Poema de agora: Bonita igual floração de um pé de jambo – @ManoelFabricio1

Bonita igual floração de um pé de jambo

Ei
Vem cá!?
Meu pedaço de queijo do Amapá
Meu litro de farinha do Pacuí
deixa tirar gosto de tu? Deixa…
cremosa igual açaí batido na mão
quente igual gengibirra no salão
bonita igual floração de um pé de jambo
transparente igual garapé
Vem… relâmpago do Mazagão
Tá me ouvindo não?
prestatenção no barulho do trovão

Manoel Fabrício

Poema de agora: PICOS MARMELADOS – Joãozinho Gomes

PICOS MARMELADOS

Par de seios de mulher caboca. Pardos
seios que anseio-os à minha baca boca
asseio-os à saliva-lava ali na sala oliva
lá no Bar Caboclo. Minha baba os lava
lambo-os aos poucos, lambuzo-os, uso-os
abuso-os, babo-os oh búzios! Babujo-os
em busto bajulado sob abajures e juras
de amores jubilados, entre gírias e injúrias
desses lábios abusados (alpes em luxúrias
picos marmelados). Par de seios pardos
de mulher caboca. Cumbuca à minha boca
baca boca que os abraca e não há dabra
que a abra quando aos ubres se coloca
e neles baba, e neles mama; e os ensopa

Joãozinho Gomes

*Do livro A LIBIDO DE ÉRATO, Poesia Erótica
Ilustração: Paulo Flores

Poema de agora: Prelúdio pra América Latina – (do saudoso @tagahasoares)

Prelúdio pra América Latina

Não me venha falar de você
Não me venha falar de Hiroshima
Não me venha falar de Oriente Médio
Nem do remédio pra sua sina
Não me venha falar dos seus sonhos
Não fale-me de novas dimensões
Estradas do além pra um mundo distante
De cavaleiros andantes
Na busca de chegar
Bárbara, eu sei
Da força latina
Dos filhos d’África
Que encantam teu chão
Ah, chão, pasto, coração
Sangrando a dor
A te decantar em tom maior
Agora me pega e me bota no chão
Hoje sou bem mais que teu simples torrão
Sou América
América do Sul
Sou América
América do Sul
Sou América
América sou eu
E você…

Tãgaha Luz

* Tãgaha Luz foi humanista, escritor, poeta, músico e excepcional jornalista, além de querido amigo meu. Saudades do querido mestre das letras.

Poema de agora: Classificados – (@cantigadeninar)

Classificados

Precisa-se:
alguém para ocupar
emprego de sonhos
oito horas
jornada diárias às estrelas

Paga-se:
um salário mínimo
pote de ouro depois do arco-íris
tesouro de piratas

Perfil do candidato:
Busca-se
quem seja graduado
em utopia
com mestrado
em encanto
e doutorado
em fantasia

Pré-requisitos:
Exige-se
delírio
um pouco de faz-de-conta
fascínio pela magia

Procura-se
alguém com os atributos
[acima
que seja pontual
e passe autoconfiança
quem cumpre as exigências
ainda é criança.

Lara Utzig

Poema de agora: Calendário – (@cantigadeninar)

Calendário

Imagem de breakfast, food, and morning
os dias são feitos de papel
contados na folhinha
páginas da agenda
e a noite é troféu

os números são tinta
que pinta liquidações
50% off
no shopping das ilusões

os meses são o próprio tempo
astuto e traiçoeiro
setembro, novembro, dezembro
a gosto de fevereiro

as feiras são sempre as mesmas:
aguardam sábados domingos
em que não há protocolo e memorando
só pão quentinho sobre a mesa.

