem soneto ranheta
Para redimir a perda do sonho
A condição sonheteira das imagens
Palavras são parábolas

Ficar cada vez mais
Bêbado bosta pelo avesso
Sufoca o Bukowski dionísico
Que habita torto o porto inseguro
De sua solidão selvagem
Onde blasfemam bastardos e bardos
Que silenciam em conflitos e medos

Indiferente e pálido
Olhou a sombra do poema se esvair
Com um leve cheiro de jasmim

Escuta o jazz imaginário do dilema
Seguindo a trilha dos duendes e cogumelos
Quando a cotovia cantou
E acabou a cannabis e a madrugada

Indiferente e triste
Evidenciou a madrugada no rabo
Deu sua risada calhorda e cínica
Mandando tudo às picas
Atér o que de mais poético existe
No seu jeito de ver a aurora
Pelo espelho provisório da vida

José Edson

(*) Publicado no jornal INTELLIGENTSIA. Brasília, setembro de 1994, página 11.
(**) Título do livro de José Edson dos Santos, lançado durante a Feira do Livro de Brasília, em outubro de 1994. Edição da Da Anta Casa Editora, 108 páginas. São 72 poemas subdivididos em três partes: Zoo Inconsútil, Palavra Abissal e Corações Noctâmbulos. Representa várias fases do poeta, que se iniciou em 1972 com Xarda Misturada, em Macapá.
(***) José Edson dos Santos é poeta amapaense, que reside em Brasília (DF).

Luau na Samaúma anos 60 e 70 será realizado nesta quinta-feira, 1 de novembro

O Ministério Público do Amapá (MP-AP) e a Prefeitura Municipal de Macapá (PMM) promoverão a terceira edição do Luau na Samaúma deste ano. Desta vez o evento terá a temática “Anos 60 e 70”. Com música, poesia, gastronomia, exposições de arte, intervenções artísticas e literatura. O encontro multicultural está marcado para o dia 1º de novembro, a partir das 18h, na Praça Samaúma, em frente à Procuradoria-Geral de Justiça – Promotor Haroldo Franco. A iniciativa visa aproximar a população do órgão ministerial, além de favorecer a ocupação do espaço público com lazer, cultura e segurança.

As apresentações musicais do Luau na Samaúma “Anos 60 e 70” tocarão e cantarão canções dessas décadas douradas. O público poderá usar o estacionamento da sede campestre da Maçonaria, em frente à Praça Samaúma, além do entorno do local para estacionar seus automóveis.

Programação:

18h – Esquete teatral “dê sinal de vida” com equipe de arte educadores da Ctmac/PMM
18h30 – Discotecagem Selecta Branks.
19h – apresentação da Banda Musical da Guarda Municipal.
20h – Discotecagem com Charles Charr, da loja de vinis Lado B.
20h30 – Apresentação da cantora Taty Taylor e banda Babilônia.
21h30 – Apresentação da banda Quarteto Casa Nova

Haverá também comercialização de artesanato com a Feira Preta, do Instituto de Igualdade Racial (IMPROIR); do projeto Mulheres que Fazem da Coordenadoria de Mulheres; Feira do Empreendedor Programa Conviver do Habitacional, além de venda de livros, discos de vinil, comidas típicas e de food trucks; exposições de quadros, fotografias, objetos antigos e exposição de carros antigos; mostra de arte da galeria Arte Amazon; grafitagem ao vivo com os artistas Carla Antunes, Tami e Kash; tenda literária com exposição e declamações poéticas com o Grupo Poesia Boca da Noite e Associação Literária do Amapá (ALIEAP).

Os anos 60 e 70 foram muito importantes em diversos sentidos, representando uma verdadeira revolução nos costumes de época, brilhante produção musical e fortalecimento cultural no Brasil e no mundo. Quem desejar poderá vir à caráter, com roupas destes dois momentos da história. Venha e traga sua família para curtir um pouco dos anos dourados!

SERVIÇO:

Luau na Samaúma, com o tema Anos 60 e 70.
Data: 01 de novembro de 2018.
Hora: a partir das 18h
Local: Praça da Samaúma, em frente a Procuradoria-Geral de Justiça – Promotor Haroldo Franco, na Rua do Araxá.

Elton Tavares
Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Amapá
Contato: (96) 3198-1616
E-mail: [email protected]

Poema de agora: Pink Money – (@cantigadeninar)

Pink Money

Queria conseguir ser capaz
de escrever poesia panfletária
antiódio, antídoto
para a desesperança do meu país tão sofrido.
Gostaria de levantar bandeiras
em combate à semente conformista do meu povo cansado
que, à beira do abismo,
toma decisões ainda piores contra o mal já instalado.
Eu entendo o motivo deles.
Eu mesma me encontro exausta.
Entre tanta irracionalidade, com o coração na mão,
o absurdo chega até a parecer possível solução.
Mas estou próxima da mudez.
Me calo como minoria
– ou maioria minorizada –
pois tenho medo de minha própria sensatez
[silenciada
Sou fraca. Lamento.
Também me contento
em rezar, torcer
para que o patético, outrora sequer hipotético,
não ganhe o peso necessário para se fortalecer.
Cabisbaixa, me limito
a resistir sob patrióticos gritos
de brasileiros órfãos como eu.
Por enquanto, continuo apavorada.
De sair na rua e não voltar mais pra casa.
Graças ao – ilógico –
apartheid ideológico
sigo desconfiando da vizinha
[cristã:
“Ela se faz de coitadinha”.
Manchete de amanhã,
estatística em algum link,
só sirvo quando gasto meu money… pink.
Sei da lei do equilíbrio.
Sei que tudo se regula
e que as coisas voltam como bumerangue.
Por isso, leia a bula.
A história cíclica se repete.
Os erros do 8 ou 80
nos cortam como Gillette.
Escolhas feitas por revanche
[comemoradas com confete
mancham nossas mãos de sangue.

Lara Utzig

Cláudia Almeida lança seu primeiro livro de poesia :“Versos Insanos” será lançando na sexta-feira no Sesc Centro, a partir das 19h.

Professora e poeta, Cláudia Almeida, prepara-se para lançar hoje (26), às 19h, no Sesc Centro, seu primeiro livro de poesia intitulado “Versos Insanos”. A obra que trata das angústias e desejos humanos expressos em poemas ternos e ousados que promete cativar os amantes da literatura contemporânea.

Para Cláudia, este momento é de enorme alegria. Ela já lançou em 2013 um livro de crônicas intitulado “Remanso das Águas”, obra que trazia histórias ribeirinhas expiradas na Amazônia e outras baseadas em sua infância e juventude na cidade de Macapá. Agora como a escritora costuma dizer “mergulha nas águas do Amazonas” e se renova com um livro inteiro dedicado à poesia.

“Versos insanos traz minha essência de mulher, minha vontade de lutar e minha necessidade de amar para viver. Todos que se deixarem tocar por Versos insanos estarão também tocando minha alma, e eu por alguns instantes terei a responsabilidade de intervir na vida de cada leitor”, comenta a poeta.

Versos Insanos é composto por 52 poemas que versam um sentimento real, às vezes até palpável pela densidade dos poemas e sentimentalidade e também pela verdade trabalhada pela autora. “As palavras sempre foram companheiras em muitos momentos de minha vida, sobretudo nos momentos de luta por uma sociedade menos desigual”, ressalta, a poeta.

Filha de ribeirinhos do interior da Amazônia Brasileira, Cláudia Patrícia Nunes Almeida, que adota o pseudônimo Flor d’Maria, nasceu em Macapá/AP, no dia 27 de junho de 1978. Graduada em Letras pela universidade Federal do Pará (UFPA) em 2002, é professora do Instituto Federal do Amapá (IFAP). Remanso das Águas foi seu primeiro livro lançado no universo das palavras e nele encontramos a essência da vida do povo Caboclo da Amazônia em forma de prosa. Participou da Antologia O Protagonismo Feminino em Versos e Prosas, da Rede de Escritoras Brasileiras (REBRA) em 2016.

Serviço:

Lançamento: Versos Insanos – Cláudia Almeida
Dia: 26, Sexta-feira
Horário: 19h
Local: Sesc Centro – Rua Tiradentes – Centro