Lara Utzig

Poesia de agora: Poemas curtos de Fernando Canto

DESRIMADA

A janela aberta com o vaso e a flor
parece teu sorriso emoldurado de batom

ARTISTA

O artista é opressor da arte a que se avista
ainda que oprimido ao gesto que se arrisca

DA INFIDELIDADE TRIANGULAR

HOMEM/planta/TERRA
PLANTA/terra/HOMEM
TERRA/homem/PLANTA

planta/HOMEM/terra
homem/TERRA/planta
terra/PLANTA/homem

Fernando Canto

Poema de agora: Za – @ThiagoSoeiro

 

Za

este poema felino
brinca com a gente
hora se esconde
hora corre na página branca
hora dorme de barriga pra cima
este poema gatinho
mia quando chegamos perto
e mia mia quando tá com fome
ele se espreguiça ao longo das linhas
brinca de morde-morde
faz carinho com a cabeça
este poema Zazinho
deixa patinhas de saudade
no coração da gente.

Thiago Soeiro

* [Para Mr. Zatara, o mais mais danado e mais amado que já existiu]

Poema de agora: CHEZ MODESTINE – Marven Junius Franklin

CHEZ MODESTINE (Ao poeta Arthur Rimbaud)

embebecido por um bom bordeaux
amanheço blasé sob o alpendre frio do Chez Modestine
— almejo algo/coisa como um UnknownFlyingObjects
que me abduza dali
que me erga em direção ao improvável!

no meio do dia ouço Zaz berrando:
j’en ai marre des langues de bois!
j’en ai marre des langues de bois!
j’en ai marre des langues de bois!

e os moralistas de vidro me reparam
como seu eu não significasse necas
que nunca serei lhufas
e a medida das hipóteses concretas
engolem em seco as minhas bonnes manières
são ditos-cujos de olho pesados
com monóculos de lentes cafifentas
e armação de cimitarra

oh, céus!
e nem frases feitas
caem bem/explicam bem/delimitam bem
o que ajuízam de mim

sim, menina!
foi no Chez Modestine
que perdi o discernimento
que balancei o lenço aos piratas
e me fiz desmesuradamente aço-inox
versus a dissimulação dos autocratas

devia ter percebido
tempo que passei vislumbrando a escuridão que emanava do rio
devia te prestado mais atenção na Ilha do Sol
com sua ausência de avenidas
sem blocos de paralelepípedos
e sua mansidão

oh, minha Dulcinéia!
já te prometi tantos moinhos
e tantas garrafas de vinho ao luar

Nossa!
parece até que adivinhei
que as horas ali
eram calendários maias
que prediziam um futuro que nunca haveria

o emudecimento e o isolamento
a imagem da menina
escorada no píer de embarque
a espera do hipotético
e seus olhos eram ternos
os ensejos falaciosos
como a epiderme cálida
de uma sereia

rappelle-moi le jour et l’année
rappelle-moi le temps qu’ilfaisait…

Marven Junius Frankli

Poema de agora: Saudade – Luiz Jorge Ferreira

Saudade

Tu precisas te tratar desta saudade.
Tu precisas deixar de mergulhar os olhos neste monte de lágrimas.
Hoje é Domingo!
Tu precisas deixar de arrumar delicadamente quase todos os dias, a roupa do teu filho que já cresceu.
Tu precisas deixar de recordar beijos e abraços, entremeados de adeus.
Tu precisas olhar a chuva caindo como coisa feita para molhar os jardins, e não barulho, que adormeça a alma.

Hoje é Domingo.

Tu precisas cantar as Canções antigas, sem dançar com o tempo.
O tempo já fez seu caminho, e o que ficou nas fotos, foram sorrisos felizes, e cabelos em desalinho.

Tu precisas ficar de bem, com o hoje.
Tu precisas encontrar contigo, ali , saindo correndo da escola, ou na mesa tosca do bar de sempre, batucando com os dedos um antigo Samba…

Aqui em Outubro, o Domingo se espreguiça…
E boceja.
A vida não esta, corre sem dar tréguas.
Égua, mano, que lindo!
Tu precisas te tratar desta saudade.

Luiz Jorge Ferreira

*Do livro “Nunca mais sairei de mim, sem levar as asas”.
**Luiz Jorge Ferreira é amapaense, médico que reside em São Paulo e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames).